Quem não abre mão dos alimentos orgânicos afirma que eles apresentam inúmeros benefícios com relação aos itens tradicionais – seja por conta do sabor, do impacto para o meio ambiente e até dos nutrientes. Mas será que eles estão com essa bola toda?
Realmente, os orgânicos têm algumas vantagens, mas também as suas desvantagens. Vamos entender melhor a seguir?
Mais sustentáveis, porém mais caros
Um produto orgânico de origem vegetal ou animal é muito mais do que livre de agrotóxicos, adubos químicos e hormônios.
É resultado de um sistema de produção comprometido com o uso saudável do solo e da água e a adoção de técnicas que não contaminem o ar, as plantas, os bichos e as pessoas.
Também faz parte dessa filosofia a utilização mínima de recursos não renováveis, a reciclagem de resíduos orgânicos e o incentivo à regionalização do cultivo e da comercialização das safras.
No caso de criação de gado e frango, os animais têm que ser abrigados em local com luz natural e espaço suficiente para se movimentar e recebem tratamento homeopático e fitoterápico no caso de doença.
“Tudo isso obriga a uma produção em pequena escala, o que encarece os produtos e faz com que o mercado se expanda em ritmo um pouco mais lento”, explica Ming Liu, coordenador do Organics Brazil, projeto do Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD) de estímulo ao comércio internacional de orgânicos brasileiros.
Livres de aditivos
Um terço dos alimentos consumidos no dia a dia pelos brasileiros está contaminado por aditivos químicos, sendo que, muitas vezes, em níveis acima dos limites permitidos por lei.
Os números são do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), da Anvisa (leia quadro Os Campeões de Agrotóxicos). Os especialistas dizem que é difícil medir o perigo concreto e no longo prazo dessa contaminação. Mas inofensiva certamente ela não é.
Diabetes, problemas neurológicos e alguns tipos de câncer estão entre os riscos associados. “Existem ainda moléculas de agrotóxicos com efeitos sobre o sistema reprodutor masculino e feminino”, completa o pesquisador Cesar Koppe Grisolia, autor do livro Agrotóxicos – Mutações, Câncer e Reprodução (editora UnB) e professor da Universidade de Brasília (UnB).
Mais saborosos e (um pouco) mais nutritivos
Embora a maioria das pessoas que consomem orgânicos faça isso pelos benefícios nutricionais que acreditam existir nesses alimentos – sem falar no sabor, no aspecto e na duração incomparáveis –, não há evidências científicas significativas de que eles sejam mesmo mais ricos do que seus adversários cultivados com agrotóxicos e fertilizantes químicos.
A maioria dos estudos, no entanto, revela vantagens quanto à concentração de antioxidantes nos orgânicos. “Isso se explica porque esses compostos são uma espécie de defesa natural da planta contra pragas, que fica inibida quando em contato com os pesticidas”, explica a nutricionista Karina Nunes de Simas, de São Paulo.
Uma pesquisa da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, comprovou até 69% mais antioxidantes nos alimentos produzidos sem aditivos químicos no país.
Enquanto isso, uma revisão de estudos publicada recentemente na França, comparando a qualidade nutricional e a segurança de produtos comuns e orgânicos, concluiu que, na média, vegetais e carnes orgânicos contêm doses maiores de ferro, magnésio e ácidos graxos poli-insaturados (que abrangem os ômegas-3 e 6) e menores de nitratos, que são compostos com potencial cancerígeno.
Bons para o bem-estar
Se fosse apenas pela ausência de substâncias tóxicas e a consciência leve por colaborar com a saúde da natureza, já valeria a pena incluir orgânicos no cardápio.
Mas o fato é que eles também fazem bem para a beleza e o bem-estar. Um estudo europeu sobre o consumo de orgânicos, publicado em 2012 na revista científica Journal of the Science of Food and Agriculture, revelou que, dos mais de 560 participantes, 70% perceberam mudanças depois que adotaram esse tipo de alimento, citando melhora da disposição, da resistência a doenças, do funcionamento do intestino e até do aspecto de cabelo, pele e unha.
Outra pesquisa, alemã, realizada com um grupo de freiras que trocaram a alimentação convencional pela orgânica, mostrou que, em quatro semanas, quase todas relataram estar mais alertas, com mais energia, a pressão estável e menor sensibilidade à dor. Há ainda quem consiga perder peso depois de mudar a alimentação.
“Os resíduos químicos presentes nos alimentos são interpretados como toxinas, que geram inflamação no organismo e impedem a metabolização adequada da gordura”, explica a nutricionista Valéria Paschoal, da VP Consultoria Nutricional, em São Paulo.
“Quando você passa a consumir orgânicos, livres de agentes tóxicos, pode perceber a perda de peso porque o processo de oxidação de gordura normalizou”, completa.
Conclusão
Se você quer e pode pagar um pouco a mais pelos alimentos orgânicos, vale a pena priorizá-los na hora de fazer as compras. Só não vai deixar de consumir frutas e vegetais só porque eles não são orgânicos, viu? Esses itens ainda trazem muitas consequências positivas para a nossa saúde.