Um estudo publicado pelo Science Direct examinou os efeitos do consumo diário de alimentos ricos em gordura e açúcar (ultraprocessados) na resposta cerebral ao alimento e no comportamento de recompensa, em indivíduos com peso normal.
Embora não tenham sido observadas mudanças significativas no peso corporal ou nos parâmetros metabólicos após a intervenção de 8 semanas, os resultados indicam que a ingestão frequente desses alimentos altera a percepção de sabor e a resposta cerebral associada a recompensas alimentares.
Isso sugere que a exposição prolongada a dietas ultraprocessadas pode modificar a forma como o cérebro reage aos alimentos, aumentando o risco de comportamentos alimentares disfuncionais e sobre alimentação.
Um dos principais malefícios de ingerir alimentos ultraprocessados, conforme apontado pelo estudo, é o impacto direto no sistema de recompensa do cérebro.
Alimentos ricos em açúcar e gordura afetam as áreas cerebrais relacionadas à recompensa, tornando o indivíduo mais propenso a preferir esses alimentos e a consumir quantidades maiores, independentemente das necessidades energéticas do corpo.
Esse aumento na sensibilidade a alimentos palatáveis pode dificultar a adoção de uma dieta balanceada, promovendo uma maior ingestão calórica e, consequentemente, ganho de peso.
Além disso, o estudo destaca que a exposição contínua a alimentos ultraprocessados reduz a preferência por alimentos com baixo teor de gordura. Isso significa que o consumo de alimentos ricos em gordura e açúcar pode alterar a percepção sensorial, diminuindo o prazer associado a alimentos saudáveis e menos calóricos.
Essa mudança no paladar pode dificultar a manutenção de uma alimentação equilibrada, já que o indivíduo passa a buscar alimentos com sabores mais intensos e artificialmente enriquecidos, típicos dos ultraprocessados.
Outro ponto relevante é que, embora os participantes do estudo não tenham apresentado mudanças significativas no índice de massa corporal (IMC) ou nos marcadores metabólicos, como insulina e lipídios sanguíneos, os resultados sugerem que o consumo de ultraprocessados pode induzir ganho de massa gorda e aumentar os níveis de leptina.
A leptina é um hormônio que regula a saciedade e, quando seus níveis estão elevados, pode indicar resistência à leptina, uma condição frequentemente associada à obesidade e dificuldade em controlar a ingestão alimentar.
Quais os impactos a longo prazo?
Os alimentos ultraprocessados também têm um impacto negativo na saúde metabólica a longo prazo, mesmo que os efeitos imediatos não sejam visíveis.
A exposição crônica a esses alimentos pode levar a alterações sutis que, com o tempo, contribuem para o desenvolvimento de doenças metabólicas, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Essas doenças estão diretamente ligadas ao consumo excessivo de calorias provenientes de alimentos ricos em açúcares adicionados e gorduras saturadas.
Outro aspecto preocupante é o efeito dos ultraprocessados no comportamento de aprendizado associativo relacionado aos alimentos. O estudo mostrou que, após a intervenção, os participantes desenvolveram uma resposta cerebral aumentada a alimentos, independentemente de pistas ou recompensas alimentares.
Isso significa que a ingestão frequente de ultraprocessados pode alterar a forma como o cérebro associa prazer ao consumo de alimentos, reforçando padrões alimentares desregulados e favorecendo o consumo compulsivo.
Em conclusão, os alimentos ultraprocessados afetam negativamente o sistema de recompensa do cérebro, a percepção de sabor, a regulação hormonal e os comportamentos alimentares.
Embora as mudanças metabólicas imediatas possam ser sutis, os efeitos a longo prazo são potencialmente graves, contribuindo para o desenvolvimento de doenças crônicas e dificultando o controle do peso.
Para preservar a saúde, o óbvio segue valendo! É essencial reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e adotar uma dieta rica em alimentos naturais e minimamente processados, que forneçam os nutrientes necessários sem prejudicar o funcionamento do organismo.
Veja o estudo: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1550413123000517
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BIANCA VILELA é autora do livro Respire, palestrante, mestre em fisiologia do exercício pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e produtora de conteúdo. Desenvolve programas de saúde em grandes empresas por todo o país há quase 20
anos. Na Boa Forma fala sobre saúde no trabalho, produtividade e mudança de hábitos. Não deixe de visitar o Instagram: @biancavilelaoficial