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Cansada e com dificuldade de controlar o peso? Investigue a tireoide

Quando a tireoide deixa de trabalhar direito, o corpo todo reclama. Evite os males modernos já! É a primeira providência para preservá-la

Por Cristina Nabuco (colaboradora)
Atualizado em 21 out 2024, 19h23 - Publicado em 5 ago 2015, 16h59
Caio Mello
Caio Mello (/)
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Foi graças à sua forma que a tireoide recebeu esse nome, de origem latina, que significa “escudo”, o principal instrumento de proteção na guerra desde tempos remotos. Mas a força do nome não tem sido suficiente para defendê-la contra agressores contemporâneos. Cerca de 300 milhões de pessoas no mundo apresentam alterações nessa pequena glândula, localizada na base do pescoço. “Ela é encarregada de produzir os hormônios que regulam o metabolismo e a atividade de órgãos vitais (cérebro, coração, rins e fígado), além do desenvolvimento do feto na gravidez”, diz a endocrinologista Laura Sterian Ward, diretora do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). Por isso, seu mau funcionamento repercute no corpo todo. A alteração mais comum é o hipotiroidismo, que se caracteriza pela produção deficiente dos hormônios T3 e T4. Com isso, o coração bate mais devagar, o intestino fica preso, o cabelo cai e a pele resseca. Ganha-se peso com mais facilidade (embora a tireoide não seja a única responsável pelos quilos extras). A menstruação se altera (cresce o intervalo entre os ciclos e o fluxo aumenta). Diminui o rendimento físico e o treino cansa muito. Falta disposição até para dar uma volta no shopping. O desejo sexual vai embora. A capacidade mental se reduz e a tristeza e o desânimo ficam frequentes. Sim, é tudo isso mesmo! E as mulheres são mais vulneráveis: há dez alvejadas para cada homem. Se antes as alterações na glândula apareciam mais depois dos 30 anos, chegando ao pico após os 60 anos, agora se manifestam mais cedo, o que reforça a conclusão de que a predisposição genética, embora relevante, não explica tudo. O estilo de vida também é importante. Conhecer e modificar alguns hábitos nocivos ajuda você a vencer essa guerra.

Iodo fora da medida

Tanto a falta quanto o excesso de iodo no organismo comprometem a atividade da tireoide. Embora ele esteja presente no leite e nos ovos, as principais fontes são alimentos de origem marinha (mexilhão, salmão, pescada, bacalhau). Como a dieta do brasileiro (nas diferentes regiões) é pobre no mineral, o que ocasiona bócio (papo) em crianças e adultos e atraso mental nos fetos, desde 1953 adiciona-se iodo ao sal de cozinha. Em 2013, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fez um ajuste nessa mistura com a suspeita de que o excesso de iodo estaria provocando alterações na tireoide da população. O maior problema, na opinião da endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo, é a adição exagerada de sal aos produtos industrializados. Então, além de maneirar nesse tempero na salada e ao preparar a comida, evite o consumo de sopas e temperos prontos, enlatados, conservas, embutidos e macarrão instantâneo – são os que mais têm sal.

Emagrecimento perigoso

Apesar de proibido, há quem adicione hormônio tireoidiano às fórmulas para emagrecer. A princípio, a medida parece dar resultado: a tireoide trabalha dobrado (hipertiroidismo), favorecendo a perda de peso. Mas o custo é alto. “A glândula fica viciada no hormônio fornecido e deixa de produzi-lo naturalmente na medida necessária. Isso pode desencadear o hipotiroidismo”, avisa Maria Fernanda. Outro efeito negativo: o hormônio da tireoide faz você perder massa magra – elimina músculo, e não gordura. “Fora o risco de infarto e osteoporose (o uso inadequado rouba o cálcio dos ossos)”, diz a diretora da Sbem. Maria Fernanda faz outro alerta: às vezes, o que se aplica na mesoterapia com “enzimas” é o hormônio da tireoide, expondo a usuária aos perigos descritos. Alguns géis emagrecedores também têm iodo associado ao mentol e à cânfora. Mesmo sendo absorvido pela pele, o mineral pode afetar a tireoide. Não vale a pena correr o risco.

Agressores ambientais

Adubos e defensivos químicos, bem como metais pesados, contaminam as águas, o solo e os alimentos ali cultivados. “No nosso organismo, eles podem interferir na síntese, secreção e ação de hormônios”, explica a endocrinologista Maria Fernanda. As agressões sucessivas favorecem a tiroidite de Hashimoto, doença que decorre de um erro do sistema imunológico (por isso é considerada autoimune: o corpo produz anticorpos contra as células da tireoide). Essa autoagressão tende a aumentar o tamanho da glândula, em geral sem causar dor, levando à sua destruição progressiva e à redução gradativa na síntese de hormônios. Daí a necessidade de adquirir hortifrútis de fornecedores confiáveis e evitar beber água de origem incerta.

Ameaça na cozinha

Outro perigoso desregulador endócrino é o bisfenol A (BPA), encontrado nos plásticos transparentes à base de policarbonato, no revestimento de latas de ervilha, molho de tomate e afins e em alguns tipos de filme plástico para embalar. O calor favorece a liberação: ele migra para a comida quando o recipiente é aquecido ou no contato entre o filme plástico e o alimento quente e pode comprometer o trabalho da tireoide. A recomendação é reduzir o uso de plástico (a menos que tenha a identificação: livre de BPA) e armazenar os alimentos quentes em potes de vidro, porcelana ou aço inox. Despreze latas de alimentos amassadas ou estufadas (as chances de o revestimento entrar em contato com a comida são maiores) e não deixe a garrafinha de plástico com água exposta ao calor. Prefira os squeezes de inox ou vidro.

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Mais vilões

Derivados da soja, em especial a isoflavona indicada para o alívio dos sintomas da menopausa, podem agredir a tireoide, alerta Maria Fernanda. Seu uso é contraindicado para quem tem histórico pessoal ou familiar de doenças na glândula – nesses casos, vale a pena, inclusive, restringir o consumo do grão. A lista de agressores inclui ainda as benzofenonas, presentes em certos protetores solares. Em estudos da Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, elas foram acusadas de provocar alergias na pele. Outros trabalhos mostraram que podem agir como desreguladores endócrinos e oferecer perigo à tireoide. Por isso é importante conferir os ingredientes e escolher protetores isentos dessa substância. O cigarro também aparece entre os vilões. A época mais vulnerável para a tireoide é quando a pessoa  está deixando de fumar: as chances de distúrbios nessa área triplicam, afirma o Instituto Nacional do Câncer.

Danos do stress

O estado de tensão permanente desequilibra a síntese hormonal e pode desencadear a doença de Graves, também de origem autoimune, que leva à produção de anticorpos contra a tireoide e à superatividade da tireoide (hipertiroidismo). “Ao atacarem a glândula, os anticorpos estimulam a produção exagerada de T3 e T4. Com o tempo, a sobrecarga leva à destruição dos tecidos e resulta em hipotiroidismo”, explica Maria Fernanda. Daí a importância de aprender a administrar o stress e investir em medidas relaxantes. “O exercício físico é um ótimo aliado, já que contribui para diminuir a tensão e proporcionar uma vida mais saudável”, aconselha a endocrinologista Laura Ward.

Exame fácil

O diagnóstico tanto do hipotireoidismo quanto do hipertiroidismo é feito pela dosagem no sangue de TSH, hormônio estimulante da tireoide, e de um dos hormônios produzidos ali, o T4 livre. São exames recomendados como parte do check-up de rotina, especialmente nas mulheres, ainda mais se tiverem histórico familiar ou pessoal de doenças da tireoide, além de inchaço no pescoço e outros sintomas atribuídos às alterações da glândula. Gestantes ou quem planeja engravidar também são aconselhadas a fazer as dosagens. Eventualmente pode ser pesquisada a presença no sangue de anticorpos contra a glândula ou ser solicitado um ultrassom da tireoide. Se o resultado for normal, a orientação é repetir os testes a cada dois ou três anos.

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Ajuste fino

O tratamento do hipotiroidismo é simples: basta repor o hormônio que está em falta. O mais difícil é acertar a dosagem, que requer ajuste fino. Uma vez encontrada a quantidade certa, os sintomas tendem a desaparecer em poucas semanas, se o problema for exclusivamente da glândula. Mas é importante seguir à risca a orientação do médico: por exemplo, tomar o medicamento na hora certa, geralmente pela manhã, e esperar meia hora para o café da manhã, além de evitar cereais nessa refeição. “Alimentos ricos em fibras dificultam a absorção adequada do hormônio, prejudicando a resposta ao tratamento”, diz Maria Fernanda. Pesquisas italianas concluíram que a suplementação de selênio tem um efeito protetor sobre a tireoide, diminuindo o risco de hipotireoidismo no pós-parto. Como a medida não é consenso, os médicos sugerem, pelo menos, comer mais alimentos ricos no mineral (uma castanha-do-pará por dia).

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