Você tem controle sobre suas vontades ou elas controlam você?
A Quaresma é um período de reflexão e autocontrole para muitas pessoas, e um dos hábitos mais comuns nessa época é a restrição alimentar

A Quaresma é um período de reflexão e autocontrole para muitas pessoas, e um dos hábitos mais comuns nessa época é a restrição alimentar – seja na forma de jejum, redução do consumo de carne ou até na exclusão de doces e ultraprocessados.
Mas o que acontece quando a privação leva ao efeito contrário, aumentando ainda mais o desejo por aquilo que tentamos evitar?
Se você já prometeu ficar longe do chocolate ou cortar certos alimentos e, dias depois, se viu em um episódio de compulsão, saiba que isso não acontece por falta de força de vontade.
Na realidade, seu cérebro está apenas respondendo a um ciclo natural de restrição e compensação, que pode ser intensificado por fatores emocionais e psicológicos.
Por que quanto mais você evita, mais deseja?
O cérebro humano não gosta de escassez. Sempre que restringimos algo de forma rígida, o sistema de recompensa entra em ação, aumentando o desejo pelo “proibido”.
Estudos mostram que quanto mais tentamos reprimir uma vontade, maior é a chance de que ela volte com intensidade, causando episódios de descontrole.
Isso ocorre porque alimentos ricos em açúcar, gordura e carboidratos ultraprocessados ativam áreas do cérebro ligadas ao prazer e à saciedade, liberando dopamina – o neurotransmissor do bem-estar.
Quando os eliminamos abruptamente, o cérebro pode interpretar isso como uma ameaça, gerando um desejo ainda maior por esses alimentos.
Não é apenas a restrição alimentar que impulsiona o desejo por doces e ultraprocessados. Muitas vezes, esses alimentos se tornam uma ferramenta para aliviar emoções como ansiedade, estresse e tédio.
Durante a Quaresma, por exemplo, algumas pessoas associam a privação ao sacrifício, o que pode gerar um efeito psicológico de compensação: “Já que fiquei tanto tempo sem, agora mereço me recompensar.”
Além disso, momentos de cansaço, frustração ou tristeza podem ativar o impulso automático de buscar alimentos que proporcionam conforto imediato.
O problema? O alívio é passageiro e pode ser seguido por culpa e mais restrição, formando um ciclo vicioso.
Dicas para regular os gatilhos
Separei aqui algumas dicas básicas para te ajudar a regular seus gatilhos e ter uma relação mais equilibrada com a comida:
1. Reflita sobre sua motivação
Por que você está restringindo certos alimentos? Se for por obrigação, punição ou tentativa de controle, é provável que a vontade volte com mais força. Se o objetivo for autocuidado e equilíbrio, a mudança será mais sustentável.
2. Não demonize alimentos
Nenhum alimento, por si só, é “vilão”. Em vez de cortar radicalmente, tente reduzir a frequência e encontrar substituições prazerosas, como chocolates com maior teor de cacau ou opções caseiras de snacks.
3. Identifique seus gatilhos emocionais
Preste atenção aos momentos em que sente um desejo intenso por doces e ultraprocessados. Pergunte-se: estou realmente com fome ou estou buscando alívio emocional? Se for o segundo caso, tente outra estratégia, como um passeio, um banho relaxante ou uma conversa com um amigo.
Permitir-se pequenos prazeres sem culpa pode ajudar a evitar episódios de compulsão. Um doce ocasional não compromete sua saúde – o que importa é a consistência dos seus hábitos no longo prazo.
4. Se necessário, busque apoio profissional
Se você sente que a relação com a comida está descontrolada e que os episódios de compulsão são frequentes, um acompanhamento com psicólogo e nutricionista pode ser essencial para entender suas emoções e criar um plano alimentar saudável e sustentável.
A Quaresma pode ser uma ótima oportunidade para refletirmos sobre nossos impulsos alimentares e entender que o verdadeiro controle não está na privação extrema, mas no equilíbrio e na consciência.
Em vez de lutar contra suas vontades, que tal aprender a escutá-las e regulá-las de forma saudável? Ao final do dia, a melhor relação com a comida é aquela que respeita o corpo, a mente e as emoções – sem culpa, sem exageros e sem o peso do “tudo ou nada”.
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