Faustão furou a fila? Entenda casos prioritários para transplantes no SUS
Saiba como funciona a lista de espera para transplantes de órgãos no Brasil
Após 22 dias internado com um quadro grave de insuficiência cardíaca, no último domingo (27), Fausto Silva, conhecido como Faustão, de 73 anos, foi submetido a uma cirurgia de transplante cardíaco no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O procedimento durou cerca de 2h30 e, segundo boletim médico divulgado pela unidade de saúde, foi realizado com sucesso.
Devido à velocidade para a realização do transplante, os internautas começaram a dizer que o apresentador “furou a fila” por ser famoso, o que foi rebatido em nota emitida pelo Ministério da Saúde:
“A lista de espera por um órgão funciona baseada em critérios técnicos, em que tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade distintos para cada órgão determinam a ordem de pacientes a serem transplantados (…) Pacientes em estado crítico são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica”.
Segundo a Central de Transplantes do Estado de São Paulo, Faustão ocupava o segundo lugar entre os casos prioritários e recebeu o órgão após a equipe médica do paciente que estava na primeira posição negá-lo. O motivo da recusa não foi divulgado.
“A seleção gerada para a oferta do coração deste receptor, através do sistema informatizado de gerenciamento do sistema estadual de transplantes, trouxe 12 pacientes que atendiam aos requisitos. Destes, quatro estavam priorizados, sendo que o paciente [Faustão] ocupava a segunda posição nesta seleção”, afirmou a Central.
Em São Paulo, o tempo de espera médio para um transplante de coração do grupo sanguíneo B, que é o caso de Faustão, é, oficialmente, de 1 a 3 meses, porém esse período pode ser reduzido em casos de urgência.
O que torna alguém prioridade para transplantes no SUS?
Todos os indivíduos que necessitam de um transplante no Brasil são cadastrados em uma lista única gerida pelo Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, responsável pelo monitoramento e regulamentação dos processos de doações de órgãos no país.
Apesar de funcionar por “ordem de chegada”, ela leva em consideração diversos critérios para organizar a prioridade dos pacientes, entre eles, a gravidade, o tipo sanguíneo, o peso, a altura e a compatibilidade genética. Outro fator que também é analisado é a localização do doador e do transplantado, uma vez que o “tempo de duração” de um coração fora do corpo é de apenas 4 horas, impossibilitando que ele seja transportado por longas distâncias.
Diante disso, é possível afirmar que não existe uma priorização de pessoas famosas ou de classe alta no tempo de espera pelo transplante. Inclusive, na lista, os pacientes não são identificados pelos seus nomes, e sim por números, garantindo que fatores externos, como o status social, não interfiram na equidade do processo. Além disso, também não importa se a pessoa será operada na rede privada ou pública. O objetivo dessa abordagem é justamente contribuir para um tratamento justo e livre de favorecimentos.
É importante lembrar que Faustão se encontrava em uma situação crítica, passando por diálise e dependendo de medicamentos para o funcionamento adequado do coração. Por conta do risco de vida, o apresentador foi enquadrado como um caso prioritário.
“Os doadores precisam manifestar o desejo de doar em vida, o que os coloca em um cadastro único que, após a morte, tem suas informações cruzadas com os receptores. Esse sistema possui uma série de garantias para evitar casos de burlagem“, explica o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, especialista em genômica e responsável pelo Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, em entrevista à Boa Forma.