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Treino 3D - Corpo, Mente e Espírito, com Samorai

Bacharel em esporte, Samorai (@samorai3d) é criador do método de treinamento 3dimensional para reabilitação, prevenção e tratamento de lesões e performance. Aqui, auxilia praticantes e treinadores na busca por harmonia.
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O treinamento 3Dimensional – Parte 3

Por Samorai
Atualizado em 21 out 2024, 22h29 - Publicado em 2 fev 2022, 12h50
treino 3d
Vamos aprender os princípios do movimento? (Maksim Goncharenok/Pexels)
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Hey, folks! Aparentemente pareço repetitivo, afinal vou falar de princípios novamente. Mas o fato é que são eles o ponto central da ciência 3Dimensional. E o que são eles? São os fundamentos. A estrutura. A base a partir de onde tudo se manifesta. Na semana passada falei de alguns princípios que são essenciais à vida e ao universo. Hoje, vou abordar princípios do movimento. Como nosso corpo está estruturado para interagir com esse mundão de meu Deus.

E sempre que falarmos de princípios é muito bom relembrar que eles são imutáveis, porém nosso entendimento sobre eles varia. Afinal, eles são o que são e meu entendimento é a forma que eu estruturo uma teoria para explicar sua existência. Por exemplo, a gravidade. Ela é um princípio, já que toda vez que eu soltar um objeto neste planeta, ele cai em direção ao chão. Entretanto, a teoria da lei da gravidade descrita por Isaac Newton é a interpretação dele para este fenômeno. Pode estar certa ou errada, porém, independentemente disso, os objetos vão continuar caindo, quer o Newton esteja certo ou errado. Por isso é um princípio. Porque estamos sujeitos a isso.

Impacto, fortalecimento, alongamento: mais mitos do treinamento
Impacto, fortalecimento, alongamento: mais mitos do treinamento (Joshua Earle on Unsplash/BOA FORMA)

Carregar e explodir

O primeiro princípio do movimento é o carregar e explodir. Essencialmente não existe alquimia na Terra. Tudo já está aqui. Não há criação espontânea de nada. Nem de energia para o movimento. Todo e qualquer sistema precisa de energia para produzir. O corpo humano não é diferente. Ele precisa carregar o sistema antes de executar uma tarefa. E como ele faz isso? Utilizando alguma energia disponível. No caso, as forças físicas.

Isto posto, toda vez que eu quero fazer um movimento em um sentido, eu carrego o sistema no sentido oposto. Por exemplo, se eu quero saltar e ir o mais alto possível, eu primeiro vou para baixo, cedendo à força da gravidade, carrego o sistema através da energia elástica acumulada no corpo, principalmente nos músculos, e depois eu volto para cima. Ou seja, se quero ir para cima começo indo para baixo. Quase um contrassenso, mas esse é o princípio. É assim que o corpo faz. Logo, se movimentar é utilizar as forças físicas e, ou pegar uma carona com ela, ou usá-la para carregar o sistema e em seguida mudar o vetor.

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“Drive” e reação em cadeia

Outro princípio do movimento é que ele possui um “drive”, que é um nome chique para um guia, uma direção. E a partir desse “drive” há uma reação em cadeia que segue esse drive. Movimento não é aleatório, ele é orientado a partir de um guia. Como um carro. Ele não anda aleatoriamente. A direção do carro determina para onde ele vai. A partir da mudança da direção, nasce uma reação em cadeia para levar o carro naquele ponto. Se vou arremessar uma bola com a mão direita, ela é o meu drive e a partir dela que meu corpo se organiza em uma sequência de movimento para executá-lo corretamente. Se eu mudar o “drive”, por exemplo, a mão esquerda, outra reação em cadeia acontece.

Tarefa consciente, reação inconsciente

Mais um princípio do movimento é que ele é autônomo. Nosso corpo se move sem que tenhamos consciência disso. Voltando ao exemplo anterior do arremesso com a mão direita. Para que ele aconteça, o corpo, em sua reação em cadeia, realiza uma série de movimentos e ações. Muitos músculos, articulações, nervos, tendões realizam suas funções sem que eu tenha que, conscientemente, coordená-las. A única consciência que tenho é da tarefa. Eu quero arremessar a bola. Tudo que nasce a partir da minha vontade de arremessar essa bola não é consciente a mim. Algumas vezes nem a tarefa é totalmente consciente.

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Imagine que eu saio para correr na rua ouvindo uma aula do Mentorship Samorai para aprender mais sobre treinamento 3Dimensional. A aula está maravilhosa e estou com toda a minha atenção nas palavras do professor e mesmo assim continuo correndo. Logo, meu corpo faz todas essas tarefas sozinho, autonomamente. Claro que posso colocar consciência em alguma parte do movimento, por exemplo, flexionar e estender o cotovelo com minha plena consciência desta ação só para contradizer o professor Samorai. Nós podemos fazer isso, mas em bem pouco tempo farei alguma outra coisa e não pensando em como se mexe. Vou levantar sem pensar que meu quadril precisa estender, meu glúteo contrair, meu tornozelo entrar em dorsiflexão, e mais muitas tarefas que acontecem para que eu levante.

Essa é a maneira funcional de nos movermos. Tendo consciente da tarefa e não do resto. Até porque, de maneira geral, as pessoas nem sabem como o corpo faz para se mover, como poderiam colocar atenção ali? Sabendo que esse é um princípio, tenho que avaliar e treinar uma pessoa dessa forma. Então, se quero avaliar uma flexão não posso pedir para a pessoa flexionar o quadril conscientemente e verificar sua capacidade em fazer isso. Tenho que conseguir essa flexão de forma inconsciente. Peço a ela para pegar uma caneta no chão e avalio a capacidade de flexionar o quadril a partir daquela tarefa e assim terei uma avaliação verdadeiramente funcional.

Padrão de menor resistência

Um princípio na natureza é que todo corpo assume a característica do que ele é feito. Se uma caixa é feita de isopor, ela se comporta como isopor. Se feita de madeira, se comporta como madeira. E o corpo humano? É feito do que? Você pode responder que é feito de músculos, nervos, articulações, mas na sua essência ele é, em sua maior parte, feito de água. Há divergências de quanto de água é composto o corpo humano, mas na média afirma-se que 70%. Sendo assim, ¾ do corpo se comporta como água.

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E o que isso significa? Significa que, assim como a água, o corpo possui um padrão de menor resistência. E como isso se manifesta? Uma gota de água sempre escorre para o lugar de menor resistência. Se eu pingar uma gota em um prato e deixá-lo parado ela vai ficar no meio do prato. Entretanto, se eu levantar um dos lados ela começa a escorrer para o outro, porque agora o lado mais baixo se torna uma resistência menor do que ficar parado no lugar. E isso sempre vai se repetir se eu mudar a inclinação do prato. Nosso corpo segue o mesmo modelo. Por isso, quando se tem um padrão já definido de uma pisada, sempre o repetimos. Mas, esse pode ser um padrão lesivo e para mudar precisamos lembrar deste princípio.

Na marra não vai. Das duas, uma. Ou eu crio um padrão de resistência menor para que o corpo se acomode ou aumento a resistência do padrão atual. Falei grego, né? Vamos ao exemplo simples. Imagine um pé desabado no meio. Aquele que a parte interna do tênis se desgasta muito mais. Uma forma de aumentar o padrão de menor resistência daquela pisada poderia ser uma palmilha. Ou seja, uma inclinação para o outro lado. Assim, o pé se comportará como água e fluirá para o lugar de menor resistência. Claro que, como já vimos, isso mudará toda a reação em cadeia a partir de uma pisada e pode comprometer até a sua lombar. Por isso esse tipo de trabalho de mudança de padrão de movimento deve ser feito com o acompanhamento de um especialista em treinamento 3Dimensional.

Mostabilidade

Aqui um princípio de nome mais estranho. Tão estranho que foi criado justamente para explicar esse princípio. Mostabilidade é a junção de mobilidade e estabilidade. Normalmente, na escola tradicional, estudamos esses dois conceitos de uma forma isolada. Mobilidade e estabilidade. Realmente são coisas distintas, que apenas coexistem. Não há possibilidade de ter uma sem a outra. Não dá para me mover sem estabilidade e quanto mais movimento eu tiver, maior será o recurso de estabilidade exigido.

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Então, se vou chutar uma bola, preciso de muita mobilidade. Mas até pelo fato de estar em uma perna só, mais do que nunca, para o chute sair potente e preciso, precisarei de muita eficiência em estabilidade. Por muito tempo treinamos estabilidade de forma isolada, utilizamos aviãozinho e principalmente as pranchas, buscando estabilidade de core. Do ponto de vista funcional, por mais difícil que possa ser fazer esses exercícios, eles são pouco funcionais. A transferência para outras atividades como o chute em uma bola é quase nula. Então guarde o mantra. Mobilidade não é oposto de estabilidade. Pelo contrário, quanto mais móvel, mais necessidade de estabilidade.

Além do modelo anatômico

O modelo anatômico tradicional foi muito útil para estudarmos o corpo humano, mas hoje podemos dizer que ele está incompleto. Muito porque ele não foi focado nestes e em muitos outros princípios que também complementam esse olhar. Para finalizar esse capítulo de princípios quero citar alguns olhares que escaparam do modelo anatômico clássico.

Função segue forma e forma segue função – Esse é um princípio universal. Se eu quero que um carro tenha a função de se movimentar, qual forma deve ter seus pneus? Obviamente você respondeu redondo, porque seria mais eficiente. Essa forma então foi pensada em cima de uma função. Mas o bacana é que mesmo que você colocasse qualquer forma, um triângulo, por exemplo, e insistisse em deslocar o carro, com o passar do tempo, a forma do pneu iria se modificar para redondo. Porque a função segue a forma e vice-versa.

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É assim em nosso mundo. Assim, uma ótima maneira de estudar funções é por meio das formas. Quando vemos uma coluna, vemos 24 vértebras. Ou 24 articulações. Isso sugere que ela foi feita para se mexer. E se olharmos com um olhar mais acurado, percebemos que as vértebras também possuem formas diferentes entre elas. Ou seja, também possuem capacidade de movimentação diferentes. Então porque muita gente recomenda para as pessoas manterem a coluna retinha quando andam, sentam ou dormem se a forma dela é para se mover? Porque não interpretam o mundo a partir deste princípio. Inclusive, já reabilitei incontáveis pessoas com dor nas costas apenas estimulando a participação da coluna nos movimentos, como amarrar o sapato ou pegar algo no chão.

Fragilidade do corpo – outra razão do porquê não movemos a coluna são os testes feitos com nossos ossos sobre resistência dos materiais. Muitos testes de tração e compressão de partes isoladas do nosso corpo foram feitos e induziram a um pensamento de que nosso corpo é frágil. Mas o fato é que esses testes foram em partes do corpo, fora da estrutura deles e, obviamente, em pessoas mortas. E como sempre digo, corpo, mente e espírito é outra coisa. Por pensarem que nosso corpo era frágil como demonstrado nos testes de resistência de material, optamos por preservar evitando fazer algumas atividades.

Houve uma época em que a recomendação era de que as pessoas sequer corressem. Porém, testes em laboratórios já demonstraram que, por mais que ao correr pudéssemos aplicar uma força de até 8 vezes o peso corporal em uma única passada, o que parece ser bastante, já foi medido em saltos mortais 28 vezes, o que faz 8 ser um número muito seguro.

Posição do corpo no espaço – outra limitação do modelo anatômico tem relação com a posição do corpo no espaço e até no ambiente no qual ele se encontra. Se estou de pé, meu abdômen executa funções diferente daquelas que teria realizando o mesmo movimento, porém de ponta-cabeça. Ou até mesmo deitado de lado. Como classificamos as funções a partir da posição em pé, transferimos essas classificações para todo cenário e isso se mostra equivocado. O mesmo acontece quando mudamos o ambiente. Uma corrida no chão duro tem ativações musculares completamente diferentes de uma corrida realizada em uma piscina. Então para classificar a função de um músculo, preciso dar um contexto.

Econcêntrico – mais um nome criado para estudar o movimento a partir do olhar 3D. Quando os músculos foram classificados em suas funções, levou-se em consideração o movimento que se criava a partir da aproximação, em um único plano, na mesma orientação da fibra muscular, de seus polos. Assim, quando esses polos se encurtam dizemos que o movimento é concêntrico e quando se afastam que é excêntrico. Desta forma, um só acontece quando o outro não acontece. Porém, o nosso movimento é tridimensional. E se um movimento encurta os polos em um plano, nada impede de que em outro plano esse mesmo movimento afaste os polos deste mesmo músculo, mas em outra direção. Sendo assim, ele estaria concêntrico e excêntrico ao mesmo tempo. Aqui nasce o termo econcêntrico, genialmente criado por Gary Gray.

Aqui estão os principais princípios do movimento humano. Existem muitos outros, que estou colocando em um livro que estará pronto em breve, mas aqui já conseguimos entender a complexidade do movimento que nasce a partir do olhar simples. O maior segredo do treinamento é interpretar e aplicar esses princípios. Se isso fosse feito, garanto a você que muita dor seria evitada e muita performance aumentada. A ideia da ciência 3Dimensional é essa. Ser simples para ir além.

Forte abraço,
Samorai

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