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Casa Clã 2024: psicóloga e psicanalista falam sobre TDAH nas mulheres

No evento, a psiquiatra Fabricia Signorelli e a psicóloga Iane Kestelman falaram sobre as dificuldades das mulheres na busca pelo diagnóstico do transtorno

Por Ana Paula Ferreira
Atualizado em 21 out 2024, 17h39 - Publicado em 16 mar 2024, 09h00
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O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) é um assunto que teve um verdadeiro “boom” nos últimos anos, fazendo com que cada vez mais pessoas buscassem se informar a respeito dos sintomas, diagnóstico e tratamentos disponíveis.

A convite da Casa Clã 2024 – maior evento feminino da Editora Abril, a psiquiatra Fabricia Signorelli e a psicóloga Iane Kestelman participaram de um talk sobre o tema, abordando especialmente as dificuldades das mulheres na busca pelo diagnóstico, uma vez que os gêneros expressam os sintomas de maneira diferente.

O que é TDAH?

O TDAH, ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, é um transtorno que tem como obrigatoriedade ter início na infância. Ele surge com sintomas de hiperatividade, impulsividade, desatenção, ou uma combinação deles.

“É fundamental que os sintomas sejam um prejuízo na funcionalidade em diferentes domínios, ou seja, na vida social, acadêmica, profissional quando falamos de adultos… O TDAH tem que trazer prejuízo ou sofrimento em diferentes aspectos da vida dos indivíduos que são acometidos pelo transtorno”, explica a psiquiatra Fabricia Signorelli.

“Todos nós, em alguma medida, somos disfuncionais. Não somos robôs. […] Mas, para o TDAH, essas disfuncionalidades são muito maiores e começam muito cedo. Quando se tem TDAH, tudo é infinitamente mais difícil. Pesquisas apontam que pessoas com o transtorno se divorciam quatro vezes mais do que as que não têm o transtorno, porque é muito difícil para elas darem conta desse papel, por exemplo”, complementa a psicóloga Iane Kestelman.

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Dificuldade do diagnóstico para mulheres

De acordo com Iane, muitas vezes as mulheres com TDAH só recebem a confirmação do transtorno na vida adulta, depois de toda uma trajetória de ausência de diagnóstico ou de diagnósticos equivocados.

“Os médicos, até por desconhecimento que existe do ponto de vista científico sobre o TDAH no Brasil, muitas vezes só observam os sintomas secundários, ou seja, as comorbidades, que são outros transtornos que vêm associado ao TDAH, como ansiedade, depressão ou transtorno bipolar”, ela aponta.

E continua: “30% das pessoas que têm TDAH com quadro simples, com os três sintomas principais. Os outros 70% têm o TDAH com algum outro transtorno associado. Então, as mulheres acima de 40 anos viveram essa fase de pouca educação sobre o TDAH, sofrem muito quando chegam à meia idade e encontram o diagnóstico, porque assusta perceber que houve uma perda importante, significativa, de qualidade de vida, no engajamento profissional, na vida efetiva e até na relação com os filhos e familiares”.

Fabricia, por sua vez, explica que o diagnóstico tardio entre as mulheres ocorre muitas vezes justamente por as pacientes serem mulheres, uma vez que, na infância, os sintomas do transtorno são mais facilmente identificados nos meninos.

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“Tem estudos que pontuam que as meninas, desde criança, fazem um esforço muito grande. Na a infância, os meninos têm uma tendência a apresentar sintomas de hiperatividade, impulsividade e, assim, são levados [a profissionais para o diagnóstico], enquanto as meninas podem ter uma apresentação mais desatenta e isso passar despercebido”, ela afirma.

“Com isso, ao longo da vida, elas vão arrumando estratégias de adaptação, até que em dado momento da vida adulta, onde a necessidade de execução de tarefas fica muito maior, elas não conseguem mais ter estratégias para gerenciar essas questões.”

Diante da demora do diagnóstico, as mulheres acabam tendo um impacto negativo em suas vidas, com sensação de fracasso em relação, por exemplo, a maternidade, sobrecarga e esgotamento, sempre como se algo ficou por fazer.

“A sensação de insuficiência rouba a possibilidade de você construir uma vida, uma trajetória. Ter TDAH é não dar conta de muita coisa, e não dar conta é um sofrimento que impacta violentamente a vida da pessoa. O transtorno, muitas vezes, extrai o sentido da vida, porque a mulher não consegue se sentir uma boa mãe, uma boa profissional, um bom par para seu parceiro, e isso rouba a possibilidade de você construir uma vida”, afirma Iane.

Como se chega ao diagnóstico de TDAH?

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Fabricia explica que, para começar o diagnóstico, é preciso avaliar se o paciente de fato pode ter TDAH ou outro transtorno psiquiátrico.

“O diagnostico do TDAH é Clínico, ou seja, a partir do histórico clínico relatado pelo próprio paciente, ou no caso de criança e adolescente, relatado pelos pais ou responsáveis, é que chegamos o diagnóstico”, ela afirma.

Além disso, uma avaliação detalhada também é feita para chegar ao chamado “diagnóstico diferencial”, tanto para casos que não são TDAH quanto para comorbidades, que é o transtorno com outros quadros associados.

“Checar a presença da comorbidade é muito importante para determinar o plano terapêutico. Tem algumas delas que podemos tratar junto com o TDAH do ponto de vista medicamentoso. Já outras, é preciso estabilizar primeiro a comorbidade para depois pensar em tratar farmacologicamente”, explica a psiquiatra.

Quanto a exames, a profissional afirma que, na grande maioria dos casos, não há necessidade de fazê-los.

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“Não existe necessidade de pedir ressonância, tomografia, eletroencefalograma para o diagnóstico. Quando pensamos em exames, é apenas para excluir outras questões.”

Tratamentos para TDAH no Brasil

Como aponta Fabricia, todo o tratamento para o TDAH – tanto medicamentoso, quanto a intervenção comportamental – é baseado em evidências.

“A gente segue o guideline de tratamento, que são as diretrizes a seguir. Então aqui no Brasil temos os psicoestimulantes e, em 2023, chegou ao Brasil a molécula não estimulante para o tratamento de TDAH, que é a atomoxetina. Esse é o nosso arsenal que hoje tem nível de evidências, eficácia, tolerabilidade e segurança para o tratamento.”

É importante ressaltar que a escolha do tratamento é individualizada, o que também é determinante para a questão da intervenção, desde a escolha da medicação que vai ser mais assertiva para o paciente até o restante do processo com terapias comportamentais.

Quanto à psicoterapia, Iane afirma que é uma etapa indispensável não só para ajudar o paciente a reorganizar sua rotina junto ao tratamento, mas também para apoiá-lo diante de suas vivências antes do diagnóstico.

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“A terapia vai ensinar a gerenciar o tempo e a lidar com as dificuldades e, ao mesmo tempo, vai tratar as questões subjetivas, como o quanto isso mexeu com suas escolhas ao longo da vida, quem você se tornou por ter sido uma pessoa TDAH e quais são suas ressignificações e os novos sentidos que você pode dar a sua vida”, finaliza a psicóloga.

Casa Clã 2024

Casa Clã 2024 é um evento curadoria de @claudiaonline e @boaforma, que tem o oferecimento de @astrazenecabr @merzaesthetics_br @rededor_oficial_star @apsenfarmaceutica @aguasprata @labasqueoficial @donadodoce @ecoflamegarden @studio_w

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