E se você descobrisse que fazer jejum intermitente não faz você emagrecer mais ou mais rápido? Pois é, um novo estudo publicado no New England Journal of Medicine avaliou 139 pessoas obesas por um ano e concluiu que não existem diferenças na prática do jejum intermitente ou da dieta tradicional.
Durante 12 meses, essas pessoas foram divididas em dois grupos: a primeira mudou os seus hábitos alimentares para incluir o jejum. A segunda, distribuiu as calorias a serem ingeridas ao longo do dia, no clássico esquema “comer a cada 3h”. O resultado: os dois grupos perderam a mesma quantidade de peso e tiveram os mesmos resultados em termos de saúde.
“O estudo avaliou o benefício do jejum para a saúde”, explica o nutricionista Thiago Monteiro, conhecido na internet como Nutri Fofo. “A prática do jejum tem benefício, por exemplo, a sensibilidade à insulina, porém, em uma dieta convencional, com indicação de comer de 3 em 3h, também é possível ter esse resultado e perder peso da mesma forma. Essa foi a conclusão do estudo.”
O que o estudo indica também é que para obter os benefícios da alimentação, é preciso ter uma dieta saudável, rica em folhas, vegetais, fibras, proteínas e carboidratos. “Os benefícios estão muito mais na escolha dos alimentos do que na estratégia utilizada, seja jejum ou comer de 3 em 3h”, continua o profissional.
AFINAL, VALE A PENA FAZER JEJUM INTERMITENTE?
Depende muito. Ao optar pelo jejum, algumas pessoas podem apresentar sintomas como dor de cabeça, fraqueza, fome, irritabilidade, perda de memória e da concentração, ansiedade… ainda mais se a pessoa não está acostumada com a prática.
“O jejum pode acabar gerando um pico de fome, e, na hora que a fome chegar, a pessoa pode não conseguir se controlar e errar nas quantidades”, alerta. “A pessoa acaba comendo o que ‘tiver pela frente’ e em uma porção muito maior do que se não estivesse com tanta fome, por estar várias horas sem ingerir alimentos.”
O resultado desse processo pode ser um transtorno alimentar e, muitas vezes, esses pacientes vão precisar de ajuda profissional multidisciplinar, com psicólogos e nutricionistas, por exemplo, para reverter o quadro.
“Hoje temos muita facilidade para acessar qualquer coisa e, do mesmo jeito que a internet chegou para trazer informações boas, ela também traz temas com os quais temos que tomar um pouco de cuidado. Jejum é a prática mais antiga que existe, mas isso se dava devido à falta de alimentos. Nossos ancestrais precisavam caçar e não tinham comida à disposição como acontece hoje”, diz Thiago.
As pessoas estão, atualmente, muito condicionadas a procurarem respostas rápidas e imediatas para as suas questões, inclusive o emagrecimento. E esse “desespero”, como diz Thiago, pode gerar ações não saudáveis e pouco sustentáveis ao longo do tempo – como a adoção de um sistema de jejum intermitente sem orientação.
“Devemos emagrecer usando uma estratégia que possamos levar para a vida inteira, senão o resultado será momentâneo. As pessoas estão com sobrepeso há anos, mas querem emagrecer em alguns dias, semanas… Isso não funciona!”, diz.
O JEJUM COMO ESTRATÉGIA ALIMENTAR
É interessante ter em mente que o jejum não é uma solução para a perda de peso, mas uma estratégia alimentar que, a princípio, pode gerar resultados na balança.
“As pessoas acreditavam que se tratava de uma boa estratégia para perder peso. E perdem de fato, mas isso está mais relacionado à restrição, de ficar muito tempo sem comer e esvaziar os estoques de energia, glicogênio muscular e hepático”, explica Thiago. “Quando a pessoa se submete ao jejum, o peso final diminui muito, sobretudo nos primeiros dias, pela perda do glicogênio e perda de água.”
Passado esse primeiro momento, no entanto, há uma estabilização do peso. Além disso, é comum as pessoas recuperarem o peso muito rapidamente quando voltam a comer “normalmente”. “O jejum conquistou muitas pessoas devido a essa falsa sensação de perda de peso a curto prazo, o que não é verdade”, continua.
O QUE FAZER PARA PERDER PESO?
A conclusão, segundo o nutricionista, é aceitar que o processo de perda de peso não é rápido, mas pode ser efetivo desde que considere as necessidades nutricionais de cada um e mantenha, principalmente, o equilíbrio.
“As pessoas têm que emagrecer comendo aquilo que gostam, sabendo identificar o que não é saudável e colocar esses ‘alimentos’ como exceção”, diz. “Você pode comer uma pizza, um hambúrguer, um doce, mas isso tem que ser esporádico. Eu gosto de usar a expressão: acertar 80% e errar 20%. E saber que está em um processo para perda de gordura, melhora da saúde e adoção de novos hábitos.”
Além da orientação profissional, interiorizar esses novos e bons hábitos e aplicá-los no dia a dia, como comer bem, fazer exercícios físicos, beber água e dormir bem precisa entrar no lugar da crença em “falsos produtos e táticas”, como explica o nutricionista, que prometem milagres – o que inclui o jejum, shakes, chás e até pílulas.
“Emagrecer vai muito além da estética! Emagrecer melhora o sono, o intestino, a disposição, a autoestima e a saúde em geral. Não é preciso olhar a dieta como sofrimento, não precisa passar fome para emagrecer e ter o tão sonhado corpo ideal e, mais importante do que isso, ter saúde”, finaliza.