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Tania Khalill: equilíbrio em qualquer idade

"O perigo do universo feminino é a gente relevar a ponto de se calar. E acho que, para aprender a falar, a gente leva um tempo"

Por Larissa Serpa
Atualizado em 21 out 2024, 16h36 - Publicado em 12 jul 2022, 08h15
Tânia Khalill para Boa Forma
 (@marcioamaralph/BOA FORMA)
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Tânia Khalill para Boa Forma
(@marcioamaralph/BOA FORMA)

Tania Khalill tem um corpo incrível e isso não é novidade: a atriz já foi capa de Boa Forma anos atrás e agora volta a ser, sem ter perdido a aparência admirável, aos 45 anos.

Mas o corpo não é tudo que amadureceu bem em Tania. Mãe de duas filhas e com projetos voltados para a redescoberta pessoal de mulheres, ela se sente melhor do que nunca também com seu interior. “É muito curioso porque a juventude tem uma coisa de nunca estar bom, de estar sempre correndo atrás de mais […] Hoje, eu aprendi a olhar para dentro.”

Em entrevista à Boa Forma, ela fala sobre amadurecimento, a relação com exercícios, alimentação e beleza, os aprendizados da maternidade, os segredos para um casamento bem-sucedido e sua vida profissional dentro e fora do Brasil.

Tânia Khalill para Boa Forma
(@marcioamaralph/BOA FORMA)

As fotos estão lindas, como sempre. Você se sente bonita quando se vê?

Sim. Olha, eu vou dizer que amadurecer — apesar das rugas da pele, da perda do poder de sustentação etc — tem um lado que fez minha auto estima ficar muito mais estabilizada. Acho que quando a gente amadurece, a opinião do outro vai tomando menos importância. A gente quer ficar bem com a gente, mesmo se não ficar bem para o outro.

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Mas então não foi sempre assim? Como foi esse processo de se ver bonita?

É muito curioso porque a juventude tem uma coisa de nunca estar bom, de estar sempre correndo atrás de mais. Eu fui bailarina muitos anos. Depois, fiz muito comerciais, depois de televisão, teatro… Então sempre teve uma cobrança grande vinda de fora, claro, mas principalmente a minha cobrança comigo mesma sempre foi gigantesca. Mas a aceitação veio mesmo com o passar do tempo. Agora, a gente chegou — a trancos e barrancos — em um ponto do universo feminino em que se incentiva a auto aceitação e a aceitação com os outros. Cada vez mais a mídia tá abrindo espaço para belezas diferentes, né? Para que aceitemos os outros do jeito que são. Acho que isso tem muito a ver com meu processo de amadurecimento mesmo, de me gostar mais agora.

Você mencionou sua formação como bailarina. Como ela afetou sua relação com o cuidado com o corpo?

Eu nunca fui super magra, mas também só fui gorducha quando era criança. Ainda assim, durante o tempo que era bailarina, sempre parecia que estava muito mais gorda do que era. Parece que nunca está bom, o treinamento do bailarino é muito cruel. Depois que esse pensamento passa, com o amadurecimento, você quer dançar para ser feliz, não pra ter essa perfeição.

Mas eu vejo que a disciplina me influenciou muito na rotina de exercícios. O exercício físico, durante muito tempo na minha vida, foi para aperfeiçoar, com a dança. Depois, quando parei, foi para ficar em forma e, agora, é para minha saúde mental, emocional, para a minha vitalidade mesmo.

Hoje, não consigo ficar assim. Eu sinto que me exercitar é o que faz a minha mente funcionar. Se eu fico uma semana sem, minha energia vital começa a diminuir.

Tânia Khalill para Boa Forma
(@marcioamaralph/BOA FORMA)
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Além do balé, outra formação que você teve foi em psicologia, assim como sua mãe. Ela teve influência nessa decisão?

Sim, muita. Eu cresci aprendendo, através do comando dela, a olhar para dentro, tentar entender porque aquele sentimento que sentia, porque aquelas emoções muito afloradas. Eu sempre fui muito emotiva e sensível, então minha mãe sempre me ensinou a tentar ver onde dói de verdade, qual a fonte para aquele comportamento. E isso tem muito a ver com a atuação também, né? Porque o ator tem que olhar para dentro, se entender, olhar para o personagem fora e tentar ver o que leva ele a tomar aquelas atitudes. Hoje, eu aplico também esses aprendizados no Palco da Vida [projeto de Tânia que procura ajudar mulheres a se redescobrirem, utilizando estratégias da arte para dar a elas a autonomia para viver a vida com intenção, e não no automático].

Sobre o Palco, ele recebe mulheres de muitas idades mas a maioria é na faixa dos 40. Você percebeu alguma diferença nessa percepção de vida nessa idade também?

Esse tempo vivido te permite olhar para as coisas com menos reatividade, com um pouco mais de distanciamento. E eu digo que com o tempo, acho que vem mais sabedoria.

Para mim, os 40 foram um estalo porque eu vi minha filha com 10 anos e eu pensei “será que é assim?”. Eu trabalhei muito, nem tirei as licenças maternidades de nenhuma delas. Foi com essa maturidade que eu consegui olhar para mim com uma pausa, essa pausa que eu nunca me dei.

Por isso que a gente foi morar fora [Tânia mora com a família nos Estados Unidos], fomos ter outras experiências, estudar com outras pessoas… Eu dei para mim a licença maternidade que nunca tirei. Eu reavaliei um monte de coisa, eu estava indo muito no automático, muito indo, indo, indo, indo, indo… E os sinais já estavam me dizendo que eu que eu merecia mais. Merecia olhar para a vida com outras cores, sabe?

O que mudou na sua relação consigo mesma após a maternidade?

Olha, posso dizer que mudou para muito melhor. Primeiro que eu vi o como meu corpo é maravilhoso, como nosso corpo é divino, de poder esticar, de poder ser abrigo de um bebê, de poder gerar uma vida e de poder ver que volta, que o corpo vai e volta. Então entendi que o corpo é uma celebração do universo sobre como a gente é capaz de muita coisa!

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Amamentar, então, para mim, foi uma das coisas mais incríveis que eu já vivi na minha vida. É de muita força, é muito bonito. Eu acho que é para mim a maternidade só me deu uma força como pessoa.

Tânia Khalill para Boa Forma
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Você tenta passar para suas filhas esse mesmo trabalho de autopercepção que passa para mulheres no Palco da Vida?

Com certeza. Elas falam pra mim “ai, lá vem a mãe com esse papo egípcio”. Eu até fiz no Instagram uma época um “quadro” chamado “papo egípcio”. Mas eu passo o que minha mãe passava também de, se você está com dor no joelho, por que será que está com essa dor? Você se perguntou o que seu corpo quer dizer com essa dor que você está aguardando? Aí elas falam que “ai mãe, porque eu lesionei, sei lá, nada a ver esse papo egípcio”. Mas o fundo elas aprendem também e eu vejo isso. 

Teve uma situação de ver um amigo dando chilique em que uma das meninas falou “o que será que ele está sentindo para fazer isso? Ele não deve estar bem, porque se tivesse bem não ia estar gritando assim”. Achei aquilo tão maravilhoso. Porque todo mundo está julgando, falando “nossa que chilique, que horror, gritar assim com a mãe”, e ela falou “pera aí”. Eu fiquei emocionada, eu falei “é verdade, filha”.

Ainda no tópico família, você tem um casamento que aparentemente é muito bem-sucedido. Você tem um segredo?

Ai, eu adoraria que tivesse um, um manual. Porque é super desafiador qualquer tipo de relacionamento amoroso longo, ainda mais quando você adiciona maternidade. Eu diria que você tem que querer {o relacionamento]. É sobre não se submeter somente às suas vontades, aos seus pitis, às suas emoções. E ter muita compaixão. É mais assim na lógica de: quero estar junto, então vou relevar uma coisa ou outra. Mas sem se esquecer, né?

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O perigo do universo feminino é a gente relevar a ponto de se esquecer, se calar, adoecer e ter muita raiva acumulada. E acho que para aprender a falar, a gente leva um tempo também. Já passei por essas etapas de guardar, de não falar, mas hoje eu sinto que estamos muito melhor nesse diálogo. Hoje, depois de 21 anos de relacionamento, eu me sinto num lugar mais confortável do meu relacionamento, não no sentido de mesmice, mas de gostar de estar junto.

Apesar de ter uma carreira longa, você nunca se envolveu em grandes escândalos. Por que você acha que isso acontece?

Olha, eu sou muito fácil de lidar. Tive muitas experiências profissionais muito felizes. Não sou de entrar em briga, nem nada disso. Então, nessas horas [de brigas à flor da pele] eu, como boa canceriana, volto para a minha casca e fico calada. Acho que o silêncio é melhor que é o espernear.

Eu sou muito parecida com o que eu exponho: não é nada de super correto. E, se isso interessar ao público e atrair outras pessoas, ótimo.

Tânia Khalill para Boa Forma
(@marcioamaralph/BOA FORMA)

Você já falou sobre exercício. Queria que você falasse um pouco mais sobre sua relação com alimentação.

Para mim, alimentação sempre foi uma questão de atenção presente. Mas a maneira como me alimento mudou, também com a maturidade, aprendi a ouvir melhor meu corpo. Claro, às vezes como umas coisinhas “ruins” mas eu sinto no meu corpo que não faz bem. E não falo de engordar mas da maneira como eu me sinto, inflamada, mau humorada… Por exemplo, se eu estou eu estou mega a fim de comer 2 sobremesas hoje, ok, mas depois eu já consigo constatar que, putz, meu intestino não tá legal. Comer assim me dá espinha, minha energia fica pra baixo, aí eu volto a “comer bem”.

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Claro, não curto quando vem as gordurinhas. Mas primeiro eu sinto que eu acordo inchada, que minha digestão fica ruim, que eu fico mais irritada. Então acho que agora a minha alimentação está muito mais baseada no que me faz bem.

RAPIDINHAS DE BELEZA

:: Como você cuida da sua pele?
Eu gosto de estar com a pele sempre limpa e hidratada. Não sou muito de usar 300 creme. Faço limpeza, hidratação e passo protetor solar.

:: Você faz algum procedimento clínico?
Normalmente não, mas agora, na passagem pelo Brasil, vou passar pela minha dermatologista Thais Pepe para ela ver se faz um peeling para tirar alguma manchinha, essas coisas…

:: Qual sua relação com cirurgias plásticas?
Nunca entrei na onda de botar prótese, de fazer cirurgia e tal. Apesar de ter querido por muito tempo. Mas hoje em dia eu dou graças a Deus por ter seguido esse ciclo mais natural da vida. Corpo e pele mudam, não tem jeito, eu aprendi a gostar.

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Tânia Khalill para Boa Forma
(@marcioamaralph/BOA FORMA)

Você está no Brasil brevemente para gravar uma série. Quais são os outros planos profissionais por aqui?

Eu tenho desenvolvido bastante o workshop Palco da Vida e vou fazer ele aqui em São Paulo em julho, para um grupo de mulheres executivas. Vai ser muito especial porque acho que tem uma geração que é um produto de uma época em que as mulheres tinham que ser e acontecer, ter sucesso e ser incrível, para compensar a época em que não podíamos trabalhar. E isso leva muitas a não olhar pra dentro. Isso exaure, não é? É importante encontrar um equilíbrio.

E lá fora, o que podemos esperar?

Agora, estou vida numa série norte-americana que ainda está na produção. Não posso falar muito mas vai ser filmada em Miami. É sobre imigração. O roteiro é muito legal e fala de muitas pessoas que migram em busca de uma vida melhor.

Para finalizar, eu queria saber se você tem algum grande sonho que ainda não realizou

Cara, os meus grandes sonhos, hoje, são tão simples. Meu futuro lindo, hoje em dia, é tão mais em paz, tão mais aqui, eu só quero estar inteira com a minha família. Estar com vitalidade, podendo desfrutar da minha vida na simplicidade, em conexão com a natureza. Não tenho mais os sonhos da juventude de “conquistar”: de ir para Hollywood, de me tornar isso ou aquilo. Hoje, meu sonho é ser feliz.

Tânia Khalill para Boa Forma
(@marcioamaralph/BOA FORMA)

 

Fotos: Marcio Amaral
Maquiagem: Lia Wiz (by Arthe Beauty)
Cabelo: Marcela Guedes (by Arthe Beauty)
Tânia veste: Della In Store

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