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Herpes Zoster: número de infectados no Brasil aumentou 54% na pandemia

A infecção viral atinge pessoas que estão com alterações emocionais e imunidade baixa

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 21 out 2024, 16h34 - Publicado em 28 ago 2021, 09h00

A pandemia de covid-19 na saúde da população trouxe impactos que vão além da doença causada pelo Sars-CoV-2. Vários estudos têm demonstrado o aumento de doenças ativadas por alterações da saúde mental, entre elas a herpes zoster – uma infecção viral popularmente chamada de cobreiro, que é provocada pelo mesmo vírus causador da catapora, o Varicela zoster, e normalmente atinge pessoas que estão com alterações emocionais e imunidade baixa.  

HERPES X PANDEMIA DE COVID-19

A segunda etapa de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em Minas Gerais, constatou que o número de casos de herpes zoster aumentou 54% durante a pandemia de Covid-19 no Brasil, se comparado com o mesmo período pré-pandemia. 

Na primeira fase da pesquisa, os pesquisadores já tinham confirmado um aumento de 35,4% nos casos da doença comparando os meses de março a agosto de 2020, com o mesmo período em anos anteriores à pandemia. Os resultados da primeira fase foram publicados na revista científica “International Journal of Infectious Diseases” e os da segunda fase estão esperando a publicação. 

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EXPLICAÇÃO

Os pesquisadores partiram da premissa de que os problemas de saúde mental da população durante a pandemia poderiam estar causando outras doenças que são ativadas por causa do estresse mental. A partir de daí, decidiram analisar a frequência de casos clínicos de herpes zoster com base nos dados quantitativos consolidados extraídos do Sistema Único de Saúde (Data-SUS) durante a pandemia da covid-19 e compararam com os dados obtidos antes da pandemia. 

Segundo o pesquisador Hercílio Martelli Junior, professor da Unimontes e um dos responsáveis pelo estudo, os casos de herpes zoster saltaram de cerca de 30 casos por milhão de habitantes, antes da pandemia, para quase 41 casos por milhão de pessoas em 2020 e chegando a 43 casos por milhão até fevereiro de 2021. O professor ressalta que a herpes zoster não é uma doença de notificação compulsória, por isso os dados podem estar subnotificados. Além disso, foram considerados apenas casos de pacientes atendidos na rede pública de saúde – atendimentos da rede privada ou de saúde suplementar não foram contabilizados.

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QUEM PODE PEGAR

A herpes zoster ataca apenas pessoas que já tiveram catapora na infância ou que não estão vacinadas. Após a doença, o vírus Varicela zoster fica latente no organismo da pessoa e, por algum mecanismo ainda não identificado pelos pesquisadores, ele é reativado exatamente no nervo onde ele estava adormecido. “Embora a gente não saiba exatamente o por que dessa reativação, alguns dos fatores conhecidos como gatilho são o estresse emocional, a ansiedade, os transtornos depressivos e a baixa imunidade. Nesses casos, é comum vermos a reativação do vírus”, afirma Martelli Junior. 

Segundo o dermatologista Egon Daxbacher, coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), de maneira geral, a doença aparece em idosos porque a imunidade costuma diminuir com o avanço da idade, mas, os dermatologistas têm observado aumento de casos entre adultos jovens na faixa dos 40 anos. “Ainda não há uma explicação 100% precisa para isso, mas o aumento do estresse emocional mesmo antes da pandemia parece ser um fator importante, embora associar a doença apenas ao estresse seja uma explicação muito óbvia e fácil”, avalia Daxbacher.

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SINAIS E TRANSMISSÃO

Os sinais do herpes zoster começam com pequenas bolhas na pele, que costumam ser confundidas com alergias. As lesões começam a aumentar, causam coceira e se tornam doloridas. Uma característica que auxilia no diagnóstico é que, em geral, as lesões não ultrapassam a linha média do corpo: se concentram ou do lado direito ou do lado esquerdo, se concentrando em uma região geográfica específica. Apesar de ser uma doença viral, a transmissão não ocorre por via respiratória e sim pelo toque da lesão infectada. 

“A transmissão ocorre pelo toque das lesões enquanto elas não estão totalmente cicatrizadas. A quantidade de vírus é menor, mas é uma doença transmissível sim. A recomendação é que a pessoa se afaste do contato com outras pessoas que não estão vacinadas contra catapora”, alertou Daxbacher.

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EFEITOS TARDIOS

Após o tratamento, em alguns casos, a pessoa pode desenvolver a chamada dor neuropática (memória da dor) e sentir dor por meses. Foi o que aconteceu com a editora de vídeo Valéria Pinto, de 71 anos, que foi diagnosticada com herpes zoster em maio deste ano. Ela conta que nos últimos meses esteve bastante estressada em razão de problemas pessoais.

Valéria passou por três médicos e fez vários exames antes de chegar ao diagnóstico. Os sintomas começaram com dores nas costas, mas como ela havia mudado de colchão havia pouco tempo, pensou que o problema estava associado a isso. “Como a dor não passava, comecei a minha peregrinação nos médicos para descobrir o que eu tinha. Primeiro consultei um ortopedista. Fiz vários exames que não constataram nada”, lembra a editora.

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E os sintomas continuavam piorando. A dor atingiu a região do estômago e a pele de Valéria ficou sensível ao toque ao ponto de ela não conseguir vestir o sutiã sem sentir dor. Aí apareceram as primeiras bolhas. Valéria procurou um gastrologista, que suspeitou de herpes zoster e a encaminhou para o dermatologista. E o diagnóstico então foi confirmado. Valéria iniciou o tratamento medicamentoso e após cerca de dez dias as bolhas secaram. “Após as bolhas secarem começou o meu tormento com a dor crônica. Continua doendo muito e tive que procurar ajuda com um neurologista para fazer tratamento. Agora estou melhorando”, conta.

Segundo Martelli Júnior, o grupo está ampliando a linha de estudo e outras doenças que podem estar sendo influenciadas pela covid-19 também estão sendo avaliadas, entre elas o lúpus eritematoso sistêmico, o liquen plano e a síndrome de Guillain-Barré. Os pesquisadores também pretendem estudar se o vírus Sars-Cov-2, causador da covid-19, também pode ser um gatilho para o surgimento dessas doenças. “A mensagem que fica com esses dados é a que precisamos cuidar da nossa saúde mental especialmente nesse momento de pandemia, praticar atividades físicas, ter uma alimentação saudável e evitar a automedicação”, completou.

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