Geração Dopamina: por que buscamos o próximo pico de prazer?
Vivemos a era da Dopamina: hiperestimulados, viciados em prazer rápido e insatisfeitos. Entenda o impacto da “geração dopamina” no nosso cérebro
Vivemos na era da Dopamina. Seja nas redes sociais, no sexo, na comida ou nas relações, estamos sempre atrás da próxima dose. Essa é a marca da Geração Dopamina, viciada em prazer imediato e sempre em busca do próximo pico de prazer.
Seja nas redes sociais, no sexo, na comida ou nas relações, estamos sempre atrás da próxima dose. Mas o que está por trás disso?
O que é a dopamina e por que ela nos vicia?
A dopamina é o neurotransmissor da expectativa. Diferente do que muitos pensam, ela não está diretamente ligada ao prazer em si, mas sim à antecipação do prazer.
É aquela faísca química no cérebro que nos faz buscar recompensas. Ou seja, não é quando você come um chocolate que ela explode, mas, sim, quando você pensa em comer o chocolate, abre a embalagem e sente o cheiro.
É aí que está o perigo: quanto mais vivemos baseados na antecipação, menos prazer encontramos na experiência em si.
Isso explica por que ficamos tão viciados em estímulos rápidos, como redes sociais, pornografia e junk food: estamos sempre correndo atrás da próxima dose de dopamina, sem nem perceber que o verdadeiro pico vem da antecipação e não da experiência em si.
Por que estamos vivendo a Geração Dopamina?
Atualmente, tudo que buscamos é para maximizar as chances de prazer e reduzir as possibilidades de dor.
Historicamente, já tivemos momentos parecidos, como os estoicos gregos e a onda de hedonismo no pós-Segunda Guerra Mundial, por exemplo.
Mas nunca tivemos tanto acesso a estímulos – e isso tem transformado a forma como nosso cérebro percebe o prazer.
Ainda que prazer e sexualidade sejam coisas diferentes, dentro do meu trabalho como cartomante e terapeuta holística, guiando grupos de mulheres, é impossível falar de dopamina e prazer sem falar sobre como nos relacionamos com a sexualidade.
Para chegar nesse ponto de entendimento da correlação entre dopamina, sexualidade e a dificuldade de atingir prazer – mesmo tendo tantas opções disponíveis, acho importante explicar o que é a dopamina e quais os efeitos dela no nosso corpo.
Os perigos do excesso de dopamina no cérebro
O problema de viver no primado da fantasia é que, quanto mais alimentamos a expectativa, mais difícil se torna sentir prazer real.
Isso porque o nosso cérebro funciona em um sistema de compensação: ele sempre busca equilíbrio entre estímulos e respostas.
Quando nos bombardeamos com superestímulos – redes sociais, pornografia, comida ultraprocessada, notificações, aplicativos de namoro –, a dopamina é liberada em picos cada vez mais altos.
O problema? O cérebro se adapta e reduz a sensibilidade aos estímulos.
O resultado disso é um ciclo vicioso de insatisfação. Quanto mais dopamina buscamos, mais difícil se torna sentir prazer de forma natural. E isso tem impactos diretos na sexualidade e no nosso bem-estar.
1. A hiperssexualização e a dificuldade de sentir prazer
Vivemos a era da hiperssexualização. A ironia? Nunca se transou tão pouco. Pesquisas mostram que as novas gerações estão fazendo menos sexo do que as anteriores.
Um estudo da Universidade de Chicago revelou que 23% dos jovens entre 18 e 30 anos nos EUA não tiveram nenhuma experiência sexual no último ano, um aumento significativo em relação às décadas anteriores.
E não é só a quantidade que está mudando, mas também a qualidade da experiência sexual. Cada vez mais pessoas relatam dificuldade em se conectar com o próprio desejo, disfunção erétil induzida por pornografia e falta de libido.
O motivo? O cérebro acostumado a estímulos rápidos e intensos perde a capacidade de sentir prazer em interações reais e mais sutis.
2. Dopamina e o vício em estímulos rápidos
Outro efeito colateral do excesso de dopamina é que ele nos torna dependentes de gratificação instantânea.
- Se uma conversa se torna entediante, basta pegar o celular.
- Se um vídeo demora mais de cinco segundos para prender a atenção, deslizamos para o próximo.
- Se um encontro real não entrega a intensidade esperada, é mais fácil recorrer a um estímulo digital do que se abrir para a complexidade do desejo humano.
Isso cria um padrão de impaciência crônica, onde experiências mais lentas – como construir intimidade, aprender algo novo ou simplesmente curtir o momento presente – parecem desinteressantes.
Nosso cérebro fica condicionado a picos rápidos de dopamina e perde o interesse por tudo que exige esforço e tempo.
3. O esgotamento do sistema de prazer
Quando estamos sempre ativando o sistema de recompensa do cérebro, chegamos a um ponto de exaustão dopaminérgica. Isso pode se manifestar como:
- Baixa motivação e falta de prazer nas coisas comuns (trabalho, lazer, relações afetivas)
- Dificuldade de sentir tesão em experiências reais
- Desinteresse por sexo, mesmo em pessoas com libido alta no passado
- Cansaço constante e procrastinação
Nosso cérebro, que antes se excitava com pequenas doses de prazer, passa a precisar de estímulos cada vez mais intensos para reagir – e ainda assim, o prazer dura menos tempo.
Existe saída para a Geração Dopamina?
Sim! Na vida tem jeito pra tudo, só não tem pra morte. Dito isso, o remédio para o excesso de dopamina envolve, entre outras coisas, uma redução na busca por estímulos. E é aí que mora o problema (e a solução também!).
Nos últimos anos, temos visto um aumento exponencial na busca por retiros espirituais, desintoxicação digital, minimalismo e práticas de atenção plena como forma de escapar do frenesi dopaminérgico.
O mercado de bem-estar explodiu vendendo a ideia de que a solução para o nosso esgotamento está em silenciar notificações, meditar ao nascer do sol e adotar um estilo de vida mais simples e conectado com o presente.
E de fato, há algo de verdadeiro nisso: reduzir estímulos, seja diminuindo o consumo de pornografia, saindo do ciclo vicioso das redes sociais ou simplesmente reaprendendo a se entediar, pode ajudar o cérebro a reequilibrar seu sistema de recompensa.
É por isso que vemos cada vez mais gente se desconectando para tentar recuperar o prazer em experiências mais autênticas – e o boom de retiros de silêncio, viagens para o meio do mato e “detox de dopamina” reflete exatamente essa necessidade.
Mas aqui entra uma crítica importante: quem pode se dar ao luxo de desacelerar?
O privilégio do detox
A maior ironia desse movimento é que, enquanto uma parte da população está refém da dopamina porque precisa estar sempre conectada – seja por trabalho, estudo ou simplesmente pela luta diária de sobreviver –, outra parte pode pagar (e caro!) para se isolar e “redefinir” seu cérebro.
Fazer um retiro na Chapada dos Veadeiros ou passar uma semana sem celular num templo zen na Bahia é incrível, mas acessível para poucos.
A solução para o esgotamento gerado pelo excesso de estímulos muitas vezes se transforma em um luxo de classe média-alta e alta, reforçando desigualdades estruturais.
Enquanto algumas pessoas se sentem ansiosas devido ao excesso de escolha, outras mal têm o direito de parar para sentir prazer. O problema não está só na dopamina – está no sistema que cria estímulos viciantes para uns e nega o direito ao descanso para outros.
No fim das contas, o verdadeiro desafio não é só reduzir os picos de dopamina, mas entender por que vivemos num modelo que nos obriga a estar sempre estimulados – e quem lucra com isso.
O caminho para um prazer mais profundo e real não está só no detox digital, mas na construção de um mundo onde todo mundo tenha o direito de viver (e não apenas produzir e consumir).
Como se reconectar com o prazer real
Se o excesso de dopamina nos prende num ciclo vicioso de busca infinita por estímulos, a saída está na reaprendizagem do prazer em suas formas mais simples e genuínas. Pequenos passos fazem a diferença:
- desacelerar o consumo de redes sociais
- criar momentos de presença plena (seja comendo, ouvindo música ou transando sem pressa)
- investir em experiências sensoriais offline
- redescobrir o valor do tédio como espaço para criatividade e desejo.
O prazer real não vem da dopamina desenfreada, mas da capacidade de estar inteiro na experiência, sem precisar do próximo pico para se sentir vivo.
Amanda Guimarães
Amanda R. Guimarães é cartomante, terapeuta holística e comunicadora, unindo tarot, bruxaria natural e aromaterapia para promover autoconhecimento. Host do Entre Tapas & Cartas, capacita minorias e inspira jornadas pessoais.
arguimaraes19@gmail.com
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