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Gleici Damasceno: de “vencedora do BBB” a atriz no Netflix e Disney+

Em entrevista à Boa Forma, a acreana fala sobre como seus processos de transformações a fizeram se reconhecer - e se gostar! - ainda mais

Por Ana Paula Ferreira
Atualizado em 21 out 2024, 16h41 - Publicado em 10 jul 2023, 09h00
Gleici Damasceno
 (Bruno Barreto/BOA FORMA)
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Muita coisa mudou desde que aquela jovem estudante de 22 anos entrou no “Big Brother Brasil 18” e saiu milionária após conquistar o público. Primeira pessoa do Acre a participar do reality-show em 18 edições, Gleici Damasceno sempre fez questão de exaltar suas origens, empoderando e se tornando referência para tantas outras mulheres negras, nortistas e periféricas que a assistiam na televisão e, hoje, a acompanham nas redes sociais.

Manter apenas o título de “campeã do BBB18”, portanto, já não lhe cabe há tempos. Hoje, aos 28 anos, a acreana tem conquistado cada vez mais seu espaço como artista e como ativista das causas que defende desde antes de se tornar famosa.

O que também ficou ainda melhor e mais maduro foi sua relação com a beleza e o bem-estar.

Ela sempre se enxergou uma mulher bonita. Porém, com o passar dos anos, suas transformações a fizeram se reconhecer ainda mais, trazendo um “sentimento de pertencimento e representatividade.”

Veja, a seguir, nosso bate-papo com Gleici Damasceno.

Gleici Damasceno
(Bruno Barreto/BOA FORMA)

Símbolo de luta e representatividade

Militante política, mulher negra, periférica e nortista. Como é ser inspiração para tantas pessoas, em especial, meninas e mulheres, diante das bandeiras diferentes que você defende?

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Me sinto honrada em ser uma inspiração para outras mulheres e meninas, e isso é muito importante para mim também. Sempre procurei ser engajada em pautas políticas e sociais. Desde jovem, eu já atuava ativamente como militante de projetos sociais, pois sempre acreditei que nós, mulheres negras, periféricas e nortistas, precisávamos ser ouvidas. Hoje, com mais influência e uma voz conhecida, procuro sempre ocupar mais espaços e alcançar lugares mais altos com meu discurso e com os meus projetos, para servir de representatividade para todos aqueles que se identificam comigo e com as causas que eu defendo. Acho de extrema importância levantar o debate a respeito das nossas pautas, para que outras como nós também se vejam e se reconheçam. Uma vez que você cresce e não se enxerga naquilo que está à sua volta, isso gera um sentimento de que você não pertence àquele mundo. Muitas vezes, a gente só se sente vivo de verdade quando se enxerga, de alguma maneira, no outro, e, se isso não acontece, nos traz uma sensação de invisibilidade.

Ser envolvida com todas essas causas já te prejudicou de alguma forma? Como você lida com os preconceitos?

Não me prejudicou, pelo contrário, essa é quem eu sou e essas causas são inerentes a mim desde muito pequena. Eu denuncio, brigo, exponho, pois hoje eu não tenho mais paciência para lidar com situações em que eu vejo que é feita uma manutenção dos preconceitos sociais.

Gleici Damasceno
(Bruno Barreto/BOA FORMA)

Ser uma mulher forte, que fala o que pensa, assusta as pessoas com quem você quer se relacionar?

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Já aconteceu, principalmente com homens. As pessoas imaginam que eu seja mais quieta ou calada, porém eu me considero bem comunicativa, e quando alguém me dá uma chance, consegue perceber melhor o meu lado e entender que eu gosto de fazer amizades, o que acaba criando relações duradouras.

Você está em alguma relação atualmente?

Estou em uma relação de amor próprio comigo mesma e com o meu trabalho. Estou em um ótimo momento da minha vida e muito feliz com tudo que está acontecendo.

Gleici Damasceno
(Bruno Barreto/BOA FORMA)

Carreira de Gleici Damasceno em ascensão

Como você define seu momento profissional hoje? Está feliz?

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Estou muito feliz, sim! Vejo que estou colhendo muitos frutos legais na minha carreira. Dois grandes projetos em que eu participei foram ao cinema este ano: o “Noites Alienígenas” e o “Ninguém é de Ninguém”, ambos que amei fazer parte! O “Noites Alienígenas” foi, inclusive, o grande vencedor do Festival de Gramado no ano passado e exibido recentemente no Festival de Cannes, além de estar atualmente disponível na Netflix.

Me sinto muito honrada por ver que um filme que debate sobre temas tão importantes e atuais, como o destino dos jovens em meio à violência urbana, está tendo um reconhecimento também internacional. Isso é algo muito valioso e acredito que a arte serve justamente para isso; para trazer uma consciência social e sensibilizar as pessoas sobre os problemas que a sociedade enfrenta hoje. Sinto que estou em uma missão valiosa com esses projetos. Estou literalmente realizando vários sonhos e com certeza há muito mais por vir!

Como foi essa transição de vencedora de um reality para atriz?

Quando você vence um reality show com o tamanho do BBB, isso te marca muito e é um grande desafio lidar com essa fama no início, ainda mais deixando de ser uma pessoa anônima. Mas eu acho que encarei isso bem, dentro da medida do possível. Usei essas oportunidades que a vida me deu para ir atrás de um sonho e, como disse antes, estou colhendo os frutos. Ainda considero que estou em transição, mas vejo muitos avanços, até porque eu já estudava atuação, e acho que o ator é um ser que está sempre no processo de construção. O melhor personagem, para mim, é sempre aquele que vai vir. A gente tem que se manter desejoso de ter novos desafios e de interpretar histórias que possam tocar, cada vez mais, as pessoas e levantar pautas sociais. Eu vejo a arte nesse lugar. Isso me encanta e me faz ter o anseio de conhecer e evoluir cada vez mais dentro da minha profissão.

Gleici Damasceno
(Bruno Barreto/BOA FORMA)
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Houve algum tipo de preconceito no meio artístico por conta de sua participação no reality? Se sim, como lidou?

Na verdade, eu fui muito bem acolhida e tive muito apoio de toda a equipe nos projetos em que participei. Aprendi e continuo aprendendo muito com os meus colegas atores. Essas trocas com certeza são muito importantes para mim e para o meu crescimento enquanto atriz.

Quais são seus planos de carreira futuros? Já tem novos projetos em vista?

Pretendo continuar focada e estudando bastante para continuar evoluindo e chegar aonde eu quero. Ainda esse ano, eu estarei na série Tarã, do Disney+, onde dou vida à guerreira Mayu. Essa é uma história de ficção com fantasia sobre a luta em defesa da natureza. Além de contar com um elenco incrível, ela também será ambientada na Floresta Amazônica, e é sempre uma honra fazer parte de uma produção que traz a questão da representatividade nortista e da cultura do meu povo. Estou me sentindo muito realizada com mais esse projeto. Sigo muito ansiosa para ver a recepção do público e também pelo que virá pela frente.

Gleici Damasceno
(Bruno Barreto/BOA FORMA)
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Bem-estar com saúde

Gleici, o que significa bem-estar para você?

Acredito que é você estar bem consigo mesma, se amando por inteiro, cuidando da saúde mental e fazendo aquilo que gosta e que te dá prazer. No fim das contas, o bem estar é uma ligação que você tem com coisas que fazem sentido e tem propósito na sua vida. Isso é algo que eu valorizo muito e que acho que é refletido no nosso corpo e na nossa mente, além de agregar na nossa autoestima diária.

Quais são suas atividades preferidas no dia a dia?

Eu adoro fazer meditação, yoga e ler antes de dormir.

Você pratica atividades físicas e cuida da alimentação? Como é essa parte da sua vida?

Sim, eu procuro me manter sempre com uma alimentação boa e saudável, praticar atividades físicas e ir à academia. Busco cuidar muito do meu corpo e do meu condicionamento físico. Estar com a saúde em dia é sempre uma questão essencial para a nossa vida e que tem influência direta sob a nossa rotina e o nosso trabalho. Como falei, pratico musculação três vezes na semana, yoga pelo menos duas vezes e meditação. Procuro sempre comer em casa. Minha alimentação é super saudável, mas não tenho restrição nenhuma.

Gleici Damasceno
(Bruno Barreto/BOA FORMA)

Quando precisa de um tempo só para você, o que procura fazer?

Eu sempre procuro fazer uma viagem, por mais curta que seja. Essa é uma forma que eu me encontro, consigo repensar novos caminhos para a minha vida e reconectar com a minha essência.

Você faz ou já fez terapia? Se sim, qual a importância dela em sua vida?

Terapia, para mim, é como escovar os dentes ou fazer uma oração; é regra na minha vida, um “hábito” que eu cultivei há muito tempo e que só me agregou coisas boas e autoconhecimento. Eu sei que, na realidade do brasileiro, a terapia ainda é algo inacessível para muitas pessoas, mas que deveria ser visto como algo de urgência, como uma questão de saúde pública para todos.

Gleici Damasceno
(Bruno Barreto/BOA FORMA)

Autoconhecimento na beleza

Como é a sua relação com a beleza hoje? Olhando para trás, o que mudou nessa relação?

Eu sempre me achei uma menina bonita, e hoje, com a maturidade, me vejo também como uma mulher bonita. Eu sou mais vaidosa, gosto de me cuidar bastante. Claro, procuro sempre ter responsabilidade e ser sincera em relação a procedimentos que eu já fiz, que não foram tantos, mas que me fizeram bem.

Você se arrepende de algum procedimento que tenha feito? Faria outros?

Não me arrependo, mas tive um pós-operatório bem difícil, com crises de pânico e muita melancolia. Psicologicamente, foi complicado, mas superei e, hoje, quando olho para o resultado, eu agradeço por ter tido a oportunidade de escolher excelentes médicos que fizeram um excelente trabalho, tanto na minha rinoplastia quanto na minha prótese mamária, que foram as duas cirurgias que eu fiz.

Gleici Damasceno
(Bruno Barreto/BOA FORMA)

Quais foram as maiores dificuldades e maiores prazeres em sua transição capilar?

Foi um processo muito importante para mim. Foi um período longo e cheio de desafios, mas tive muita paciência e apoio de outras mulheres e seguidores. Pude ouvir histórias de outras mulheres negras que me inspiraram e me deram muita força. Sofri com alguns ataques, que tentaram diminuir a mim e às minhas origens, mas acredito que o processo de transição capilar representa algo que vai muito além de tudo isso. A transição representa empoderamento, aceitação e autoconhecimento. Ela também colabora para o benefício e a saúde do próprio cabelo e da fibra capilar, por exemplo, além de devolver para nós o sentimento de pertencimento e representatividade.

Como essa mudança influenciou a forma como você se olha no espelho hoje?

Essa transição capilar me fez ser uma mulher que me olha como eu realmente sou, mas também, após a transição, me fez ver que as mulheres pretas podem usar diversos penteados, algo que, muitas vezes, nos é questionado como se isso fosse um termômetro para validar ou não a nossa negritude. Eu acredito que o que importa é nos sentirmos bem e fazermos, de certa forma, uma manutenção da nossa autoestima.

Gleici Damasceno
(Bruno Barreto/BOA FORMA)

Você tem algum ritual de cuidados de beleza?

Eu costumo fazer skincare todos os dias, sempre de manhã e à noite, além dos exercícios físicos e da alimentação, como eu havia mencionado antes. Acredito que o cuidado com a nossa saúde também é um cuidado com a nossa beleza. A transformação sempre é algo que começa de dentro para fora.

O que não pode faltar no nécessaire de viagem?

Protetor solar. Eu não saio de casa sem ele e recomendo a todos que usem. Passo sempre de manhã, quando saio de casa, e reponho durante o dia.

 

Fotógrafo: Bruno Barreto
Ass. fotografia: John Fazzioli
Retoques: Pedro Candelaria
Maquiagem: Andrei Rieis
Cabelo: Jonathan Rocha
Stylist: Thiago Setra
Assistente de stylist: Fernanda Miyazawa
Produção de moda: Pedro Augusto
Produção: Mônica Aires, Camila Alves, Pedro Machado, Thiago Sousa, Juliana Mello, Laura Candelaria
Assessoria de imprensa: Melina Tavares Comunicação

 

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