Sheron Menezzes: a importância da base familiar para uma autoestima forte
Capa de maio de Boa Forma, a atriz conta como sua estrutura familiar foi fundamental para se tornar a mulher forte e empoderada que é hoje
Treino: a base da saúde física e mental
Atualmente, quais são seus cuidados com a saúde?
Para mim, saúde engloba tudo: corpo, mente e espírito. Para me manter bem cuidada eu treino. Sempre que posso, vou para a academia. Quando estou bem fisicamente, fico bem em geral, então o treino tem sido uma rotina diária. Eu nunca estou com o corpo parado, estou sempre em movimento. Aproveito principalmente quando não estou trabalhando – que não é o caso agora, mas estou conseguindo conciliar para fazer. Aprendi a gostar, então estar com meu corpo em movimento é me coloca presente em cena, preparada para o dia a dia. Agora estou fazendo musculação e aulas coletivas.
E quanto à alimentação, também tem algum cuidado especifico?
No meu caso, o cuidado com a alimentação é uma coisa constante, assim como o treino. Meu corpo é meu instrumento de trabalho, então preciso estar sempre com ele pronto. Eu não comecei a treinar ou a cuidar a alimentação por vaidade, mas sim porque preciso estar com meu corpo disponível. Então cuido com treino e uma boa alimentação para ele estar disponível, para minha máquina estar funcionando para qualquer trabalho que vier. Cuido da alimentação diariamente. Não que eu não coma algumas coisas menos saudáveis, mas é uma balança. Se como hoje, amanhã cuido um pouco mais. Gosto de comer bem, saudável. Então tenho que sempre balancear, ficar em equilíbrio.
Quando foi que você começou a ter esses cuidados?
Desde sempre. A atividade física, para mim, é natural. A musculação foi um esforço. Hoje eu adoro malhar, ir para academia malhar mesmo. Antes eu gostava de fazer aula de localizada, dança, aulas em geral. Agora não. Peguei gosto pela musculação também. E a verdade é que, com o tempo, nós vamos perdendo músculos, então temos que fazer musculação por questão de saúde também.
Você cuida da saúde mental? Faz terapia?
Faço semanalmente. Acho muito importante, porque além de eu usar meu corpo como instrumento de trabalho, também uso minha cabeça. Preciso estar com texto decorado, viver uma pessoa em cena durante alguns meses, outra pessoa com outra família e outros gostos. Então é importante o artista estar sempre com a cabeça em dia, entender quem somos, do que a gente gosta e não misturar as coisas. Acho de extrema importância.
Como você lida com a pressão e o estresse da vida pública? Tem alguma técnica específica para manter o equilíbrio emocional?
Não tive problemas com isso. Às vezes dizem que não me exponho, que levo uma vida mais fechada, mas isso não é um objetivo meu. Acho que tenho tão pouco tempo em casa, com meu filho e meu marido, que guardo isso para mim. Tenho esse tempo que quero aproveitar minha família. Acredito que, pela pouca exposição, as pessoas tendem a respeitar um pouco mais. Então não me sinto muito invadida.
Eu venho de uma época em que a internet não era uma coisa enorme. Você não queria fuçar a vida do artista. Quando viam na rua, cumprimentavam e falavam: “Vi seu trabalho, adoro seu trabalho”. Venho dessa época, então as pessoas que me seguem, meus fãs, são um pouco mais velhos, são pessoas que não têm aquele frisson de querer saber da minha vida, mas sim de querer dar um abraço quando me veem.
Então consigo manter isso de uma maneira bem natural. Tenho uma vida bem normal. Vou ao mercado, à feira, academia, ando de bicicleta elétrica com meu filho para cima e para baixo, vou ao shopping… Gosto de ter essa vida.
Qual é o significado de bem-estar para você?
Bem-estar é você estar bem com você. É estar feliz com quem você é, com como você está. Acho que, na maioria do tempo, eu estou bem feliz e satisfeita com quem eu sou. E quando não estou, procuro melhorar fazendo uma atividade física, procurando por uma terapia, comendo bem…
Beleza fortalecida na infância
Você tem algum ritual de autocuidado que considera essencial para se sentir bem, mesmo nos dias mais corridos?
Tenho aqueles minutinhos que tiro para mim de manhã e que são essenciais para o resto do meu dia. Como eu acordo diz muito sobre como vai ser meu dia, então gosto de acordar com calma, ter tranquilidade para tomar meu café, pensar um pouco, dar uma alongada, e isso faz com que meu dia seja mais tranquilo. Para isso, tenho que acordar sempre um pouco mais cedo. Então meu ritual é estar comigo pela manhã, me colocar em prioridade ao acordar, e não levantar afobada para fazer alguma coisa, porque aí sim meu dia fica estragado mesmo.
Como você enxerga a relação entre autoestima e beleza?
É o que eu disse: quando estamos bem com nós mesmas, quando nos olhamos no espelho e nos sentimos bem, isso faz com que a autoestima seja elevada. As pessoas falam para mim que tenho uma autoestima muito bem resolvida, e eu sou muito bem resolvida mesmo. Tenho uma autoestima muito bem trabalhada desde criança.
Minha mãe, com certeza, fez um ótimo trabalho de elogiar e mostrar quão lindos são todos os pontos que me cercam, cada pedacinho do meu corpo. Ela me fez amar cada parte do meu corpo. Então, quando me olho, sou muito feliz com o que vejo.
Já enfrentou desafios em relação à aceitação quando mais nova em relação a seu corpo, seu cabelo?
Meu cabelo nunca foi uma questão para mim, e nem mesmo minha cor de pele e meus traços. Isso foi muito pela minha mãe. Sou gaúcha e estudei em escola particular, então cresci em ambientes muito brancos. Mas minha mãe foi muito sagaz e fez um ótimo papel de mãe em olhar para mim e, antes que eu passasse por qualquer coisa e tivéssemos um saldo negativo, me colocar na frente do espelho e me elogiar constantemente, me mostrar como meu nariz meu cabelo, minha cor, meus olhos eram lindos. Essa é uma memória muito forte que tenho da minha infância.
E eu e meus irmãos somos assim até hoje. Nós nos elogiamos o tempo inteiro. Sempre falamos: “Como você é bonito. Como seu cabelo está lindo. Como você é perfeita”. Temos por hábito fazer isso, e claro que isso veio da nossa criação. Então por mais que alguma pessoa dissesse algumas coisas sobre meu cabelo, por exemplo, eu respondia: “Meu cabelo é lindo. Minha mãe disse!”, porque mãe não mente.
Acho que é de extrema importância cuidar da construção da autoestima das crianças. Porque quando se tem uma criança com autoestima elevada, que sabe do seu valor, dos seus traços, da sua beleza, nós não precisamos empoderar esse adulto no futuro, porque essa criança já cresce empoderada, sabendo quem ela é. Minha mãe fez esse trabalho. Ela já veio com isso.
Somos o fruto do meio em que somos criados, e algumas pessoas conseguem sair desse meio. Porque uma criança que quer alisar o cabelo tem uma mãe que alisou, uma avó que alisou… Vai seguindo um padrão. Minha mãe quebrou esse padrão. Ela tinha um cabelo enorme e eu achava aquilo a coisa mais linda. Eu usava tranças quando criança porque era mais fácil, mas uma vez soltei e falei: “Ai, está tão lindo. Não quero mais prender, quero ficar assim”. E ela apoiou e disse que ia me ensinar a cuidar do meu cabelo para ter minha “juba linda”. A partir dali, entre uns 12 ou 14 anos, nunca mais prendi meu cabelo.
É importante dizer que, naquela época, ninguém estava errado. Hoje eu diria que sim. Mas naquela época, ninguém está errado, porque as pessoas são frutos dos seus meios. Mas em algum momento precisamos quebrar isso, e eu fico feliz que minha mãe tenha conseguido, para que eu pudesse crescer, como diz a Iza, “dona de mim”. Meu meio, meu casulo, foi muito bem construído.
Quando eu tinha 18 anos, você não via pessoas com black power. Então hoje, quando vejo crianças felizes com essas coroas na cabeça, sinto muito orgulho. É uma conquista. Elas fazem isso porque se enxergam, então vendo na televisão que podem usar e que não é uma vergonha.
Essa construção da autoestima, principalmente de crianças pretas, me dá muito orgulho porque acho que também fiz bastante parte disso quando fui lá e assumi meu cabelo, mostrei como ele era lindo. Acho que eu tenho que fazer esse serviço que minha mãe fez para mim.
Eu e minha mãe temos um projeto de construção da autoestima da criança nas escolas, em especial da menina preta, que está parado, mas que quero muito resgatar. Se chama “Cantando e Contando Princesa Violeta”.
Minha mãe escreveu um livro para mim, que chama “A Princesa Violeta”, porque eu não podia ser a princesa na escola. Não existia princesa preta naquela época, então minha mãe escreveu um livro sobre uma princesa e seu pai que queria ter tido um filho homem. Quando o reino é invadido, é essa filha menina que o pai rejeitou e que faz aulas de luta escondida que defende o reino, porque o pai está doente.
Nós temos músicas gravadas contando cada pedaço desse livro. Então durante muito tempo minha mãe foi e ainda vai às escolas cantar e contar essa história. Isso tem quase 20 anos. Imagine, há 15 anos, você ir a uma escola contar que a princesa tem cor de bombom, olhos de jabuticaba, boca que parece um morango… Se você visse os olhos das crianças falando: “Ué, mas como assim ela tem cabelo de cachinhos? Com essa cor? Eu sou a princesa Violeta!”.
É isso, você é uma princesa, você é linda, seu cabelo é lindo, seu nariz é lindo, sua boca é linda! E as meninas saiam dali cantando sobre a princesa cor de bombom, se achando a coisa mais linda. A gente vem fazendo esse trabalho há muito tempo. É um trabalho de formiguinha e é lindo.
Hoje, aos 41 anos, você sente que seus cuidados de beleza mudaram?
Não sei se eles precisaram mudar ou se fui eu que mudei porque comecei a conhecer outras coisas. Sempre cuidei muito do meu cabelo. Eu usava a babosa retirada do jardim de casa, tinha o final de semana de beleza com meus irmãos, usava touca, passava máscara no rosto…
Minha mãe é muito vaidosa e fazia isso comigo. Eu levo para um lado bom da vaidade, porque em certo ponto a vaidade pode se confundir. Mas minha mãe era muito vaidosa em se sentir bonita, então eu cresci com isso também.
Quando fui morar sozinha no Rio, eu já sabia como fazer as coisas, mas fui achando maneiras mais simples e fáceis. Então, ao invés de pegar babosa e colocar no cabeço, eu ia no salão fazer um tratamento. Já ir ao médico, passar cremes, fazer skincare, eu fui aprendendo ainda mais.
Hoje em dia, você mantém cuidados diários?
Eu sou apaixonada pelo meu cabelo, então cuido muito dele. Vou semanalmente ao salão fazer hidratação com uma tricoterapeuta, a Cintia Araújo, que já vê tudo que precisa ser feito. Ela cuida do meu cabelo há mais de 20 anos, então me ensinou muito.
Quanto ao skincare, faço todos os dias. Minha mãe me ensinou a nunca dormir de maquiagem, então sempre tiro antes de deitar. Lavo o rosto e faço skincare pela manhã e à noite todos os dias. Também uso creme no corpo para ter uma pele bem hidratada.
Tenho esse carinho por mim. Amo meu corpo, amo quem sou e amo meu instrumento de trabalho, então cuido com muito carinho mesmo.
Você é adepta de procedimentos estéticos? Costuma fazer algum?
Eu gosto de massagem, drenagem no corpo. Nunca fiz nada invasivo, com agulha, como botox e preenchimento. Já fiz radiofreqüência e gostei, achei um bom resultado, porque deu uma ativada no colágeno. Mas, em geral, tenho medo de agulha, então não faço coisas invasivas. Enquanto eu não precisar, não vou fazer. Mas, se precisar em algum momento, farei sem problemas.
Sucesso profissional crescente
Antigamente se viam poucos atores negros nas novelas. Agora, recentemente a Globo estava com três novelas protagonizadas por atrizes negras simultaneamente. Como você enxerga a representatividade negra na TV hoje? Acha que houve avanços significativos nos últimos anos?
Eu enxergo justamente como um avanço. Acredito que a sociedade entendeu que, quando você se enxerga na televisão, nos produtos, aquilo é para ela. Era uma luta muito grande que a gente tinha, e a sociedade teve que se adaptar e entender isso.
Sempre fiz personagens muito grandes, muito bons e muito significativos para as pessoas. Mas quando fiz a Sol, eu entendi que ela era todas essas mulheres que a gente vê passeando pela rua e entendi que estávamos fazendo um grande serviço com ela.
Vieram outras novelas ao mesmo tempo em que eu estava fazendo a Sol e criou-se uma sequência grande de mulheres pretas, fortes e poderosas no comando. Isso é muito importante para as meninas pequenas. Eu sempre falo das crianças porque acredito que elas se olham e podem enxergar como é possível. Quero que elas se enxerguem em outro lugar, que não aqueles que elas são colocadas diariamente.
Você imagina que isso possa melhorar ainda mais?
Claro, tem que melhorar e vai melhorar. Eu sempre fui a pessoa que enxerga o copo meio cheio. Sou otimista, então gosto de mostrar que estamos aqui, chamar para vir junto.
Tenho que mostrar para essas meninas que é possível sim. Me sinto responsável por elas, então gosto de sempre ter uma palavra positiva para dizer. Então, quando me perguntam, o que fazer para chegar onde cheguei, eu digo: “Gata, vem! Olha o caminho que está sendo aberto, olha como é que está acontecendo!”. O público está entendendo, a sociedade já entendeu. Muita gente não quer aceitar, mas entendeu. O cliente está vendo como as coisas estão indo, então vamos juntos, porque juntos nós somos potência.
Como foi o retorno das mulheres que se identificaram com a Sol?
Até hoje tenho. A Sol não foi a menina preta que foi lá e venceu, foi uma história diferente. Nós nos comunicamos com a mulher que trabalha, que batalha, que tem filho, mãe, uma família que depende dela e acaba se esquecendo de si.
A Sol veio para mostrar que, em qualquer idade, podemos nos lembrar da gente e resgatar sonhos antigos. As mulheres, principalmente pretas, largam seus desejos, suas vontades e suas vidas para tocar a família. A maioria das chefes de família são mulheres pretas. Então, em algum momento, a Sol conseguiu olhar para si, para seus desejos e falar: “E aquela menina que tinha um sonho? Qual era o sonho daquela menina quando larguei tudo para tocar toda essa batalha? Será que consigo resgatar?”.
E consegue! Ela tem que resgatar. A gente tem que lutar por isso. É construir e resgatar a autoestima que foi largada. Então a Sol fez com que muitas mulheres resgatassem essa autoestima, seus desejos, a menina que elas foram. Para mim, esse trabalho foi um serviço. O que eu recebi de feedbacks e que recebo até hoje, é impressionante.
Você completou mais de 20 anos de carreira como atriz. Nesse tempo o que mudou quanto a sua profissão e suas escolhas profissionais?
Se eu dissesse que não, estaria mentindo. Com o tempo, nós começamos a entender as coisas melhor, começamos a ter com um pouco de poder de escolha. No começo, você quer trabalhar, você precisa trabalhar, então não escolhemos, fazemos porque precisamos mostrar.
Eu fiz tanto que, há algum tempo, cheguei a um lugar em que posso escolher minhas batalhas. O trabalho é uma batalha. Você está por lá por oito meses, um ano. Eu tenho esse poder de escolha agora e, para mim, o mais importante é ter conquistado isso. Claro que conquistei trabalhando muito, mas é muito bom alcançar esse poder de decisão.
Tem algum trabalho que você considera mais importante ou marcante?
Tem sim. Sempre que me perguntam, eu digo que é aquele que estou fazendo, porque você tem que gostar daquilo que você está fazendo. Não posso dizer: “Estou fazendo esse, mas amei aquele”. Na verdade, não teve nenhum que não gostei. Fui muito feliz em tudo que me foi dado como construção. Não foi nada que me agrediu, então fui feliz em tudo que foi me dado como construção e em todas as minhas escolhas também.
Eu realmente tive uma carreira de crescimento profissional. Fiz muita coisa e se você for pesquisar, é sempre algo que cresce, sempre um trabalho maior e melhor. Não sei se é o papel que é maior e melhor ou se eu que estou cada vez mais madura para conseguir dar o meu melhor e tirar melhor proveito daquilo. Talvez eu me dê esse mérito.
Então todos os meus trabalhos sempre foram muito importantes, mas um dos papéis mais emblemáticos para mim foi Berenice em “Lado a Lado”, porque foi minha primeira vilã. Ela era apaixonante e as pessoas gostavam muito dela. Botei um pouquinho de comédia nela, fui para um lugar que não conhecia, então foi muito importante para mim.
Você enxerga sua carreira como uma escadinha, sempre em crescimento. E agora, após o protagonismo de sucesso, o que esperar?
Eu que te pergunto! [risos]. Acho que esse meio é muito cíclico, então o principal não é ser uma protagonista, mas sim saber contar histórias, ser protagonista daquela história.
Todos os personagens foram importantes para mim, protagonistas ou não. Já fiz muitos outros trabalhos fora de novelas também. A gente esquece que tem filmes, streaming, muitos outros formatos. Estou trabalhando em coisas muito bacanas. Só acho que, quando a gente chega nesse lugar do protagonista, alcança um maior número de pessoas. Mas o trabalho tem que ser bem feito de qualquer lugar.
Desafios da vida pessoal
Você já mencionou que a maternidade trouxe novas prioridades. Como isso reflete nas suas escolhas profissionais hoje? O que ela transformou na Sheron como mulher?
Reflete muito. Eu gostaria que todas as mães pudessem ter a oportunidade de fazer suas escolhas, porque quando viramos mãe temos que nos adaptar a isso e continuar tocando a vida como ela era.
Sou muito grata por ter a oportunidade de fazer escolhas em função do meu filho. Faço escolhas de viajar ou não, de pegar ou não um trabalho porque acho que vai ser pesado na minha rotina e não vou ter tempo para ele… Hoje posso me dar a esse luxo.
Depois que tive meu filho, parei por um ano e pouco. Não fiz nada de audiovisual, porque não queria perder nada dele. Mas foi uma escolha. Não tive babá, não tive nada, mas não faria isso de novo. Foi minha escolha de maternidade, mas foi pesado, porque me coloquei de lado para ficar com ele e me redescobri só depois, fazendo uma novela de novo. Foi aí que falei: “Ah, tem vida depois da maternidade”. A partir daí, foi um equilíbrio. Você tem que ter esse equilíbrio. Que bom que eu posso, e eu gostaria que todas pudessem.
Você já declarou que gostaria de aumentar a família. Como é a sua relação com a maternidade?
Não me arrependo de nada em minhas escolhas na maternidade, mas não faria tudo igual de novo, com um próximo filho. Eu escolhi viver uma maternidade intensa, cansativa, que hoje em dia eu não precisaria viver. Muitas mulheres precisam fazer isso, mas eu não precisava. Resolvi viver como todas as mulheres fazem, que é ser mãe 100%, fazer tudo sozinha, e acabei ficando muito cansada.
Minha amamentação foi extremamente difícil. No início, até eu entender, aprender, demorou três meses. Também tive muito problema com sono dele, com introdução alimentar… Tive todos esses problemas de mães reais. Mas eu queria lidar com isso. Em algum momento depois, isso virou uma delícia, Quando você aprende, entende, volta ao normal.
Meu puerpério foi muito ruim. Não tive depressão pós-parto, mas depois de meses notei: “Não sei mais quem eu sou, estou num buraco e preciso de alguém me tire daqui”. Mas você não sabe pedir isso. Me senti em um buraco e só depois desabrochei. Foi aí que entendi a maternidade e entendi que ela pode ser mais leve.
Eu quis viver as dores e as delícias. Agora só quero delícias [risos]. Estou brincando, mas a verdade é que isso pode ser mais leve. A maternidade me amadureceu muito. Você precisa entender que tem que viver para outra pessoa, entender suas escolhas como voltar para casa, o que comer, se manter bem fisicamente e mentalmente, tudo. Assim fui entendendo a maternidade e hoje sou uma pessoa melhor.
Também aprendi a ter paciência e a delegar. Entendi que, se você vai fazer algo para mim, vai ser do seu jeito e não do meu, mas tudo bem. Você aprende a ter um pouco mais de paciência a entender o outro, a ver que o outro tem limitações e não pensa igual você. Aquela criança vem e rasga seu livro, rabisca seu sofá, e aí você vê que é tudo material. Então depois da maternidade, eu entendi que tinha que trabalhar para viver coisas, para ter memórias com ele, fazer coisas com ele, para que quando ele cresça, ele se lembre. Quero que ele tenha essas memórias boas e esse é o meu objetivo de vida. Eu realmente vivo para isso.
Benjamin já está com 7 anos. Você, como uma mulher ativista, já começou a levar para ele pautas importantes como racismo, feminismo etc?
Claro! Eu acredito que meu papel na sociedade é entregar um homem bom, do bem, e que respeite as mulheres. A índole dele, como ele vai ser, só diz respeito a ele quando ele crescer, mas até então, vou fazer tudo que eu puder.
Falo muito sobre “meu corpo, minhas regras”, porque os filhos acham que nossos corpos são deles. Eles saíram daqui, o peito é deles… Mas não é assim. Não pode sair dando tapa na bunda da mamãe, porque são hábitos masculinos. Não pode beijar a coleguinha se ela não quiser. Não pode abraçar nem encostar se ela não quiser. Tem que perguntar antes.
Meu filho é muito carinhoso, de abraçar as pessoas que ele não conhece na rua. Se alguém falar: “Oi”, ele abraça. Então eu explico: “Não pode, porque é o corpo de outra pessoa”. Na minha família nos abraçamos e nos beijamos muito, então ele acha que isso é normal. É normal dentro da nossa casa, mas muitas famílias não são assim, então ele tem que respeitar. Por isso converso com ele sobre isso, sobre o que é certo e o que é errado. A gente tenta.
Também sou muito presente na escola, sempre pergunto o que está acontecendo, escrevo na agenda todo dia. Tenho essa troca com a escola. Sempre levo no jiu-jitsu, na natação… Faço essas coisas de mãe, do dia a dia dele. Então conversamos muito durante o passeio de bicicleta, no caminho para luta, na hora de dormir, no banho… Principalmente na hora do banho, falo sobre partes que pode ou não pode tocar. A segurança física dele sempre foi uma preocupação muito grande minha, então falamos muito sobre isso.
Você também é muito ativa nas redes sociais e usa sua plataforma para falar sobre causas importantes. Como é para você esse papel de influenciadora além da TV?
Assim como aconteceu com a maioria dos artistas, essa foi uma segunda profissão que me colocaram, mas eu gostei, achei legal. Eu gosto. Muito antes desse “boom” da internet, eu já tinha como objetivo cuidar de meninas pretas, mostrar para elas como é possível. Por isso sempre tive muito cuidado com como fazia minhas personagens, porque eu gostava quando elas se viam e entendiam. Por exemplo, quando fiz uma advogada muito bem-sucedida, foi um “boom”. As crianças queriam ser advogada, as mães me contavam por e-mail, por Facebook. Sempre gostei de mostrar como pode ser possível.
E aí com a vinda da internet, e principalmente com a pandemia, começou isso de influencer, porque eu estava em casa e comecei a abrir a câmera. Comecei a mostrar meu filho, minha rotina, a conversar com as pessoas enquanto lavava a louça, fazia comida… Isso me aproximou das pessoas. Achei interessante mostrar para elas que eu sou gente como a gente, que sou passível de muitos erros, de vários acertos e de aprendizado. Então foi gostoso estar nesse lugar, ter essa troca.
Eu não sou uma influencer, não me construí na internet como os influencers. Sou uma atriz que abriu um espaço para mostrar o seu dia a dia e incentivar as coisas que acredita. Tanto que eu só faço coisas que acredito de verdade. As marcas que trabalho são todas as que eu uso e que acredito. Gosto de influenciar para coisas boas. Acho que espaço de extrema importância se você souber como fazer.