Os 12 sentidos e mais um
Hey, folks! Você já deve ter ouvido falar sobre os nossos sentidos. Em geral, é muito comum dizer que temos cinco sentidos. O olfato, o paladar, a audição, o tato e a visão. Alguns ainda acrescentam o sexto sentido, normalmente relacionado às mulheres, que é o sentido da intuição, ou da percepção extrassensorial, ou até mesmo o pressentimento. O fato é que para mim, não importando se cinco ou seis, eles não descrevem com exatidão a maravilha que é o corpo humano.
Uma das minhas principais frases é que, se vou trabalhar com ser humano preciso ser um expert em ser humano. Isto posto, além de estudar o movimento e o corpo humano, eu fui atrás de estudar o que mais inclui esse ser. Como ele se relaciona com o mundo à sua volta, como ele o percebe, como ele interage, como o afeta, o ensina. O que é esse mundo. Como pensamos, como sentimos. E isso não é fácil, dado que para piorar (ou melhorar) somos seres singulares, tanto em relação aos outros como em relação a nós mesmos. O eu de ontem não é o mesmo eu de hoje. E pode até ser que o eu de ontem pensava, sentia e interpretava o mundo de uma forma muito diferente do eu de hoje.
E isso é treinamento 3D na essência. Entender essa complexidade para poder trabalhar e atuar com ela. E nela. Sendo assim, para avançar nos estudos e no treinamento 3Dimensional passo a vida procurando e estudando para entender essa complexidade melhor. Todos os pensadores, professores, treinadores, e quaisquer “ores” que abordaram esse tipo de tema me interessam. E um dos melhores professores que eu poderia ter foi minha filha, que pude presenciar “in loco” o crescimento e desenvolvimento de uma vida, verificar que muitas coisas faziam sentido e algumas eram muito limitadas.
Uma das coisas que eu achava muito limitada era essa visão de cinco sentidos. E com a minha filha isso ficou mais claro. Entretanto, o primeiro passo é saber o que não é. O segundo é o que colocar no lugar. E aqui se inicia um longo trabalho. Aqui, por fortíssima influência da minha irmã, depois da minha esposa e também da minha filha, comecei a estudar Antroposofia e consequentemente a pedagogia Waldorf. Hoje, ambas são pilares fortíssimos do treinamento 3Dimensional. E através das lentes mágicas de Rudolf Steiner, me aprofundei nos conhecimentos sobre o ser humano, que se não me trouxeram a verdade absoluta, até porque ela é inacessível, me fizeram muito mais sentido e se mostraram um caminho muito mais verdadeiro quando observado frente ao mundo de verdade, como ao ver o desenvolvimento da minha filha.
Antroposofia e pedagogia Waldorf são ciências criadas por Steiner, que ainda foi gênio em outras áreas, e que levaria muitas colunas para eu explicar, mas hoje quero trazer o conceito dos 12 sentidos do Steiner e como são desenvolvidos ao longo das fases do desenvolvimento. Conceitos que foram apresentados a mim pela minha querida professora Denise Justo a quem deixo aqui meus agradecimentos.
Algumas vezes na sua vida, coisas são apresentadas e passam batido, mas algumas vezes são a pecinha do quebra-cabeça que estava faltando para que sua compreensão se fizesse presente. Os 12 sentidos foram justamente isso. Estava procurando respostas olhando para frente quando quase sempre estão atrás. Muitas vezes vocês me perguntam como eu crio algumas das minhas teorias, estratégias e técnicas e minha resposta é simples. Olhando para os grandes mestres de todas as épocas da história. Não há nada novo sob o sol. O que acontece é que deixamos muita coisa para trás.
Os sentidos do primeiro setênio
Para Steiner, além de termos 12 sentidos, eles também são desenvolvidos em fases diferentes da vida. Aliás, para ele a vida também é dividida em blocos de 7 anos, chamados setênios. E no primeiro setênio de vida, que corresponde do 0 aos 7 anos, desenvolvemos quatro sentidos, chamados também de sentidos físicos ou do desejo e são usados para perceber o nosso próprio mundo. São esses: sentido do tato, da vida, do movimento e do equilíbrio. O sentido do tato forma o maior sistema sensorial do corpo, através dos nervos espalhados ao longo da nossa pele. Eles são nossos escudos, e só através dele é que entendemos os limites do nosso corpo. Indica onde você termina e outra coisa começa.
O sentido da vida é o sentido dos órgãos e dos processos internos da vida. É esse sentido que te diz que você está satisfeito ao comer, que você precisa ir ao banheiro, que você está com uma indigestão ou um resfriado. Você não percebe o sentido da vida até que esse processo seja perturbado. Você não percebe seus órgãos até que algo errado aconteça com eles. A dor é uma forma grave destas perturbações que são sentidas pelo sentido da vida. Ela pertence a um sistema de comunicação sensorial. Outra informação provida pelo sentido da vida é que seu corpo tem substância. É também através do sentido da vida mais desenvolvido que podemos sentir saúde, vitalidade, doença, dor e sofrimento em outra pessoa.
Sentido de movimento, também chamado de sentido muscular, nos permite perceber os movimentos e a postura do nosso corpo, que nunca está estático. Qualquer movimento dos nossos membros, lábios, língua, olhos são percebidos e de uma forma muito precisa. Nós somos capazes de perceber 0,038 graus de flexão do nosso cotovelo. Além de detectar o movimento, esse sentido também nos mostra a posição do nosso corpo. Você sabe onde seu braço ou seu pé está sem ter que olhar para ele. Tudo isso é fundamental para aprendermos sobre movimento, pois o sentido do movimento está sempre presente te indicando onde o movimento começa, onde termina e todas as fases intermediárias.
O quarto sentido é o do equilíbrio. O nosso corpo tem um equilíbrio dinâmico. Nós mantemos esse equilíbrio fazendo vários pequenos ajustes de tensão muscular nos músculos de todo o corpo. É o seu sentido de equilíbrio que te orienta no mundo. Esses são os primeiros sentidos desenvolvidos durante nossa vida. Os sentidos mais baixos, físicos, materiais.
Os sentidos do segundo setênio
Durante o segundo setênio, desenvolvemos mais quatro sentidos ligados ao sentir. Ao contrário dos primeiros quatro que nos orientam a entender nosso corpo, esses quatro sentidos nos ajudam a interpretar o mundo externo. São eles: o olfato, a visão, o paladar e o sentido de temperatura. Aqui você já pode estar se perguntando “mas peraí, uma criança de 5 anos tem paladar, visão, olfato”. Sim. Muitos dos nossos sentidos estão conosco desde sempre, mas tem seus momentos de maior desenvolvimento e nos quais nossa energia estará mais fortemente aplicada. E os sentidos do sentir têm a grande fase do desenvolvimento no segundo setênio. Vamos a eles, então.
O olfato, como todos sabemos, é o sentido do cheiro. Você não o controla. Você não consegue não sentir um cheiro, ao menos que prenda a respiração, algo que não podemos fazer por muito tempo. Uma vez que não podemos evitar sentir um odor, nós sempre o avaliamos em bom ou ruim, prazeroso ou nojento. Assim, nosso sentido de olfato forma um dos pilares do nosso julgamento moral e o ajuda a distinguir entre bom ou ruim, uma vez que tudo que cheira mal é ruim.
Podemos, inclusive, através dos odores, interpretar as condições emocionais das pessoas. Uma pessoa com medo emana um cheiro diferente de uma tranquila e muitas vezes respondemos à interpretação desses odores sem sequer termos consciência disso. Muitos animais têm esse sentido muito mais desenvolvido que o nosso e são fortemente guiados por ele, como os cachorros.
O próximo sentido é o paladar. Esse sentido acontece através da língua, então para sentirmos o sabor de algo precisamos levar à boca. Os sabores são limitados em quatro. Doce, azedo, salgado e amargo. Crianças têm paladar, como já expliquei acima, mas além de ser inconstante, ainda têm dificuldade de apreciar alguns tipos de sabores, por exemplo os amargos.
Sentido da visão. Os olhos são os órgãos sensoriais mais importantes. Ver normalmente está relacionado a observar e entender, ainda que os olhos apenas vejam cores, luz e escuro. Se podemos identificar formas, movimentos e proporções é porque eles atuam em conjunto com os sentidos de movimento e equilíbrio. Diferentemente dos sentidos do olfato e do paladar, o sentido da visão é mais fácil de bloquear. De todos os nossos sentidos, a visão é o que mais contribui para sua consciência, e uma vez que somos seres pensantes, este fato está intrinsecamente relacionado ao ato de enxergar.
Usamos o sentido da temperatura para observar o quão quente ou frio as coisas ou o ambiente estão. Esse sentido é interpretado em relação à temperatura do seu corpo e do objeto ou superfície com este relacionado. Quanto maior for a área exposta a uma variação de temperatura, mais facilmente ela será percebida. Nosso sentido de temperatura está intimamente ligado à nossa própria temperatura, o que significa que você não mensura temperaturas absolutas, mas relativas à sua própria temperatura. Temperaturas afetam nosso humor muito mais que qualquer outro sentido. Acho que isso é bem fácil de perceber, né?
Os sentidos do terceiro setênio
Os sentidos do terceiro setênio são os imateriais, digamos até espirituais. Eles têm foco particularmente no outro. São os sentidos do pensar. A saber, os sentidos da escuta, da fala, do pensamento e do eu do outro.
O sentido da escuta. Nossos ouvidos captam todos os sons, sejam os feitos por nós ou aqueles feitos por todo o mundo à nossa volta. Pela forma como estão posicionados, eles processam os sons à nossa volta, independentemente se o ouvido estiver posicionado na direção de onde o som vem. Não podemos fechar nossos ouvidos, o que nos faz conectados com o mundo o tempo todo. Escuta consciente necessita silêncio. É uma atividade social focada no outro, mas ainda uma atividade interna.
O ouvido também atua em conjunto com o sentido do equilíbrio. Também conseguimos mensurar a distância da fonte do som. Conseguimos distinguir o que está dentro de algo ou de que material algo é feito através do som que ele produz. Podemos também ouvir que algo se quebrou mesmo não vendo o dano. A escuta se perde com a idade. Escutar pessoas pode revelar informações sobre elas, como alegria, tristeza, excitação, em função da entonação de suas vozes. Nós temos (nem todo mundo) uma boa percepção para música e podemos nos sentir intimamente conectados com melodias e harmonias.
Sentido da fala. Junto com os sentidos do pensar e do eu do outro, foram os primeiros sentidos identificados por Steiner, que se referia a eles como sentidos espirituais. Sendo assim, podemos classificar os primeiros quatro sentidos como os do nosso próprio corpo. Os cinco seguintes com foco no mundo externo e os últimos três com foco principalmente na interação entre as pessoas.
Há uma diferença entre a percepção do som e da música comparado à percepção da fala. Você escuta pelo sentido da audição, mas entende o significado pelo sentido da fala. Esse sentido vai muito além da palavra propriamente dita, mas também da postura, gestual, expressão facial, o olhar, a entonação e toda forma de comunicação corporal que nos faz criar pensamentos, julgamentos, opiniões, experiências e personalidades. Tanto que a mesma frase pode ser dita de formas diferentes e criar interpretações completamente diferentes mesmo que sejam usadas as mesmas palavras.
Logo, o sentido da fala interpreta mais do que o significado das palavras. Quanta interpretação equivocada não tivemos nas conversas de mensagens no celular pela falta, justamente, desses sinais da fala que não estão nas comunicações puramente literais e através, exclusivamente, de palavras. Os emoticons são uma forma de expressar o sentido da fala de uma forma mais precisa em mensagens de texto. Por isso fazem tanto sucesso. Em outras palavras, a linguagem não é entendida apenas pelo ouvido, mas por todo o corpo.
O sentido do pensar observa os pensamentos dos outros. Observamos as visões, considerações e questões dos outros, temos uma ideia do que eles estão pensando e conseguimos pensar através das linhas de pensamento dele. Quando alguém conta uma história, você cria uma imagem baseada no sentido da história contada. Pode criar imagens e sons a partir dali e seguir com o pensamento do outro. Isso também acontece em questões abstratas quando você tenta entender uma equação de física. Por um tempo você bloqueia seus próprios pensamentos para seguir a linha de raciocínio do outro. Para isso é necessário focar nos pensamentos do outro. Nas palavras e na comunicação corporal. Seu senso de pensamentos distingue entre os seus pensamentos e os do outro. Isso é muito importante para o desenvolvimento espiritual e te permite aprender novos conceitos.
E o último sentido é o eu do outro, no qual detectamos a personalidade e a individualidade do outro. Se você quer conhecer a personalidade de alguém, você deve permitir que esse alguém entre em seu eu interior. É como o sentido do tato. Podemos observar essa individualidade do outro mais diretamente através do olhar. Uma outra maneira é através da postura e dos movimentos corporais. Ao escutar uma pessoa também observamos sua individualidade, assim como seus aspectos individuais de pensamento bem como pela fala. O sentido do eu do outro funciona como o sentido do toque. Você não pode tocar alguém sem permitir que o outro o toque. Por isso não é fácil olhar dentro dos olhos de alguém, porque você também está se permitindo ser observado profundamente.
Obviamente esses sentidos trabalham juntos e formam um todo onde interpretamos o mundo. Quando você vê um ginasta fazendo um movimento de equilíbrio, é o sentido da visão que te permite ver as cores e o brilho, o sentido do movimento que te possibilita ver os gestos do corpo, o sentido do equilíbrio te permite entender o grau de desequilíbrio daquele movimento, o sentido da vida te permite ver a harmonia do gesto, entre outros. Como tudo na vida, os sentidos podem ser explorados, treinados e aperfeiçoados e esse é o principal ponto do treinamento 3D. Entender como o corpo funciona e treiná-lo de acordo com esse funcionamento.
Dada toda essa variabilidade de sentidos, você realmente acredita que vivenciar sempre as mesmas experiências no treinamento de uma academia vão realmente aperfeiçoar esse complexo sistema sensorial? E é tão simples responder a essa pergunta assim como dar uma solução para esse problema. Mas essa simplicidade nasce do estudo da complexidade do corpo.
Por fim, quero colocar mais um sentido aqui, aproveitando que na semana passada tivemos o Dia dos Pais. Ser pai é uma experiência que desperta e estimula muitos destes sentidos. Mas um em especial, que obviamente não tem correlação com os outros: o da vida na outra vida. Instintivamente nossa vida é nosso bem mais precioso e com a qual nosso ser usa de todos os meios para preservar. Até nascer nosso filho. Aí você desenvolve esse “instinto”, no qual a sua vida não é o mais importante para você. Esse sentido ganha do seu instinto mais forte e primitivo enquanto te faz cada dia melhor.
Forte abraço,
Samorai