Produtos de limpeza, poeira, pelos de cachorros e gatos, fumaça de cigarro… Será mesmo que a poluição está só nas ruas e avenidas, onde o trânsito corre solto e ônibus, caminhões e carros soltam fumaça de escapamento de forma deliberada? Infelizmente, não. O ar dentro de casa, muitas vezes, pode ser mais poluído do que do lado de fora, e por um motivo simples: a falta de circulação.
95% das habitações contém pelo menos uma forma de poluente
Um estudo do Observatório da Qualidade do Ar Interior (OQAI) analisou o ar de 400 casas durante dois anos. O que os pesquisadores descobriram, estudando diretamente filtros de ar condicionado e sacos de aspiradores de pó, é que existem mais de 30 tipos de poluentes químicos presentes dentro de casa. A conclusão foi que 95% das habitações contém pelo menos uma forma de poluente.
Esses poluentes, ao contrário do que se pode pensar, não vem apenas da fumaça dos ônibus e carros, como dito acima. Eles são liberados por materiais plásticos, computadores, detergentes ou inseticidas que usamos ao longo do dia ou da semana. Também são fruto do uso de desinfetantes, performadores, cosméticos e até fogões, panelas e frigideiras.
Mas antes que você entre em pânico achando que a é impossível se livrar do ar poluído, muita calma. “Ações bastante simples permitem a redução da poluição de nossas casas”, explica o farmacêutico neuropata Jamar Tejada. “Em primeiro lugar, tente renovar regularmente o ar da casa, abrindo janelas e portas. Faça isso de manhã cedo e à noite, quando o ar exterior é menos poluído.”
Consequências do ar tóxico em casa
Segundo a alergista e imunologista Dra. Brianna Nicolletti, é difícil pensar em um ambiente longe de poluição quando se fala nos grandes centros urbanos. “Mesmo morando em cidade grande, urbana e com ar mais poluído, é possível que o ar que respiramos dentro das nossas casas seja até pior que fora delas”, diz. “Nossos lares podem ter uma concentração surpreendente de microorganismos (bactérias), mofo (fungos), ácaros e até substâncias tóxicas que saem de materiais de construção (tintura, resinas, colas), móveis, produtos de limpeza (fonte importante de compostos orgânicos voláteis) e de atividades (como cozinhar).”
Alguns exemplos dessas substâncias nocivas que podemos encontrar em casa são o formaldeído, que, a longo prazo, está relacionado com o desenvolvimento de tumores, e o mercúrio, cujos efeitos neurotóxicos interferem nas habilidades de aprender e pensar. “Outros sintomas que estes compostos orgânicos voláteis podem provocar são dor de cabeça, tontura, e sensação diária de cansaço. Os níveis variam no correr do dia e aumentam quando a temperatura sobe. E podem causar impacto significativo na saúde das pessoas a longo prazo”, finaliza.
Isso sem contar nas questões respiratórias, que podem ser desenvolvidas por causa do excesso de ácaros e mofo no ambiente (ocasionando asma e rinite), assim como doenças pulmonares mais graves, como a DPOC.
De forma prática, não existem leis ou legislações que regulam a qualidade do ar em ambientes internos, por isso, esse cuidado recai nos próprios moradores daquela casa ou que trabalham naquele escritório. Dessa forma, que tal colocar algumas dicas em prática?
Como purificar o ar dentro de casa (e mantê-lo assim)
- Renove o ar
A primeira dica, já demos no começo do texto: abrir as janelas e permitir a circulação do ar nos ambientes fechados, como quartos, salas e até cozinhas, é essencial para garantir uma melhor qualidade do ar.
- Combata a umidade
“Combata também a umidade nos cômodos instalando um sistema de ventilação eficaz por toda a casa e ventilando a área e os banheiros logo depois de secar a roupa e utilizar o vaso sanitário, respectivamente”, continua Jamar.
- Cuidado com os químicos
Outra boa ideia é limitar o uso de produtos químicos na faxina, optando por poucas opções e deixando de lado os desinfetantes mais fortes ou abrasivos. “Prefira o uso de um pano úmido às vassouras já que elas levantam a poeira do chão, provocando inalações. Também evite o uso de inseticidas, perfumadores e ceras para o chão. Por fim, evite fumar dentro de casa”, aconselha o farmacêutico.
- Limpeza regular
Além disso, a Dra. Nicoletti lembra que a limpeza de filtros de ar condicionado, umidificadores e aquecedores, de forma periódica, é essencial para manter a qualidade do ar interno, e o mesmo vale para a troca de travesseiros, colchões e até de estofados de sofás e poltronas. A limpeza das cortinas também entra nesse mix.
E as plantas?
Claro que não poderíamos deixar de falar sobre elas, as queridinhas do ar purificado. Segundo Jamar, as plantas são alternativas para deixar o ambiente mais limpo e livre de toxinas relacionadas à poluição – elas são como um filtro natural.
Segundo estudo, de fato, plantas melhoram as condições do ar, mas apenas em grandes quantidades
No entanto, é preciso atenção: muitos dos estudos que relacionam a qualidade do ar às plantas são baseados em uma pesquisa da NASA desenvolvida na década de 1980 e que conclui que, de fato, plantas melhoram as condições do ar, mas apenas em grandes quantidades. Ou seja: cultive suas plantas com alegria (mesmo que sejam só algumas), mas não conte com elas para, sozinhas, melhorarem a qualidade do ar em casa. Ainda vale mais investir nas dicas colocadas acima.
De qualquer maneira, veja algumas boas opções de plantas a seguir:
- Antúrio (Anthurium): planta de origem colombiana pode melhorar a qualidade do ar, absorvendo xileno, tolueno e formaldeído.
- Azaleia (Rhododendron simsii): é uma planta muito eficaz como filtro de poluentes do ar, como os formaldeídos.
- Babosa (Aloe Vera): essa planta auxilia na limpeza e purificação do ar. Elimina formaldeído e benzeno principalmente.
- Clorofito (Chlorophytum comosum): é uma boa planta para auxiliar na absorção de partículas de poeira. Por isso, é usada para combater crises alérgicas e eliminar toxinas do ambiente, como carbono, xileno e monóxido.
- Jiboia (Epipremnum pinnatum): é uma planta ótima para filtrar monóxido de carbono, benzeno, xileno e formaldeídos. É considerada resistente e fácil de manter em casa, tendo em vista que não requer cuidados especiais.
- Palmeira-dama (Raphis excels): também conhecida como palmeira-rafis, é originária da Ásia e pode chegar a até 3 metros de altura. De acordo com a NASA, ela se encarrega de eliminar do ar o formaldeído, o xileno e os amoníacos.
- Espada-de-São-Jorge (Sansevieria trifasciata): de origem africana, pode ser cultivada em vasos ou em maciços e tem capacidade de absorver partículas poluentes em madeiras, tecidos e até carpetes. É boa para eliminar benzeno, xileno, formaldeído e também o tolueno e o tricloroetileno.
- Árvore-da-borracha (Ficus elastica): é muito resistente e, como tem um alto índice de transpiração, ajuda a manter a umidade do ar. Em poucos anos, ela pode crescer muito rápido. É eficiente na eliminação do benzeno, xileno e tolueno e também age contra o formaldeído e o tricloroetileno.
Esse especial faz parte da edição de setembro de 2021 de Boa Forma,
que traz a jogadora de vôlei Carol Gattaz em sua capa.
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