Os ensinamentos 3Dimensionais da Semana Santa
Hey, folks! Esqueci de mencionar, mas duas semanas atrás completei 1 ano como colunista desta nova fase da tão tradicional Revista Boa Forma. Esse projeto começou como fruto de um trabalho brilhante e de muita coragem da excelente jornalista Helena Galante, que me convidou a contribuir com a renovação desta renomada publicação.
A minha tarefa é contribuir com esse olhar 3D, essencialmente na atividade física, mas também além, no ser complexo que somos e na sua inserção e interação com a sociedade e o universo. Aqui, nascia a coluna Treino 3D, e nascia também um colunista. Ao longo de 49 colunas, tentei mostrar de diversas formas a intersecção de corpo, mente e espírito. Como eles interferem na ação um do outro e como não podemos pensar a atividade física ignorando essa relação.
Na parte do corpo e da mente, de alguma forma é uma tarefa mais simples. Porém, na parte do espírito isso sempre foi mais difícil, até pelo fato de que, dos três, ele é o mais abstrato. O contexto espiritual abrange desde nossas emoções e sentimentos até o transcendental. Muitos desses temas são percebidos à luz da razão, no entanto alguns deles a razão consegue identificar o fato, mas não explicar. Outro fator complicador aqui é a confusão entre o termo espírito ou espiritual e religião. O que a ciência 3Dimensional estuda é o impacto dessa relação 3D no movimento e a partir disso propor um direcionamento a fim de uma evolução e autonomia. Mas não seguimos dogmas, doutrinas ou religiões. Isso não impede, entretanto, de olharmos para todas elas. Para todos os mestres espirituais que já passaram pela Terra e influenciaram e influenciam até hoje a humanidade.
Afinal, se queremos cuidar de pessoas, temos que ser expert em pessoas. Mesmo que na ciência 3D que aprende e é influenciada por diversas religiões e seus guias espirituais não tenhamos nenhuma religião, as pessoas, em geral, têm. E elas são a razão dos nossos estudos. E, se como falei, queremos ser expert em pessoas, precisamos levar em consideração todo o impacto que as religiões têm. Isso faz com que estudemos e aprendamos com todas as religiões e seus mestres. Aliás, com todos os mestres, até os que não trabalham por meio de religiões.
Aqui nesta coluna já abordei Krishina, Buda, Steiner, Einstein, Sócrates, da Vinci, Seu Zé entre tantos que olharam para o ser humano complexo. Esses mestres de diversas procedências e diversos meios são sempre uma lupa para enxergarmos melhor esse mundo e, principalmente, um guia para interpretá-lo melhor. Ao escutar, aprendi sobre o ser humano e isso me ajudou a ser um melhor profissional. Me ajudou a entregar mais, a entender meu aluno e aliviar sua dor. Vivendo no maior país cristão do mundo, obviamente Jesus tem uma influência gigantesca na nossa forma de ser e estar nessa vida.
E hoje, eu quero homenagear a Semana Santa e seus mistérios e trazer lições deste que, para muitos, é o momento mais marcante da história da humanidade. No qual dividimos o mundo em velho e novo mundo. Até a contagem do tempo sofreu influência. Como poderíamos passar ileso sobre isso? Mas quero fazer isso de uma forma ousada. Passando por todos os dias desta semana, do Domingo de Ramos à Páscoa, colocar os óculos 3D nela e aprender um pouco sobre nós mesmos por meio desse grande evento. Para me auxiliar vou usar alguns trechos de textos escritos por Evelyn Scheven e Emil Boch. Te convido agora a vir comigo de coração aberto.
A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, que marca a entrada de Jesus, sentado em um burrico, na cidade santa de Jerusalém. Ele é recebido por uma multidão barulhenta gritando Hosana. Ele entra em silêncio por essa vibração sem se deixar contagiar. Ele sabe que essa manifestação não tem consciência interna. Logo desaparecerá e passará para outra novidade, sem saber que uma delas será, eles mesmos, bradando a crucificação. O que me chama atenção aqui é que ele não se deixa afetar. Ele sabe quem é e qual é sua missão. Entra sereno e imune a essa badalação. Quantas vezes não nos abalamos pelo que escutamos? Seja positivo ou negativo. Pensar 3D é perseguir a verdade inalcançável do mundo. É não seguir as modinhas, por mais que todo mundo esteja fazendo. É seguir seu coração e resistir à vaidade.
A segunda-feira, como escreve Evelyn, contém um acontecimento simples e grandioso. Cristo sente fome, vai em direção a uma figueira e ela não tem frutos. Ele seca essa figueira, porque uma árvore só vale pelos seus frutos. Assim como nós, seremos julgados pelas nossas ações. Esse é um princípio básico do pensamento 3D. Todo profissional que trabalha 3Dimensionalmente deve produzir sempre. Não basta produzir conhecimento. Esse tem que chegar até as pessoas. Tem que ajudá-las em seus passos. Tem que transformar. A si mesmo e aos outros. E aos alunos também. O caminho se faz caminhando. Se faz em movimento.
Na terça-feira, Jesus é interrogado no templo pelos sacerdotes, que tentam pregar armadilhas que ele desata com conhecimento. Com profundidade. Essas perguntas se originam no medo de perder o poder que eles têm. Como aprendizado 3D está essa busca pelo conhecimento, partindo pelo autoconhecimento. Ao desarmar os sacerdotes, Jesus sabia antes de tudo quem era. E aqui encontro outro ponto essencial da filosofia 3D. Só há um meio de ensinar. E esse meio é sendo. É por meio do exemplo. E vivendo sua verdade. Não existe o “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Outro ponto aqui, baseado nos sacerdotes. Qual a natureza das nossas perguntas e das nossas investigações? Se for o medo, não nos levará ao lugar certo. O interesse do nosso olhar deve ser o outro. De forma genuína e com amor.
Na quarta-feira acompanhamos duas reações diferentes do mesmo desenrolar. Maria Madalena e Judas Iscariotes. A primeira, sabendo de tudo que se passaria, suporta e acompanha o ser amado em qualquer situação, tendo assim que controlar a revolta interna. Já Judas não consegue se conformar e tentar forçar Jesus a impedir isso. No fim, temos duas personalidades que amam, mas reagem de maneiras diferentes. Maria a de aceitar e superar a dor, e Judas o de mudar os rumos em direção à sua própria concepção do que seria salvar o mundo. Aqui, gosto de olhar para o fato de que muitas vezes vamos ter que aceitar as coisas como elas são. Isso é uma sabedoria e é acolher a dor quando essa tiver um propósito maior. Entender que não somos os donos da verdade e estarmos abertos às infinitas possibilidades que as relações humanas contemplam.
A quinta-feira nos traz a Santa Ceia e o lava-pés. Comecemos pelo lava-pés. Ele nos coloca como servidores. Essa é nossa função. O treinamento 3D é antes de tudo um meio de servir. De ajudar. De caminhar junto. De nos despir de uma autoridade frágil e entender que somos humanos e nisso não há diferenças entre nós. Gosto muito de, ao entregar uma avaliação sobre os movimentos de um aluno, escrevê-la com a linguagem mais simples possível para que ele realmente a entenda, porque assim ele pode me ajudar a enxergar melhor, pois posso entender de movimento, mas ele entende dele mesmo melhor do que ninguém. Então somos profissionais da área da saúde que ajoelha e lava os pés. Jamais um profissional 3D pode se portar como senhor da sabedoria.
Quanto à ceia, Jesus diz que “quem não come meu corpo e não bebe meu sangue, não faz parte de mim.” Essa frase nos traz três graus diferentes de comunhão. O primeiro é a comunhão da sabedoria, da compreensão. O segundo é a comunhão do coração, dos sentimentos e da compaixão. O terceiro, a comunhão do próprio alimento em si, matéria, que são verdadeiramente, e não simbolicamente, ingeridos. Aqui se encerra a maior premissa 3D, respectivamente em relação à forma colocada acima como mente, espírito e corpo. A sabedoria de entender o caminho por meio dessa tríade. Que sem ela não há caminhos, mas voltas perdidas.
E por fim chegamos à sexta-feira. A partir daqui, que chamamos de Paixão de Cristo, vou abordar de uma forma só. Da sexta ao domingo. Existem tantos acontecimentos e tantas mensagens neste intervalo de 3 dias que se fosse abordar os ensinamentos de cada um eu escreveria um livro. Então vou me ater à ideia principal. O morrer e o renascer. Entre os mistérios e as lógicas de funcionamento do mundo está o morrer e o renascer. Encontramos esse conceito o tempo todo, inclusive em nossa vida. Desde a ideia, já até batida, mas de fácil entendimento da lagarta e da borboleta, até em assuntos mais delicados e que nem sempre enxergamos a natureza do renascimento neste caminho.
O fato é que eu e você somos frutos de muitos renascimentos após muitas mortes. O pai que hoje existe em mim, renasceu de um homem solteiro e sem filhos que precisou morrer para hoje este existir. O próprio homem que habita em mim é o resultado de uma criança e um jovem que já não existem mais. Tiveram que morrer. E isso se dá nos relacionamentos, no trabalho e em toda experiência de vida. Essa é a forma de crescimento e do caminhar neste planeta. Morrer e renascer. No pensamento 3D muitas vezes percebemos que a pessoa com dor não quer morrer e renascer sem dor, ou lidando melhor com a dor. Ela se apega a essa dor e, mesmo fazendo um processo de reabilitação com esse fim, não consegue abandonar essa dor e todas as consequências positivas e negativas que ela traz.
Em última análise, todo programa de treinamento é um processo de morte e ressurreição, e isso traz, como em toda a morte, o medo de morrer. Mesmo que essa morte seja simbólica. De alguma forma precisamos ao longo da nossa jornada viver nossa paixão. Aliás, aqui outro nome que nunca fez sentido para mim e hoje faz totalmente. Paixão. Por que a “Paixão de Cristo”? Onde tem paixão aqui? E fui descobrir que paixão vem do grego patho, que significa sofrimento. Curioso que não consigo imaginar uma caminhada de transformação sem sofrimento, e também sem paixão, aqui no sentido do amor intenso. E é esse olhar de amor intenso sobre a paixão de Cristo que nos move enquanto cientistas 3Dimensionais. Somos apaixonados pelo nosso caminho. De todas as formas que essa paixão couber. Nesse caminho, muitos mestres nos ensinaram.
Aproveite a energia da Semana Santa para silenciar um pouco. Depure-se na sua paixão, permita que alguns de seus personagens (link para o texto dos múltiplos personagens) possam morrer por amor. Amor ao seu ser mais elevado que, como a mais linda borboleta, renascerá. Se você permitir e aceitar sua paixão.
Forte abraço,
Samorai