Crioterapia capilar preserva fios e autoestima de quem passa pela quimio
Mas método só é considerado seguro se feito em ambiente hospitalar e com equipamento e acompanhamento profissionais
Simony, Ana Furtado e a jornalista Susana Naspolini fizeram o mesmo tratamento para amenizar a queda de cabelo durante suas quimioterapias. Chamada de crioterapia capilar, ou touca térmica, a técnica consiste em um acessório colocado na cabeça do paciente que “congela” o couro cabeludo a temperaturas de até 4°C.
O Dr. Luciano Barsanti, Presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia e Diretor Médico do Instituto do Cabelo, explica que a estratégia é pensada para diminuir o fluxo de sangue na região durante as sessões quimioterápicas. Desse modo, o medicamento não é tão transportado para as células capilares e não gera tanto a queda dos fios.
“A grande maioria dos tratamentos utilizados em protocolos de tratamento de câncer (os chamados quimioterápicos) provoca a perda parcial ou total dos cabelos. Isso acontece porque a medicação é transportada pelo sangue de modo uniforme a todas as células do corpo — incluindo os folículos capilares”, complementa.
Em geral, a técnica preserva de 40 a 60% do volume dos fios. O que pode fazer toda a diferença em relação à autoestima do paciente.
CRIOTERAPIA CAPILAR “CASEIRA”
Adriana Felix, digital influencer de Jundiaí, São Paulo, foi diagnosticada aos 34 anos (em 2017) com um tipo de câncer de mama raro e agressivo — mesmo sem histórico familiar. Devido a isso, ela teve que passar por muitas etapas do tratamento: ao todo, foram quatro sessões de quimio vermelha, 12 de quimio branca, cirurgia para retirada do nódulo e mais cinco sessões de radioterapia.
“Na época, eu estava no auge dos meus trabalhos. Sempre falei muito de autoestima, beleza, maquiagem… Eu era uma inspiração, e a minha aparência física era a minha ferramenta de trabalho. A primeira coisa que o médico me falou foi ‘seu cabelo vai cair em 14 dias’.”
Assim que chegou da consulta, a influenciadora tratou de pesquisar métodos para evitar a perda dos fios. Foi quando encontrou a “touca gelada”. “Vendia apenas fora do país. Uns amigos meus foram viajar, e pedi para eles trazerem para mim. Resolvi arriscar por conta própria”, ela lembra.
Entretanto, o processo não foi fácil. “Eu comprei quatro toucas. E aí, quando ia para as sessões de quimio, levava todas congeladas dentro de um cooler e ia trocando conforme elas descongelavam durante as sessões — que demoravam de quatro a cinco horas.”
Adriana sabia que alguns hospitais disponibilizavam o procedimento oficial (o único indicado pela Sociedade Brasileira de Tricologia, aliás), que é mais seguro e eficaz. Contudo, e como o seu tratamento foi feito através do SUS, ela não teve acesso à tecnologia.
“Foi um processo bem doloroso, confesso. Doíam a minha cabeça e todos os ossos da minha face — eu fazia chorando. Quem me pergunta ‘Adriana, você indicaria?’ Eu respondo que não.”
Como resultado, a influenciadora conseguiu preservar cerca de 30% dos cabelos — e sente que eles voltaram a crescer de forma mais rápida do que outras pessoas que passaram pela mesma coisa, mas não usaram o acessório.
PORÉNS
Vale lembrar, porém, que a Sociedade Brasileira de Tricologia não indica o método “caseiro” da crioterapia capilar. “O procedimento deve ser realizado exclusivamente em ambiente hospitalar, com prescrição médica e com enfermagem especializada”, ressalta o Dr. Luciano Barsanti.
Ele chama atenção para o perigo que as toucas feitas em casa (ou vendidas na internet) trazem. “Esses equipamentos não distribuem o frio de maneira uniforme, podendo gerar lesões irreversíveis no couro cabeludo através de queimaduras causadas pelo gelo. Isso porque, muitas vezes, perde-se a sensibilidade no local durante a aplicação, o que torna difícil perceber alguma queimadura”, explica.
Ou seja, qualquer tipo de procedimento no couro cabeludo deve ser indicado e realizado por um médico capacitado.