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Treino 3D - Corpo, Mente e Espírito, com Samorai

Bacharel em esporte, Samorai (@samorai3d) é criador do método de treinamento 3dimensional para reabilitação, prevenção e tratamento de lesões e performance. Aqui, auxilia praticantes e treinadores na busca por harmonia.
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O que eu ganho com isso?

Por SAMORAI
Atualizado em 21 out 2024, 22h28 - Publicado em 8 jul 2022, 17h43
MULHER APOIADA NA MESA COM COMPUTADOR NA SUA FRENTE
 (ANTONI SHKRABA/Pexels)
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Hey, folks! Para mim, a vida não tem um único caminho e nem nada é pré-determinado ou obrigatório. Por exemplo, eu não vim para essa vida para escrever para a Boa Forma. Nem para trabalhar com treinamento 3Dimensional. Nem para ser pai da minha filha. Nem para ser atleta. Nem para nada. Eu, verdadeiramente, acredito que só vim para cá para essa vida para uma coisa: sair melhor do que entrei. Quando olhamos a vida por esse viés, todo mundo tem as mesmas oportunidades, porque o conceito de “melhor do que entrei” é muito amplo. E a partir desse objetivo, sair melhor do que entrei, tudo e absolutamente tudo, passa a ser meio. E não existe um meio que não me serviria a este propósito.

Sendo assim, eu não preciso ser colunista da Boa Forma, mas o ser é um caminho para eu me transformar e crescer. O mesmo pensamento se aplica a ter minha filha, ser atleta e todas as coisas que eu escolho ou fui escolhido para fazer. E se minha vida fosse completamente diferente, essa premissa seria verdadeira, o que faz com que nada na vida seja em vão. Os guias espirituais vão te dizer que nenhuma folha cai sem que esteja inserida em algo maior, que faz com que a queda desta folha tenha sua necessidade em si. Isso é o que eu acredito. E isso me faz sair melhor do que entrei. Mas você pode pensar exatamente o oposto. E isso também pode te fazer sair melhor do que entrou.

Olhando para esse prisma vemos que as possibilidades são infinitas. Tudo é meio. Porém, não basta apenas viver, seja por qual meio você escolher. Você precisa trilhar esse caminho. Em uma analogia, é tipo fazer exercício. Qualquer um te gerará algum ganho, no entanto não basta apenas se matricular na academia, é preciso treinar. Com os caminhos da vida também. Cuidar de uma pessoa idosa com dificuldades e limitações tem um grande potencial de te transformar para melhor. Ser preso em uma cadeia também. Trabalhar como guarda de trânsito pode ser muito rico de possibilidades. Ser um juiz de futebol é uma oferta gigante de caminhos. Não importa. Tudo é meio.

Mas, esse meio deve ser vivido com presença plena e amor. Deve-se caminhar não importando o preço e sem olhar para o resultado. Eu sou atleta de Jiu Jitsu. Por ser atleta, busco ser campeão das competições que disputo. Contudo, o maior valor do Jiu Jitsu não está na medalha de ouro, mas na transformação que ele te possibilita. A medalha é, ou não, algo que está nesse caminho. E estará no caminho de quem a ganhar e não vai estar no caminho de quem não a ganhar. Mas, só vai fazer sentido se você trilhar esse caminho com o seu melhor. E com seu coração. A medalha em si não é nada. Até porque se ela for o resultado final e você não a atingir, nada valeu. E se você a atingir, a única coisa que você vai colher é o vazio. O filme Soul mostra muito bem isso quando o personagem principal consegue tocar jazz na noite, que ele sempre sonhou. E até esse vazio também pode ser um caminho. Desde que você o veja assim.

Eu acredito muito nesse modelo de vida. Porém, tampouco posso afirmar que a vida é assim. Essa é apenas a forma que faz mais sentido para mim baseado nas experiências que tive na vida. E tenho por mim também que toda crença deve ser alterada sempre, porque dada as infinitas possibilidades deste universo e toda a minha limitação como ser, não há nenhuma possibilidade de que, neste exato momento, eu tenha decifrado todos os segredos da vida. Sendo assim, ou vou mudar minhas crenças ao longo da jornada ou simplesmente terei parado de evoluir e por isso continuo pensando a mesma coisa. Mas o fato é que hoje me sinto feliz e evoluindo. Algumas vezes ando para trás para ajustar a rota e continuar a caminhada, e continuo fazendo de cada experiência uma parte dela. Isso me traz de novo ao Jiu Jitsu, para abordar um ponto que, para mim, é fundamental neste modelo e na felicidade. E para isso vou contar um pouco do que aprendi nessa rota.

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No início do mês de junho fui a Los Angeles disputar mais um campeonato, o Internacional Master North America. Sagrei-me vice-campeão da minha categoria e terceiro colocado no absoluto. Mais um ótimo resultado no ano, que já teve o primeiro lugar no Campeonato Europeu na Itália na minha categoria e um vice no absoluto, além de um terceiro lugar na categoria e vice no absoluto do brasileiro. Todos eles torneios duríssimos e que me enchem de orgulho e satisfação, além de, claro, muito aprendizado. Uma parte da minha vida de crescimento se dá através do Jiu Jitsu e por isso eu, literalmente, mergulho de cabeça. Entretanto uma coisa me chama muito a atenção. Na maioria das vezes que alguém me pergunta sobre meus campeonatos e viagens, uma pergunta sempre aparece: mas você ganha alguma coisa com isso?

A razão dessa pergunta é porque no mundo que a gente construiu, o valor está na matéria ou no dinheiro. Logo, a pessoa, ao ouvir minha história, faz uma conta rápida na cabeça e percebe que eu gasto um bom dinheiro viajando. Coloca isso dentro dos valores dela e conclui que jamais faria isso se não recebesse nada em troca. Ou seja, neste modelo, se você não recebeu dinheiro é como se não tivesse recebido nada. Ou nada que realmente importe. Porém, para mim, meu aprendizado é tão grande que tudo isso se completa nele mesmo. Vale a pena por si só. Então você pode argumentar que não mudaria em nada o aprendizado e o valor se eu também recebesse para isso. E obviamente, dados os meus resultados, é até possível que eu conseguisse um patrocínio. Mas eu não quero.

Agora que você não entendeu nada. Por que eu não quero um patrocínio? E para isso vou usar um exemplo que aconteceu comigo essa semana. Tenho um grande amigo que é um dos caras que eu conheço que melhor escreve. Aliás, o conheci exatamente por isso. Eu lia tudo que ele escrevia e adorava. Realmente me identificava com quase tudo que tinha naquele blog, entretanto principalmente com a forma que ele escrevia. Admiro muito as pessoas por isso. O tempo se passou e ficamos amigos e hoje ele até treina comigo. Hoje ele é um alto executivo de uma grande empresa. Tem uma vida sólida do ponto de vista financeiro. Essa semana estávamos conversando sobre o trabalho dele e sobre o livro que acabou de escrever. E ele me confessou que não gosta do trabalho que faz e que ele amou escrever o livro.

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Na sequência, emendou que se ele pudesse viveria de escrever livros. Uma pena que não dá para viver disso. E é aqui meu ponto. Você não precisa ganhar nada em troca para fazer o que ama. O valor está no amor e na transformação. Até porque, se isso se torna trabalho, certamente vai mudar a sua relação com isso. Voltando ao Jiu Jitsu, se eu recebesse um patrocínio para lutar, eu teria que lutar até quando eu não quisesse. Me sentiria cobrado por resultados e a paixão de estar ali, apenas porque é o único lugar no mundo que eu desejaria estar, vai dar lugar à obrigação. E tudo que não precisamos é de mais obrigação. Nada pode ser pior que transformar seu amor em obrigação.

Mas a lógica aqui vai além. Tomamos nossas decisões, ou ao menos as grandes decisões, simplesmente baseado no que vou ganhar em troca, sendo que esse ganhar deve ser sempre material. E é claro que não estou sendo ingênuo aqui de acreditar que no mundo que vivemos hoje isso não seja importante. Eu também faço algumas coisas para ter bens materiais em troca. No entanto, será que devo fazer isso com tudo? Será que tenho que levar tudo ao extremo? Se ganho dez, mas posso ganhar 15 então é isso que eu vou fazer, sacrificando outras coisas que não me dão retorno, mesmo que eu tenha todas as minhas necessidades atendidas. Ou ainda, deixar de fazer coisas que me fazem bem simplesmente porque não me trazem dinheiro. E muitas vezes me tiram dinheiro.

Esse modo de pensar, está em todo lugar. Quando vejo alguns dos grandes jogadores de futebol da atualidade, que certamente estão hoje vivendo o sonho de infância, vivem uma experiência de pesadelo, não são felizes no que fazem, simplesmente porque colocaram todas as suas escolhas da carreira nos valores financeiros que receberiam. Talvez um dos melhores exemplos disso seja o Neymar. Você não vê nele a alegria de jogar que tinha quando estava no Santos. Ou até mesmo no Barcelona. Mas hoje ele ganha muito mais. Porém, quando o vejo dar entrevista, parece que ele não tem mais nenhum prazer em estar ali jogando futebol, o que certamente era tudo que ele mais amava fazer quando menino. E casos como esses se repetem. Humildemente acredito que seja porque não temos limite em quando podemos ganhar. Nas nossas escolhas os valores materiais brilham mais na hora de decidir. E isso também se dá por acreditarmos na finitude da vida na matéria e que o sucesso na vida é sinônimo de sucesso financeiro.

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Uma vez conheci um senhor que era pura alegria. Ele tinha 70 anos e tinha acabado de entrar na faculdade de medicina. Fiz uma conta rápida na cabeça – incrível como as contas rápidas sempre nos levam a péssimas conclusões – e percebi que quando terminasse a residência ele teria 80 anos e seria um médico recém-formado. Somei isso aos valores que ele pagaria durante o curso com mensalidade e materiais e concluí que fazer medicina seria um péssimo negócio, porque ele nunca recuperaria o valor investido. E ele não era rico ao ponto de não ter problema abrir mão daquele dinheiro por um, digamos, “hobby”.

Perguntei a ele o que ele ganharia com isso, porque ele já não teria tempo hábil para exercer a profissão em excelência, ao que ele me respondeu: “Isso sempre foi meu sonho e nunca pude. Não faço pelos outros ou por dinheiro, mas por mim. E se você acreditar que a vida acaba nessa existência, você tem razão, talvez não valha a pena mesmo. Mas se você acreditar que essa vida é parte de uma jornada muito maior, e que tudo que você aprender você leva contigo para as próximas, aí vale a pena aprender até o último segundo desta e de qualquer outra vida”.

Não sei o que é o certo. Porém, viver desse jeito me faz brilhar muito mais os olhos. Talvez eu não ganhe nada aos olhos dos outros, mas ainda assim me faz muito feliz. E como diria o professor Clóvis de Barros, “a felicidade é inútil, não serve para nada. Porque o valor dela está nela mesma”.

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Forte abraço,

Samorai

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