Quando os homens atingem o ponto máximo do prazer sexual, eles ejaculam. E as mulheres? O que acontece com elas? A conversa sobre ejaculação feminina (e sobre o tal “esguicho”) ainda é controversa e muito extensa, mas conversamos com uma especialista para elucidar o assunto. Vamos lá?
Ejaculação feminina: mito ou verdade?
Segundo a Dra. Sandra Cristina Poerner Scalco, ginecologista e sexóloga, colaboradora da Plataforma Sexo sem Dúvida, o assunto, de fato, é bem controverso. Para ela, a ejaculação feminina não é exatamente um “mito”, mas um assunto que ainda precisa ser mais pesquisado e evidenciado para ser, de fato, comprovado cientificamente.
“A literatura mostra que há muitos anos na história, pesquisadores tentam identificar a sua origem, buscam explorar questões anatômicas relacionadas, e se há benefícios, ou seja, qual seria, afinal, a função do suposto evento fisiológico para a experiência sexual feminina”, explica ela. “Apesar desses estudos, as opiniões científicas sobre a ejaculação feminina (ou squirting) permanecem inconsistentes”.
Em uma evolução dos estudos, e com base em uma publicação recente sobre o tema, chamada “Female ejaculation: An update on anatomy, history and controversies”, desenvolvida por profissionais de universidades espalhadas pelo mundo, os estudos clínicos e anatômicos conduzidos nas últimas décadas fornecem evidências substanciais em apoio a esse fenômeno.
É preciso notar, também, as críticas relacionadas ao próprio nome “ejaculação feminina”, alvo de muitas críticas por remeter a ocorrência que se compara ou equipara a algo masculino – ao contrário dos homens, a ejaculação feminina não tem, por exemplo, características reprodutivas.
Como a ejaculação feminina acontece?
“Partindo do pressuposto de que a ejaculação feminina existe/ocorre, alguns estudos anatômicos mostraram que a secreção ejaculatória se origina nas glândulas parauretrais (de Skene), mas sua composição é, em geral, reduzida. O ejaculado feminino parece diferir da urina em suas concentrações de creatinina e ureia”, explica a médica.
Ainda segundo ela, uma curiosidade interessante é a de que esse fluido, liberado durante o orgasmo, também contém um antígeno específico da próstata (PSA), que pode ter propriedades antibacterianas que servem para proteger a uretra. “Embora a função específica da ejaculação feminina permaneça em debate, alguns autores defendem a hipótese de que há evidências suficientes para apoiar a existência do fenômeno”, continua.
Toda mulher ejacula?
Deu para perceber que o tema ejaculação feminina ainda precisa ser muito investigado em termos científicos, certo? Inclusive, a Dra. Sandra explica que é difícil generalizar esse fenômeno, de forma que a conversa ainda se baseia tanto no que diz a literatura médica quanto na sua experiência no consultório ginecológico.
“Resta falar sobre o que se observa na literatura até o momento e principalmente baseado em relatos de algumas mulheres que já atendi, ou seja, uma parcela pequena refere essa experiência, e ainda, de forma eventual”, diz. “Observa-se, nesses relatos dessas mulheres, o seguinte: elas contam sobre ter tido a experiência da ‘ejaculação’, como um evento à parte (independente) da sensação orgásmica, geralmente associado a prazer intenso e profunda intimidade, podendo ser simultâneo ao êxtase, mas não necessariamente”.
É aí, inclusive, que entra um outro termo bem conhecido das mulheres – o “esguicho”. Para muitas, a sensação é de que elas “molham” o local, o que pode gerar até certo constrangimento durante o ato sexual, ainda mais quando não sabem o que está acontecendo.
“Elas fazem comparações com quantidades equivalentes a aproximadamente 30-50 ml, ou mais”, explica a médica. “Dizem não ter cheiro ou cor de urina, que é uma outra questão que muito se discute – para alguns estudiosos que pesquisaram a bioquímica da secreção, o fluido analisado tinha componentes equivalentes à urina, outros demonstraram o esvaziamento do líquido vesical antes e depois do orgasmo, por ultrassonografia”.
É possível estimular a ejaculação feminina?
Ainda segundo os relatos ouvidos pela médica, algumas mulheres atribuem esse fenômeno a uma excitação intensa. A partir disso, defendem a ideia de que em condições ideais de estímulo conseguiriam replicar a experiência em outros momentos. “Ainda, reiteram de que a “ejaculação” ocorreria, em geral, uma só vez, durante uma relação sexual, diferente do orgasmo. E que em muitas relações não chega a acontecer”, diz.