Claudia Leitte: amadurecimento para subir ao trio elétrico

Capa de março da Boa Forma, a cantora revisita o passado e faz um balanço sobre como a maturidade a levou a cuidar mais de si

Por Ana Paula Ferreira
Atualizado em 28 fev 2025, 10h17 - Publicado em 28 fev 2025, 10h00
Cláudia Leitte para Boa Forma
vestido Gustavo Silvestre @gustavosilvestrebrasil | anel Claudia Arbex @claudiaarbex | pulseira Nadia Gimenes @nadiagimenes  (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)
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Não há como falar em Carnaval sem lembrar de Claudia Leitte. Dona de hits marcantes ao longo de 20 anos de carreira, a cantora esbanja energia sempre que sobe nos palcos e nos trios Brasil afora – característica que segue a acompanhando em suas apresentações.

Nem tudo, contudo, continua igual. O que mudou, segundo ela, foi seu amadurecimento e sua forma de autocuidado para seguir levando ao público sua alegria.

Quando você faz 40 anos, a ‘parada’ começa a mudar de verdade. A juventude ajuda você a agir de forma displicente […] Eu não tinha muito essas consciências de cuidado com meu corpo para ter longevidade, para fazer 6 horas de trio elétrico”, relembrou a cantora à Boa Forma.

Isso [o amadurecimento] me trouxe para um lugar de disciplina e de foco, e faço tudo com muito prazer. Não é um sacrifício ser disciplinada. Fui aprendendo a me disciplinar. São 6 horas de trio, é como uma maratona, uma corrida”, completou.

O passar dos anos também fez com que Claudinha passasse a admirar mais sua trajetória e tudo o que conquistou até aqui.

Acredito que me tornei uma pessoa que aprecia mais o que faço. Dentro desse meu amadurecimento, tenho a oportunidade de me revisitar em tempos diferentes. E comecei a ter um apreço por isso, por cada momento construído quando vou vendo coisas do passado. Isso me traz uma gratidão pela minha história”, disse a mãe de Davi, de 15 anos, Rafael, de 12, e Bela, de 5.

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Na entrevista para a capa de março de Boa Forma, Claudia Leitte compartilha sua evolução e amadurecimento – pessoal e profissional – ao longo de tantos anos de carreira. Confira a seguir o bate-papo completo com a cantora!

Cláudia Leitte para Boa Forma
vestido Gustavo Silvestre @gustavosilvestrebrasil | anel Claudia Arbex @claudiaarbex | pulseira Nadia Gimenes @nadiagimenes | sandália Santa Lolla @santa_lolla (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)

Processo de amadurecimento

Já faz muitos anos que você é um dos maiores nomes do Carnaval. Como é a sua preparação para essa temporada?

Primeiramente, minha mente tem que estar em paz. Acredito que, para o bom funcionamento de tudo, a mente tem que estar no lugar certo, então sempre estou fazendo neuromodulação, atividade física e mantendo uma alimentação saudável. No verão, fica tudo mais intenso, porque a carga [de trabalho] aumenta. Durante todo o ano a gente trabalha, faz micareta, shows, mas no verão tem mais [trabalho], então preciso de mais força. Aí dou um boost na imunidade e fico mais criteriosa com o que vou comer, beber… Com tudo o que vou fazer nessa época.

Ao longo desses 20 anos de carreira, o que você sente que mudou quanto a sua preparação, desempenho e entrega em cima dos palcos e dos trios?

Ah, mudou tudo. Quando você faz 40 anos, a “parada” começa a mudar de verdade. Três filhos depois… É diferente. O funcionamento do meu corpo, da minha cabeça, são completamente diferentes. Eu era uma menina quando comecei minha carreira, não tinha muita disciplina. A juventude ajuda você a agir de forma displicente, ao subir no palco sem fazer aquecimento vocal, por exemplo. Eu não tinha muito essas consciências do canto, do cuidado com meu corpo para ter longevidade, para fazer 6 horas de trio elétrico. Essa é a principal diferença. Isso me trouxe para um lugar de disciplina e de foco, e faço tudo com muito prazer. Não é um sacrifício ser disciplinada. Fui aprendendo a me disciplinar. Hoje como peixe todos os dias no Carnaval, um purezinho para poder fazer a digestão mais rapidamente, para não passar mal e para ter uma alimentação saudável. Mas, antigamente, eu comia feijoada [antes do show] e tinha refluxo gástrico, dor de barriga no trio… São 6 horas de trio, é como uma maratona, uma corrida. Então vou para lá pronta e na paz, porque faço tudo isso com prazer, exatamente porque estou no centro da minha “parada”, então fica fácil, não é nenhum sacrifício.

Cláudia Leitte para Boa Forma
acessório de cabeça Marco Apollonio @marcoapollonio |
anéis Claudia Arbex @claudia arbex | vestido Ammi @ammibrazil (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)
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Você considera que a maturidade é algo que influencia na forma como você se mostra como artista?

Acredito que me tornei uma pessoa que aprecia mais o que faço. Dentro desse meu amadurecimento, tenho a oportunidade de me revisitar em tempos diferentes. Sou artista, então me vejo na TV, me vejo cantando… E comecei a ter um apreço por isso, por cada momento construído quando vou vendo coisas do passado. Isso me traz uma gratidão pela minha história. É um processo de aprendizado muito legal de apreço pelo que fiz nesse tempo todo. Acho isso bonito. A maturidade me ajudou nesse aspecto.

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brinco Nadia Gimenes @nadiagimenes | anéis Claudia Arbex @claudiaarbex | camisa D Gaia @dgaia | saia Ammi @ammibrazil | sandália Jimmy Choo @jimmychoo (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)

Beleza equilibrada

Falando em maturidade, você demonstra ser uma mulher bastante vaidosa. Como você lida com os efeitos do tempo na sua beleza?

Eu gosto de me cuidar, de ficar de boa comigo, mas sem muitas preocupações. Hoje, por exemplo, eu estou linda [fala com ironia, rindo] e está tudo ótimo. Estou de bem comigo. Mas o principal é o autocuidado. Não pode ser excessivo. Eu acho que nada pode ser excessivo. E nem tenho paciência para muita coisa também, porque minha vida já é cheia de coisas, cheia de luz, cheia de fantasias… Então preciso ver meu rosto, minha pessoa, estar em contato comigo mesma, e é daí que parto para fazer tudo, para me cuidar. Sou completamente a favor de procedimentos da estética, por exemplo, por uma questão de desejo, mudança, vontade. Mas acho que tudo tem limite. Essa é premissa básica para eu fazer meus procedimentos. Faço laser, botox de 4 em 4 meses ou um pouquinho mais, mas sem mexer nas minhas expressões, sem alterar as linhas do meu rosto. Eu gosto de me ver e me encontrar quando me assisto. Gosto de saber que estou me alimentando bem, por exemplo. É a sensação de que tenho um troféu na minha mão, de saber que consegui conquistar um condicionamento físico para cantar e dançar ao mesmo tempo, com muito esforço. Isso parece um troféu, alimenta meu tempo de malhação, inclusive, porque eu não gosto. Quem é que gosta de academia, pelo amor de Jesus? [risos]. Mas quando penso que vou arrasar, vou subir e descer, vestir um vestidinho e está tudo certo, porque estou bem com meu corpo, eu encaro a “parada”.

Com tanta produção, como você se enxerga “nua”, quando se olha no espelho ao natural?

Eu gosto de mim, sabia? Sempre tive uma boa relação comigo mesma, desde pequena. Sempre experimentei muito. Sempre me fantasiei, me vi de diversas formas, e isso me ajudou num processo de autoconhecimento. Então sei que posso “ficar pelada” ou “me vestir do que eu quiser”, que também vou estar feliz.

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vestido Gustavo Silvestre @gustavosilvestrebrasil | anel Claudia Arbex @claudiaarbex | pulseira Nadia Gimenes @nadiagimenes | sandália Santa Lolla @santa_lolla (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)
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Saúde mental sempre em check

O que significa bem-estar para você?

Bem-estar é você gostar de si mesma. Você dorme e acorda com você mesma, toma banho com você mesma, então tem que conviver bem com você mesma. Para mim, bem-estar é sobre se amar, sobre se olhar e se sentir bem na sua própria pele, sobre cuidar da sua mente para que essas imagens não sejam distorcidas. Vejo nossa relação com o digital como algo que pode sim ser saudável, positivo, mas precisamos ter muito cuidado, porque as referências, às vezes, ficam meio tortas e nos conduzem por um caminho tortuoso também. Então, é muito importante cuidar da gente, cuidar daquilo que a gente vê e alimentar o caráter da gente, para nos sentirmos bem com nós mesmos. Todo mundo é importante e todo mundo tem um lugar. Eu tenho meu e sei também. É importante saber disso.

Cláudia Leitte para Boa Forma
acessório de cabeça Marco Apollonio @marcoapollonio |
anéis Claudia Arbex @claudia arbex | vestido Ammi @ammibrazil | sandália Jimmy Choo @jimmychoo (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)

E a saúde mental, você considera um cuidado importante? Você faz terapia?

Sim. Sou muito agitada, muito espontânea, muito falante, então passo com uma psiquiatra, a Dra. Ana Beatriz. Também tenho um psicólogo, o Dr. Alex. Faço neuromodulação e falo muito com eles para dar uma centrada, para equilibrar entre essa parte impulsiva minha e viver bem comigo mesma.

Como foi para você lançar a música “Sobre Viver”, que fala sobre saúde mental?

A letra não é minha, é de um amigo. Ele fez para mim. Mas, quando recebi, parecia que tinha saído de dentro de mim. Um dia mostrei para Rafa, meu filho do meio, os calos dos meus pés pós um Carnaval. Faz tempo, ele era bem menorzinho. E meus filhos são bem profundos, eles têm umas observações muito sutis e profundas. Aí falei para ele que estava indo para casa e mostrei meus calos nos pés, o sangue vivo, como se fosse um troféu. Fui até o limite. E ele me disse: “Mãe, ‘safety first’. Sua segurança e sua saúde, minha mãe, em primeiro lugar”. Isso abriu um portal na minha cabeça. Desde então, mudei muito. Cada ano que passa, estou mais consciente disso, por eles, por mim… E essa música veio disso, dessa coisa de buscar o equilíbrio, de saber os meus limites. É isso de saber que a vida está acontecendo, que a gente precisa realmente pagar os boletos, precisa trabalhar e ser adulto de fato, mas também pode ser um adulto consciente e não um adulto doente. A música traz essa reflexão que eu mesma fiz e que acho que todo mundo que a escuta, faz.

Cláudia Leitte para Boa Forma
lenço Scarf Me @scarfme | anéis Claudia Arbex @claudiaarbex e Nadia Gimenes
@nadiagimenes | pulseiras Etnias Mundi @etniasmundi | vestido Fandom @fandom.saopaulo | sandália Jimmy Choo @jimmychoo (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)
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Você descobriu o TDAH durante a pandemia, um período que foi muito intenso. Como foi receber esse diagnóstico depois de adulta e nesse momento tão delicado? E como é hoje sua vida com ele?

Honestamente, a princípio não foi bom. Eu tive um primeiro diagnóstico, mas ninguém falava muito sobre o que era TDAH, então tive vergonha nesse primeiro momento. Eu não sabia o que era, e o nome é meio assustador, né? Déficit de atenção e hiperatividade. Déficit, ou seja, falta alguma coisa na gente. E aí você colocou de uma maneira muito massa: a pandemia foi um processo mais intenso. Sou intensa em tudo que vivo, mas nesse momento fui ainda mais. Fui para um lugar que nunca tinha experimentado dentro de mim. Eu estava fazendo tudo que eu sempre fiz, mas de uma forma diferente. Fazia aqueles shows, aquelas lives na quarentena, e não era nada terapêutico para mim. Apesar de ser o meu trabalho, de aquilo estar me alimentando e me dar motivos para ser grata – porque sou privilegiada por estar trabalhando na pandemia –, eu não sentia esse prazer que sinto em cantar para as pessoas, para multidões ou para quatro, cinco pessoas em um bar. Minha música existe por causa das pessoas. Então comecei a sentir uma tristeza que parecia não ter razão, uma tristeza que doía demais, que eu nunca tinha experimentado. E foi aí que decidi buscar uma resposta para aquilo. Eu queria tratar aquilo, porque eu deveria ser grata naquele momento. Então tenho um processo de culpa também. Eu me perguntava: “Eu estou aqui trabalhando, está todo mundo triste em algum lugar e eu estou com meus filhos, com meu marido… O que é que está errado?”. E no processo de buscar isso, eu encontrei o TDAH de novo. Só que, dessa vez, encontrei de uma maneira mais: “Estou revelando quem você é, numa versão mais profunda de você. Você foi feita desse jeito”. E foi legal, foi assim que eu recebi o diagnóstico da segunda vez. Meu córtex pré-frontal não funciona como o de um neurotípico porque ele tem uma “diferençazinha” e não tem muito filtro, então a cabeça abre várias abas. É difícil se concentrar, minha cabeça fica hiperativa. Quando você me pergunta uma coisa, eu tenho 350 milhões de coisas aqui na minha cabeça, que vão passando feito um filme. Estou sendo prolixa, mas vou chegar a algum lugar. E eu sei disso. Só que, na nossa sociedade, as pessoas não sabem. A tendência é não esperar que a pessoa resolva, que a pessoa chegue à conclusão final. E, em meio a isso tudo, a gente vai tentando se descobrir nesse processo. Quando você é TDAH, você pensa: “Está justificado, e agora vou dizer para as pessoas que esperem eu concluir meu pensamento”. Então [ter o diagnóstico] dá uma melhorada para a gente. Claro que existem críticas negativas. Sempre tem, tudo na vida tem. Mas poxa, que massa que eu nasci assim, que tem um lugar nesse mundo para eu ser assim. Estou levando desse jeito.

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vestido Gustavo Silvestre @gustavosilvestrebrasil | anel Claudia Arbex @claudiaarbex | pulseira Nadia Gimenes @nadiagimenes (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)

E hoje você faz, algum tipo de tratamento voltado para o TDH?

Faço a neuromodulação com o Alex, meu psicólogo. Ele me modula, me dá os “choquezinhos” – que eu chamo assim, mas não é choque de verdade. Quando estou muito pensativa, quando tudo está muito intenso, dá até uma sensação de descarga elétrica, de trovoada na cabeça. É bem legal, sinto muito o resultado. E penso que, se Deus quiser, todo mundo terá acesso a algo assim no Brasil, porque agora é algo meio restrito. Sei que sou muito privilegiada por ter pessoas cuidando de mim e me ajudando a organizar esses pensamentos, que são muitos.

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acessório de cabeça Marco Apollonio @marcoapollonio |
anéis Claudia Arbex @claudia arbex | vestido Ammi @ammibrazil | sandália Jimmy Choo @jimmychoo (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)

Corpo bem trabalhado

Quanto aos cuidados com o corpo, o que você costuma fazer? Você treina?

Faço musculação – e vamos dar crédito à minha professora, Carla Sicupira, que também está comigo há 20 anos. Ela é uma chata de galocha, você não tem noção [risos]. Ela pega muito no meu pé, me manda mensagens, mas quando não tem a voz da minha consciência, é a voz dela que me incentiva a ir para o treino. Faço circuito de musculação, porque sou TDAH, então não dá para ficar parada fazendo uma série bonitinha. Tem que ter algum estímulo de competição, algo para terminar em um tempo determinado, estimular a prática, e aí, quando vejo, já “foi”. Faço 40 minutos por dia, duas vezes por semana. Mas também faço aeróbico. Gosto de andar de bicicleta, de correr, de nadar… Geralmente no verão não consigo nadar muito, porque tem a questão de me arrumar, fazer cabelo, e aí demora mais. Mas, durante o ano todo, prefiro nadar a fazer qualquer outra atividade física.

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Você mantém uma alimentação equilibrada?

Eu adoro comer. Gosto de comer junto, do prazer de comer com a minha família. E não abro mão desses momentos. E como tudo. Nesse instante, por exemplo, comi picanha com salada, farofa e feijãozinho, e depois um pavê de chocolate com creme. Eu gosto de comer tudo, mas sou saudável. Não tenho muita frescura com nada de comida, acho que porque venho de banda. Uma pessoa de banda aprende a comer na estrada, a comer o que tem. Então não tenho tempo ruim, não. Mas, apesar de não ser radical, eu sei quando ter o bom senso para os shows, para evitar o refluxo, que é muito ruim. Então, quando é assim, não vou comer muita coisa de noite, por exemplo, porque pode “dar ruim”. Também evito o excesso e glúten e coordeno o tipo de carboidrato que vou consumir, por exemplo. Mas não consigo cortar nada da minha alimentação. Acho que tudo é importante. Sempre foi assim para mim e eu sou saudável desse jeito. Só dou uma balanceada naturalmente mesmo. Nós somos disciplinados em casa. Eu, Márcio, as crianças, somos uma família saudável.

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Vida pessoal

A fama gera uma exposição que nem sempre as pessoas gostariam de ter. Como você lida com isso?

Sempre tive na minha cabeça que, independente de qual for a fase ou qual trabalho eu estiver fazendo, eu estou a serviço de alguém, estou fazendo aquilo para levar algum bem a alguém. Eu trabalho com entretenimento, então acho que essa sempre foi a mola propulsora de tudo. Eu canto para unir pessoas, para fazer as pessoas felizes naquele momento. Esse é um princípio básico para eu fazer tudo na minha vida: me colocar à disposição de alguém. Quando as coisas saem do meu controle e eu não tenho como gerir ou como ter responsabilidade por algo, sei que tenho que continuar com esse princípio na minha cabeça. Isso me ajuda. Percebo que isso já me ajudou lá atrás e me ajuda agora a lidar com toda essa pressão externa, com as expectativas externas e até mesmo com a expectativa que, às vezes, eu mesma crio. Ser muito criativo é uma vantagem do TDAH, mas, às vezes, a gente cria coisas ontem não tem.

Você costuma compartilhar conteúdos dos seus filhos nas redes sociais, especialmente da Bela, que mesmo pequenininha já demonstra ser bem desenvolta, artística. Eles demonstram algum interesse pelo mundo artístico? Como seria isso para você?

Meus filhos brincam com tudo isso. Bom, Davi não está querendo mais brincar com nada. Fez 16 anos agora. [risos] E Rafa também está na fase da puberdade, então está começando a dar alguns sinais de que já não quer mais sair com a mãe, não quer mais que eu abrace… Mas Bela é o que você falou: ela veste 250 milhões de roupas dentro de casa, cria um universo paralelo no meio da sala, faz uns videozinhos, gosta de tirar foto na frente do espelho… Mas acho que os três se divertem muito com a música. Eles são muito musicais. Tem um piano em casa, então eles sentam no piano e brincam. É uma brincadeira, e não é tipo: “Estamos aqui vendo o futuro, vamos nos preparar’. Eu não tive essa coisa [de pensar em profissão]. Sempre me diverti com a música e hoje eu me divirto mais até do que antes. Nesses 20 anos de carreira, houve um período em que eu pensei: “Preciso ser mais séria”. Mas foram esses tempos em que fui mais feliz. Sou mais feliz sendo criança e me divertindo, então quero que meus filhos façam isso também.

Cláudia Leitte para Boa Forma
vestido Gustavo Silvestre @gustavosilvestrebrasil | anel Claudia Arbex @claudiaarbex | pulseira Nadia Gimenes @nadiagimenes (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)

Sendo mãe de dois meninos e uma menina, existe alguma comunicação entre você e eles a respeito de feminismo, respeito com as mulheres, limites a serem colocados etc?

Há muito mais atitudes do que conversa. Meu marido é uma pessoa que eu admiro muito, um ser humano que admiro muito. Acho que, no dia a dia, fica evidente quão respeitoso ele é. E a educação dos meus filhos é resultado do exemplo. Vejo isso não só nas nossas conversas, mas principalmente no exemplo dentro de casa. Mas nós também falamos. Os meninos são muito espertos – hoje em dia, são até mais do que a gente quando tínhamos uns 20, 25 anos. Eu acredito que gente precisa, na verdade, pavimentar as bases, estar sempre fortalecendo os princípios, indicando caminhos e alternativas, ensinando o respeito a si mesmo e ao próximo, e o resto é o exemplo. Os meninos veem em casa. E, agora, eles também trazem muita informação para a gente. É impressionante. Eles ensinam a gente diariamente, posicionam a gente diariamente.

Cláudia Leitte para Boa Forma
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Como você equilibra suas versões artista, mulher, mãe e esposa?

Às vezes equilibro e às vezes vou desequilibrando mesmo. O importante é ir! Às vezes é difícil se equilibrar, mas o importante é continuar indo, continuar acreditando. Acho que é uma forma de resistência mesmo. Você vai percebendo que você é importante, senão você não estaria aqui, e que a vida precisa de você e você precisa da vida. E está tudo certo se você não estiver preparada para alguma situação, porque vai ter sempre alguém para te ensinar, alguém com quem compartilhar, alguém que ajude a carregar. E é preciso pedir ajuda, é preciso poder contar com alguém. Acho muito legal que hoje nós podemos ver a vida real de várias pessoas na internet. E no meio de tanta gente com filtros, tem muita gente que é muito verdadeira e que pode inspirar a gente de verdade. Ter um amigo, uma mãe ou um pai, um irmão, alguém com quem contar, é fundamental também. Eu gosto de gente. Minha maior dor na pandemia foi ter ficado longe das pessoas. Eu precisava daquilo. Não eram os aplausos, os gritos… Era ver aquelas pessoas. Eu canto para ver gente feliz, para que a música seja um marco na vida de alguém, que toque. E naquela época eu não via isso. Então eu acredito que é com gente que a gente vence. Ninguém vence sozinho. É uma troca muito grande, é lindo. Não me acostumo nunca.

Cláudia Leitte para Boa Forma
brinco Nadia Gimenes @nadiagimenes | anéis Claudia Arbex @claudiaarbex | camisa D Gaia @dgaia | saia Ammi @ammibrazil | sandália Jimmy Choo @jimmychoo (Fotos: Nara Fassi (@nara)/BOA FORMA)

Você ainda sente aquele “friozinho na barriga”?

Sempre, muito. Eu reverencio muito aquilo ali. Me preparo com muito amor, com uma paixão e uma gratidão que transborda. Falando com você aqui, eu não consigo organizar meus pensamentos, começo a pensar em várias coisas ao mesmo tempo. Mas ali no palco, na hora que eu canto, parece que está tudo alinhado. É um negócio espetacular. Não me acostumo, sinto frio na barriga e tudo mais.

Para finalizar, quais são seus maiores desejos pessoais e profissionais para o futuro?

Me lembrei agora de uma música de Djavan que diz: “Eu quero viver em paz”. Esse é o meu desejo pessoal. Minha paz é muito importante. Quero sempre isso para minha vida. E para o trabalho, para o futuro, quero cantar. Simples desse jeito. Quero “cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”. Quero cantar, subir no palco, subir no trio. Eu amo.

 

Fotos: Nara Fassi (@nara)

Assistente de fotografia: Matheus Lopes (@teuulopes)

Styling: Satomi Maeda (@satomimaeda)

Produção de moda: Isabella Rani (@isabellarani_) e Pedro Augusto (@pdroaugusto)

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