A lutadora Cristiane Justino, mais conhecida como Cris Cyborg (@criscyborg), representa o Brasil como uma das principais atletas de MMA, sendo a primeira e única da história do feminino e do masculino na competição, a conquistar o Grand Slam – que são as quatro organizações diferentes de artes marciais mistas: Bellator MMA, Invicta FC, UFC e StrikeForce FC.
“Vi o que eu tinha que melhorar, mesmo com todos os cinturões já conquistados e com as pessoas falando “Ah, ela é a melhor do mundo”, eu nunca deixei isso me afetar e sempre treinei sabendo que era preciso melhorar cada vez mais“, conta Cyborg.
Apesar dos golpes trocados durante as lutas e consequentemente os inchaços e ferimentos obtidos, a curitibana conta que é extremamente vaidosa e não dispensa um bom momento de autocuidado e beleza. “Ah, eu não dispenso cuidar do meu cabelo, principalmente por conta dos treinos, onde acontece muita quebra dos fios e suor”, conta.
Quer saber mais sobre a atleta? Confira abaixo o papo completo com a Boa Forma.
- Por que você sofreu bullying? Como enfrentou e lidou com essa questão?
No começo da minha carreira as pessoas não entendiam o meu trabalho, então sempre surgiam aquelas perguntas de forma irônica “Você é lutadora? Mas lutadora do que?”.
- Como você iniciou nas artes marciais?
Eu sempre fui atleta. Com doze anos eu comecei a praticar handebol e atletismo na escola. Joguei handebol no profissional e isso aconteceu por conta da minha altura, que era um pouco acima da média na época. O convite para as artes marciais foi uma grande surpresa e surgiu de um treinador que estava vendo o filho jogar handebol. Ele disse que eu tinha tudo a ver com luta e me chamou para treinar em uma grande academia. Nunca passou pela minha cabeça lutar, mas foi ali que tudo começou e não foi nada planejado. Com seis meses de treino eu já fui para a minha primeira luta no MMA.
- O que você sentiu sendo a primeira atleta a conquistar o Grand Slam?
Não foi nada planejado, mas eu dei o meu melhor, dia após dia, por muito tempo. Eu fui muito dedicada e tive muita disciplina. Vi o que eu tinha que melhorar, mesmo com todos os cinturões já conquistados e com as pessoas falando “Ah, ela é a melhor do mundo”, eu nunca deixei isso me afetar e sempre treinei sabendo que era preciso melhorar cada vez mais. Me sinto abençoada e grata por ter tido a oportunidade de conquistar o Grand Slam na minha carreira. Quero ser um exemplo para várias meninas, para que no futuro elas conquistem ainda mais. Eu sempre pensei nisso, no que eu posso conquistar para abrir as portas para outras mulheres também.
- Quais foram as maiores críticas que ouviu ao longo da carreira?
Acredito que eu já tenha sofrido algumas críticas na forma como eu luto, falando que eu sou agressiva e muitas vezes me comparando com um homem. Eu sempre olhei isso por um lado bom, como uma mulher que está lutando e muitas pessoas que querem assistir. As mulheres podem lutar como os homens, serem técnicas como os homens e podem fazer sim lutas extraordinárias como os homens fazem. Então eu não via isso como uma crítica, apesar de saber que muitos falavam isso na maldade.
- O que passa na sua cabeça durante uma luta?
O foco total dentro do octógono é colocar em prática tudo o que você treinou para aquela luta. Não tem muito o que pensar, mas sim no momento, onde você precisa estar focada 100% em cada situação da luta. Um deslize e a luta acaba. Temos um plano, mas existem fatores que podem acabar mudando ele, então é por isso que eu acredito que é muito importante treinar o máximo e se preparar para qualquer coisa que possa acontecer durante a luta.
- Como funciona o projeto Pinkbelt Fitness? O que te motivou a criá-lo?
Eu sempre sonhei em criar algo somente para mulheres. Eu queria abrir uma academia só para mulheres, então em 2015 eu tive a ideia de fazer um camp para esse público. A ideia foi trazer mulheres que não sabiam nada de luta, assim eu poderia apresentar esse esporte para cada uma delas. Eu apresentei a mistura das artes marciais e também separadamente, como o treino de boxe, o muay thai, luta olímpica e defesa pessoal. O Pinkbelt Fitness surgiu da minha vontade de ajudar no empoderamento de outras mulheres. Nesse projeto as mulheres ficam 2 ou 3 dias treinando e fazemos diferentes atividades juntas, então nesse período eu fico junto com elas. Eu compartilho diferentes experiências da minha carreira, mas também é um momento de fazer amizade, compartilhar histórias e a partir disso fazer uma mudança. Eu quero fazer a diferença na vida dessas mulheres.
- O que você costuma fazer no seu tempo livre? E qual o seu maior sonho?
Eu gosto de ficar com a minha família, com os meus amigos e gosto de estudar a palavra. Ah, e eu também amo ficar com os meus bichos de estimação. Tenho porco, gato, cachorro, passarinho, peixes. E claro, gosto de cuidar da minha casa e ler um bom livro. Agora sobre sonhos… Eu nunca fui uma pessoa de sonhos, mas sempre me preparei para as oportunidades que poderiam aparecer na minha vida. Sempre determinei e dei o meu melhor para estar preparada para quando a oportunidade aparecesse.
- Agora falando sobre beleza, qual a sua rotina de cuidados com a pele antes e depois de uma luta?
Quando eu estou em preparação para uma luta, é bem difícil ter tempo e é muito cansativo também. Apesar disso, antes de uma eu procuro sempre cuidar do cabelo e fazer uma boa hidratação. Pedicure e manicure também estão bem feitas, assim como a limpeza de pele.
- O que as pessoas nunca te perguntaram e você gostaria de falar mais sobre?
Acho que uma coisa que as pessoas não sabem é que eu não sou muito de assistir lutas, apesar de ser o meu trabalho. Eu sou o tipo de pessoa que “anulo” o meu trabalho quando volto para a casa e vivo outra realidade, então eu gosto de sair um pouco desse mundo de luta. Só assisto quando tem algum amigo está lutando.