Barefoot training: o que dizem pesquisas sobre treinar sem calçado?

Profissionais esclarecem quais são os possíveis efeitos ao se exercitar sem tênis

Por Ana Paula Ferreira
Atualizado em 7 fev 2025, 09h31 - Publicado em 6 fev 2025, 18h00
Homem fazendo musculação descalço
 (Freepik/Reprodução)
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Treinar descalço é algo bastante comum entre pessoas que frequentam a academia. Prova disso é que esse hábito tem até um nome: barefoot training. No Tik Tok, inclusive, a #barefoottraining chegou a se tornar um sucesso alguns anos atrás, confirmando a tendência de deixar os tênis de lado ao se exercitar.

O motivo para isso é que muitos acreditam que essa atitude pode oferecer benefícios como conseguir erguer mais peso, fortalecer os pés e melhorar o equilíbrio, a mobilidade e a coordenação motora, uma vez que poderia ocorrer maior ativação dos músculos, articulações e ligamentos presentes dos pés.

Contudo, apesar de todo o burburinho, muito se questiona ainda a respeito das possíveis vantagens e desvantagens desse método – e a verdade é que existe uma série de pesquisas sobre o tema, com conclusões que se dividem entre defender a escolha ou alertar para riscos.

Treinar descalço: vantagens e desvantagens

De acordo com Rodrigo Fenner, fisioterapeuta, coordenador e professor do curso de Biomecânica e Cinesiologia da Faculdade UNIGUAÇU, a diferença entre treinar calçado e descalço é basicamente o aumento do estímulo da musculatura dos pés para a estabilização corporal e da amplitude ao ficar sem tênis.

“Essa estimulação melhora o controle dos membros inferiores de maneira mais eficiente, a captação sensorial dos pés com o solo ajuda a controlar a postura, auxilia na recuperação da consciência corporal e a estimular os mecanismos de propriocepção (capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo)”, detalha ele.

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Um artigo publicado em setembro de 2023 na Revista Muscles, Ligaments and Tendons, afirma que o treino sem calçados é eficiente e melhora a força, a potência e a performance.

Para não deixar dúvidas, o teste foi realizado com tênis e descalço, com homens e mulheres, e utilizou dois tipos de metodologias: baropodometria (identifica as alterações biomecânicas nos pés nas posições ortostática, estática e dinâmica) e estabilometria (mensura as oscilações na postura ortostática).

“Analisamos homens e mulheres treinados, todos realizaram o exercício de levantamento terra descalço e com tênis com uma carga de 80% do peso corporal”, apontou o PhD Alex Souto Maior, um dos principais pesquisadores na área de treinamento de força para alta performance, prevenção de lesões e reabilitação, e responsável pelo estudo.

“Os resultados confirmaram que a estratégia contribui para a menor oscilação anteroposterior, oscilação laterolateral e a diminuição da pressão da superfície plantar (máxima e média), de ambos os sexos proporcionando maior estabilidade e resultando em maior desenvolvimento de força e potência.”

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Os dados contribuem para a compreensão qualitativa e quantitativa de que treinar descalço deve ser recomendado no fitness, na alta performance e na reabilitação por contribuir significativamente com a estabilidade.

Cuidados ao treinar sem calçado

Segundo profissionais, é preciso ter alguns cuidados ao colocar em prática o barefoot training, uma vez que ele pode causar sérias lesões.

De acordo com o personal trainer Caio Signoretti, durante a execução de movimentos como o agachamento com barra, levantamento terra ou o agachamento sumô, um dos erros mais comuns tem relação com as forças exercidas de baixo para cima, ou seja, que iniciam pelos pés.

Com o barefoot training, esse é um erro que pode gerar problemas ainda mais graves.

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“Muitas vezes é isso que influencia em todo o resto. Quando se faz um agachamento, por exemplo, a pessoa tende a jogar os pés para dentro, levantando a lateral externa desse membro. Isso influência em toda a estrutura óssea, como joelho, quadril e coluna, podendo prejudicar a saúde desses membros”, afirma o personal trainer.

“Na verdade, toda essa moda de agachar descalço nada mais é do que você melhorar a sua percepção de contato dos pés com o chão, o que é uma grande besteira, já que isso pode ser melhorado apenas no ato de andar descalço em casa. Para agachar, é mais recomendado utilizar calçados apropriados, o que ainda evita o risco de acidentes e lesões”, acrescenta.

Walkyria Fernandes, fisioterapeuta especializada em ortopedia e traumatologia desportiva, enfatiza que é fundamental ter atenção caso o indivíduo escolha treinar descalço.

“Quem sempre fez exercícios de tênis e passa a fazer o treino descalço precisa ter muito cuidado, a adaptação tem que ser gradativa para que ela não se machuque, pois o pé passa a fazer a função de amortecedor do corpo todo”, ela aponta.

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Quais exercícios podem ser feitos descalço?

“A caminhada ou o trote feito descalço na areia, de fato pode ser muito interessante para trabalhar os músculos, a fáscia plantar e a propriocepção da articulação, que é quando a região se torna mais estável dinamicamente; ideal para prevenção de lesões ou reabilitação”, diz a fisioterapeuta.

Já segundo Fenner, o treino descalço é justificável para alguns exercícios de membros inferiores (agachamentos, terra, leg press, elevações pélvicas), ou seja, o tênis continua sendo um item necessário.

“É importante ressaltar que é fundamental ter o auxílio de um profissional de Educação Física e estar atento para evitar acidentes, tanto com a estruturas dos aparelhos ou de possíveis riscos com a queda de pesos e anilhas”, ele alerta.

E para quem tem dúvida de qual tênis usar para treinar na academia, a melhor opção é aqueles com solados com menos amortecimento, pois quanto menor o amortecimento, mais solicitação do pé, que impacta o conforto e proteção.

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“Quando as pessoas usam calçados com amortecedor, é como se o pé não precisasse fazer nenhum esforço. E os músculos dos pés precisam ser trabalhados. Um tênis com amortecedor muito grande na parte posterior do pé muda o centro de gravidade da pessoa, e isso pode causar desequilíbrio, fazendo com que o corpo tenha que se adaptar ao novo normal”, conclui Walkyria.

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