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Existe um horário melhor para tomar decisões? Neurocientista diz que sim!

Não à toa, nosso cérebro tem melhores condições para tomar decisões. Entenda como isso funciona e se há um melhor horário para isso!

Por Ana Paula Ferreira
Atualizado em 21 out 2024, 17h40 - Publicado em 6 mar 2024, 10h00

Quantas decisões você toma ao longo do dia? O quanto é difícil tomar algumas delas? Certamente você já percebeu que o cérebro humano lida melhor com decisões nas primeiras horas do dia.

Acordar, tomar banho, escovar os dentes, ir para o trabalho, tomar café, almoçar, tomar ou não água ao longo do dia… Tudo é decisão e o nosso cérebro precisa de energia para investir em boas escolhas ao longo de todo o dia. Mas, afinal, por que o cérebro tem um limite de decisões para tomar ao longo do dia?

De acordo com Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA, nosso cérebro é limitado pelos seus recursos disponíveis. Imagine que você tem uma caixa d´água que permite a vazão de apenas 80 litros de água por dia, e você precisa priorizar para onde vai cada litro. E mais, desses 80 litros, 50 já estão comprometidos com as atividades obrigatórias que tem que ser feitas todo dia. O cérebro trabalha mais ou menos assim para gerenciar o seu consumo de energia.

“Toda tarefa cognitiva que exige pensamento focado, como ponderar entre duas opções, avaliar o risco de uma decisão e tentar prever suas consequências, ou até mesmo o esforço para resistir a uma tentação (como um doce após o almoço), representa uma atividade com alta complexidade e, também, alto custo energético. Ao longo de um dia, quanto mais alta a carga cognitiva no seu cérebro, mais rápido ele esgota a energia que tem disponível”, detalha a profissional.

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Decisões de manhã x decisões de noite

Partindo da premissa de que a noite de sono foi restauradora, o cérebro inicia o dia com todo seu potencial disponível, mas o quanto de disposição e energia ele ainda terá a noite vai depender da carga cognitiva sofrida ao longo do dia.

Carga cognitiva significa a carga imposta ao sistema cognitivo das pessoas, decorrente do esforço mental exigido na realização de tarefas, como a aprendizagem de novos conhecimentos ou a tomada de decisões.

“Por exemplo, se uma pessoa começa o dia trabalhando em reuniões, lidando com conflitos, depois vai à escola dos filhos resolver problemas, em seguida precisa atender clientes e a noite vai para a faculdade, com certeza ela chegará em casa esgotada. Diferente de alguém que estudou de manhã, trabalhou em atividades mais mecânicas e depois encontrou com os amigos. Essas duas pessoas terão diferentes níveis de energia para tomar uma decisão à noite, mas nos dois casos, não custa nada deixar para o outro dia”, explica Livia.

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A capacidade de decidir pode diminuir ao longo do dia?

Não há um horário padrão para tomar decisões, porque, segundo a especialista, isso é algo que depende tanto do estado de saúde geral do corpo (que reflete no quão rápido a pessoa se cansa), quanto da intensidade do esforço cognitivo das tarefas já realizadas no dia. Mas a lógica é que o poder de tomar decisões conscientes vai diminuindo ao longo do dia. “Alguns estudos já avaliaram as decisões tomadas por médicos e juízes em diferentes momentos do dia, e todos constatam essa diminuição da qualidade, mesmo que a pessoa não perceba”, afirma a profissional.

Como otimizar a energia ao longo do dia?

A única maneira de garantir energia disponível para aquilo que é realmente importante, é tendo um olhar cuidadoso para a rotina e para a sua agenda. Parece bobeira, mas acordar sabendo exatamente o que vai comer, vestir e organizar em casa antes de sair pode poupar seu cérebro de muitas decisões que são pequenas, mas geram esforço.

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Para quem deseja ou precisa ter um alto desempenho cognitivo, a rotina é a maior aliada. Ela precisa ser fluida, fácil e sem atritos. E no quesito agenda, vale ter cautela ao se comprometer com muitas atividades, ou com atividades complexas no final do dia. A dica aqui é usar a inteligência para distribuir as tarefas e compromissos estrategicamente ao longo da semana.

Agora, considerando o período de um dia, podemos melhorar o desempenho do cérebro se hidratando, fazendo pausas e se alimentando nos horários corretos.

Qual é o papel dos estimulantes neste processo?

Seria maravilhoso se o café e outros estimulantes não tivessem papel importante neste processo, mas tem.

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Quando estamos usando os circuitos do cérebro para pensar, tomar decisões, ler, estudar, e tantas outras tarefas, os neurônios consomem ATP – que é o combustível ou a gasolina do cérebro. Quebrar muitas moléculas de ATP gera um subproduto que é a Adenosina (como se fosse o gás carbônico da queima da gasolina). A adenosina vai se acumulando e se liga a receptores que causam a sensação de cansaço e sonolência.

“A cafeína se parece com a adenosina o suficiente para ocupar a ligação com esses receptores, mas seu efeito é oposto, ela vai evitar que se sinta o cansaço além de induzir a liberação de adrenalina, que vai trazer a sensação de estar energizado. Mas tudo isso é temporário, e quando passa o efeito, todo aquele cansaço está acumulado ali, e talvez até pior”, explica Livia Ciacci.

Sono, atividade física e estímulo cognitivo

Dentro deste contexto, o sono é o único recurso para “faxinar o cérebro” e prepará-lo para mais uma rodada de atividades. Levar a qualidade do sono a sério é a estratégia mais eficaz e econômica para melhorar a performance mental.

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Os exercícios físicos e a alimentação são os responsáveis pela saúde do corpo e do coração, essenciais para que o cérebro tenha equilíbrio para se dedicar ao esforço mental. “Lembre-se sempre que o corpo sinaliza para o cérebro como ele está, se está faltando água, nutrientes, ou se o metabolismo está bagunçado, e isso vai diminuir a disposição para se dedicar aos esforços cognitivos”, explica a especialista.

Já os estímulos cognitivos de qualidade, ou ginástica para o cérebro, tem a função de treinar o cérebro para diferentes tipos de processamentos. “Quando ensino para o cérebro maneiras diferentes de lidar com problemas, cálculos ou outras habilidades cognitivas, ele gastará menos energia quando tiver que usar esses recursos. É como um atleta, que só consegue bater recordes de performance porque ele treina o suficiente para que aquela atividade se torne fácil para ele.”

Quais seriam os melhores “horários” para tomar decisões?

São os horários que você está descansado, alimentado, bem hidratado e sem preocupações excessivas roubando a atenção.

“É muito comum nós negligenciarmos esse cuidado com o momento certo para fazer certos tipos de atividades mentais, isso acontece porque nós não percebemos a queda de desempenho gradual, e temos a tendência de acreditar que estamos prestando atenção em tudo. Mas na verdade, à medida que a fadiga vai aumentando, o cérebro vai automatizando as decisões. Ou seja, ele liga o piloto automático, você acha que está em pleno controle, mas no dia seguinte pode vir a pensar “onde eu estava com a cabeça”?”, conclui a neurocientista do SUPERA.

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