Equilíbrio

Sexo em tempos de pandemia: como solteiros e casais estão fazendo

Mesmo a distância, é possível experimentar novas formas de se relacionar e fortalecer as relações

por Thieny Moltini | Ilustração de Ligia Agreste Atualizado em 8 fev 2021, 21h42 - Publicado em 9 fev 2021 09h00

O Carnaval é sempre um momento muito esperado após a virada do ano. Ainda mais agora, depois de meses em isolamento social, poder sair, curtir e (provavelmente) beijar na boca é o que muita gente queria. Mas, mesmo com o início da vacinação, esse ainda é um sonho distante. Será que lidar com as “necessidades” da vida de solteira ficou mais difícil durante a pandemia? Como está sendo manter os contatinhos com segurança? Pesquisas e leitores revelam como está sendo o sexo em tempos de pandemia.

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(Carol Yepes/Getty Images)

Se conhecer pessoas novas já não era fácil antes, agora, sem o contato físico, as coisas ficaram ainda mais difíceis — mas não impossíveis.

Mesmo sendo mais caseira, Louise Franciulli sente falta da troca de olhares e das conversas casuais que o “mundo real” proporciona. Para contornar a situação, a profissional de relações públicas recorreu às redes sociais para se divertir um pouco durante os últimos meses. “Estou me virando com o que tenho”, brinca. “A pessoa me segue, então eu sigo de volta, curto algumas fotos e, depois, começamos a conversar”, conta Louise.

Dos likes em fotos no Instagram até o encontro existe uma caminhada mais longa que de costume

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No entanto, dos likes ao encontro existe uma caminhada mais longa que de costume. “Eu estou bastante “rígida” para saber se a pessoa estava seguindo certinho todas as recomendações e ficando em casa, respeitando a quarentena. Por isso, eu faço um interrogatório, acompanho stories e afins e só saio quando me sinto confortável e segura”, conta Louise.

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Sexo na pandemia: Deu Match!

De fato, a pandemia mudou a vida dos solteiros. A plataforma de relacionamento Tinder divulgou alguns dados de comportamento dos seus usuários durante 2020. Em abril, por exemplo, 16% dos membros do app recorreram ao recurso Passaporte para conversar com perfis de todo o mundo, já que não era possível sair de casa.

As conversas também ficaram mais profundas (que bom, né?!). No Brasil, no começo da pandemia, em março, as mensagens aumentaram, em média, 25% e foram 20% mais longas.

No Brasil, em março, começo da pandemia, a troca de mensagens no Tinder aumentou, em média, 25% e foram 20% mais longas.

A falta de contato humano e a vontade de se aglomerar também repercutiram por lá. Em julho, o termo “saudade” foi usado duas vezes mais do que em janeiro. Já no mês de agosto a vontade de estar junto pegou mais forte e a palavra “aglomeração” apareceu 10 vezes mais do que nos primeiros meses do ano.

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ISTs na pandemia

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(Carol Yepes/Getty Images)

Ao mesmo tempo que as conversas e matches aumentaram, as relações sexuais parecem ter diminuído e, consequentemente, a transmissão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) também, como mostrou um estudo publicado no periódico Sexually Transmitted Infections em novembro de 2020.

Especialistas do Hospital Johns Hopkins, nos Estados Unidos, compararam o número de casos de ISTs dos 10 primeiros meses de 2020 ao mesmo período de 2019, dividindo no período pré-pandemia (que começou nos EUA em março de 2020, assim como aqui no Brasil) e durante a pandemia.

Uma pesquisa revelou que, nas épocas em que o número de pessoas infectadas pela Covid-19 aumenta, diminuísse o relato de ISTs

Eles observaram que, desde o início da pandemia, houve uma diminuição de 20,2% dos casos de clamídia e 3% nos casos de gonorreia. No geral, a maioria das ISTs tiveram queda durante o período e, nas épocas que o número de pessoas infectadas pela Covid-19 aumentava, essa queda era ainda maior.

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Mas ainda não é certo se, de fato, esse número menor foi causado pela falta de sexo ou falta de relatos. “Não está claro se as diminuições observadas foram porque o distanciamento físico mediado por Covid estava impedindo a transmissão ou, mais provavelmente, houve uma diminuição nos testes e relatos de casos, com menos pessoas procurando atendimento médico para sintomas de IST durante a pandemia “, disse Matthew Crane, estudante da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e principal autor do estudo, em nota.

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Como manter a atração na pandemia

Mesmo para os casais, encontrar-se pessoalmente virou um acontecimento em meio aos lockdowns. Por isso, desenvolver novas formas de manter essa relação acesa acaba sendo uma estratégia muito bem-vinda.

Médica ginecologista especialista em sexualidade feminina, Lilian Fiorelli acredita no potencial das fantasias e nas mensagens de carinho para manter a chama dos relacionamentos a distância acesa. “O lúdico da fantasia muitas vezes se perde no dia a dia. Além disso, a troca de mensagens de carinho e atenção é uma forma de estar presente, mesmo de longe”, comenta a especialista.

A masturbação é outra maneira de se manter ativa, mesmo sem uma pessoa ali ao seu lado. “Você se imagina na relação sexual, fantasia o toque e vai se conhecimento – se isso for alimentado por uma chamada de vídeo pode ser ainda melhor”, sugere.

“Elogie a pessoa, fale coisas boas, envie uma lembrança (física ou virtual) e tenha um tempo de qualidade para vocês, um momento para curtir essa pessoa, conversar de verdade, se dedicar exclusivamente a ela”

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Além da parte sexual, é preciso estimular a paixão e o carinho de outras formas, assim é possível criar laços (no caso das pessoas que ainda não se conhecem pessoalmente) ou fortalecer a relação já existente. Nessas horas, é preciso deixar o coração falar mais alto. “Elogie a pessoa, fale coisas boas, envie uma lembrança (física ou virtual) e tenha um tempo de qualidade para vocês, um momento para curtir essa pessoa, conversar de verdade, se dedicar exclusivamente a ela.”

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(Carol Yepes/Getty Images)

Para a psicóloga especialista em relacionamento Daniela Faertes, um relacionamento a distância permite que as pessoas sejam mais sinceras a respeito de seus sentimentos e compartilhem mais as suas rotinas. “Marque uma chamada de vídeo, sugira um jantar ou algo que possam fazer juntos, mesmo a distância, assim você dá condição para que essa pessoa faça parte da sua vida”, aconselha.

“Marque uma chamada de vídeo, sugira um jantar ou algo que possam fazer juntos, mesmo a distância, assim você dá condição para que essa pessoa faça parte da sua vida”

Quanto mais próximos estiverem, menores as chances de criarem uma ilusão ou expectativa a respeito do outro. Ainda mais se forem pessoas completamente desconhecidas (como acontece muitas vezes por aplicativo), essa é uma forma de saber melhor com quem você está falando e se relacionando, afinal podem existir pessoas mal-intencionadas.

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Sexo na pandemia: Excesso de convívio

O outro lado do isolamento social foram os casais que passaram a conviver mais tempo juntos. Foi o caso da Mariana Ribeiro, que conheceu o namorado em janeiro e teve o seu primeiro encontro bem no começo da quarentena, no final de março. Dali para morar junto, não precisou de muito tempo. “Não foi nada programado, fomos vivendo e nos adaptando um ao outro”, lembra.

“Cada um tem o seu espaço e tentamos manter nossas rotinas ao máximo, mas conversando sempre”, comenta. “Nesse tempo, adquirimos alguns hábitos, como cozinhar mais, ler mais livros, estudar sobre assuntos diferentes e treinar em casa.”

O número de divórcio no segundo semestre de 2020 foi o maior desde 2007.

Para outros casais, no entanto, o isolamento social resultou em separação. Dados do Colégio Notarial do Brasil mostram que o número de divórcio no segundo semestre de 2020 foi o maior desde 2007. Quando comparado ao ano anterior (2019), o aumento foi de 15%.

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Mas a culpa não foi da pandemia. “Ela só acentuou as diferenças que já existiam. Provavelmente, em algum momento, isso já ia acontecer”, comenta a Dra. Lilian. “Mas não vejo isso com maus olhos, porque, de certa forma existe sofrimento, mas também há o amadurecimento. Às vezes, o término é parte do processo”, explica.

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Como aproveitar melhor os momentos a dois

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(Carol Yepes/Getty Images)

Na verdade, viver junto por tantas horas pode ser um novo desafio ou uma nova oportunidade. Mas algumas “estratégias” podem ajudar a deixar o relacionamento mais saudável.

A primeira dica é separar a vida profissional da pessoal. “Antes era mais fácil, porque existia uma distância física, agora é preciso estabelecer isso. A hora de trabalhar, é a hora de trabalhar. A hora de estar junto, é a hora de estar junto”, explica a Dra. Lilian. “O jantar é para os dois ou o jantar é um pequeno intervalo para voltar ao trabalho? Não tem problema a escolha de vocês, mas é importante estipular isso para não quebrar expectativas no relacionamento”, exemplifica.

Vale ainda aproveitar o home office para curtir um pouco mais o parceiro ou parceira. Um beijinho entre os intervalos das reuniões, um abraço na pausa do café e, assim, você vai também vai construindo uma expectativa gostosa para o momento de curtirem a dois. “Depois, no horário que vocês marcaram, a relação sexual acontece de forma mais tranquila”, afirma a especialista.

Pode até parecer estranho a ideia de marcar um horário para estar junto ou transar, mas é essencial se quiser ter um momento de qualidade entre os dois

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Pode até parecer estranho a ideia de marcar um horário para estar junto ou transar, mas é essencial se quiser ter um momento de qualidade entre os dois. “Se vocês não marcarem um horário: ou a relação não vai acontecer – porque um dos dois pode acabar sendo consumido pelo trabalho – ou, se ela acontecer, será em um horário que não é tão bom – um pode estar mais cansado ou menos disponível, por exemplo. No entanto, se esse momento estiver preestabelecido, vocês vão ter uma relação muito mais saudável”, completa.

Por fim, não se preocupe em contar quantas vezes vocês transaram. A libido, sobretudo entre as mulheres, está muito ligada à rotina, às suas emoções e momentos de vida. Não há uma quantidade ideal, há quem esteja satisfeito tendo relações uma vez por semana, outras pessoas ficam bem transando uma vez por mês. O importante é estar alinhado com as expectativas do parceiro ou parceira. “É preciso ceder dos dois lados. Se um está com mais vontade, é legal o casal se esforçar para sanar isso, seja melhorando a libido ou aumentando o número de masturbações, por exemplo. Mais uma vez: não existe um número ideal, o importante é que os dois se sintam satisfeitos com aquela frequência, e isso deve ser conversado.”

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Sexo na pandemia: Conclusão

Conhecer pessoas novas, criar laços e dar força a um relacionamento não é tarefa fácil, é preciso ter carinho, atenção e, muitas vezes, ceder. Na pandemia, tudo isso ficou mais difícil e as emoções ainda mais afloradas. Mas esse pode ser um bom momento para conversas sinceras, novas formas de trocar experiências e uma boa chance de explorar os seus sentidos. Se estiver conhecendo alguém, aproveite a paixão e alimente esse sentimento, se já está com alguém, experimente novas formas de aproveitar o seu relacionamento, separando sempre um momento para curtir a dois. Sem dúvida, você sairá dessa ainda fase mais ciente das suas emoções e sensações.

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Essa matéria faz parte da edição especial de fevereiro de 2020 que tem como tema principal Carnaval – Guia de Como Curtir em Casa. Clique aqui para ver os outros especiais da edição.

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(Ligia Agreste/BOA FORMA)
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