Talvez você tenha percebido que muitas empresas que exploram a fertilidade feminina surgiram no mercado. Isso tem um motivo: a cada ano que passa as mulheres estão optando por engravidar mais tarde na vida.
Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), entre os anos de 1998 e 2017, o número de mulheres que deram à luz entre os 40 a 44 anos cresceu 50%. Para as mulheres de 30 a 34 anos, o número cresceu 37%.
Ou seja, é um fato que as mulheres estão, mesmo, decidindo engravidar mais tarde na vida. Independente do motivo, é aí que os estudos de fertilidade entram em cena, afinal, uma mulher não é fértil a vida toda, mesmo que menstrue.
Opa, essa informação pareceu estranha para você? Então, vamos entender melhor sobre o assunto.
MENSTRUAÇÃO E FERTILIDADE
Antes de qualquer coisa, é importante entendermos a relação entre a menstruação e a fertilidade feminina. “Ciclos regulares sugerem que essas mulheres estão tendo ciclos ovulatórios, portanto, com potencial de gestação”, explica o Dr. Nilo Frantz, especialista em reprodução humana.
“Por isso, a menstruação tem grande relação com a fertilidade, pois é através dela que o processo de ovulação acontece. Porém, a quantidade de sangramento não tem relação direta com a fertilidade, mas pode indicar patologias uterinas que podem afetar as chances de gestação”, continua.
E tem mais: o fato de uma mulher menstruar até os 55 anos, por exemplo, não significa que ela tem o mesmo nível de fertilidade que tinha aos 20. O avanço da idade, explica o médico, mexe não só com a quantidade como com a qualidade dos óvulos. Nos dois casos, existe uma diminuição da capacidade ovulatória, o que interfere nas suas chances de gravidez.
“Porém, é importante lembrar que, quando a mulher entra em menopausa, isso significa ausência de ovulação, por isso, a reserva ovariana da mulher acabou”, esclarece o médico. “Isso significa que a mulher não pode mais ser mãe? Não, hoje a tecnologia da reprodução assistida pode auxiliar nesses casos, com a indicação de um tratamento chamado de ovodoação.”
É POSSÍVEL SER FÉRTIL POR MAIS TEMPO?
De forma natural, não. Mas através de métodos como a criopreservação, sim. “A criopreservação é o ato de preservar os óvulos da mulher em idade adequada, entre 30 e 35 anos, de modo a frisar a fertilidade da mulher. Dessa forma, quando a mulher estiver pronta para ser mãe, seja com 37 ou 45 anos, ela terá óvulos preservados e poderá ser mãe utilizando seus próprios óvulos”, explica o médico.
Para isso, é essencial toda mulher saber que já nasce com a quantidade total de óvulos que vai liberar em cada menstruação ao longo da vida. É por isso que quanto mais tempo passa, menos óvulos ela tem na sua “reserva” e pior a sua qualidade, afinal, esse óvulo em questão passou décadas guardado.
É diferente do homem, que produz espermatozoides a vida inteira e, por isso, tem mais facilidade de engravidar uma mulher independentemente da idade.
“A idade da mulher é um fator primordial para avaliação da fertilidade”, continua o especialista. “Ou seja, procurar conversar sobre a sua fertilidade com o seu ginecologista, solicitar o exame de hormônios antimulleriano, que serve especificamente para a avaliação da reserva ovariana, e também entender quais os procedimentos disponíveis no mercado, são fatores fundamentais para serem considerados, caso a mulher deseje ter filhos, ou para aquelas que não tem certeza também.”
FERTILIDADE E A QUESTÃO DO PLANEJAMENTO
É nesse contexto que as empresas que comentamos acima surgem. Com a ideia de ajudar a mulher a entender a sua fertilidade e se planejar para o futuro elas embarcam na tendência da gravidez tardia somada ao avanço da tecnologia.
“A fertilidade feminina sempre esteve em pauta”, explica Rachel Horta, chief digital experience da Bloom Care, uma femtech especializada em saúde feminina. “Agora, com mais informação, e com as mulheres entendendo que a rédia da fertilidade está também com elas e não com o outro ou com o ginecologista, ela está assumindo um papel de protagonismo nessa questão.”
Com mais conhecimento, as mulheres podem fazer um planejamento de maternidade, buscando compreender, até mesmo, se querem ou não ser mães. O congelamento de óvulos é uma opção inclusive para quem está em dúvida, mas é importante aproveitar a janela de oportunidade: o ideal é congelar os óvulos até os 34 anos.
“Por isso, é importante que as mulheres comecem a pensar e conversar sobre o tema com 28 ou 29 anos, porque percebemos que, na média, as que congelam óvulos demoram entre 2 e 3 anos para executar essa vontade. Então, se a mulher começa a pensar com 28 ou 29 anos, provavelmente ela congelará os óvulos com 32. Se começar a pensar com 33 anos, talvez congele com 36”, explica Rachel.
Com isso, entende-se também que é possível congelar óvulos depois dos 34 anos, no entanto, esses óvulos terão menos qualidade – isso significa que as chances de se transformarem em um feto com vida diminuem exponencialmente, principalmente se o congelamento acontecer a partir dos 40 anos.
“É preciso considerar que o que manda na chance de gravidez não é a idade do útero, mas a idade do óvulo. Então, quando se congelam óvulos em uma determinada idade, travamos a chance de gravidez para aquela idade que o óvulo foi congelado. É como se a gente guardasse chances de fazer uma fertilização in vitro lá na frente”, continua.
É por isso que o planejamento é um ponto-chave nesse processo – e, infelizmente, uma corrida contra o tempo. Entra aí, também, mais uma ferramenta que coloca informações precisas e necessárias nas mãos das pacientes: o teste antimulleriano.
O QUE É O TESTE ANTIMULLERIANO?
Ao falarmos sobre fertilidade e maternidade, você vai ouvir muito sobre o “teste antimulleriano”. Ele é essencial nesse processo. Por mais que essas novas empresas ajudem no planejamento e mapeamento da maternidade tardia, apenas um médico vai saber interpretar os exames e diagnosticar a saúde da mulher naquele estágio da vida.
E, para isso, o hormônio antimulleriano é o protagonista. Ele é produzido pelas células do ovário e regula o desenvolvimento e o crescimento dos chamados folículos, isto é, as estruturas que contém o óvulo. É a partir dele que podemos fazer um “raio-X” do nível de fertilidade da paciente naquele momento da vida.
Esse hormônio tem uma vida útil de, em média, 6 meses – alcançando os 9 meses no máximo -, e mede o desperdício mensal de óvulos.
“O mapeamento e a interpretação desses resultados podem ser plotados dentro de faixas, que são estipuladas entre verde, amarela e vermelha. Se o hormônio antimulleriano estiver na faixa amarela, a mulher deve procurar um profissional para interpretar adequadamente essa informação e tomar decisões. Se estiver numa faixa vermelha significa que ela tem um limite de fertilidade bem menor do que quem está na faixa verde ou eventualmente amarela, por exemplo”, continua Rachel.
Ah, mas fica o lembrete: o teste antimulleriano, por si só, não traz todas as respostas. Mais do que isso, e independente da vontade de gestar ou não, para ter um panorama completo da sua capacidade fértil, é preciso realizar um check-up completo, de preferência com um médico de confiança.