Cláudia Raia: maturidade como sinônimo de potência
Capa de Boa Forma de setembro, a atriz, bailarina e produtora abre o coração sobre etarismo, maternidade após os 50 e a importância de sempre se reinventar
Atriz, bailarina, produtora e mãe de três filhos, Claudia Raia se tornou uma das maiores inspirações quando o assunto é viver intensamente todas as fases da vida.
Aos 58 anos, ela prova que maturidade não significa limite, mas sim liberdade: liberdade para fazer suas próprias escolhas, para se reinventar e para reforçar ainda mais sua potência.
“Eu prefiro muito mais a Cláudia de 58 anos do que a Cláudia de 28 anos. Eu acho que eu estou muito mais interessante do que eu era. E eu gosto dessa versão segundo ato da Cláudia”, conta à Boa Forma.
Com uma curiosidade e energia que transbordam, ela busca preservar sua vontade de sempre explorar as mais diferentes possibilidades em sua trajetória.
“Acho que o dia em que eu perder a curiosidade, eu morri. Adoro uma novidade. E acho que é isso que me mantém viva e com espírito jovem”, diz.
Ao anunciar uma gravidez aos 55 anos, durante a menopausa, Claudia enfrentou julgamentos e comentários negativos.
“Engraçado porque a maioria dos comentários negativos que eu recebi foram de mulheres de 50+. Olha que loucura! Isso me causou uma estranheza muito grande. Mas eu entendo que eu toquei em um lugar muito nevrálgico das mulheres”, relata.
Ainda assim, os olhares críticos sobre suas decisões não abalam sua força e nem autenticidade. Para Cláudia, não há limites – nem idade – para continuar sonhando.
“Eu estou chegando nos meus 59 anos este ano, e nunca me senti tão forte, tão potente, tão pronta para lutar, para sonhar. É uma troca benéfica você substituir o medo por sonhos.”
Não perca, a seguir, a entrevista na íntegra com a atriz!
Quais são os seus segredos para manter tanta energia e vitalidade no dia a dia?
Eu acho que isso é colher os frutos do que eu plantei. Foi uma vida inteira de uma vida saudável, de uma boa alimentação, de exercício físico, de um estilo de vida muito saudável.
Muitas pessoas falam “Ai, mas você não viveu”. Não é isso, eu vivi intensamente, loucamente. É que eu tinha outras prioridades. Por ser bailarina, por exemplo, sempre olhei muito para minha saúde física e mental, eu precisava disso.
Então, eu aproveitava a balada com os meus amigos na base da água com gás. Não precisava de bebida. Ou seja, agora, eu estou colhendo os benefícios do que eu plantei.
E é claro que essa energia também é algo muito meu. Eu sou uma pessoa muito enérgica, sempre fui assim. Faço 10 coisas ao mesmo tempo. Mesmo com 58 anos, continuo muito potente, muito ativa.
A única coisa que eu não faço tão bem quanto eu gostaria é dormir cedo. Isso porque o meu momento de performar, geralmente, é à noite, que é no teatro. Então, eu acabo dormindo muito mais tarde do que eu deveria. Mas está tudo bem porque todo resto eu faço.
Eu faço terapia a vida inteira. Eu nunca me dei alta da terapia. Na verdade, eu acho que nem existe uma alta da terapia. A vida é muito dinâmica, ela vai e volta, e você tem que estar preparada para dar conta disso. A terapia é uma grande ferramenta. Eu costumo dizer que metade do trabalho que eu fiz com os meus filhos veio da terapia.
Como a maturidade transformou a sua relação consigo mesma?
A maturidade vai te dando uma escolha de como você deve viver a vida. Quando você é mais jovem, você começa a dizer tudo que pensa, você fala o que quiser…
Quando você é mais madura, você escolhe para quem você fala, o que você fala e se vale realmente a pena gastar o seu tempo, a sua saliva com alguma coisa que não vai surtir nenhum resultado.
Eu prefiro muito mais a Cláudia de 58 anos do que a Cláudia de 28 anos. Acho que eu estou muito mais interessante do que eu era. E eu gosto dessa versão segundo ato da Cláudia.
É muito libertador quando você aprende a dizer não, quando você aprende a preferir ter paz do que razão. As prioridades mudam. E isso é libertador.
Qual o poder da espiritualidade no seu bem-estar diário?
Eu sou uma pessoa de muita fé. É ela que me sustenta e me levanta. Sou espiritualista e acredito em muitas coisas.
Eu venho do catolicismo, mas também tenho o budismo como uma filosofia de vida. Ao mesmo tempo em que eu sou budista, eu sou apaixonada por Nossa Senhora de Fátima, tenho uma conexão louquíssima com ela. Eu falo com ela todos os dias, sem pular.
Na verdade, eu adoro várias religiões. Eu adoro candomblé, adoro umbanda. Eu adoro várias religiões. Eu não me curvo somente a uma delas exclusivamente.
Você engravidou na menopausa. Como foi essa experiência para você física e emocionalmente?
A gente já tinha planos de ter um filho. A gente conversa sobre isso desde que se conheceu, quando eu tinha 45 anos. Mas demorou 10 anos para eu entender mesmo o porquê de eu querer ter mais um filho.
Demorou para eu entender se eu queria mais um filho porque o Jarbas não tinha um filho e isso era um sonho dele ou se realmente eu queria ter um filho. Afinal, é muito difícil você escolher ter um filho depositando a responsabilidade no outro.
Ter um filho já é uma coisa desafiadora. É a coisa mais linda do mundo, mas fácil não é. Então, você tem que querer muito ser mãe.
E, se você quer ser mãe por causa do outro, eu acho bem complicado isso. Eu não queria que isso acontecesse comigo, e fiquei prestando bastante atenção nos meus movimentos.
Demorei 10 anos para entender que realmente eu queria ter mais um filho. E aí a gente tomou atitude.
Quando eu tinha 20 e poucos anos, a minha mãe espiritual me disse que eu teria três filhos e que o terceiro seria bem tardio e de livre arbítrio. Eu ia escolher se eu ia querer ou não. Os outros dois eram cármicos.
E aí, aos meus 48 anos, eu estava em casa e recebi uma ligação dela. “Você tem que tirar óvulos”, falou ela. Eu disse: “Nem sei se eu ainda tenho óvulos, amiga”. Ela falou: “Tem sim, pode tirar que vai ter”.
E aí eu tirei óvulos para me organizar para fazer uma FIV (inseminação artificial). E, por causa dos hormônios que tomei para essa inseminação, eu ovulei e tive o Luca de maneira natural.
Olha a volta que deu para eu conseguir engravidar naturalmente. Mas eu tinha que ter tirado os meus óvulos, porque, se eu não tivesse tirado, eu não ia fazer a FIV e não ia tomar os hormônios, que deram um boost no meu organismo para que eu ovulasse e engravidasse naturalmente.
Foi uma linda surpresa, uma coisa muito especial na minha vida. A melhor coisa que eu fiz na minha vida foi ter esse filho, porque ele é uma luz, ele é uma delícia de criança, muito fofo, muito querido.
O Luca é uma alegria na nossa vida, alegria para os irmãos também. Foi tudo incrível do jeito que tinha que ser.
Que aprendizados essa gravidez te trouxe sobre o seu corpo e até sobre si mesma?
Engravidar na menopausa foi desafiador. Sair do puerpério e voltar para a menopausa é para os fortes. É uma loucura, uma confusão, tanto hormonal quanto física. Mas foi tudo maravilhoso porque eu tinha essa grande alegria que era o Luca. Aí vale a pena em qualquer momento.
Eu fiquei sabendo que estava grávida quando tinha dois meses e meio de gestação, porque eu não menstruava, então, não tinha como saber que estava grávida.
E aí até o quinto mês foi tudo muito bem, depois acabou complicando, comecei a ter insônia. Eu não dormia em hora nenhuma. Eu tinha pânico quando começava a escurecer, porque eu tinha medo de sentir medo. Foi uma coisa bem complicada.
Mas aprendi a lidar com isso, a lidar também com uma pressão alta que eu nunca tive. Graças a Deus, depois que o Luca nasceu, tudo voltou ao normal.
Eu agradecia muito ao meu corpo por estar gerando um filho, fazendo dois pulmões, um fígado, um estômago, um sistema nervoso. Uma gravidez aos 55 anos é algo muito emocionante.
E aí, depois da gestação, começar a lidar com o meu corpo foi bem difícil. Eu me olhava no espelho e não me reconhecia naquela imagem.
Eu dizia: “Meu Deus do céu, quem é essa pessoa que está no espelho?”. E, ao mesmo tempo, eu pensava: “Meu Deus, agradeço por tudo. Eu aceito o meu corpo, agradeço por ter feito uma vida, um menino saudável e perfeito”.
Mas era realmente uma luta me deparar com a minha imagem e pensar: “Está tudo bem, vai no seu tempo. Volta a hora que tiver que voltar”.
E eu tinha um espetáculo para fazer, que era o Tarsila. Eu precisava perder peso para não atrapalhar a minha performance. A vida de bailarina tem uma demanda muito grande.
Aí o meu corpo foi voltando, mas devagar, bem devagar, bem diferente das outras gravidezes. Mas é isso. Foi o que o meu corpo deu conta de fazer. E eu fui trabalhando para conseguir respeitar isso, porque normalmente não respeitaria.
Você sempre fala abertamente sobre sexualidade. Por que você considera tão importante falar sobre isso de forma transparente?
Eu sou uma pessoa livre. Eu falo as coisas que eu acho que precisam ser normalizadas. As pessoas têm tabus, problemas em falar de sexualidade, em falar do prazer da mulher, principalmente.
O prazer da mulher é proibido de falar. É como se o patriarcado não permitisse que isso fosse dito. Por isso que eu sou tão polêmica, eu choco tanto as pessoas, porque eu falo do prazer da mulher normalmente. E eu acho que deveria ser assim.
Eu sempre fui polêmica desde muito novinha, sempre falei sobre isso abertamente. Eu acho que tem que se falar. A educação sexual tem que ser aberta, tem que acontecer em família. Eu acho que as pessoas precisam saber como funcionam as coisas, principalmente as mulheres.
É muito difícil ser mulher, e é muito difícil ser mãe de mulher. É uma responsabilidade enorme você ter que criar uma mulher para o mundo que é tão cruel com as mulheres.
Então, é necessário ter essa base materna e paterna para que a menina saiba se defender do que vai acontecer com ela. Em um momento ou no outro, vai acontecer, infelizmente. Não é fácil ser mulher.
A educação sexual passa por aí. A mulher precisa se investigar, precisa saber o que ela gosta, precisa reconhecer o próprio prazer.
Ao anunciar a gravidez aos 55 anos, você se tornou alvo de muitas críticas e julgamentos. Como você encarou isso?
Eu acho engraçado porque a maioria dos comentários negativos que eu recebi foram de mulheres de 50+. Olha que loucura! Isso me causou uma estranheza muito grande. Mas eu entendo que eu toquei em um lugar muito nevrálgico das mulheres.
A mulher já estava com 50 e poucos anos, em casa, indo para aposentadoria, com os filhos criados, com tudo… Cheguei eu, tive um outro filho.
Aí ela pensa: “Ai, meu Deus, essa mulher vem aqui querer que eu me movimente. Eu tô aqui parada, quieta, e vem ela querer que eu tenha outro filho, que eu faça uma outra faculdade, que eu tenha um outro momento na minha vida… E eu tô aqui bem quieta, e vem ela me incomodar”.
Agora, mais do que as críticas, eu recebi muito amor, muito carinho, e foi isso que ficou dentro de mim.
Para você, o que esses ataques revelam sobre o etarismo e o machismo?
Eu acho que a sociedade vê de maneira muito preconceituosa a mulher 40+. A gente vive em um país extremamente machista, onde o patriarcado elimina essa mulher 40+, fazendo com que ela tenha certeza de que não serve para mais nada, de que, como ela está parando de procriar, perdeu sua utilidade. E a gente acaba acreditando nisso, porque é toda uma cultura que reforça isso.
É uma cultura que cultura a mulher jovem, que fala que a sociedade já não precisa mais dessa mulher 40+, como se ela já tivesse feito tudo o que tinha que fazer e acabou.
Eu não aceito isso. Acho o fim da picada. Eu acho isso um machismo estrutural na sua mais alta performance. E acho que a mulher de 50 hoje é uma potência. Ela é completamente diferente do que era há 20 anos.
Não são 40 anos de vida se arrastando em um canto sem fazer nada. Não, é ativa, performando, com potência. E isso incomoda muito o homem.
O patriarcado não quer ser questionado. O patriarcado não gosta que a figura feminina dê trabalho, questione, pergunte, indague. Isso tira a potência deles ou, pelo menos, divide a potência com eles.
Eles gostam da novinha, que não vai questionar, que vai ficar quietinha, que não vai dar trabalho. Só que chega da mulher ficar quietinha.
Chega de tapar a nossa boca. Chega da gente não dar trabalho. Dá trabalho sim. Vocês têm que lutar para estar do lado da gente. Vocês têm que tratar bem. Não é do jeito que eles querem. É do jeito que a gente quer.
Eu estou chegando nos meus 59 anos este ano, e nunca me senti tão forte, tão potente, tão pronta para lutar, para sonhar. É uma troca benéfica você substituir o medo por sonhos.
Quando a gente vai chegando na maturidade, existe a tendência — porque isso foi embutido na nossa cabeça — de pensar: “Ah, isso não é mais adequado para a minha idade. Não posso mais sonhar a longo prazo, porque não cabe, não sei nem se vou estar viva.” Mas a gente não sabe se vai estar viva em qualquer idade.
Você pode atravessar a rua, ser atropelada e morrer na hora. E aí? Você deixou de viver porque achou que não estaria viva. Olha que loucura isso. A lei natural da vida, às vezes, dá uma rasteira na gente: vai primeiro o jovem, em vez do mais velho. É assim.
A gente não vai sonhar nem pensar a longo prazo, porque acha que não vai dar tempo? Isso não é admissível na minha cabeça. Eu quero sonhar até os meus 120 anos. Imagina, eu tenho um filho de 2 anos. Preciso viver mais 50 anos pelo menos para sonhar com ele.
Claro, para estar com ele, ver ele crescer, ver se casar — se é que é isso que ele vai querer. Ele vai escolher o que vai conduzir a vida dele: o amor por uma profissão, por algum ofício. Você acha que vou perder isso? Não vou. Jamais.
Como a sua autoestima se transformou com a maturidade? Hoje, como é a sua relação com o espelho?
Acho que as pessoas estão usando muito mal a tecnologia. Não todo mundo. Eu entendo até quem não gosta da própria aparência e quer mudar.
Pode ser que a pessoa não se sentisse naquele corpo, com aquele rosto, e queira mudar. Eu acho que pode tudo. A única coisa com a qual tomo muito cuidado é não enlouquecer por causa da idade.
Você se vê com aquela imagem e pensa: “Poxa, aqui já deu uma caída, aqui já estou com uma ruguinha que eu não tinha”. A gente vai derretendo. Essa é a verdade. E se ver derreter não é agradável.
Mas aí, o que fazer? Usar a tecnologia a favor. Eu sou super a favor. Plástica também, quando necessário. Mas esse conceito de que tem que mexer em tudo, o tempo todo, me incomoda.
Eu não quero ter o mesmo rosto que todo mundo. Quero continuar sendo a Cláudia. Estou muito feliz de ser a Cláudia.
Daqui a pouco vou dar uma mexida no rosto? Vou. Daqui a pouco vou fazer uma plástica? Vou. Mas tudo no tempo certo. Eu estou quase com 60 anos.
A única coisa que eu fiz foi o nariz, aos 20 anos, e o olho, há uns 8 anos. Mais nada. Tá ótimo. Eu acho que estou mexendo na hora certa, sempre com cautela e entendendo a necessidade..
Respeito quem faça, está tudo certo. Só que eu pediria parcimônia para as pessoas na maturidade. Não adianta querer ter um rosto de 20, porque você não terá mais. Você vai ter um rosto de 50. Vai fazer uma terapia, porque não vai rolar (risos).
Eu tomo muito cuidado com essa procura insana pela eterna juventude, principalmente porque eu trabalho com a minha imagem.
De onde vem a sua coragem para se reinventar constantemente?
Eu sou uma pessoa muito curiosa. Eu acho que o dia em que eu perder a curiosidade, eu morri. Adoro uma novidade. E acho que é isso que me mantém viva e com espírito jovem.
Os meus filhos me ajudam muito a manter essa curiosidade pelo novo. E eu vou atrás mesmo, porque é uma coisa que eu gosto muito: saber do novo, não olhar para trás, olhar para frente, o que vem agora. o que vou inventar dessa vez.
Isso é o que me move, na verdade. Essa curiosidade, essa vontade de fazer o que eu nunca fiz. O novo, o inesperado.
Eu não tenho essa acomodação. Pelo contrário, tenho uma inquietude. Uma inquietude de aprender uma coisa que eu nunca aprendi, de fazer o que eu nunca fiz. Isso me deixa muito excitada.
O que significa bem-estar para você?
Para mim, bem-estar é você se sentir dentro de você. A menopausa me ensinou isso. A menopausa faz com que você se perca de você. Eu me perdi de mim mesma. E é tão confortável quando eu volto para mim e entro dentro de mim de novo. Isso me traz muita alegria e conforto.
Os hormônios durante a menopausa fizeram com que eu me sentisse desconectada de mim mesma. Então, para mim, o bem-estar é você se sentir conectada com você mesma, cabendo dentro de você.
A vida vai te levando para lugares em que, às vezes, você não cabe mais. E aí você tem que ressignificar aquele espaço e criar outros espaços. Você tem que estar aberta para ressignificar.
Eu não quero ficar agarrada ao antigo, ao que passou, ao que era incrível nos anos 80 e nos anos 90. Foda-se, já passou.
O espaço da Cláudia de hoje, com 58 anos não será o mesmo espaço da Cláudia com 60 ou 70. Eu vou ser outra pessoa, vou ter vivido outras coisas, vou querer outras coisas. É preciso estar aberto para essa mudança e para se ressignificar ao longo da trajetória.
Peças: @ballettoofficial
Fotografo: @renamchristofoletti
Styling: @thiagocostarego
Direção: @thiagocostarego
Make: @ivanpasc
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