Gene BRCA: conheça o gene do câncer de mama
Os genes BRCA1 e BRCA2 são conectados às maiores chances de desenvolvimento da doença
Na série norte-americana The Bold Type, a protagonista, Jane, passa por um drama pessoal: ela descobre que é portadora do gene BRCA, conectado ao câncer de mama, e decide fazer uma dupla mastectomia. E, no Outubro Rosa, nada melhor do que falar sobre o assunto considerando esse ponto tão pouco discutido: a questão genética envolvida na doença.
O GENE BRCA
“O gene BRCA vem da sigla BR – breast cancer [câncer de mama, em português]”, explica o Dr. Daniel Gimenes, oncologista da Oncoclínicas São Paulo. “Nós temos dois tipos de BRCA, o BRCA1 e o BRCA2. O BRCA1 tem uma chance maior de câncer de mama na vida da paciente que é portadora da mutação patogênica, podendo chegar a até 65%.”
Já no caso do BRCA2, essas chances são um pouco menores. Mas o importante, aqui, é saber que os dois genes são muito significativos no risco de câncer de mama.
E é aí que entra um ponto importante a esse respeito: quando as mulheres são portadoras da mutação germinativa, ou seja, que já nasceram com ela (não é a mutação somática, no tumor) existe a necessidade de realizar uma cirurgia preventiva, ou seja, uma mastectomia bilateral para reduzir o risco de câncer de mama dessa paciente.
QUANDO FAZER O TESTE DO GENE BRCA?
Tudo depende do histórico familiar. O primeiro ponto, na investigação de riscos de câncer de mama, é o histórico da família. No caso de Jane, a mãe da personagem morreu vítima da doença, por isso a investigação era mais que necessária, era urgente.
“Com o resultado do teste do painel genético hereditário, quando apresenta uma mutação patogênica, temos que avaliar a necessidade de cirurgia redutora de risco, principalmente para o BRCA1 e, em segundo plano, o BRCA2”, diz o médico.
A cirurgia redutora de risco de câncer de mama mais indicada é a remoção do tecido mamário da paciente e, se ela tem essa mutação também no ovário, existe a necessidade da cirurgia redutora de risco de câncer dos ovários também.
É o caso da atriz Angelina Jolie. Há alguns anos, ela anunciou que fez uma dupla mastectomia preventiva e também o procedimento para retirar os ovários e as trompas de Falópio, já que era portadora do gene que aumentava as suas chances de desenvolver a doença também nessa região.
“Em geral, [faz-se a cirurgia para] o BRCA1 até os 40 anos e o BRCA2 até os 45 anos. Com relação à mutação do BRCA e câncer de mama, a idade é depois dos 25, mas existe uma grande polêmica quanto a faixa etária”, explica o médico.
A POLÊMICA DA MASTECTOMIA
Quando se fala em risco de câncer de mama, o medo costuma falar mais alto – e muitas mulheres, quando têm essa oportunidade, optam pela cirurgia redutora de risco. No entanto, é importante entender a real necessidade desse procedimento.
Quando se fala do BRCA1, ele é altamente indicado por conta dos riscos maiores de desenvolvimento da doença. No entanto, a polêmica está quando a cirurgia é indicada para portadoras do gene BRCA2.
“É possível fazer um acompanhamento bem estreito, mas, de modo geral, mutação do BRCA1, BRCA2, têm, sim, indicação de mastectomia bilateral”, diz o médico. “O timing dessa indicação tem que ser bem abordado e combinado com o seu mastologista.”
MUDANÇAS DE HÁBITOS DE VIDA E CONGELAMENTO DE ÓVULOS
Também em The Bold Type, Jane precisa fazer uma escolha: se vai ou não congelar os óvulos antes de fazer a cirurgia e o tratamento preventivo para o câncer de mama. Esse é mais um tópico comum para mulheres portadoras desses genes, afinal, apesar de estar conectado à fertilidade, as chances de câncer no ovário e de uma possível quimioterapia podem interferir nos planos de maternar.
“Hoje em dia, quando as pacientes vão fazer uma quimioterapia, que pode impactar na diminuição da fertilidade, o congelamento dos óvulos é pertinente”, explica o Dr. Daniel. “Nessas circunstâncias é indicado cada vez mais que essa estratégia seja feita antes desse tipo de tratamento.”
Outro ponto é em relação ao estilo de vida e a mudança de hábitos. Sabe-se, hoje, que hábitos saudáveis – como uma alimentação equilibrada e a prática de exercícios físicos -, podem diminuir os riscos de alguns tipos de câncer. Não é o caso para as portadoras dos genes BRCA1 e 2.
“Aqui, o que impera é a mutação”, continua o oncologista. “Então, os hábitos e estilos de vida devem ser adotados de qualquer forma por qualidade de vida, para realmente diminuir o risco de outras doenças degenerativas ou cardíacas, ou seja, para essa paciente ter uma vida mais longa e com qualidade. Mas, infelizmente, os estilos de vida e os hábitos pouco interferem no risco que essa mutação promove nesta paciente quando está presente.”