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Ágatha Bednarczuk, do vôlei, explica a rotina de treinos na gravidez

Atleta, ela conta que adotou uma rotina "moderada", fala sobre a preparação para a chegada da filha e o retorno às quadras

Por Marcela De Mingo
Atualizado em 21 out 2024, 16h33 - Publicado em 29 out 2022, 08h00
Ágatha vôlei de praia
 (Diani Fernandes/Divulgação)
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Prestes a dar à luz seu primeiro bebê, a jogadora de vôlei de praia Ágatha Bednarczuk é só sorrisos ao conversar com Boa Forma sobre sua rotina, as expectativas para a maternidade e os próximos passos como atleta. 

Ela, que aproveitou o momento entre Jogos Olímpicos – o próximo é em Paris, na França, em 2024 -, para ser mãe, contou sobre a decisão e os medos de não conseguir engravidar a tempo de voltar a treinar com o foco nos jogos, a sua relação com a alimentação e como fez para conciliar os treinos com as diferentes fases da gestação. 

Leia a entrevista completa a seguir:

Ágatha, você tá literalmente a alguns dias de ser mãe. Como tá a expectativa? 

Eu até tô me assustando, porque eu estou tranquila. Eu achei que fosse ficar mais ansiosa. Mas eu estou tranquila, querendo que ela venha no tempo certo, eu estou agora organizando as coisas dela aqui no quartinho. Então, tá bem em paz. Mas eu acho que, no inconsciente, deve estar rolando uma ansiedade

O parto está previsto para o dia 31 de outubro. Ela já está encaixada, ela está pronta para sair tem uma semana. Por causa disso, eu também tive que reduzir drasticamente a questão dos exercícios físicos para não acelerar a saída dela. O importante é que ela fique na barriga, para o desenvolvimento correto dos pulmões. Agora, eu estou um pouquinho mais quietinha, estou mais em casa, para ela poder vir no tempo que tem que vir.  

Aliás, você deu uma pausa esse ano justamente para engravidar e ter a bebê antes das Olimpíadas de Paris… Como foi fazer essa escolha? 

Quando chegou no final de 2021 e o time abriu, no primeiro momento eu tentei formar um novo time. Não deu certo e, então, eu pensei “Realmente, é um momento para eu ser mãe”. Eu sempre tive esse desejo, mas eu guardei numa caixinha muito bem guardada, a ponto de eu nem me envolver tanto com criança porque eu sabia que isso ia ativar o desejo da maternidade. 

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Eu sabia que isso ia ativar esse desejo, mas eu sempre soube que eu não gostaria de ter filho se não conquistasse alguns objetivos, se não participasse de uma Olimpíada. Tanto o vôlei quanto a maternidade são coisas que exigem muito foco. Eu preferi colocar o foco 100% no vôlei para, depois, ser mãe. 

A maternidade, antigamente, vinha acompanhada da aposentadoria. Quando chegou o final do ano passado, depois de Tóquio, eu falei… “Caramba, eu vou decidir ser mãe, mas não me imagino longe das areias, eu estou me vendo bem nesse final de ano… Vou tentar fazer as duas coisas!” É uma coisa que eu não imaginava! Eu realmente mudei o meu paradigma mental. 

Chegou no final do ano, eu fui nas médicas ver se estava tudo certo com o meu corpo, tomei uns remedinhos para ajudar nesse processo, fiquei ansiosa… Como eu me programei para voltar [para o vôlei], eu sabia que quanto antes eu engravidasse, melhor seria para mim. E sempre quando eu pensei em voltar, eu pensava em voltar séria, formar um time forte. Eu sabia que quanto antes seria melhor. 

Aconteceu em fevereiro, de forma natural, apesar de eu ter óvulos congelados. E eu nunca parei de treinar em nenhum momento, tirei minhas férias em dezembro normal, e continuei o treinamento focada, porque eu não sabia se a gravidez ia vir, e eu tinha um tempo para ela acontecer. Deixei nas mãos de Deus e aconteceu, em fevereiro. E to aqui gravidíssima.

Pois é, e mesmo grávida você manteve uma rotina pesada de treinos. Pode contar um pouquinho sobre isso?

Eu parei realmente agora. Se for ver, eu rodei a gravidez super ativa, com um treinamento que é acima de uma grávida normal. Eu sou atleta, o meu corpo está acostumado. Mas eu fiz tudo orientada pelas médicas, não foi nada da minha cabeça. Eu tenho acompanhamento da minha obstetra, que trata especificamente dos exercícios, e o Renan [Rippel, marido de Ágatha e preparador físico] monta os meus exercícios. 

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Eu treinei na areia mesmo, eu não quis fugir, já pensando na volta. Treinei até 34 semanas na areia. Três vezes por semana, em torno de uma hora, mais ou menos. Aí, foi de acordo com o avanço da gravidez. Minha barriga demorou para aparecer, eu tenho um corpo mais forte, então, ela apareceu com 5 meses e aí tiveram as adaptações: nunca passar de uma hora de treinamento, ficar muito ligada com a questão a temperatura… Por isso, eu treinava muito cedo. A questão da respiração também, nunca fazer apneia… É um exercício moderado, eu não saltei, não cai no chão, estava na quadra com muito cuidado, mas consegui imprimir um ritmo legal, e ainda fiz o trabalho na academia 4 vezes na semana, com as mesmas questões, preocupada em não acelerar muito o coração, conseguindo conversar, nunca passando de uma hora… Eu consegui fazer esse trabalho de força na academia que com certeza vai me ajudar na volta, eu não vou perder massa magra, e eu gosto de academia! Eu tentei ainda colocar o pilates! Mas não tinha tempo. 

Quando eu começo a falar da minha rotina, ela é pesada! 4 vezes na academia, 3 na praia e duas vezes na bike, mas é que a minha rotina de atleta é uma coisa louca! Para mim, foi uma rotina moderada. 

Ágatha vôlei de praia
(Diani Fernandes/Divulgação)

A preparação para participar de uma Olimpíada não é simples… qual o papel da sua alimentação nesse processo? 

Uma coisa muito legal é que eu já sigo uma reeducação alimentar há muitos anos, eu não precisei fazer tantas mudanças por causa desse período, eu já como bem legal, com muita diversidade de alimentos, praticamente nem como besteira, não é um hábito para mim. Eu sempre tive um nutricionista de performance, mas, quando eu engravidei, procurei uma nutricionista de gestante. Eu estou com essa profissional desde o início da gestação, e o que ela me passou é bem específico. 

No primeiro trimestre tem muito aquela coisa de enjoo, de azia, e eu só tive por 3 semanas, mas ela me orientou. O segundo trimestre, super tranquilo, mas o terceiro uma fome enorme! Eu não estou acostumada a acordar na madrugada com fome. Eu acho que foi mais essa questão de organizar melhor as porções durante o dia, qual o momento que é melhor momento para comer nuts, sempre pensando em não deixar a fome tomar conta. 

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Você teve algum desejo de gravidez?

Não tive nenhum desejo. Eu acho que também tem a ver com a minha vida antes da gestação. Tem muitas mamães que mesmo com uma vida ativa tem dificuldades, mas eu credito muito na coisa do antes da gestação, na minha rotina. Eu não digo nem que é só de atleta, eu tenho uma consciência de vida saudável… O dia que eu me aposentar eu vou levar isso para a minha vida, eu gosto de me exercitar, de comer bem. 

Depois da derrota em Tóquio, o que você manter a esperança e a determinação para tentar mais uma vez a vitória nos Jogos Olímpicos? 

Essa sensação não veio logo depois de Tóquio, veio no momento em que eu me vi no final do ano, ali por novembro, dezembro, tendo que definir se eu ia parar ali… Pós-Tóquio, eu fui pensando sobre o assunto, eu fui refletindo. É o momento de parar, será que estou pronta para isso? 

Eu sou uma atleta que praticamente não tem lesão, e muitos atletas se aposentam por lesão. Eu tenho uma estrutura em volta que é conquistada depois de muitos anos, estrutura humana, uma equipe médica forte, um trabalho muito profissional, eu tenho o Renan como marido e preparador físico que me apoia nas decisões. Eu acho que fica até mais fácil nessa questão, para ele. Ele super me apoiou para o que eu quisesse. Se quisesse parar tava lindo, e se quisesse continuar tava lindo. Tudo, em volta, me auxiliou. E eu pensei “Ainda dá mais um pouquinho”. Pós-Paris, está mais perto da aposentadoria, eu me vejo parando – coisa que eu nunca tinha me visto. Hoje eu tenho certeza que não vou continuar. 

Foram todos os itens que compõem o dia a dia, principalmente o amor. Se eu tivesse muito cansada, poderia ter tudo a favor e falar “Estou cansada”, mas ainda me vejo e tenho todos esses fatores ao meu lado.  

É difícil prever como vai ser a rotina com a sua bebê, mas como você concilia a maternidade com a rotina de atleta agora e como espera fazer isso no futuro? 

Eu acho que esse é um ponto, para uma pessoa tão planejadora quanto eu, super difícil! Esse ponto me causa ansiedade! Até esse momento, a Kahena tá na minha barriga, então, eu estou controlando a situação, eu já estou mais cansada, eu queria treinar até o último dia e já não posso… 

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Mas, de forma geral, eu consegui controlar muito o processo. Quando ela nascer, eu sei que isso vai mudar completamente! Eu sei que a minha cabeça tem que estar muito aberta e flexível pras mudanças, eu sei que não vou conseguir ter os momentos de descanso que eu tinha, a tranquilidade de organizar o meu dia, eu sei que ela vai tomar um espaço gigante, e eu vou ter que me adaptar a ela e conseguir tirar o melhor do que eu tiver para o vôlei. 

Ela vai ser um bebezinho, eu vou ter que dar toda atenção para ela. Então, como fazer isso funcionar em relação ao vôlei vai ser o grande segredo. Eu vou me planejar – eu já estou me planejando -, eu vou ter que ter uma babá comigo. Eu estou me planejando para ficar dois meses com ela, só eu e ela, até dezembro, e ter uma babá a partir de janeiro. No lugar em que eu vou treinar, que vai ser no clube, eu já estou imaginando até montar um berçário! 

São coisas que eu realmente só vou ver no dia a dia. Eu estou falando com uma consultora de amamentação e já conversei com ela, e ela falou que o ideal é dar de mamar antes do treino – eu já estou tendo esse bate-papo com as pessoas para saber dessa volta. Talvez eu tenha que dar de mamar quando chegar no treino, e não em casa. São coisas assim que são no dia a dia mesmo. Eu posso planejar a babá, um cantinho para nós no local do treino, correr atrás do patrocínio agora, para ter estrutura financeira para que a babá esteja comigo o tempo inteiro, inclusive nas viagens. E eu quero muito amamentar, mas eu posso planejar essas coisas, mas só no dia a dia eu vou saber qual a necessidade da neném. 

E eu vou ter um parceiraço do meu lado, que é o Renan. Ele pegou esse desejo e guardou igual eu, então, agora vai aflorar tudo nele. Quando ela nascer vai ser muito legal dividir com ele o dia a dia. 

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