Há um ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) determinava que o burnout é uma doença ocupacional – ou seja, uma condição conectada ao trabalho. Desde a pandemia de coronavírus, o boom da doença chamou a atenção de profissionais, empresas e, claro, da comunidade médica – e não é sem motivo. Extremamente incapacitante, a estafa mental que caracteriza o burnout é, de fato, motivo para alarme. Mas, mesmo com tantas conversas sobre o assunto, como fazer para se recuperar do burnout?
Boa Forma conversou com Renata Rivetti, especialista em felicidade corporativa e liderança positiva e diretora da Reconnect Happiness at Work, para encontrar essa resposta.
O QUE CARACTERIZA O BURNOUT?
Mais uma vez, recorremos à OMS para entender o primeiro passo para a recuperação: o que, de fato, caracteriza o burnout. Segundo a organização, essa é uma síndrome “resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”.
Isso significa que essa condição não é definida apenas pelo cansaço físico gerado pelo trabalho em excesso, mas também pela exaustão emocional, um distanciamento das relações pessoais (e o cinismo pode passar a definir essas interações) e a diminuição do sentimento de realização pessoal.
Christina Maslach, professora da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, e referência quando o assunto é burnout, explica que, além dessas características, o burnout pode ser causado por seis motivações distintas:
- Sobrecarga de trabalho
- Percepção de falta de controle
- Falta de recompensas
- Falta de uma comunidade de apoio
- Injustiça no local / área de atuação
- Valores incompatíveis com as tarefas executadas
COMO IDENTIFICAR OS SINAIS DO BURNOUT?
“O burnout apresenta sinais, porém nem sempre estamos dispostos a compreendê-los ou aceitá-los”, explica Renata. “Como ainda a saúde mental nas empresas é um tabu, há culpa e medo por sentirmos os sintomas que indicam o burnout. Porém, é necessário identificá-los e tratá-los o quanto antes para que o quadro não piore.”
Para isso, vale a pena ficar atento aos três sintomas principais do burnout:
- Cansaço crônico: não importa o quanto você durma, você nunca se sente descansada.
- Mudanças no comportamento: você demora mais para fazer tarefas simples, fica irritada quando recebe novas atribuições, perde prazos…
- Mudanças nos resultados do trabalho: o seu desempenho cai e os resultados do seu trabalho também.
- Distanciamento das relações: se antes você gostava de conversar com os seus colegas de trabalho, agora você evita essas trocas.
COMO TRATAR O BURNOUT?
“É preciso desmistificar o tema para que todos possam entender que podemos tratar o indivíduo com o burnout, mas é também necessário atuarmos na causa raiz, que tem a ver com o ambiente tóxico da empresa”, continua Renata.
Para isso, ela explica que, no âmbito individual, a pessoa com burnout precisa buscar ajuda médica e psicológica (inclusive com o uso de medicações, em alguns casos), mudar hábitos e trabalhar uma nova forma de se relacionar com o trabalho.
Aqui, existem alguns aspectos que podem ser revistos:
1.Aprender a estabelecer limites: se você não impõe limites para si mesma, não há ninguém que vai fazer isso por você. Limitar o tempo de trabalho é essencial para uma relação saudável com a profissão.
2.Melhorar o gerenciamento do tempo: ter controle da própria agenda não significa ocupar cada hora do dia com tarefas, mas entender quando uma agenda cheia pede um fim de semana de quietude e descanso e equilibrar dias atribulados com outros mais tranquilos.
3.Aprimorar a comunicação: temos medo das reprimendas que podem acompanhar conversas com superiores no trabalho, mas saber comunicar as suas necessidades e pedir ajuda do time e dos superiores é essencial nesse processo.
O principal desafio, no entanto, é construir ambientes de trabalho mais seguros psicologicamente, com culturas mais saudáveis, humanas e positivas. E isso, infelizmente, apenas a própria empresa pode fazer.
No geral, a recuperação é um processo lento e gradual. “Comece pela aceitação, gentileza consigo e se priorize”, explica a especialista. “Descubra seus talentos, suas forças, estabeleça limites e acima de tudo, busque um grupo de apoio. Cultive suas relações, peça ajuda, aceite que é preciso tempo, cuidado e paciência. Se o ambiente não melhorar, repense, veja o que é possível fazer. Tratar os sintomas não trata a causa raiz. Então é preciso agir caso o cenário não mude.”
O TRABALHO PÓS-BURNOUT
Segundo Renata, um ponto importante na retomada do trabalho após um episódio de burnout é tirar a culpa, vergonha ou o sentimento de falha.
“O burnout é resultado de um ambiente tóxico, de uma cultura que pune e não reconhece, da falta de autonomia e flexibilidade, de injustiça, microgestão”, explica. “É preciso atuar na autoestima, saber impor limites, buscar recursos para evitar a sobrecarga e excessos de trabalho.”
De acordo com ela, essa não é uma tarefa fácil, já que o ambiente de trabalho é o grande ofensor nesses casos. Por isso, procurar ajuda e não ter medo de expressar a sua vulnerabilidade e fragilidade, além de priorizar a sua saúde mental e física, é essencial nesses casos. “Ninguém fará isso por você”, diz.
Esse novo comportamento, aliás, é importante para manter a saúde mental e física em dia, mesmo após um burnout. Para Renata, saber se priorizar é ponto-chave, assim como evitar que os mesmos fatores estressores voltem – é estabelecer uma nova forma de se relacionar com o trabalho. “Cuidar de si acima de tudo. E buscando alternativas caso o ambiente siga tóxico”, finaliza.