Didi Wagner: liberdade não tem idade nem endereço
Mãe de três, a apresentadora não quer sucumbir à pressão pela juventude eterna
Se todos nós sentimos o baque da pandemia de coronavírus, imagine alguém cujo trabalho é viajar o mundo. Essa era a realidade de Didi Wagner, 46, que há 15 anos comanda o programa Lugar Incomum, do Multishow. A apresentadora, que começou como VJ da MTV, construiu uma carreira sólida na TV apresentando para os espectadores os mais variados e inusitados lugares do mundo, ao mesmo tempo que acompanhava de perto alguns dos principais eventos musicais do país.
Sem poder pisar em um aeroporto, Didi conseguiu se reinventar — e de quebra mudar a maneira como olha para si mesma e os desafios cotidianos.
O SUSTO DA MUDANÇA
“O primeiros meses [de pandemia] foram muito difíceis, porque eu fiquei muito assustada”, conta. “Eu tinha muitos projetos para 2020, ia participar do Lollapalooza e do Rock In Rio pelo Multishow, ia lançar um livro… e todos esses processos ficaram on hold. Como eu ia lidar com a minha carreira me deu bastante angústia. Num primeiro momento, eu fiquei inerte. Eu não tive essa presença de já imediatamente trilhar caminhos de reinvenção. Eu fiquei em stand by, assustada. Além disso, eu fiquei muito preocupada em dar suporte para as minhas filhas, adolescentes entrando num período de isolamento, numa fase em que o convívio é preponderante.”
A pausa nas gravações pode ter acontecido na prática, mas o seu período de trabalho não ficou parado. “Fizemos uma viagem em novembro de 2019 para o Chile. A gente rodou o país inteiro, explorou um pouco do sul, do norte, fomos para Santiago e produzimos 8 episódios inéditos para uma nova temporada que seria exibida no início de 2020”, conta. “Como a pandemia pegou todos nós de surpresa, pareceu mais adequado segurar um pouco a temporada, em um momento que todos nós, idealmente, dentro da possibilidade de cada um, deveríamos estar em casa. Quando a situação da quarentena se mostrou mais prolongada e que todos nós já estávamos mais adaptados a essa nova realidade, e com um entendimento de que isso levaria um tempo para voltar ao normal (mas ainda assim a vida tinha que continuar), a gente colocou a temporada nova no ar, em julho de 2020”.
PODER DE ADAPTAÇÃO
No ano passado não foram gravadas novas temporadas, mas Didi e a equipe do programa começaram a pensar em uma nova. A conclusão, segundo ela, era que depois de ter desbravado tantos lugares ao redor do mundo, o momento era de trazer o programa de volta para São Paulo. “A primeira temporada foi em São Paulo, em 2006. Por que não mostrar de novo um pouquinho da cidade?”, disse. O diferencial, dessa vez, seria tanto pedir para que outros famosos contassem o que definem “a sua São Paulo”, como dar espaço para que os próprios personagens da cidade, aquelas pessoas que a tornam especial, falassem também.
“Quando a gente foi gravar a pandemia ainda estava num momento muito crítico, mais do que agora, e também num momento em que a gente sentia que são Paulo merecia esse carinho como uma cidade que tinha ficado com tantos negócios fechados e que estava tentando se colocar de novo, se reinventar”, explica Didi. “Foi um pouco uma intenção do Lugar Incomum falar de São Paulo, mas como um meio de servir como gás e inspiração para qualquer outra cidade. Ninguém está minimizando a importância do isolamento, de forma alguma questionando as medidas necessárias para contenção do COVID, mas foi a nossa intenção falar ‘a cidade resiste’. Diante de tantas limitações necessárias, que bonito ver que as pessoas encontraram maneiras de se reinventar, se recolocar, de continuarem existindo e resistindo.”
BEM-ESTAR EM TEMPOS PANDÊMICOS
alando em resistência e adaptação, a própria Didi percebeu a necessidade de colocar esses termos em prática. Para ela, um dos pontos que mais ficou latente durante o período de pandemia e ainda agora é a importância do seu núcleo familiar. Didi é casada com Fred Wagner desde 1998 e tem três filhas com o marido: Laura, Luiza e Júlia.
“Foi sempre uma das minhas grandes prioridades na vida. Quando a gente se viu, nós cinco, isolados dentro de casa, eu ganhei uma percepção maior de como é importante essa dinâmica familiar para mim, preservar o nosso relacionamento – apesar dos atritos diários! Como a gente pode contar um com o outro, isso foi muito bacana”, conta.
A terapia também teve um papel essencial na vida da apresentadora, que continuou com os atendimentos, agora online, durante os períodos de quarentena e isolamento social. Para ela, ter um espaço só seu, em que pudesse trocar livremente e falar de forma aberta sobre tudo, foi essencial. “Isso me ajudou bastante porque, nesse contexto de um convívio familiar tão intenso, foi muito bom ter uma pessoa de fora com quem eu pudesse conversar e dividir um pouco mais as minhas intimidades”.
Lidar com três filhas, uma pré-adolescente e duas adolescentes, em casa também não foi simples para a apresentadora. “Eu gastei bastante energia e coloquei o foco em dar suporte para elas. Tirando a questão de que a gente tem uma vida privilegiada, e eu reconheço isso, mas essa demanda de se adaptar a um ensino à distância, de não poder encontrar ninguém, não ter contato com o mundo exterior, vendo tudo através de uma tela de computador, para uma adolescente é um negócio bem complicado junto com essa atmosfera de medo e pânico”.
A AUTO-IMAGEM AFETADA
m ponto interessante levantado por Didi é como a escola das suas filhas não exigiu que os alunos abrissem as câmeras durante as aulas online. Para a mais velha, o normal era que isso acontecesse e, segundo a apresentadora, 80% dos alunos da turma ficavam com as câmeras abertas. Para a filha do meio, era o contrário: 80% de câmeras fechadas e uma sensação de não querer que ninguém “olhasse a sua cara logo ao acordar” numa aula online.
A diferença geracional na lida com a auto-imagem fica clara quando ela conta sobre a sua experiência com meninas adolescentes e também se reflete na sua própria relação com o corpo e, principalmente, com o envelhecimento. “A questão do envelhecimento para a mulher é mais pesada do que para os homens e ainda é uma cobrança da sociedade, sim. Eu inclusive, tenho que me treinar para não ter esse preconceito etarista. Eu fui exposta a vida inteira a essa pressão da busca pela juventude, pela beleza eterna, e a busca dos padrões estéticos – e olha que quem tá falando é uma pessoa branca, loira, padrão estético europeu. Mas mesmo assim”.
“Eu inclusive, tenho que me treinar para não ter esse preconceito etarista. Eu fui exposta a vida inteira a essa pressão da busca pela juventude, pela beleza eterna, e a busca dos padrões estéticos – e olha que quem tá falando é uma pessoa branca, loira, padrão estético europeu”
Para ela, é comum criamos dentro de nós as demandas que atendem esses padrões e os caminhos para se adaptar a eles. Por isso, ela vê com alegria a movimentação na internet em busca de uma relação mais saudável com o corpo. “Eu acho muito legal esse movimento do body positivity para a gente repensar as pressões que a gente se coloca. Eu acho que tem uma composição que é essa, uma cobrança do mundo e a uma coisa que a gente faz com nós mesmas”.
Para Didi, uma conversa que trouxe uma nova visão sobre o assunto foi com a youtuber e ativista Alexandra Gurgel, muito conhecida no ambiente online por trabalhar questões de auto-imagem. “Ela me fez repensar um monte de coisas. Eu percebi que caía, às vezes, em alguns estereótipos de opinião sobre a questão dos corpos gordos – tem que falar que a pessoa é gorda, isso não é uma característica negativa, é uma característica. A gente tem que ir revisando a nossa consciência. As mídias sociais têm um papel muito perverso, mas também podem ter um papel muito bacana quando a gente busca os influenciadores certos, os discursos que trazem reflexões e pensamentos pertinentes por trás”.
UM CORPO SEMPRE EM MOVIMENTO
Ao mudar o assunto para as atividades físicas e esportes, Didi confessa que ficou pensando, antes da entrevista, o que poderia falar sobre o assunto. E a sua resposta foi não só categórica, como muito esclarecedora: “Eu cheguei à conclusão que, para mim, é importante estar em movimento. Por que eu procuro fazer esporte? Eu sei que a função cardiovascular é importante, a função muscular também, e eu fiquei me perguntando: por que fazer? Eu quero estar sempre em movimento”.
O movimento é tão presente na sua vida que até mesmo seu trabalho na televisão colabora para essas andanças, sempre oferecendo desafios e novas oportunidades que fazem uso do corpo como uma ferramenta a serviço da informação. “Eu tenho inclusive no meu dia a dia, nas minhas andanças no Lugar Incomum, matérias que me colocam em lugares de atividades inusitadas, esportes que eu nunca pratiquei. Eu gosto de estar em movimento. Claro que junto com isso eu busco o benefício físico, também não vou ser rasa, eu corro!”, brinca.
Para ela, manter a constância na corrida é o que ajuda a gastar a energia e manter o corpo ativo e em forma, enquanto a ioga ajuda com a flexibilidade e a força, sem contar o treino de presença e as pequenas meditações, que, para a apresentadora, também tem os seus benefícios. “Você tem que estar na posição do ioga pensando na posição da tua coluna, na força do teu abdome. Estar presente no momento presente. E aí a coisa funciona”, explica.
Some a isso também alguns treinos funcionais por semana e temos uma pessoa que, definitivamente, não gosta de ficar parada! “Tem que puxar ferro, não adianta. Principalmente mulheres, a gente tem uma construção muscular que não é tão forte normalmente. E, aí, nos finais de semana, quando está quente, eu faço umas aulinhas de surfe. Eu não sou daquelas que com chuva e vento ‘eu vou’, não vou! Mas quando está aprazível, eu vou!”
Para combinar com uma rotina tão ativa, Didi busca manter uma alimentação bastante variada, com muitas frutas, legumes e verduras. Além disso, ela procura passar um dia na semana fazendo uma alimentação vegetariana, “quase vegana”, ela explica, entrando na onda do “meat free mondays”, ou seja, as segundas-feiras sem carne. “Eu comprei o livro de receitas do Paul McCartney e ele fala que se todo mundo ficasse um dia sem carne – e ele sugere que seja segunda -, o consumo de carne no mundo diminuiria não sei quantos porcento e o planeta terra seria muito mais fácil e feliz. A nossa motivação é um pouco essa. A gente diminui muito o consumo de carne vermelha em casa, temos uma alimentação mais fundada em peixes, verduras e legumes“, diz ela.
No mais, Didi não tem rodeios ao falar que come de tudo um pouco: um pouco de pizza, um pouco de bolo, e um pouco de alimentação regradinha. “Eu como, gente! O esporte acaba dando um pouco esse equilíbrio em termos de consumo. Como o corpo está em movimento, o carboidrato já vai sendo consumido, o metabolismo vai dando conta. Então, eu acho que o equilíbrio vai por aí!”, finaliza.
As fotos de Didi foram feitas no SPA Santapele, no Hotel Emiliano.
- Fotos: @oipattylima
- Assistente: @koba
- Beleza: @eliezerlopes
- Stylist: @thiagobiagi
- Produção de moda: @fernandasalazarz e @iagokulesis
- Didi veste: @tommyhilfiger, @animalebrasil, @colccioficial, Aquazurra, @marisaclermannjoias, @mybasic, @trackfieldoficial, @ida.com.vc
- Direção de arte: Pedro Emílio
- Local: @hotelemiliano
- Agradecimento: @santapeleoficial e @indexconectada
Esse especial faz parte da edição de dezembro de 2021 de Boa Forma,
que traz a apresentadora Didi Wagner em sua capa.
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