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Seletividade alimentar: como lidar com o quadro na infância ou fase adulta

O que é muitas vezes é relatado como dificuldade para aceitar alimentos pode ser apenas um alerta relacionado à seletividade alimentar. Saiba mais!

Por Ana Paula Ferreira
Atualizado em 21 out 2024, 17h41 - Publicado em 18 fev 2024, 10h00

Caracterizada por recusa alimentar, pouco apetite e desinteresse pelo alimento, a seletividade alimentar é um sintoma que faz parte de um problema maior chamado dificuldades alimentares.

De acordo com Marina Guedes, nutricionista, chef de cozinha e professora na pós-graduação na Faculdade UNIGUAÇU, apesar de este ser um comportamento típico da fase pré-escolar, é possível acentuar-se e permanecer até a adolescência e alguns casos durante a fase adulta quando presente em ambientes familiares desfavoráveis.

Como explica a profissional, o que é muitas vezes é relatado como dificuldade para aceitar alimentos pode ser apenas a ponta do iceberg de outros fatores como traumas, dor, transtorno de processamento sensorial, transtorno do espectro autista, alergias alimentares, disfunções digestivas e carências nutricionais.

Crianças com seletividade alimentar são classificadas em três categorias:

“A seletividade é marcada por recusa consistente de alimentos específicos, que têm um sabor, textura, cheiro ou aparência particulares. Na maioria das vezes, ela apresenta associação com algumas alterações sensoriais tais como sensibilidade a ruídos ou dificuldades com materiais que causam sensação de sujeira nas mãos, pés ou outra parte do corpo”, detalha Marina. “São crianças com dificuldade para pegar no alimento, manusear tintas, massa de modelar, argila, pisar na areia ou grama, dentre outros objetos com variadas texturas”, complementa.

Segundo a nutricionista, adultos também podem sofrer com a seletividade alimentar, principalmente se elas forem resultado de alguma fobia não tratada. “A seletividade alimentar em adultos pode envolver aversão a certos alimentos ou grupos de alimentos, preferências alimentares restritas e uma relutância em experimentar novos alimentos, podendo impactar negativamente a qualidade da dieta e a ingestão de nutrientes essenciais levando a deficiências nutricionais, sobrepeso e/ou obesidade.”

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Como evitar a seletividade alimentar?

Como afirma Marina, a prevenção da seletividade alimentar inicia-se no preparo para a gestação, na alimentação materna no período pré-gestacional, durante a gravidez, na fase da lactação e na introdução de novos alimentos.  O aleitamento materno exclusivo por seis meses e a inclusão da alimentação complementar após essa idade reduz as chances de a criança desenvolver comportamento alimentar seletivo na fase de dois a três anos.

“O líquido amniótico muda de sabor de acordo com o que a gestante se alimenta. A regra também vale para o leite materno. A alimentação deve ser variada para prevenir dificuldades alimentares no futuro”, pontua a nutricionista.

Para muitas mães, o fato da criança não se alimentar direito gera preocupação e é difícil distinguir a diferença entre a recusa alimentar normal e quando é preocupante. Diante disso, a especialista explica que a neofobia é frequentemente confundida com a seletividade alimentar. Entretanto, é um comportamento normal que se inicia no final do primeiro ano de vida com um pico entre 18 e 24 meses e se resolve naturalmente. “Muitas vezes as crianças apenas aceitam os novos alimentos após repetidas exposições.”

Terapia alimentar para crianças com seletividade

Marina comenta que a terapia alimentar é uma forma de tratamento fundamental para as crianças com seletividade. Três estratégias que devem ser utilizadas na terapia:

Riscos da seletividade alimentar

A seletividade alimentar se torna um transtorno quando impacta o desenvolvimento nutricional e físico da criança, passa a ser um grande problema que pode atrapalhar o desenvolvimento cognitivo. Os riscos associados às dificuldades alimentares que podem trazer impacto negativo para as crianças são: baixo peso, atraso no crescimento, alterações cognitivas, constipação crônica e fome oculta (deficiências nutricionais).

A ingestão altamente seletiva pode levar a privação de consumo de nutrientes essenciais ao crescimento e desenvolvimento como vitaminas A, E, D, C, minerais como zinco, ferro e consumo proteico.

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“Entretanto, as crianças seletivas costumam ter peso e altura normais, pois existe uma tendência familiar a ofertar os alimentos da preferência da criança em excesso para suprir a baixa ingestão, nestes casos muito cuidado deve ser tomado quanto às deficiências nutricionais. A criança seletiva pode até apresentar obesidade e estar ao mesmo tempo desnutrida”, alerta a nutricionista.

Existem alguns passos que as famílias podem seguir para auxiliar a criança que come mal:

Seletividade alimentar e transtorno de espectro autista

Diversos aspectos estão interligados e são as causas da seletividade tão comum em crianças que apresentam transtorno de espectro autista. Aspectos comportamentais como a necessidade de ritualizar os comportamentos e a ansiedade, comuns entre as crianças TEA, tornam o momento das refeições muito desafiador.

Fatores sensoriais são um ponto importante. Crianças com TEA frequentemente têm hipersensibilidades ou hipossensibilidades sensoriais, o que pode afetar sua percepção de texturas, sabores e odores dos alimentos. “As sensibilidades sensoriais podem levar à recusa de certos alimentos devido à sua textura, temperatura ou sabor”, explica a nutricionista.

Ela ressalta que aspectos gastrointestinais que podem levar a deficiências nutricionais também devem ser considerados, “uma vez que afetam o paladar e causam problemas gastrointestinais, como constipação ou diarreia crônica. Isso pode tornar a alimentação desconfortável e desagradável”.

A dificuldade no processamento sensorial ou transtorno do processamento sensorial é uma condição neurológica que afeta a forma como o sistema nervoso interpreta os estímulos sensoriais como toque, som, luz, cheiro, gosto, equilíbrio, propriocepção (consciência da posição do corpo) e interocepção (capacidade do cérebro de sentir as sensações internas, como fome e sede).

“Pode ser bem desafiadora a alimentação de crianças com tal transtorno. Após o diagnóstico da seletividade é interessante realizar o tratamento com uma equipe multidisciplinar e contar com o auxílio de um terapeuta ocupacional. Na parte nutricional a terapia alimentar pode ajudar muito e é uma opção que une o lúdico com o sensorial”, completa Marina.

A Terapia Ocupacional é uma área da saúde que visa auxiliar no cotidiano das pessoas, avaliando o desempenho ocupacional em áreas de autocuidado, trabalho, lazer, capacidades cognitivas, sensoriais, motoras e sociais, melhorando o dia a dia de seus pacientes ao possibilitar meios para que realizem atividades cotidianas de maneira autônoma.

Através de atividades de exploração e vivência sensorial, são buscadas respostas adaptativas mais complexas e comportamentos sociais e emocionais mais adequados. O profissional faz uma análise do que a criança deveria realizar ou se tem algum tipo de dificuldade, isto de acordo com sua faixa etária e respeitando os marcos de desenvolvimento infantil. Estas condições podem ser cognitivas, sensoriais, motoras ou até mesmo sociais.

A abordagem vai além dos atendimentos, as orientações à família são importantes para o estabelecimento de metas e implementação de rotina durante a alimentação.

“A criança precisa de aproximação gradativamente aos alimentos, sem forçar para evitar uma aversão alimentar. Lembrando que a terapia não começa pela boca, devemos trabalhar todos os sistemas sensoriais, olfativos, visuais e táteis. O tratamento conta com seis etapas que requerem comprometimento e paciência: tolerar, interagir com o alimento, cheirar, tocar, provar e comer”, orienta Andreia Vogelmann, professora no curso de Terapia Ocupacional na Faculdade UNIGUAÇU.

A seguir, a profissional listou algumas dicas para tornar o momento da alimentação mais tranquilo e prazeroso:

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