Debinha: preparação para Olimpíadas e sonhos para o futebol feminino
Confira o que a atacante da Seleção Brasileira feminina contou sobre a preparação para as Olimpíadas de Paris, a força do público nos jogos e mais
São muitos os motivos para não tirarmos os olhos de Debinha durante as partidas de futebol do Brasil nas Olimpíadas de 2024, em Paris. Entre eles, o fato de ser constantemente apontada como sucessora de Marta e a terceira maior artilheira da história da Seleção Brasileira feminina.
Em entrevista à Boa Forma, a atacante assumiu que, apesar de toda a bagagem profissional que traz consigo, competir pelo Brasil ainda rende um bom frio na barriga.
“É uma honra estar vestindo essa camisa, representando tantas mulheres, tantas pessoas que gostariam de estar lá, nossa família, os amigos e todos aqueles que apoiam a gente. […] Quem não sente isso, está com alguma coisa errada, porque está representando uma nação, o sonho de muitos brasileiros”, contou.
Diante do notório aumento de público do futebol feminino, a jogadora vibrou com as conquistas que vem tendo com seu trabalho e o de suas colegas ao vestirem a camisa da Seleção Brasileira. “Além de ter a vitória dentro de campo, essa também é uma vitória nossa, por trazer esse público para os estádios”, apontou ela.
A seguir, você confere nosso bate-papo com Debinha sobre a preparação para as Olimpíadas de Paris, a força do público nos jogos e suas expectativas para o futebol feminino no futuro.
Como estão as expectativas para a estreia nas Olimpíadas?
Estou bem ansiosa. Essa vai ser minha terceira. Claro que toda vez que a gente é convocada, o sentimento é diferente. Pelo momento que você está vivendo, pelo momento com a seleção… Mas o foco total agora é no clube. Estou procurando me manter bastante focada aqui, trabalhando firme para, se tiver oportunidade de disputar mais uma Olimpíada, estar nessa lista e poder representar o Brasil da melhor forma.
Mesmo já estando há tantos anos no esporte, ainda rola aquele frio na barriga antes de entrar em campo?
Com certeza, o frio na barriga é sempre o mesmo a cada convocação, a cada jogo que a gente faz pela seleção. É uma honra estar vestindo essa camisa, representando tantas mulheres, tantas pessoas que gostariam de estar lá, nossa família, os amigos e todos aqueles que apoiam a gente. É claro que, com o tempo, a gente vai criando essa experiência, vai se acostumando com a pressão do jogo, da competição, mas acho que a pressão é só no comecinho do jogo. Isso com certeza vai sempre existir. Quem não sente isso, está com alguma coisa errada, porque estamos representando uma nação, o sonho de muitos brasileiros. Então, ali no comecinho, sempre dá aquele friozinho na barriga. O momento do Hino Nacional também é uma sensação incrível. A experiência ajuda no decorrer do jogo, pelo fato de já termos essa bagagem de muitos anos com a seleção, mas a sensação de vestir a camisa do Brasil não vai mudar nunca e o friozinho na barriga sempre vai existir.
Você é uma jogadora experiente e que é destaque do futebol feminino no Brasil e no mundo. Você sente uma cobrança a mais por isso e também por ser vista por muitos como a sucessora da Marta?
Com certeza, tendo ou não essa bagagem toda, de estar na seleção e ter essa pressão de ser ou não a sucessora. Mas acho que com o tempo, morando em outros países, disputando cada vez mais competições, você vai acostumando com essa pressão. E claro que há um acompanhamento por trás disso. É fundamental não só cuidar da performance e do descanso dos treinos, mas também da cabeça. Então a gente sente a pressão sim, mas sabemos lidar pelo fato de estarmos preparadas. Ter todo esse suporte por trás durante a preparação para as Olimpíadas ou alguma competição grande é importante.
Quais cuidados você costuma ter para estar preparada para uma competição a nível internacional?
Eu tenho uma coach e uma terapeuta. Temos que cuidar da vida pessoal e tudo mais para desempenhar um bom trabalho dentro de campo também, então sempre procurei ajuda para manter o foco. Ainda mais se tratando de uma Olimpíada, de um mundial.
E quanto à preparação física, como que é?
Se a gente joga no domingo, depois do jogo já estamos nos preparando para a semana. A partir do momento que você sai do jogo, já tem que pensar em estar bem para o próximo jogo e próximo treino. Temos [como preparação física] a banheira quente e de gelo, a bota, fisioterapia, hidratação, alimentação, dormir bem… Nas férias também temos que cuidar do corpo e da alimentação. É uma coisa constante.
Todo mundo fala: “Nossa, que legal, você faz o que ama, joga futebol”, mas por trás disso a gente se cobra muito quanto ao descanso, ao treino. Também usamos a parte mental, que é a meditação, porque ajuda a se preparar melhor para a semana.
Entrar no futebol não é fácil e, para mulheres, é ainda mais desafiador. Qual é a importância da influência que jogadoras como você têm para as meninas que ainda estão começando?
Nós percorremos um longo caminho. Desde quando comecei a jogar, pelo menos 14 anos atrás, vimos que conseguimos quebrar vários tabus. Seguimos nessa luta diariamente, mas é muito gratificante ver outras mulheres hoje em dia tomando seus postos, ocupando espaço onde já deveriam estar, na mídia, na comissão… Claro que queremos muito mais mulheres à frente, mas isso já é muito gratificante. Representar um país e as mulheres nessa posição é uma honra para mim. Enfrentar tudo o que enfrentei de preconceito desde minha adolescência e hoje estar onde estou é muito gratificante. Então o que a gente pode passar é que todas devem correr sim atrás de seus sonhos, porque vocês têm total condições e talento para fazer o que amam e chegarem onde quiserem.
É notório que o futebol feminino tem conquistado cada vez mais público mundo afora. Hoje vocês sentem que a torcida é mais de mulheres ou os homens também estão começando a dar mais atenção à modalidade feminina?
Vimos nos dois últimos jogos da Seleção Brasileira que [o estádio] encheu. Sempre teve bastante torcedor, mas hoje, é claro, temos muito mais. Nos últimos, se não me engano, foram 33 e 31 mil pessoas respectivamente. Além de ter a vitória dentro de campo, isso também é uma vitória nossa, por trazer esse público para os estádios. E também temos muitas crianças que se espelham na Marta, Christiane, Rafaela… Então é muito gratificante, muito legal de ver. E também tem sim o público masculino. Normalmente vemos muitos deles lá, recebemos comentários ou mensagens deles apoiando.
Ainda tem muito preconceito mas acho que, aos poucos, estamos quebrando esse tabu. Espero que a gente consiga continuar nesse caminho e que cada vez mais pessoas possam ir aos jogos não só da Seleção Brasileira, mas também dos times os times como Corinthians, Palmeiras, Araraquara, por exemplo, que também sempre dá bastante público… Que o pessoal possa continuar prestigiando e assistindo o bom futebol feminino.
Quais são suas expectativas para o futebol feminino para o futuro?
Meu sonho é nos ver onde merecemos estar. Como falei, estamos no caminho certo, aos poucos vamos conquistando cada cantinho, mas pedimos respeito e oportunidade para estar no nosso lugar. Já mostramos que o futebol feminino é como o masculino. A única diferença é se é homem ou mulher [jogando]; Então, [meu sonho é] que a gente possa continuar cada vez mais dando essa alegria ao povo brasileiro e que possam continuar investindo não só na Seleção Brasileira, mas também em times de categoria de base, porque sabemos que é muito fundamental termos essa formação desde pequenas. Eu não tive esse prazer, mas gostaria muito que meninas novas que estão iniciando hoje pudessem ter essa oportunidade.
Participação do público feminino em competições esportivas
De acordo com uma pesquisa encomendada pela empresa Wise, as Olimpíadas são o evento esportivo preferido entre as mulheres brasileiras que costumam viajar para acompanhar competições no exterior.
O levantamento, que pertence à campanha nacional de marketing da marca em parceria com a Visa e traz o rosto de Debinha como destaque, apontou que, entre as mulheres que responderam gostar de viajar para acompanhar esportes, as Olimpíadas (52%) lideram o gosto delas, seguidas pela Copa do Mundo masculina de futebol (44%) e por jogos da NBA (39%).
Para a atacante da Seleção Brasileira feminina de futebol, esses dados refletem uma mudança no padrão de comportamento feminino.
“Durante toda minha carreira, as mulheres sempre estiveram presentes nas torcidas. Mas é notório o aumento do interesse delas em acompanhar esses jogos de forma presencial, investir nas partidas, colocar os jogos no calendário. Fico feliz em perceber esse crescente entusiasmo das mulheres pelo esporte que eu escolhi e me escolheu”, conta Debinha.
Alinhado à percepção da atleta, a pesquisa ainda revelou que a maioria das mulheres (59%) que não viajou internacionalmente ou que não acompanhou um evento esportivo no exterior teria interesse em fazer isso. Aqui, o destaque vai para a geração Y (65%) e Z (61%).