Depois de uma eliminação nas quartas de final dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a seleção feminina de vôlei do Brasil chegou nas Olimpíadas de Tóquio 2020 longe de ser a favorita. Superando dificuldades como a lesão da levantadora Macris e a suspensão da jogadora Tandara Caixeta por potencial violação da regra antidopping, a equipe que conquistou o público por sua união e alegria voltou para casa com a medalha de prata. Ao subir no pódio, uma das jogadoras superou outra marca: Carol Gattaz se tornou a atleta brasileira mais velha a ganhar uma medalha na história das Olimpíadas. “Fiz 40 anos em Tóquio. Idade não é uma preocupação para mim, mas é para as pessoas”, conta a central em entrevista exclusiva para a Boa Forma de setembro. Depois de ser cortada de última hora de duas Olimpíadas, a atleta que compete pelo Minas Tênis Clube lembra como a sua história recomeçou quando ela encontrou o equilíbrio entre os cuidados com o corpo e com a mente. Já convocada para o Campeonato Sul-Americano, valendo vaga para o Mundial, ela até está de olho em Paris 2024, mas prefere focar no agora.
IDADE É SÓ UM NÚMERO
No dia 27 de julho, Carol Gattaz completou 40 anos. No mesmo dia, a seleção enfrentou a República Dominicana e venceu por 3 sets a 2. A comemoração foi cheia de gratidão. “Obrigada, Brasil! Obrigada, Time lindo! Obrigada, Tóquio! Pelo melhor aniversário da minha vida. Para sempre eu lembrarei deste 27.07.21. Nem nos meus melhores sonhos de criança eu imaginaria ganhar um presente desse. Papai do céu caprichou! Todo esforço vale a pena. E a nossa luta continua!!!”, ela escreveu. Carol sempre via a idade só como um número – e reparava que a disposição e energia de cada um não estavam necessariamente ligadas ao tempo de vida. Ainda assim, antes de ser convocada, ouviu de muitas pessoas que não iria aguentar, que não conseguiria acompanhar o ritmo, que alguma lesão não permitiria seguir. Diante de tantos “nãos”, ela optou por se preparar para um grande “sim”. “Agradeço muito a comissão técnica que me preparou para seguir com nosso objetivo”, ela diz. O treinamento para um ciclo olímpico é puxado para garantir às atletas condições para competir com as melhores seleções do mundo. Justamente por saber disso, e entender que o corpo está sempre em transformação, Carol evita em falar de planos a longo prazo: quer apenas continuar jogando na sua melhor performance, identificando a cada ano quais são as possibilidades.
Carol Gattaz: “Fiz 40 anos em Tóquio. Idade não é uma preocupação para mim, mas é para as pessoas”
EQUILÍBRIO E TREINAMENTO
Carol está na sua melhor fase, mas lembra que precisou procurar ferramentas para sair de um quadro de tristeza muito grande há cerca de dois anos. “Depois de um episódio traumático, procurei ajuda para acalmar minha ansiedade”, afirma. Foi quando começou a se interessar pela meditação. O gosto surgiu junto da curiosidade pelo yoga, prática que ela hoje indica para atletas e não-atletas pelos benefícios para o corpo e a mente. Se não fosse a atenção aos seus pensamentos e emoções, ela acredita que não teria conseguido alcançar a performance física que garantiu seu lugar entre as 12 jogadoras da seleção olímpica do Brasil. “A minha história recomeça a partir do momento em que encontro o equilíbrio entre os cuidados com o corpo e com a mente. Sem isso, não teria chegado aonde cheguei.” Junto dos treinos de força e agilidade, a terapia e o coaching esportivo foram fundamentais para sua estabilidade e sucesso.
TRABALHO EM GRUPO
Num contexto de pandemia, a pressão para os Jogos Olímpicos foi ainda maior. “Antes de ir para Tóquio, esse foi o fator mais estressante”, conta. Junto com a notícia do adiamento da competição vieram as restrições de circulação e o medo. “Sempre pensamos antes que temos que nos cuidar, que não podemos nos machucar porque uma lesão pode nos deixar de fora do campeonato. Mas este ano o medo era testar positivo para a Covid-19. Foi uma ansiedade muito grande. Antes de ir, ficávamos isoladas para não correr o risco de pegar, nem com a minha família eu encontrava tranquilamente, Mesmo quando já estávamos lá, a pressão dos testes diários de saliva nos deixava apreensiva”, relata Carol.
Para lidar com tantas questões, o trabalho em equipe e o apoio entre elas foi fundamental. “O grupo é formado por pessoas que estão unidas pelo mesmo objetivo, não adianta ter uma ou duas laranjas podres. Precisávamos fechar um objetivo e foi isso que fizemos, a partir do momento que nos vimos juntas. Por mais que surgissem dificuldades, o grupo iria fazer a diferença. Por isso essa prata valeu ouro.” Foi entrosadas que elas puderam contar com Roberta quando a Macris se lesionou e confiaram em Rosamaria quando Tandara saiu. “O grupo abraçou, foi incrível, teve um sabor mais do que especial.”
PRESSÃO DAS REDES
O companheirismo ajuda também a manter a cabeça no lugar diante das pressões da internet. “Quando eu comecei, não tinha rede social. Hoje nós atletas ficamos expostos a toda gama de opiniões. Se você não estiver preparado, você pira”, Carol fala. Os julgamentos vão desde ao desempenho em quadra até a vida pessoal das jogadoras. Quando expôs pela primeira vez que namorava outra jogadora, recebeu muito carinho do público. “O problema foi quando o relacionamento terminou e as pessoas atacavam outras pessoas que estavam com a gente”, lembra. No último dia 28 de Junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT, escreveu: “Sai com o seu preconceito, porque eu vou passar com o meu amor.” Hoje solteira, ela não tem certeza se voltaria a contar publicamente sobre um novo relacionamento. Ainda que haja certa cautela com o que expor e o que manter na esfera privada, Carol jamais perdeu sua espontaneidade e jeitão brincalhão nas redes.
Acompanhamento de perto: “Nossa cabeça manda em tudo, ela tem que estar bem”
OLHA NA ALIMENTAÇÃO E CUIDADO COM A BELEZA
Com a cabeça no lugar, outros cuidados com a saúde são mais naturais. Em relação a alimentação, o acompanhamento com a nutricionista e a cardiologista da medicina do esporte garantem a melhor combinação de nutrientes para cada momento. Sua dieta não tem restrições, mas a preocupação com uma alimentação mais saudável a faz escolher melhor os alimentos. “Atleta de alta performance pode comer de tudo, mas não vai comer fritura e doce todos os dias”, diz. Em época de competição, há um reforço nos carboidratos, para garantir mais energia. O cuidado com o corpo e os rituais de beleza fazem parte da sua rotina, mas uma boa performance em quadra, ela lembra, não tem a ver com a forma do corpo da mulher. “Há um machismo estruturado no esporte ainda, mas a gente está tentando mudar isso.” Essa é um jogo que nós da Boa Forma queremos muito virar e ganhar. Conta com a gente, Carol!
Foto e edição de vídeo: @oipattylima
Captação de vídeo: @brebiz
Cabelo e maquiagem: @henrizoccante
Direção de arte: @oipedroemilio
Agradecimento: @lojamillagomes, @odetelis, @manilacomunicacao e @mtcvolei
Esse especial faz parte da edição de setembro de 2021 de Boa Forma,
que traz a jogadora de vôlei Carol Gattaz em sua capa.
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