Como se falar de imunidade do corpo não fosse o suficiente em tempos de pandemia de coronavírus, agora também se fala em “imunidade mental”. Faz sentido: em um período tão complexo da história da humanidade, cuidar da própria mente virou uma nova prioridade, afinal, é fato que ninguém imaginava o que seria passar mais de um ano dentro da própria casa, equilibrando trabalho, tarefas domésticas e cuidados com os filhos e pets.
E, sim, ter e desenvolver a própria imunidade mental não só é possível, como aconselhável. Algo como o desenvolvimento da resiliência e os seus benefícios para tornar momentos de crise menos desesperadores. Mas vamos partir do começo:
Afinal, o que é imunidade mental?
“Imunidade mental é a nossa capacidade de aceitar todas as coisas que vêm, todos os acontecimentos que o mundo traz para a gente”, explica a psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, Fabiane Curvo de Faria. “Estar imune emocionalmente é conseguir lidar com todas as emoções, mesmo elas sendo ruins, é ter essa capacidade de continuar agindo mesmo com as turbulências da vida.”
Lidar com as situações positivas, as boas notícias, as mudanças “que vem para o bem”, como dizem, é mais simples. A questão se torna complicada quando a balança pende para o lado que as pessoas chamam de “negativo”. Nesse caso, a imunidade mental implica em ter a capacidade de lidar com qualquer tipo de situação, seja positiva ou negativa, de forma a não se desestabilizar emocionalmente.
Aliás, você lembra que falamos sobre resiliência mais para cima do texto? Então, é, assim como ela, que esse tipo de imunidade é adquirida: a partir de treinos mentais que terão um efeito na nossa capacidade de agir. “A gente tem que treinar o nosso corpo permanecendo atento às emoções e treinando essa capacidade de reagir a essas emoções. É estar sempre em alerta e reagir sempre que essas emoções ruins vierem. Então, à medida que você vai fazendo isso mais e mais vezes, você se fortalece”, continua a profissional, idealizadora da plataforma aterapia, que conecta profissionais de saúde mental e pacientes.
Fortalecer a sua imunidade mental é um processo semelhante. Não adianta apenas adquiri-la, você precisa desenvolvê-la através do mesmo processo: esteja atenta a sensações e tenha estratégias e ações para lidar com cada uma delas. Um exemplo é pensar no que você pode fazer em momentos que se sente triste, desmotivada até mesmo com raiva ou preocupada, é buscar um planejamento prévio para não se deixar levar emocionalmente por uma situação complexa.
Como começar a imunizar a minha mente?
Parece contraditório falar em cuidados com a mente e planejamentos e estratégias, mas Fabiana reforça como esse é o principal caminho para começar e fortalecer a própria imunidade mental.
“Se você sabe que tem coisas que fazem mal na sua vida, crie estratégias para reagir a elas”, explica. “O treinamento parece fácil, mas não é. Com essas estratégias pré-ordenadas para quando o acontecimento vier, você já tem um manual de como agir. A partir do momento que você faz e repete, faz e repete, isso vai sendo introduzido no seu corpo, sua mente.”
De acordo com a psicóloga, com esse treinamento o seu corpo e a sua mente passam a reagir de forma automática a partir dessa nova capacidade adquirida. O que não significa, é óbvio, que esse seja um processo simples ou fácil.
“Essa imunidade emocional é muito vista em monges, em pessoas que praticam muita meditação, porque eles treinam essa capacidade na mente deles o tempo todo. Para a gente, que está em uma rotina mais perturbadora, trabalhando, com filho e tudo mais, é mais difícil”, diz.
Isso, claro, não significa que adquirir essa imunidade é impossível, mas é preciso considerar o contexto atual e a possibilidade de cenários que ninguém poderia prever. A pandemia de coronavírus é um exemplo. O ideal, então, é fazer o melhor no contexto disponível e procurar ajuda especializada caso as dificuldades sejam grandes.
E os benefícios? Tem?
Com certeza! Assim como a meditação tem um efeito no bem-estar geral, a imunidade mental também. De acordo com a profissional, o que ela traz é uma sensação de bem-estar mais constante – ou seja, você não sai do eixo fácil.
“Às vezes, com as atribuições da vida, os acidentes que acontecem, com as coisas que mudam na nossa rotina, isso tira a gente do eixo. É como se a gente estivesse em uma estrada esburacada. Então, quando a gente tem essa imunidade mental, a nossa vida fica linear, mais plana, a gente consegue ter mais equilíbrio, ter uma vida mais plena e mais satisfatória”, finaliza.