Saúde mental e autoestima: qual a relação?
Depressão, ansiedade e doenças psicossomáticas são alguns dos problemas que podem ser desencadeados quando temos uma visão negativa sobre nós mesmos
A autoestima influencia diretamente na forma como vivemos a nossa vida. Isso porque ela se refere à uma avaliação subjetiva que fazemos de nós mesmos, considerando nossas habilidades, características, potenciais e aparência. Ter uma percepção saudável a respeito de tudo isso é fundamental para que consigamos desfrutar do bem-estar não apenas emocional como também físico.
O QUE É A AUTOESTIMA?
“É a forma como a pessoa se lê, tanto fisicamente, como também psiquicamente. Autoestima, basicamente, estará sempre relacionada a dois sentimentos: o de ser amado e o de pertencimento. Se a pessoa nutre um sentimento de amor próprio, se ela se valoriza, se respeita e se admira, ela tem uma autoestima saudável”, explica Janusa Silvério, psicóloga, neuropsicóloga e palestrante.
Considerada um dos fatores principais para que uma pessoa tenha uma vida mais satisfatória, a autoestima impacta diretamente no sucesso profissional, nos relacionamentos amorosos, no autocuidado e em outros aspectos do dia a dia.
“Um ponto importante a se destacar da autoestima é que ela pode ser diferente em várias situações da vida. Você pode ver uma pessoa que vai muito bem em relacionamentos, mas tem uma baixa autoestima profissional, por exemplo”, conta Daniela Faertes, psicóloga e especialista em terapia cognitiva e mudança de comportamentos prejudiciais.
SINAIS DE BAIXA AUTOESTIMA
Segundo a psicóloga, há alguns sinais que podem ser indicativos de baixa autoestima, entre eles, insegurança, busca pela validação do outro, medo da rejeição, timidez excessiva e dificuldade em lidar com críticas.
“Pessoas com esse problema sentem que têm menos valor que as outras ou que não apresentam boas qualidades. Pode ocorrer uma sensação de fracasso, como se estivessem em uma constante insatisfação consigo mesmas. Às vezes, não conseguem colocar limites nos outros, seja em amigos, familiares ou relações amorosas, podendo, inclusive, estar em relacionamentos não saudáveis”, acrescenta Daniela.
CAUSAS DA BAIXA AUTOESTIMA
No geral, a baixa autoestima pode ser causada por diversos motivos, inclusive genéticos. Além disso, pode ser resultado de situações vividas na infância, período no qual a pessoa estabelece as suas primeiras relações interpessoais no ambiente escolar e em casa com a família, por exemplo. Dessa forma, fica claro que a construção da autoestima depende das experiências no curso da vida.
“A forma como a infância e a adolescência se constituíram é determinante para a formação dela. Crianças que foram amadas, cuidadas, elogiadas e valorizadas, provavelmente terão uma autoestima saudável. Já ao contrário, crianças que sofreram castigos severos, abusos sexuais, privação de carinho e elogios, carência de cuidados básicos, comparações com outras crianças ou irmãos, tendem a sofrer consequências na autoestima”, explica Janusa Silvério.
CONSEQUÊNCIAS
Uma pessoa que tem uma imagem negativa sobre si mesma acaba prejudicando várias áreas da própria vida, e também costuma experimentar sentimentos como tristeza, solidão e desesperança com mais frequência.
No âmbito profissional, a baixa autoestima pode ocasionar a perda de oportunidades, dificultar a capacidade de liderança e provocar uma baixa motivação para o cumprimento das demandas. Já nas relações pessoais, pode interferir na construção de um relacionamento saudável, contribuindo para o surgimento da dependência emocional e do ciúmes.
Vale ressaltar que o problema também pode fazer mal à saúde física, pois consiste em um fator de risco para o abuso de substâncias viciantes, para a má alimentação, para a falta do autocuidado e para o desenvolvimento de doenças psicossomáticas (dores de cabeça, nas costas e condições gastrointestinais, por exemplo).
“Quem tem baixa autoestima faz as coisas com mais pressão, mais dificuldade, tudo fica um esforço maior e isso acaba atingindo a saúde como um todo. Hoje em dia, é sabido que os nossos pensamentos, sentimentos e comportamento estão muito interligados e as emoções são físicas também“, ressalta Daniela.
A RELAÇÃO COM A SAÚDE MENTAL
A Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), ressalta que é comum que a baixa autoestima esteja associada aos transtornos mentais, como ansiedade, depressão, transtornos alimentares, dependência química e déficit de atenção.
“Boa parte das doenças mentais tem a ver com crenças negativas que se tem sobre si e sobre a sua capacidade no mundo”, completa a psicóloga Daniela Faertes.
DICAS PARA MELHORAR A AUTOESTIMA
Existem algumas maneiras de tornar a relação com nós mesmos mais saudável e mais respeitosa. Confira:
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Desafie os pensamentos negativos
“Converse” com esses pensamentos e duvide deles. Questione se eles realmente fazem sentido e se há evidências para comprová-los.
2Comece a fazer atividades prazerosas para você
Inclua na sua vida atividades que te agradem. “Sempre teve admiração e vontade de aprender uma dança? Vá atrás disso. Se seu sonho é fazer uma faculdade, vá fazer faculdade, independente da sua idade”, exemplifica a psicóloga Janusa Silvério.
A Dra. Danielle também recomenda manter por perto aquelas pessoas que realmente gostam de você e que te fazem se sentir bem.
3Pratique atividade física
Movimentar o corpo é uma das ações mais benéficas que você pode fazer pela sua autoestima. Ao se exercitar, você promove a liberação de endorfina e de serotonina, dois hormônios que proporcionam a sensação de felicidade e de bem-estar. E tem mais: por envolverem metas e superação de limites, os exercícios físicos também podem fazer com que a pessoa se sinta orgulhosa de si mesma.
4Tome cuidado com o uso exagerado das redes sociais
“Siga conteúdos que vão realmente somar em sua vida. Redes sociais tendem a ostentar dinheiro, felicidade, corpos e famílias perfeitas. A maioria dessas ostentações são falsas. E seguir esses perfis não é nada bom para quem tem sentimentos de baixa autoestima”, relata Janusa.
5Faça terapia
A terapia é indispensável para lidar com a baixa autoestima, já que permite que você se olhe de uma outra forma, facilitando a identificação das suas qualidades, defeitos e potenciais. Por isso, não deixe de buscar ajuda.
Veja algumas opções gratuitas ou a preços acessíveis para fazer terapia:
CVV – Centro de Valorização da Vida: Para contar com a ajuda do CVV, disque 188, utilize o e-mail ou o chat. Todas as plataformas ficam disponíveis 24 horas por dia.
Sistema Único de Saúde (SUS): Pegue a sua carteira do sistema de saúde e vá até o posto mais próximo para solicitar o atendimento psicológico.
Aplicativos: Uma opção é o Zenklub, uma plataforma que oferece atendimentos psicológicos 100% online.
Clínicas de Universidades Particulares: Muitas universidades particulares contam com clínicas de atendimentos ligadas aos seus departamentos de psicologia. Em São Paulo, há a Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic, da PUC, que oferece consultas gratuitas.
Organizações Não Governamentais (ONGs): A Clínica Social Casa 1, de São Paulo, é um exemplo de iniciativa que oferece atendimento online, gratuito ou a preços acessíveis para populações vulneráveis, com especial destaque para pessoas LGBTQIA+ e pessoas pretas.