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Neutralidade corporal: precisamos falar disso | #ChegaDeHate

O Pinterest proibiu anúncios com linguagem sobre perda de peso em sua plataforma. Afinal, qual a importância dessa atitude para o bem-estar das mulheres?

Por Amanda Ventorin
Atualizado em 21 out 2024, 16h31 - Publicado em 10 nov 2021, 09h00
mulheres com corpos reais trajando tops e calcinhas sobre fundo branco
Em julho o Pinterest proibiu todos os anúncios com linguagem e imagens sobre perda de peso.  (Pinterest/Divulgação)
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Quem nunca se comparou com alguém nas redes sociais que atire a primeira pedra. O corpo, o cabelo, o estilo de vida de outra pessoa deixa um sentimento amargo de que, se você passasse mais tempo na academia ou realmente seguisse um cronograma capilar, você poderia ser igual àquela publicação.

As publicidades sobre métodos para emagrecer, ficar mais bonita, fotos e páginas dedicadas aos antes e depois de um emagrecimento também não são de grande ajuda e a pressão estética caí, cada vez mais pesada, no seu colo. “As mídias sociais interferem nos conceitos e comportamentos das pessoas, dentre eles, a idealização do corpo perfeito. Em um estudo publicado no periódico Body Image com mulheres de 18 a 27 anos foi constatado que depois de as mulheres olharem para perfis nas redes sociais de alguém que elas consideram mais atraentes, elas veem seus corpos de forma mais negativa“, explica Vanessa Gebrim, psicóloga. 

O ideal da beleza acaba sendo vendido como um produto nas redes sociais através de publicidades que incentivam os padrões físicos considerados ideais, fazendo com que mulheres que não se adequem a esses padrões sintam na pele a angústia e a sensação de não pertencimento. “Dessa forma, a influência da mídia na forma de como os corpos devem ser moldados acaba fazendo com que as pessoas adotem medidas nada saudáveis na busca desses modelos, desencadeando até quadros de solidão, ansiedade, depressão, distúrbios alimentares e compulsão por hábitos prejudiciais à saúde. Isso não significa que a pessoa não deva se cuidar, mas que é importante ter equilíbrio e não cometer exageros”, alerta Vanessa. 

A profissional ainda diz que o cenário nas redes sociais acaba deixando algumas pessoas bem sensíveis, fazendo com que elas acreditem que esse contexto representa a verdade absoluta e que elas dependem disso para construir as suas vidas. O excesso de comparações e a necessidade de se encaixar em um padrão podem prejudicar a saúde mental das pessoas. Isso as tornam cada vez mais insatisfeitas, com o desejo de mudar a própria imagem a todo custo. Querem atingir um nível de perfeição que não existe, e esquecem que a internet é um ambiente editado. “Alguns estudiosos até comparam o vício em redes sociais com a dependência de álcool e drogas. Vejo muito isso em consultório, principalmente em adolescentes e jovens. Eles já chegam com quadros de tristeza e baixa autoestima por acharem que são piores que os colegas das redes sociais”.

O cirurgião plástico Alexandre Sanfurgo conta que, muitas vezes as pacientes trazem fotos desejando algo parecido ou ressaltando detalhes que gostariam como resultado cirúrgico e que é preciso ficar atento se o desejo de realizar o procedimento é algo genuíno ou influenciado por questões externas . “Explico e mostro a diferença da pessoa na foto e da paciente que ela levou, mostro as diferenças que existem entre elas e explico que não deve esperar um resultado igual. Por fim converso muito com ela para entender qual sua expectativa baseada no seu perfil”, conta. “Quando há o desejo de realizar um procedimento cirúrgico é necessário entender se isso vem da própria pessoa e não de algum fator externo, que pode ser a mídia ou até uma pessoa próxima. O desejo genuíno é aquele em que a paciente sente desconforto em alguma atividade cotidiana, pode ser ela deixar o corpo mais à mostra como trajes de banho, ou mesmo naqueles minutos diários frente ao espelho. Não há uma receita para identificar se esse desejo é genuíno, é algo que o médico experiente percebe durante a conversa com a paciente e, neste caso, tenta até mesmo desencorajar a realização do procedimento”.

NEUTRALIDADE CORPORAL X POSITIVIDADE CORPORAL

Ao mesmo tempo em que vemos uma pressão para mudar nossos corpos, há um movimento contrário, que diz que nossos corpos são lindos de qualquer forma e, por isso, devemos aceitá-lo — o movimento de positividade corporal.

Mas isso causa ainda uma outra camada de frustração. Além de não termos o corpo que desejamos, nos sentimos pressionadas e até culpadas (como se fossemos “más feministas”) por não amarmos o corpo que temos.

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E é aí que um outro movimento vem tomando cada vez mais peso: o de neutralidade corporal.

O que ele acredita é que você não precisa nem amar nem odiar seu corpo pela aparência. Na verdade, você não tem que sentir absolutamente nada quanto à estética do seu corpo. Ele é uma ferramenta. É através dele que você navega nesse mundo. Ele é apenas o “vaso” que te permite fazer coisas incrível, então ele não precisa ser esteticamente agradável para ninguém — nem mesmo para você. Ele apenas precisa ser funcional.

#CHEGADEHATE: COMO O PINTEREST SE TORNOU UMA REDE SOCIAL QUE NÃO PROMOVE O ÓDIO

No dia 1 de julho de 2021, o Pinterest, rede social onde a maioria de seus usuários buscam inspiração visual, decretou novas políticas de anúncios, proibindo todos os anúncios com linguagem e imagens sobre perda de peso.  Essa decisão fez com que o Pinterest se tornasse a única plataforma a proibir todos os anúncios sobre perda de peso, complementando sua políticas de anúncios, que já proíbem produtos ou declarações perigosas sobre perda de peso ou vergonha corporal. 

A política atualizada passou a proibir

  • Toda linguagem ou imagem sobre perda de peso; 
  • Qualquer testemunho sobre perda de peso ou produtos para emagrecimento; 
  • Qualquer linguagem ou imagem idealizando ou depreciando certos tipos de corpos; 
  • Referências a Índice de Massa Corporal (IMC) ou índices semelhantes; e 
  • Qualquer produto que alegue facilitar a perda de peso ao ser usado ou aplicado sobre a pele. 
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Acrescentou-se a essa iniciativa o conteúdo de anúncios que já foram retirados do Pinterest, incluindo: 

  • Pílulas, suplementos ou outros produtos para perda de peso ou supressão do apetite; 
  • Imagens de antes e depois da perda de peso; 
  • Procedimentos de perda de peso, como lipoaspiração ou queima de gordura; 
  • Body shaming, como imagens ou textos que ridicularizem ou desprezem certos tipos de corpo ou de aparência.
  • Afirmações sobre resultados cosméticos irreais. 

Anúncios que promovam estilos de vida e hábitos saudáveis ou serviços e produtos para a boa forma ainda são permitidos, desde que não abordem a perda de peso. Essa mudança na política foi desenvolvida sob orientação e aconselhamento da National Eating Disorders Association (NEDA).

“A National Eating Disorders Association (NEDA) parabeniza o Pinterest por assumir uma posição de liderança como primeira plataforma a proibir todos os anúncios com textos e imagens relacionados à perda de peso. A NEDA reconhece a inspiração que motivou esse passo tão necessário na priorização da saúde mental e do bem-estar das pessoas que acessam o Pinterest, especialmente as que são afetadas pela cultura das dietas, pelo body shaming e por distúrbios alimentares. Estamos esperançosos de que essa política global incentivará outras organizações e empresas a refletir sobre o dano potencial das mensagens de anúncios e estabelecer suas próprias políticas para promover mudanças significativas”, afirmou Elizabeth Thompson, CEO interina da National Eating Disorders Association. 

feed do pinterest sobre fundo rosa com temas como neutralidade corporal em evidência
(Pinterest/Divulgação)
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Como resposta, os usuários da plataforma mudaram seu discurso, adotando a narrativa da “neutralidade corporal“. Segundo o Pinterest, a pesquisa por “citações sobre mindset saudável” é 13 vezes maior entre as pessoas que usam a rede, e as buscas por “neutralidade corporal” e “citações de fim ao body shaming” aumentaram cinco vezes em relação ao ano passado. Além disso, a busca por “ilustrações artísticas sobre amor-próprio” têm 63 vezes mais acessos.

Os criadores de conteúdo do Pinterest também ajudam a manter o ambiente saudável na plataforma, promovendo temas positivos e a neutralidade corporal.

“Iniciativas como a nova política do Pinterest são primordiais para barrar ou pelo menos amenizar a cultura da magreza como única forma possível de existir e de ser feliz. Vivemos numa época em que cirurgias plásticas e remédios emagrecedores são anunciados como quem anuncia algo trivial, levando muitas de nós (e digo muitas, no feminino mesmo, porque somos nós, mulheres, as grandes impactadas nisso tudo) que a felicidade está dentro daquele único padrão. Ver uma rede social focada na imagem como o Pinterest trazer esse tipo de preocupação é como uma luz no fim do túnel, quando o que se vê são redes disseminando o padrão dos corpos, a perfeição dos filtros e por aí vai. Espero que a iniciativa vire referência para outras redes, pois ajudaria consideravelmente na redução da pressão estética, gordofobia e na melhoria da saúde mental de tantas de nós!”, diz a criadora de conteúdo Mariana Cyrne

“Políticas como esta trazem paz e ‘liberdade de ser’ em um momento em que somos bombardeadas por informações que nos dizem que não somos o suficiente. Ter um espaço positivo, livre de pressão estética faz do mundo um lugar melhor. Sou muito grata por fazer parte deste movimento que liberta milhares de mulheres”, compartilha Priscilla Guedes, criadora no Pinterest. 

Como se proteger das comparações nas redes sociais

Não tem como escapar das redes sociais e do bombardeio de corpos e vidas “perfeitas” que vemos na internet e que podem fazer com que nós sintamos menos satisfeitos com nossos corpos. Para ajudar, a psicóloga Carla Guth divide mecanismos que podem ajudar as redes sociais se tornarem o que sempre deveriam ser: agradáveis.

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  • Siga pessoas próximas

A profissional começa com o questionamento:  você segue amigos ou busca referências em influencers que são “desconhecidos” pra você? “As pessoas, em geral, mostram uma versão unilateral de suas vidas online. Se você conhece bem uma pessoa, saberá que ela está mostrando apenas seus melhores lados, selfies, imagens…, mas se ela for apenas uma ‘conhecida’, você não terá nenhuma outra informação para avaliar aquelas imagens e acaba buscando estas imagens como referência”.

Ela ainda conta que em uma pesquisa realizada com universitárias, foram trazidos dados que relatam que elas viam e comparavam a própria aparência como negativa diante das imagens de amigas distantes e celebridades, mas positivas diante de membros da família, quando navegavam pelo Facebook e Instagram. 

  • Não se compare a perfis super diferentes do seu

“Para não cairmos nas comparações, que gerarão consequências diversas, temos que diferenciar nossa própria imagem da imagem sugerida. Pois são duas coisas completamente diferentes e incomparáveis. Cada um tem sua história, seu metabolismo, seu formato, seu desenvolvimento. E comparar a padrões sob os quais não temos a melhor referência, é o mesmo que comparar coisas muito distintas e que não pertencem ao mesmo material”.

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Outras pesquisas, citadas pela psicóloga, mostram que imagens de “fitspiration” (jogo de palavras em inglês que significa “inspiração fitness”) em especial – que normalmente apresentam pessoas bonitas fazendo exercícios, ou pelo menos fingindo fazer, podem fazer com que você tenha um julgamento mais rígido de si mesmo a partir de uma imagem “criada”.

  • Analise quem você segue criticamente

“Se você se deparar com um fluxo interminável de fotos focadas na aparência da próxima vez que navegar pelo seus feeds nas redes sociais, adicione outros interesses”, diz Carla. Seguir perfis artísticos, de filmes ou séries que você gosta, de paisagens, de aventuras… Tudo isso vai ajudar você e não ter uma rede social focada apenas na aparência física.

anacatarinaphoto
Bruna Kajiya é a estrela de capa da edição de novembro de 2021 de Boa Forma (@anacatarinaphoto/BOA FORMA)

Esse especial faz parte da edição de novembro de 2021 de Boa Forma,
que traz a atleta Bruna Kajiya em sua capa. 
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