Dentre tantos tratamentos e tendências quando o assunto é alimentação, um nome chama a atenção: disbiose. Muitos estudos falam sobre a importância de cuidar do intestino com tanto afinco quanto do resto do corpo – inclusive por conta da sua ligação com o sistema nervoso -, mas parece que o assunto está começando a ser levado mais a sério agora.
O que é disbiose?
A disbiose nada mais é do que o desequilíbrio do conjunto de bactérias que habitam o interior do intestino. “Normalmente, existe um balanço favorável de bactérias benéficas, em relação a bactérias patogênicas, que podem gerar doença”, explica o cirurgião do aparelho digestivo Dr. Fernando Bray, do Hospital Santa Catarina. “No entanto, quando ocorre uma quebra desse predomínio de bactérias ‘desejáveis’ iniciam-se sintomas ‘indesejáveis’, como dor e desconforto abdominal, excesso de gases e oscilação de diarreias com intestino preso.”
E é importante lembrar do porquê esse é um assunto tão importante: é no intestino que ocorre o processo de transformação de tudo o que comemos de “bom” e de “ruim” em nutrientes que serão utilizados por todos os órgãos e tecidos de nosso corpo. Ou seja, cuidar da cultura de bactérias do intestino garante que esses nutrientes sejam mais bem aproveitados, o que colabora para o bom funcionamento do próprio intestino como do restante do corpo.
“Além de produzir enzimas, hormônios e neurotransmissores iguais aos produzidos no cérebro, o intestino também tem um papel fundamental na imunidade e em nosso comportamento”, explica o médico.
Intestino, o segundo cérebro
Aliás, pegando esse gancho, vale lembrar que o intestino é conhecido por um outro “apelido”: segundo cérebro. Com mais de 500 milhões de células nervosas, o intestino passou a fazer parte da “parte pensante” do corpo pelos pesquisadores e estudiosos.
Por mais que pareça contra-intuitivo, o intestino tem uma influência direta no humor, no sono e nas nossas emoções, sendo diretamente ligado a transtornos emocionais, como a depressão. É no órgão, por exemplo, que são produzidas boa parte da dopamina (substância ligada a sensação de bem-estar, de prazer e de motivação) e da serotonina (que regula o sono e o apetite) do corpo. Ou seja, fica mais claro como uma desregularidade intestinal pode interferir com o nosso bem-estar mental, certo?
“O equilíbrio intestinal age diretamente na saúde do restante do corpo, contribuindo para o controle da glicemia, auxiliando na perda de peso, melhorando a qualidade do sono e o controle da ansiedade, além de ser importante para o controle inflamatório da síndrome metabólica”, continua o Dr. Fernando.
É por isso que evitar uma alimentação excessiva em consumo de carboidratos e açúcares, assim como de álcool, carnes e até fritura é a recomendação de muitos profissionais de saúde – esses alimentos interferem com a saúde das bactérias que vivem no intestino, desequilibrando todo o organismo.
“O corpo humano é uma máquina com incrível capacidade de adaptação e regeneração, mas isso tem um limite fisiológico a longo prazo”, diz. “A saúde intestinal é um bom exemplo disso, porque maus hábitos alimentares e comportamentais são responsáveis pelo aumento de doenças autoimunes e câncer”.
Por isso, vale a pena investir em uma alimentação equilibrada e variada, o que estimula a reprodução de bactérias “do bem” no intestino. Também é possível contar com a suplementação de probióticos ou paraprobióticos, mas, para isso, é preciso não só um correto diagnóstico como a recomendação direta de um médico. Se, antes, a moda era contar calorias e manter uma dieta concentrada no emagrecimento, agora o foco parece ser outro: garantir uma alimentação adequada para que o intestino cumpra a função que tem de regular o organismo, o peso e o nosso humor.
Esse especial faz parte da edição de novembro de 2021 de Boa Forma,
que traz a atleta Bruna Kajiya em sua capa.
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