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O corpo da sua amiga é sempre mais bonito que o seu?

Tutorial para ter um corpo fitness: passo 1, tenha um corpo; passo 2, vá para a academia ou comece um esporte; fim. Praticar exercício e levar uma vida saudável não é exclusividade de quem é dona de um abdômen trincado!

Por Redação Boa Forma
Atualizado em 21 out 2024, 19h25 - Publicado em 11 jun 2016, 15h00
Cleo/Trunk Archive
Cleo/Trunk Archive (/)
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Foi só Kylie Jenner postar no Facebook um vídeo publicitário de 15 segundos, em que estreia como o novo rosto da Puma, para os internautas fazerem o que mais amam: odiar.  Vestida com top, legging e tênis, a caçula das famosas irmãs Kardashian aparece treinando com uma medicine ball. Os comentários foram instantâneos e criticavam a marca pela escolha da modelo. “Ela não tem tônus muscular nem pode ser considerada uma pessoa fitness”, disseram. Kylie malha e tem um corpo lindo com curvas, como sugere o DNA da família. Se ainda assim a imagem dela não é considerada boa o suficiente, eis um problema. Não seria grave se fossem só os seguidores da modelo que pensassem dessa forma. Poderíamos dizer “Haters gonna hate” (ou “Invejosos vão odiar”, em bom português), vestir nosso tênis e partir para malhar sem medo de ser felizes. Porém muitas de nós acreditam que só as donas de pernas torneadas e barriga chapada devem ser consideradas fitness. Um pensamento que, fatalmente, se vira contra nós e atrapalha a busca pelo que realmente importa: um corpo mais saudável.  o corpo da outra  é sempre mais sarado  Talvez já tenha acontecido com você. Talvez esteja acontecendo com a colega de treino na esteira ao lado: é mais comum do que se imagina ver mulheres acima do peso, ou que engordaram de repente, constrangidas de ir à academia. Isso porque, quando não nos sentimos bem em nossa própria pele – e legging –, concluímos que todos vão nos julgar “ridículas” em nossas roupas de ginástica. Com manequim 48, Cléo Lima Fernandes, 29 anos, sentiu vergonha do corpo desde a infância, quando fazia aulas de dança. A autoimagem distorcida a acompanhou durante os quatro anos da faculdade de educação física e, depois de formada, quando começou a frequentar academias. “Eu me sentia mal com o meu shape e mais ainda com as roupas que deixavam meu corpo balançar durante o exercício”, conta. A falta de condicionamento físico aumentava a intimidação. “Eu subia na esteira, logo me cansava e morria de vergonha de descer antes de todo mundo”, conta Cléo. No fundo, a gente sabe que é bobagem, pois ninguém deveria julgar o corpo alheio. E que, se você fez 30 minutos de caminhada, não é menos merecedora do que a sarada pingando suor com um sorriso no rosto. Cada um com suas conquistas, no seu tempo, certo? Mas é nessa hora que muitas vezes desistimos do treino ou, para nos sentir melhor, desdenhamos do outro (“A malhada ali só faz isso da vida, não tem trabalho nem família”). Quando o emocional fala mais alto, fica difícil lembrar o óbvio: é para a academia ou para o parque que se vai para emagrecer, ganhar massa magra ou cuidar da saúde.

Espelho embaçado 
Se já era complicado antes se encaixar na academia ou no grupo de corrida, imagine em tempos de redes sociais! Na era das selfies, esses ambientes esportivos acabaram se afastando de seu objetivo principal – ser um lugar para promover a saúde – e se tornaram locais de exibição. “Quem está fora do padrão estético não se sente incluído porque enxerga que todas as suas falhas estão sendo expostas”, explica a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio. Joana conduziu uma pesquisa com 7 800 mulheres sobre beleza. No estudo, encomendado pela marca Dove, 41% das brasileiras afirmaram se sentir piores sobre si mesmas ao observar imagens de mulheres bonitas. Essa mesma pergunta tinha sido feita em um levantamento em 2004 – de lá pra cá, houve um aumento de 24% nas respostas negativas.  “A mulher é ensinada a se identificar com uma crença única de beleza e segue padrões que nem deveriam levar esse nome, pois poucas no mundo possuem o físico valorizado atualmente”, explica o psicoterapeuta Marco Antonio De Tommaso, colunista de BOA FORMA. O episódio com Kylie Jenner prova que o shape tido como perfeito está cada dia mais distante da realidade, o que só aumenta a nossa insegurança. “Corpos secos, com baixíssimos percentuais de gordura, e modismos como a barriga negativa estão minando a possibilidade de as mulheres se aceitarem esteticamente”, diz o personal trainer Bruno D’Orleans, que treina famosos como o casal Fernanda Souza e Thiaguinho e lida diariamente com alunas que se cobram e se frustram por não atingirem um padrão idealizado. É muito mais gratificante pensar naquilo que torna você diferente das outras e tirar proveito disso! Uma mulher com estrutura muscular forte jamais terá as medidas de uma modelo de passarela. Mas, se você não pode ser uma Angel da Victoria’s Secret, por ter pernas grossas e quadril largo, por que não treinar para deixar ainda mais bonitos os membros inferiores? Se conseguimos ver a beleza em outras mulheres, por que não valorizar a nossa?

Aceitar é diferente de acomodar
O primeiro passo para mudar esse discurso é entender que a prática de exercício físico não é exclusividade de pessoas magras. “Muitas mulheres acreditam que só porque são curvilíneas não vão conseguir correr ou não deveriam. Mas a corrida é para todos”, disse a modelo americana Erica Schenk ao estampar a capa da revista Women’s Running, em 2015. Manequim 46, ela pratica a atividade há dez anos. No fim das contas, o que você é capaz de fazer com seu corpo importa mais do que a aparência dele. Cléo engrossa esse coro. “Desencanar do que os outros pensam é uma decisão: você escolhe não se importar e entende que ninguém tem nada a ver com sua vida”, diz ela, que ganhou confiança para ir à academia regularmente.  Amar-se não significa se tornar passiva. Se braço, abdômen, pernas ou qualquer outra parte incomodam, você pode correr atrás para melhorar, tendo em mente que o corpo ideal será sempre o seu. “O lema da autoimagem saudável é:  mude o que pode ser mudado e conviva adequadamente com o que você não consegue ou não quer transformar. “Travar uma guerra interna consigo mesma e com o corpo que carrega causa um sofrimento intenso que, além  de afetar a saúde, prejudica as  relações com pessoas próximas.  Há mulheres que se esquivam até do sexo por estarem com uma dobrinha  na cintura”, diz a psicóloga Luciana  Kotaka, de Curitiba. É o seu shape, como ele for, que a permite ter uma vida ativa. Só por isso ele já merece ser valorizado. Treinar deve ser encarado como uma demonstração de amor pelo corpo, e não de ódio. Aceitar isso encurta o caminho para a felicidade diante do espelho. Inclusive o da academia.

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