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Espiritualidade prática, com Debora Pivotto

Espiritualidade e autoconhecimento conectados com a nossa saúde física e mental, com o coletivo e com a vida prática

Afinal, o que é ser jovem?

Por Debora Pivotto
Atualizado em 21 out 2024, 22h29 - Publicado em 28 mar 2023, 12h41
Ilustração de 3 meninas, de João Montenegro
 (João Montenegro/BOA FORMA)
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Assisti atenta nos últimos dias o desenrolar da história das três jovens universitárias em Bauru que fizeram um vídeo debochando da colega de 44 anos, Patrícia Linares, dizendo que ela já deveria estar aposentada. Fiquei feliz em ver que em pouco tempo, o Brasil inteiro saiu em defesa da estudante 40+. Mas devo confessar que quando vi o conteúdo do vídeo, fiquei muito mais preocupada com as três jovens protagonistas daquelas falas do que com a colega hostilizada. E vou explicar o porquê.

A fala delas é, sem dúvida, muito preconceituosa e cruel, mas acho que tudo que poderia ser falado sobre etarismo já foi colocado. O que eu acho mais preocupante é a visão de mundo que está por trás dessa fala.

Uma pessoa de 20 anos que diz que alguém de 40 deveria estar aposentada vive num mundo onde as pessoas (e os seus sonhos) têm um prazo de validade muito curto. E isso é muito triste. Me pergunto o que vai ser dessas meninas quando não tiverem mais 20 anos. O que elas vão se permitir fazer quando chegarem aos 40? Que atitude terão diante da vida?

Já a colega hostilizada, parece estar muito disposta a batalhar para conquistar o que deseja, sem se preocupar com o que os outros pensam (ah, a maturidade!). Em uma entrevista, ela contou um pouco de sua história. Disse que precisou interromper os estudos diversas vezes ao longo da vida, que foi dona de uma loja durante 11 anos (e foi feliz) e que sentiu que agora era o momento de entrar na faculdade e realizar um sonho que tem desde a adolescência. Ou seja, aos 44 anos, ela está se permitindo recomeçar – que é basicamente o oposto de se aposentar. Percebem como são visões de mundo totalmente diferentes?

Foi muito diferente também a forma como cada uma das envolvidas nesta história lidou com as adversidades. Patrícia disse que chorou quando viu o vídeo em que era ridicularizada, mas disse que desistir não era uma opção.

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Já as autoras do vídeo, não conseguiram lidar com tamanha repercussão e pressão das críticas e desistiram do curso – o que também é muito triste. E mostra que o tribunal da internet pode ser exageradamente cruel com quem comete deslizes como o que elas cometeram.

Enfim, em meio a toda essa polêmica, penso que vale a pena refletirmos sobre o que entendemos por juventude. No tempo cronológico, é uma fase que vai da infância ao início da fase adulta; tem começo, meio e fim. Mas no nível da alma, penso que é um modo de encarar a vida, que tem a ver com a disposição que cada um tem para se conhecer verdadeiramente, para aprender com as dificuldades e, principalmente, para ir atrás dos seus desejos mais profundos.

E olhando pra essa história sob esta ótica, a universitária que ingressa na faculdade aos 44 anos é infinitamente mais jovem do que as estudantes que a hostilizaram.

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