A pergunta certa
Hey, folks! O treinamento 3Dimensional é mágico porque o simples e complexo coexistem. Trabalhar com o ser humano e entendê-lo é realmente complexo. Pensando só no corpo, estamos falando da maior tecnologia que existe no universo. Nada faz tantas operações com tamanha eficiência. Se expandirmos para a mente e o espírito, as capacidades são infinitas. Mal conseguimos explicar a imensa maioria das funções humanas. Meu professor nos USA, o Gary Gray, costuma dizer que, com muito boa vontade sabemos 15% das funções. Pois a cada dia que passa e quanto mais estudo e aprendo, começo a achar que essa boa vontade está grande demais. 15%? Será que ele não esqueceu uma vírgula e na verdade seria 1,5%? Vamos piorar esse cenário agora.
Imagine toda essa complexidade, nosso baixo entendimento das funções e agora aplique o princípio da singularidade, que diz que tudo no universo é único. Inclusive único a cada segundo. Pois esse é o meu material de trabalho. Seres humanos complexos, 3Dimensionais (corpo, mente e espírito), singulares. E nosso conhecimento sobre o funcionamento de todos esses mecanismos é muito baixo. Complicou né? Dado todo esse cenário só há um jeito de trabalhar. Pensando simples.
Sim, é aqui que complexidade e simplicidade coexistem. O ser humano é complexo, mas o meu pensamento não precisa ser. Pelo contrário. Se tudo já está demasiado complexo, por que eu devo adicionar mais complexidade? Embora seja importante entender sobre as funções e o próprio modelo de funcionamento do corpo em si, se eu esperar ter 100% de certeza sobre o tema para poder trabalhar, vou passar minha vida inteira estudando e não terei atingido nem 10% do necessário. Nem eu e nem ninguém. Porém, as pessoas têm dores, dificuldades, objetivos de performance e essas necessidades são para ontem. Então não posso esperar saber tudo. Tenho que criar um modelo no qual posso dar soluções apesar de não saber tudo.
Um exemplo que gosto de dar é o de um celular. Para entender o funcionamento de um celular eu teria que entender, dentre outras coisas, de física quântica. No entanto, mesmo não sabendo nada sobre como o celular realiza suas operações, consigo, sem grandes dificuldades, fazer uma ligação (é verdade, celulares fazem ligação), mandar uma mensagem de texto, tirar fotos, editar um vídeo e pagar uma conta no banco. Por trás dessas operações, pode acreditar, existem processos altamente complexos, mas minha operação é simples e, mesmo não dominando a operação, realizo a tarefa e consigo até perceber se o celular está com algum problema e, muitas vezes, até solucionar por conta própria.
Esse modelo de pensamento pode, e deve, ser transferido para o trabalho com o ser humano. Entretanto, isso deve ser feito de uma forma organizada e metodologizada, a fim de conseguir extrair os resultados desejados e com muita segurança, porque um celular pode até quebrar e compramos outro, mas com as pessoas não é assim.
Método AB 3D
Você já deve ter visto o aplicativo de um navegador que usamos para nos levar a algum lugar que não conhecemos. Esses aplicativos funcionam muito bem. Contudo, para isso acontecer você precisa fornecer dois dados para ele. Onde você está e para onde você quer ir. Sem esses dois dados fica impossível o aplicativo traçar a melhor rota para você. O mais interessante também sobre esses aplicativos é que, uma vez fornecida essas informações, ele te oferece algumas rotas que partem do mesmo lugar e chegam no mesmo destino. E se você mudar algo no meio do caminho, como perder uma entrada, ele corrige a rota e cria uma nova que também chegará ao mesmo destino.
O que a gente a aprende com isso? Que para ir para algum lugar preciso ter claro de qual lugar eu parto e para onde devo ir. Aprendo também que existem infinitas rotas que partem do mesmo lugar e chegam ao mesmo destino e que eu sempre posso corrigir minha rota. Quando transporto esse aprendizado para a minha área de trabalho, tenho o método AB 3D. Quando alguém me procura para trabalhar comigo, preciso pensar da mesma forma. Onde ela está e para onde quer ir.
Vamos imaginar alguém que sente dor no joelho. O ponto de partida é o joelho com dor e o de chegada o joelho sem dor. Vamos dar outro exemplo. Alguém que me procura para melhorar seu condicionamento físico. O ponto de partida é alguém com pouco condicionamento e o de chegada, alguém com grande condicionamento. Outro exemplo, alguém que busca o fortalecimento. Mais uma vez, o ponto de partida é alguém sem força e o ponto de chegada é alguém forte. Agora vem um ponto muito importante. Quando você traça a rota no aplicativo você é bem específico. Avenida Paulista, 2354. Rua Palestra Itália, 214. Se você tentar colocar ali perto da casa do Chiquinho, não serve. E esse conceito deve ser transferido para a definição de ponto de partida e ponto de chegada quando estamos falando de treinamento. Para isso se faz importante a pergunta certa.
A pergunta certa
Voltemos aos exemplos acima. O primeiro tem dor no joelho e tem por objetivo ficar sem dor. Mas ficar sem dor, como já vimos aqui, não é nem possível, nem desejável. No entanto, mais do que isso, é muito impreciso. Tanto o ponto de partida quanto o ponto de chegada. Então precisamos tornar tudo mais preciso. E mais, resolver uma coisa de cada vez.
Pensando no ponto de partida, temos que definir um movimento no qual essa dor no joelho aparece. Podemos pensar nos movimentos mais fundamentais, porque impactam mais a vida das pessoas. Nesse caso, o joelho dói quando anda. E se a precisão é o segredo, quanto mais preciso, melhor. Dói quando anda para frente desde o primeiro passo (porque poderia ser após 5 minutos de caminhada). E o resultado final desejado, o ponto de chegada não é ficar sem dor, mas andar por 10 minutos sem sentir dor. Pronto, está claro e “já” sabemos que caminho temos que percorrer. Do joelho que dói ao caminhar para caminhar 10 minutos sem dor no joelho.
Mais um exemplo. A pessoa me procura para melhorar o condicionamento. Embora eu consiga entender de maneira geral, isso está impreciso. Vamos ajustar! Quando o cliente fala em condicionamento pode ser qualquer coisa, não necessariamente condicionamento cardiovascular. O maior de todos os erros é ouvir que o aluno quer condicionamento e pensar que já sabe, e coloca ele para correr na esteira. Parto do princípio que não sei. E é isso que vamos descobrir. E aqui tem uma pergunta que muda tudo. O que você não faz hoje que, se vier a fazer amanhã você atribui isso à melhora do seu condicionamento?
Até para mostrar o erro de se colocar na esteira, vou usar nesse exemplo, brincar com o filho. Ele simplesmente não consegue brincar mais de 5 minutos com o filho porque fica muito cansado e chama isso de condicionamento. Em uma análise mais minuciosa podemos concluir que o que lhe falta não é força e nem condicionamento cardiovascular, mas mobilidade de flexão do quadril. Sem essa mobilidade, para ficar de cócoras ou até sentado no chão, o corpo dele faz muita força e, obviamente, por mais forte que seja, uma hora essa força não dá conta e ele cansa. E porque ele cansa, ele acredita que seja por falta de condicionamento. Por isso não importa como o aluno define o que ele quer, e sim a precisão que precisamos encontrar limpando a informação que ele traz.
Agora precisamos definir os pontos de partida e chegada, mas já temos quase uma ideia. O ponto de partida é brincar com o filho por 5 minutos. Ele não consegue mais que isso. O de chegada, vamos imaginar que seja brincar com o filho no chão por 20 minutos. Agora é “só” traçar a rota.
Vamos ao último exemplo, o aluno me procura pedindo fortalecimento. Normalmente, ao escutarmos isso colocamos o aluno no supino, afinal ele quer ficar forte. Nos baseamos, muitas vezes, na nossa definição de fortalecimento. Entretanto, assim como o condicionamento, isso está muito impreciso. E a pergunta usada anteriormente serve agora também. Legal, o que você não faz hoje que se vier a fazer amanhã, atribuirá isso ao fortalecimento? Nesse exemplo em questão o aluno me responde que outro dia ele chegou do serviço em casa e o prédio que ele mora estava sem luz. Como ele mora no 5º andar teve subir de escadas e precisou parar três vezes para descansar durante o percurso.
Olha que bacana, o que ele chamou de força não tem nada a ver com supino. Aliás, possivelmente o supino não ajudaria em nada nesse cenário. O que ele pediu tem a ver com subir. Então o treino dele deve passar por isso. Precisamos agora definir o ponto A e o ponto B de forma precisa. Qual seria o ponto A? O quanto ele conseguiu subir antes de parar? “Ah, subi dois andares e sentei para descansar”. Já temos o ponto A. E o ponto B, pode ser, nesse primeiro momento, os cinco andares sem parar. Viu como ficou “simples” traçar as rotas?
Essas perguntas mudam tudo. Porém, elas têm uma regra. Toda definição de um ponto é necessário que seja muito precisa, e isso quer dizer que qualquer um pode mensurar. Não posso aceitar como ponto de chegada correr bem. A definição tem que ser algo como correr 10 km. Qualquer um consegue mensurar. Correr bem é relativo. Uma pessoa pode achar que foi bom e outra que não. Mas 10 km são 10 km e fim.
Esse é o método AB 3D. A criação de um ponto A, de um ponto B e que eles sejam claros e precisos. Feito isso precisamos definir os caminhos. O leitor mais atento já observou que quando falei em definir a rota ou caminho coloquei palavras como fácil ou simples, mas usei as aspas. Porque conceitualmente ficou muito claro de entender o trabalho que temos que fazer e o que temos que entregar. No entanto, não é assim tão simples. Temos também uma estratégia para definir isso e, inclusive, ir ajustando a rota quando “perdemos uma entrada”. Afinal, é assim que os aplicativos conseguem entregar o que nós vamos buscar. Contudo, isso é um tema para a semana que vem, em que explicarei como traçar as rotas e como ajustá-las. Isso se dá através de outra pergunta certa. Como já dizia o slogan do canal Futura, “são as perguntas que movem o mundo, não as respostas”.
Forte abraço,
Samorai