Medicina regenerativa: conheça o tratamento com células-tronco
O surfista Pedro Scooby se afastou do mar por um mês para tratar um rompimento ligamentar com a terapia por células-tronco
Pedro Scooby é um surfista talentoso, mas mesmo alguém experiente no esporte pode se lesionar. Foi o que aconteceu há algumas semanas, quando o atleta anunciou que precisaria se afastar do mar por um mês para fazer um tratamento com células-tronco após romper uma parte dos ligamentos.
Pedro se machucou enquanto praticava o esporte e optou pelo procedimento, uma das grandes apostas da medicina regenerativa, para tratar da lesão e se recuperar rapidamente.
O QUE SÃO CÉLULAS-TRONCO?
“Célula-tronco é uma unidade viva capaz de se desenvolver em diferentes tipos de células especializadas no nosso corpo”, explica o Dr. Nelson Tatsui, diretor-técnico do grupo Criogênesis e hematologista do HC-FMUSP. “Na prática, este tipo único celular fornece novas células para o corpo à medida que se auto renovam e substituem as células especializadas que são danificadas ou perdidas.”
O exemplo mais clássico desse processo é a célula-tronco que todos nós possuímos na medula óssea, capaz de manter a fabricação do nosso sistema sanguíneo por toda a vida, assim como ser utilizado no transplante de medula óssea.
Dessa forma, o tratamento com células-tronco tem como objetivo substituir células perdidas ou danificadas que o nosso corpo não consegue substituir naturalmente.
“Historicamente, a medula-óssea tem sido usada para reparar o sistema sanguíneo de pacientes com doenças hematológicas devido à presença de células do tipo hematopoiética ou produtora de sangue”, explica o profissional. “Nos últimos 30 anos, com o aprofundamento do conhecimento sobre o potencial da célula-tronco do tipo mesenquimal em reparar outras não sanguíneas, a medicina regenerativa tem usado esse procedimento na recuperação de diversas outras doenças no campo não hematológico, tais como ortopédica, neurológica, vascular e dermatológica.”
COMO FUNCIONA O TRATAMENTO COM CÉLULAS-TRONCO?
A terapia com células-tronco do tipo mesenquimal, chamada “medicina regenerativa”, promove a resposta de reparo de tecidos doentes, disfuncionais ou lesados. Atualmente, as principais fontes de coleta são: medula-óssea, sangue de cordão umbilical e seu tecido placentário, polpa de dente e tecido adiposo.
“As células são coletadas do próprio indivíduo ou de doadores e são cultivadas em laboratório para obter um produto contendo o maior número de pureza. Essas células-tronco são manipuladas para se manterem indiferenciadas ou especializadas em algum tipo celular específico”, explica o Dr. Nelson.
As células-tronco mesenquimais indiferenciadas ou especializadas podem, então, ser implantadas no paciente. Por exemplo, se uma pessoa tem uma doença cardíaca, as células podem ser injetadas no músculo cardíaco – as células saudáveis do músculo cardíaco transplantadas poderiam contribuir para a reparação do músculo cardíaco lesionado. E o mesmo ocorreria em um tecido ósseo ou tendinoso.
O objetivo da terapia regenerativa, segundo o médico, é reduzir o tempo de recuperação, melhorar a função do tecido lesado e diminuir o estado inflamatório, diminuindo a dor e a chance de piora do tecido em recuperação.
Usando o caso de Pedro Scooby como exemplo: o uso dessas células mesenquimais e seus derivados na ruptura de um tendão ou ligamento diminuirá a chance de uma nova lesão no futuro.
Um ponto de atenção é que todo tratamento que envolve um produto biológico deve garantir que não apresente riscos de contaminação bacteriana ou fúngica, presença de metais pesados ou intoxicantes e alterações genéticas anômalas. “E as células devem ser utilizadas em casos devidamente documentados por experiência médica anterior ou que estejam em protocolo experimental aprovado”, finaliza.