Os princípios
Hey, folks! Na semana passada eu trouxe aqui o olhar para o ser humano, o universo e o movimento. Observar a inter-relação existente em tudo. Como tudo é perfeito, possui suas regras, que muitas vezes desafiam a nossa lógica, por ela ser muito linear e material. Neles, as forças antagônicas coexistem e são interdependentes. Dada toda essa complexidade precisamos estudá-los infinitamente ao ponto de tentar compreender o incompreensível. Quando o fazemos percebemos que tanto o ser humano, como o universo e o movimento possuem princípios sólidos e imutáveis.
Aliás, como diria meu amigo Gary Gray, os princípios são imutáveis, mas nosso entendimento sobre eles muda o tempo todo. Olha aqui mais um exemplo de antagônicos coexistentes. O treinamento 3Dimensional se apoia nesses princípios também, porque se nossos clientes, pacientes e atletas são seres humanos que vivem nesse universo e se movimentam, não podemos abordá-los de uma forma que não seja através das lentes desses princípios. Parece meio óbvio, né? Mas todos os modelos de treinamento que eu conheço não se baseiam neles. Vamos a eles.
Singularidade
O princípio da singularidade nos diz que nada no universo é igual. Trazendo para os seres humanos, nenhuma pessoa é sequer parecida com a outra. Hoje temos na Terra quase 8 bilhões de seres humanos e nenhum se parece. E tem mais, na história da humanidade ninguém pareceu nem um tiquinho com você e eu nem sei quem é você.
Uma folha não é igual a outra. Uma pedra não é igual a outra. Nada se repete. Trazendo esse princípio para o treinamento 3D, não podemos ter protocolos para treinar ou reabilitar pessoas. O que serve para um não serve para outro. Dá para ir além. A singularidade também é individual. O eu de hoje não é igual ao eu de amanhã, o que faz com que, o que foi útil para mim hoje, pode não ser mais amanhã. Mudamos o tempo todo e tudo à nossa volta muda. Toda experiência com uma pessoa é única. Por isso muitos casais fazem sempre a mesma coisa que os uniram e terminam separados. Porque aquilo funcionava para as pessoas que eles eram. Não as que são hoje.
Aqui, inclusive, é um bom exemplo. Dar o mesmo treino para pessoas diferentes pode levar uma delas a uma melhora substancial e a outra ao fracasso. Porque um treino que serve para todo mundo é tão contra o princípio da singularidade que seria como criar um modelo de relacionamento para todo mundo. João se casou com a Maria, então vou copiar tudo que ele faz e fala para ela no meu relacionamento com a Ana, afinal essa é a metodologia do sucesso. Bom, quem já teve dois relacionamentos na vida sabe que se fizer a mesma coisa os resultados são diferentes. Se você já jantou com outro casal na vida, já percebeu que suas “regras” são bem diferentes das deles. E nenhuma é certa. E nem errada. Porque não há um gabarito.
Similaridade
O princípio da similaridade diz que embora tudo seja único, também é muito parecido. Eu não sei quem é você, mas posso afirmar coisas sobre você com uma precisão incrível. Você tem dois olhos. E eles estão no seu rosto. No meio deles tem um nariz. Logo abaixo, a boca. Nas laterais da sua cabeça, as orelhas. Acertei? É isso que diz esse princípio. Somos todos similares. A nossa similaridade nos faz humanos e únicos. Somos iguais e diferentes ao mesmo tempo.
Pensando em treinamento através da similaridade, posso dizer que sei coisas sobre você, como falei acima, baseado no conhecimento que tenho de outros humanos. Mesmo sem te conhecer. E em função disso sei que algumas respostas a determinados estímulos são semelhantes. Logo, a experiência com o treinamento de outras pessoas pode ser transferida para o seu treino, desde que, obviamente, respeite o princípio da singularidade. No caso real, eu posso até aplicar o mesmo treino para duas pessoas, mas tenho que estar aberto a todas as possibilidades de resultados que podem advir dessa experiência. Nesse caso, eu faria uso de ambos os princípios.
Mutabilidade
Já falei um pouco acima, mas para registrar esse é um princípio também. Nada no universo se repete. Tudo está em constante mutação. Alguns processos são mais lentos e outros mais rápidos. Vamos pensar que em um mundo que está sempre mudando, mesmo que você fique parado, você está mudando em relação ao todo, relativamente falando. Dentro do treinamento 3D precisamos estar atentos a todos os sinais que indicam quais são as novas rotas e caminhos baseados nas mudanças que temos hoje, que muitas vezes são sutis e outras vezes pouco discretas.
Por exemplo, você dá treino para uma pessoa que gosta muito de caminhar na esteira. Porém, ela está deprimida porque recebeu um diagnóstico médico que a deixou muito abalada. Ela resolve ir ao treino para espairecer. Por mais que para aquela pessoa a esteira sempre tenha feito bem a ela, um treino com menos variação e de longa duração como esse, no dia de hoje, pode ser muito ruim, porque dificilmente, sem a mudança de estímulo, essa pessoa conseguirá se desprender dos pensamentos que ela, neste momento, quer esquecer. E você pode argumentar que esse sempre foi o treino favorito dela. Mas, o fato é que esse não é o treino favorito da pessoa que está hoje, mas daquela que veio ontem, um pouco antes da consulta com o médico. Tudo muda, mas pode capotar em um piscar de olhos. Leve sempre isso em consideração.
Tridimensionalidade
Olhe para o seu lado, para o outro, para cima, para baixo, para frente, para trás. Você vive em um espaço tridimensional. Olhe para você. Você é tridimensional. Tudo no mundo físico, na matéria é tridimensional. E olhe neste espaço. Você pode se mover em todas as direções. Você também se move tridimensionalmente. Isso serve para você, para qualquer um e para qualquer parte. Ou seja, seu joelho também se move tridimensionalmente. Sua língua, seu reto abdominal. Assim é o universo. Assim são os seres. Assim é o movimento. E se nosso meio de trabalho é o movimento, não faz sentido algum avaliar ou treinar alguém de uma forma que não seja tridimensional.
Quando você treina o seu abdômen apenas flexionando o tronco você não está explorando-o na sua capacidade máxima. Muitas vezes, por não observar a tridimensionalidade das funções corporais os treinos podem estar sendo até contraproducentes. Você teria resultados melhores se não treinasse. Não treinar tridimensionalmente desequilibra o corpo e pode levar a lesões. Não é essa a função de um treino.
A tridimensionalidade também é um princípio que aborda outro conjunto de três dimensões, como vimos na coluna da semana passada: o corpo, a mente e o espírito. Aqui a atenção vai para a indissociabilidade dessas partes. Não existe um ser humano neste planeta que seja apenas um desses. E estas são as pessoas que batem na minha porta. Seres complexos, que pensam, sentem e se movimentam em 3D, sejam eles os três planos de movimento ou corpo, mente e espírito.
Forças físicas
O mundo que vivemos tem suas leis e é regido por elas. Boa parte destas regras denominamos como forças físicas. E são imutáveis, por isso são princípios. E é a partir dessas leis que tudo acontece, principalmente os movimentos. As principais destas leis que afetam o movimento são a gravidade, as forças de reação, massa, inércia, quantidade de movimento, entropia, empuxo, força centrípeta, entre tantas outras. Aquelas que estudamos na nossa aula de Física do ensino médio. Essas leis determinam a forma como vivemos e nos movemos. Isso por si só deveria ser razão mais que suficiente para que as estudássemos a fundo.
Em síntese, todo corpo sofrerá a ação da gravidade, por exemplo. Isso é igual para todo mundo. Porém, a forma como vamos lidar com essa força será singular. E a ideia do treinamento 3D é entender como nosso cliente lida com ela, como atenuamos os efeitos e como potencializamos a nosso favor, até porque sem ela não haveria movimentos. Então, a mesma força que me achata contra o chão podendo me paralisar é responsável pela minha movimentação. Já ouviu falar em antagonismos coexistentes? Viu como esses princípios sempre agem?! Em relação às forças físicas elas podem nos auxiliar ou serem obstáculos. Podem nos ativar ou nos inibir. Podem ser parceiras e aliadas ou inimigos vorazes. Só não podem não estar ali. Não podem ser desligadas. Nem negligenciadas em nossos estudos ou formas de treinar. Por isso precisamos treinar em diferentes ângulos, bases, vetores, planos. Podemos fazer isso ou treinar alguns músculos isolados, sempre da mesma forma, no mesmo ângulo, com a mesma base e torcer para ele desempenhar num mundo de infinitas possibilidades.
Forte abraço,
Samorai