Quem já foi infectado pelo vírus zika pode ter uma vantagem imunológica: a proteção contra dengue. É o que mostra um trabalho científico feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, e que foi publicado neste mês na revista The Lancet Global Health.
A análise foi realizada com 3 300 moradores da capital baiana, que apresentaram uma doença febril entre 2009 e 2017. Segundo a pesquisa, até março de 2015, 25% dos pacientes foram diagnosticados com dengue. No entanto, entre abril de 2015 e todo o ano de 2017 (período em que o zika se estabeleceu no Brasil), a incidência de dengue entre os participantes caiu para apenas 3%, enquanto os casos de zika e chikungunya (outra enfermidade disseminada pelo Aedes aegypti) continuaram em alta.
Foi aí que os pesquisadores brasileiros levantaram a hipótese de que os pacientes infectados pelo zika estejam protegidos. “Pode ocorrer a criação de uma resposta imune, em que os anticorpos da infecção do zika causem uma proteção contra a dengue”, disse o pesquisador Guilherme Ribeiro, da Fiocruz Bahia, ao portal de notícias G1. Caso a teoria se confirme, os estudos para o desenvolvimento de vacinas que combatam os vírus podem avançar.
Caminho inverso
O contrário também é possível. De acordo com um artigo da La Jolla Institute for Allergy and Immunology (LJI), publicado na revista Nature Communications em novembro de 2017, a infecção pelo vírus da dengue é capaz de blindar o organismo contra o zika.
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Na pesquisa, os cientistas contaminaram camundongos com dengue para que os bichinhos adquirissem imunidade; em seguida, os animais foram expostos ao zika. A doença não teve a mesma força do que em ratos que não receberam a dengue na primeira etapa, o que comprova a hipótese de proteção cruzada entre os dois vírus.
Epidemia de zika
O principal suspeito por trás dos casos de microcefalia que assolaram o país nos últimos anos chegou ao Brasil no início de 2015. Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde mais recente, publicado no início de fevereiro de 2018, foram registrados 216 082 casos prováveis de zika em 2016 (em 2017, foram 17 339). Até o início deste mês, a incidência caiu ainda mais – para 330 episódios suspeitos ante 2 891 no mesmo período do ano anterior.