Hey, folks! Meu querido professor nos Estados Unidos, o Doutor Gary Gray, tem uma frase que orienta muito nosso processo de pensamento: “Todo exercício é um teste e todo teste é um exercício”. O contexto dessa frase está no fato de que, na área da saúde, a avaliação ou teste é uma coisa e o exercício, outra. Sendo assim, para avaliar, utilizamos protocolos de avaliação, mas na hora de treinar ou reabilitar utilizamos outros exercícios, feitos apenas para o treinamento.
Para exemplificar, se uma pessoa tem uma dor no joelho ao se sentar e levantar de uma cadeira, possivelmente será feito um teste no joelho com a pessoa deitada em uma maca ou até mesmo uma ressonância magnética, também realizada na posição deitada. Porém, quando pensamos no movimento que gera a dor, o sentar e o levantar da cadeira, temos aqui a transição da posição sentada para em pé e vice-versa. Mas em nenhum momento deitado. Aliás, em muitos casos, talvez seja a única posição que não haja dor. Contudo, mesmo assim os testes são feitos em posições não funcionais.
Isso acontece porque muitos desses testes não visam descobrir as causas das lesões, e sim detectar o sintoma. Vou explicar melhor. Pense na ressonância magnética. Vamos supor que essa lesão de joelho tem como causa uma pisada torta. Ao pisar torto, o movimento tem orientações das forças alteradas e isso sobrecarrega o joelho, que inflama e com o tempo desenvolve uma tendinite, que se manifesta por meio de muita dor. Ao fazermos uma ressonância do joelho conseguimos detectar a inflamação dele, porém nada saberemos sobre a pisada, a verdadeira causa da lesão e por consequência, da dor. Não sabendo a origem da dor, como vamos tratar?
Por isso, uma avaliação funcional por meio do movimento que tem relação com a dor, no caso do exemplo um agachamento seria muito próximo, é a única maneira de entendermos a causa. Entendendo dessa forma, na sua sabedoria, Gary trouxe o óbvio, que muitas vezes não é observado, para discussão. Tanto o exercício como o teste devem ser parecidos. Por isso todo exercício se transforma em teste e o próprio teste se transforma em um exercício que pode ser progredido ou regredido com a finalidade de se ajustar às condições da pessoa nesse momento.
No treinamento 3Dimensional, que se alimenta muito da ciência funcional aplicada do Gary Gray, caminhamos por essa trilha, mas tentando ir além, mais simples e mais abrangente. Talvez aqui caiba uma adaptação. Todo movimento é um teste. Ou toda experiência é um teste. A ideia aqui são duas. Exercício, como já diria minha voz da consciência e meu grande amigo e excelente profissional Jonas Koch, é diferente de movimento. O exercício nessa ótica é composto por regras. Tem o certo e o errado. Já o movimento é livre. Muito mais versátil e flexível e por isso inerente a todas as pessoas.
Então, melhor que “todo exercício é um teste”, usamos “todo movimento é um teste”. No entanto eu vou além. Toda experiência, toda existência, toda ação ou ausência de ação é um teste. Sim, por duas razões. Uma por entender o ser humano como um ser complexo de corpo, mente e espírito e também pela nossa definição de avaliação. Vou começar pela segunda que naturalmente se ajustará à primeira. Avaliar, ao contrário do que vemos no mercado hoje em dia, não são protocolos a fim de que você desempenhe alguma tarefa com maestria. Avaliar é extrair resultado. E pensando em corpo, mente e espírito e na singularidade das pessoas, qualquer resultado é relevante.
Se eu peço para pessoa realizar um movimento e ela me diz que está com medo, tenho aqui uma avaliação e não tenho nenhum movimento, mas sim a ausência dele. Não consigo avaliar fisicamente, mas espiritualmente. Aqui extraí uma informação super-relevante. Este aluno tem medo deste movimento. Então, no processo de treinamento dele, essa informação é um fator limitante e deve estar à frente de tudo. Mais do que realizar uma estratégia para executar o movimento perfeitamente, precisamos desenvolver antes confiança, segurança e, por que não, coragem. Desta forma o exercício não se torna mais o fim do processo de treino, mas um meio de atingir outras valências, tanto nas capacidades físicas, como mentais e espirituais.
Voltando ao tema, no treinamento 3Dimensional, avaliar é extrair informação e esta será em 3 dimensões. Corpo, mente e espírito. Ou seja, avaliar vai muito além de protocolos com determinados movimentos iguais para todo mundo, mesmo que as lesões, as pessoas, os movimentos nos quais a dor aparece sejam completamente diferentes. Avaliação não é um teste laboratorial. É muito mais simples que isso. Fazemos o tempo todo e não nos damos conta. Quer ver? Te dou um pedaço de pizza e você me responde: “humm, que delícia de pizza!”. Para emitir esse julgamento sobre a pizza você comparou com outras pizzas que já comeu, com outros alimentos e até avaliou a percepção de prazer e felicidade que você teve ao comer essa pizza. Isso é avaliar. Você avaliou minha pizza.
Outro exemplo, você está caminhando à noite em uma rua pouco iluminada e opta por voltar. Por que você tomou essa decisão? Porque você avaliou as condições da rua, da luminosidade, de alguma informação prévia que você possa ter sobre o local ou também a ausência de uma avaliação prévia influencia sua tomada de decisão. O fato de você não saber se é perigoso não te dá subsídios para continuar com segurança. Uma experiência anterior em uma situação parecida, os dados estatísticos do país ou cidade em questão. É diferente esse mesmo cenário se você estivesse na Suíça.
O fato é que estamos o tempo todo avaliando. Logo, para uma avaliação 3Dimensional a fim de construir um processo de pensamento que nos ajude a levar você a atingir seu objetivo, não precisamos alterar esse processo, mas sim, direcioná-lo para obter a informação que nos ajudará a dar o próximo passo. E para isso, mais importante ainda é saber o próximo passo. Voltando ao exemplo da rua escura. Se o meu objetivo é caminhar com segurança, o próximo passo será uma rua mais clara, uma companhia, habilidades de defesa pessoal, não portar objetos de valor, caminhar em um local com mais pessoas. Logo, minha avaliação deve entregar as condições iniciais relacionadas a isso. Ao avaliar a rua observarei sua iluminação, o histórico de violência no lugar, se tem mais pessoas circulando.
Porém se meu objetivo é caminhar em uma rua que não seja quente e nem com subida porque meu condicionamento está muito ruim, os critérios de avaliação mudam. Agora não importa se tem muitas pessoas, mas sim, se a rua é plana. Se tem árvores. Se tem locais de descanso, se venta. E se objetivo é passear com a(o) companheira(o)? Me interessa tudo isso, mas sem uma beleza de uma paisagem? Ou seja, avaliar uma rua só faz sentido se tivermos o próximo passo como referência. A partir disso os critérios se ajustam.
Então me responda agora: Uma avaliação funcional que observe a sua resposta aos mesmos movimentos tendo apenas um critério pode entregar resultados ideais para pessoas únicas e singulares? Obviamente, não. Uma avaliação que além do que foi abordado acima, avalia apenas o movimento sem levar em consideração os fatores mentais e emocionais é funcional? A pessoa que não conseguia caminhar na rua escura por medo tinha algum problema relacionado ao movimento ou a um fator emocional? Se eu melhorasse o movimento de caminhada dela, mudaria o resultado final de caminhar na rua mal iluminada e deserta? Então, os problemas, as pessoas e os caminhos e possibilidades são únicos, singulares e infinitos. Um protocolo de avaliação não vai entregar nada para a maioria delas, porque ele é o mesmo aplicado a todas as pessoas, objetivos e situações.
Como então fazemos a avaliação tridimensional? A premissa inicial é que toda experiência me traz alguma informação e que avaliar é extrair informação. Falta agora estabelecer os objetivos e critérios. E para isso, como vocês já me conhecem aqui, vamos usar um exemplo. Uma pessoa me procura por estar com dor no joelho e me proponho a avaliar. Dado que todo ser é único, começo por uma anamnese a fim de conhecê-la, porque entendo de movimento, mas não de Maria. Entretanto, nem essa pessoa se conhece por um todo. Nem ela, nem ninguém. Logo, não é qualquer informação que me ajuda a encontrar um caminho para melhorar. Saber o nome da professora na 3ª série é uma informação, porém irrelevante. Mas saber sobre todas as dores, lesões, fraturas, cirurgias, torções que ela teve ao longo da vida em seu corpo me ajuda muito. Saber seu estilo de vida, as atividades físicas que já praticou, como ela reage perante a dor, como isso a atrapalha ou a inibe me ajuda a conhecer melhor essa pessoa e entender melhor o que ela veio buscar.
Após isso, entender em que situação ou movimento o joelho dela dói. Detectando isso, a avaliação termina com a indicação de um caminho. E para indicar um caminho preciso de dois pontos. No caso do exemplo seria um movimento no qual sinto dor e um movimento em que não sinto. E pode ser qualquer um, desde que atenda essa lógica bem simples. Feito isso, tenho um caminho, que será inédito. Esse caminho me ensinará, ao longo da própria jornada, que elementos ou capacidades precisam ser adquiridas ou adaptadas para que eu termine essa jornada entre dois pontos. Isso pode ser ganhar força, mobilidade, coordenação, controle, segurança, confiança, conhecimento, coragem. E tudo fica mais fácil quando começamos de um local seguro e conhecido, no caso o movimento no qual não tenho a dor. Se a distância do movimento com dor for de mil passos, só tenho agora que realizar o passo um, que está bem próximo e acessível de onde estou e não me gera desconfortos emocionais. Ao dar esse passo, já estou mais perto do meu objetivo. E esse passo me gera aprendizados que serão fundamentais para o próximo passo. Ou seja, é o caminho me ensinando e me preparando para caminhar.
Sim, o treinamento 3Dimensional é irritantemente simples e humano. É tão simples que parece até que não pode ser assim. Parece que tudo que é bom tem que ser complexo, quando na verdade é o oposto. Quando você domina algo de verdade você torna simples. Albert Einstein costumava dizer que se você não consegue explicar algo para uma criança de 6 anos é porque você também não entendeu. E ele seguia esses princípios. A fórmula da Teoria da Relatividade, que revolucionou a física e cria as condições para termos o mundo que temos hoje, é a menor fórmula da física. E = MC2. Pois como diria Leonardo da Vinci: “A simplicidade é o último estágio da sofisticação”. Albert Einstein, Leonardo da Vinci, Gary Gray. O treinamento 3Dimensional está muito bem acompanhado.
Forte abraço,
Samorai