A benção do fracasso
Albert Einstein uma vez definiu que existem somente duas formas de viver a vida: uma seria vivê-la como se milagres não existissem, e a outra como se tudo fosse milagre. Eu vivo da segunda forma, então é sob essa ótica que vou escrever. Porém, apesar de acreditar profundamente no milagre da vida, da existência, do universo e de uma simples respiração, o tema hoje é a falha, o fracasso. E pela definição acima, onde tudo é um milagre, um dos mais importantes.
É curioso que por mais humano que isso seja, é muito malvisto, negado e escondido. Nas redes sociais, no papo do bar, na faculdade ou mundo afora, ninguém pode perder. Ninguém pode ser “loser”. Hoje, vivemos uma sociedade que valoriza excessivamente o primeiro lugar. Gurus da neurolinguística e da autoajuda ensinam o caminho do sucesso. Temos dietas, bombas, exercícios para seu corpo não exibir uma simples… falha. E no fim, só colhemos tristezas, frustrações, depressão e isolamento. E, principalmente, porque não valorizamos a benção da falha. Sim, uma benção. Se tudo é milagre e falha também é, tem seus propósitos, mesmo sem conseguirmos enxergar.
E para conseguirmos enxergar essa benção, vou usar a sabedoria de um dos meus grandes mestres e grande amigo, o Dr. Gary Gray, que uma vez me definiu o que para ele são as quatro formas de bênçãos que temos em vida:
A primeira delas é a benção escancarada. Aquela que você automaticamente reconhece. O nascimento do seu filho não deixa dúvidas de que é um presente, é divino. Uma enorme benção.
A segunda forma de benção são aquelas que levamos um tempo para entender a importância dela. Passam despercebidas, mas em algum momento tornam-se cristalinas. Sabe aquela pessoa que sempre esteve ao seu lado e você nunca deu tanta importância, mas o dia que precisou, reconheceu claramente a benção daquela amizade? É disso que estou falando.
A terceira forma de benção são aquelas coisas que acontecem e que, naquele momento e até por um tempo, não temos capacidade de enxergá-las como bênçãos. Uma dor, um sofrimento, um divórcio. Na hora, aquilo pode ser tudo, menos uma benção.
A quarta forma de benção é a que você recebe e nunca percebe. Seguramente, essa é a que acontece com mais frequência e não a notamos porque são banais, são corriqueiras. Não refletem o ideal nem de sucesso, nem de fracasso. Uma troca gasosa, um passo, um banho quente. Se pararmos para pensar, há tantos milagres em processos tão complexos entre cada inspiração e expiração, mas como para nós é um processo inconsciente e aparentemente simples, parece que nem existe uma benção ali.
Eu ainda acrescentaria uma quinta benção. Aquela onde podemos colocar todas as coisas ruins que acontecem e que nunca conseguimos entender porque acontecem. Isso acontece por não entendermos o quadro inteiro no qual estamos inseridos. Logo, nossa ignorância nos faz ficar cegos ou insensíveis a esse tipo de benção. Se a vida é um milagre e o todo é perfeito, nada pode ser diferente da perfeição.
E é aqui onde entra a falha. A falha é uma benção. Uma necessidade. Hoje, fala-se muito de sucesso e que a prática nos levará a ele. Mas o caminho para o sucesso é a falha. Tente observar todas as pessoas de verdadeiro sucesso. Vamos olhar para o Michael Jordan, o maior jogador de basquete de todos os tempos. Quando garoto, foi cortado do time de basquete, voltou para casa, trancou-se no quarto e chorou. Em seu livro, ele mesmo escreveu que ele é apenas um sucesso por ter falhado tanto. Ele disse:
“E fracassei em mais de 9000 arremessos em minha carreira. Eu perdi quase 300 jogos. Por 26 vezes eu tive a bola do jogo nas minhas mãos e fracassei. Eu falhei diversas vezes. Em público, para milhões de pessoas assistirem. E é por isso que sou um sucesso.”
Uma vez, questionaram um dos maiores estadistas de toda história da humanidade, Winston Churchill sobre o que para ele significava sucesso. Ao passo que ele respondeu:
“Sucesso é ir de um fracasso ao outro sem perder o entusiasmo”
Note que para definir sucesso, ele usou a palavra fracasso. Isso é muito relevante. Podemos concluir que sem o fracasso não há sucesso. O próprio Thomaz Edison, outro gênio da humanidade que falhou seguidamente tentando criar a lâmpada, uma vez questionado sobre seus fracassos respondeu:
“Eu nunca falhei na tentativa de inventar a lâmpada. Nem uma única vez sequer. O que eu fiz foi descobrir várias maneiras de não inventar a lâmpada.”
Brilhante! A falha é somente falha. Será fracasso se assim você a definir. Se permitir que ela te bloqueie, te limitando e roubando assim o seu entusiasmo. Em última análise, falha é algo que nos impulsiona. Que nos torna melhor. Que nos ensina. Que nos lapida. Precisamos abraçá-la, vivê-la, entendê-la. Não precisamos, necessariamente, desejá-la, mas precisamos reconhecer quando acontece e tirar aprendizado de suas lições. Se você não falha, você não vive. Talvez, nossos fracassos sejam nossa maior benção. A benção do fracasso. Porque você não seria o que é, nem melhor, sem eles.
Uma pergunta que meus alunos educadores físicos que trabalham com reabilitação sempre me fazem é mais ou menos assim: Samorai, eu tenho um aluno que tem tal dor, eu utilizei essa estratégia e não deu certo. O que eu faço? Normalmente, essa pergunta vem carregada de frustração e incertezas. Parafraseando Edison, não haveria outra resposta que não essa: Que maravilha! Faça qualquer outra coisa, menos isso que acabou de fazer. Porque isso te ensinou que não dá certo nesse caso. Seres humanos são diferentes de lâmpadas e o que serve para um, não serve para outro. E termino reforçando para ficar feliz porque você nunca esteve tão perto de achar a solução deste problema.
E você, que está aqui comigo lendo esse texto, que não é educador(a) físico(a) pode estar se perguntando como isso se aplica a você que não trabalha com reabilitação. A lógica é a mesma. Mas, se você não entendeu, me desculpe. Eu falhei com você. Na semana que vem tentarei de novo. E uma coisa eu aprendi. Terei que escolher outro caminho, porque esse me abençoou com essa falha.
Forte abraço, Samorai