BOA FORMA responde
É um fato que a incidência de câncer de pâncreas vem aumentando nos últimos anos, ou nas últimas poucas décadas. Mais do que isso, o aumento mais expressivo está ocorrendo em pacientes jovens.
Se alguns anos atrás a incidência deste tipo de câncer era praticamente “exclusiva” em pessoas com mais de 60 ou 70 anos, atualmente ela se eleva rapidamente naqueles com menos de 45 anos e também entre mulheres, de acordo com editorial publicado recentemente pelo periódico Lancet.
Ainda mais alarmante é que o grupo que vem apresentando aumento mais intenso de incidência é o de indivíduos entre 25 e 29 anos. Esse aumento de incidência entre jovens também pode ser observado em outros tipos de tumores do aparelho digestivo.
Pensando na população brasileira, outro estudo recente confirma que o mesmo efeito pode ser observado em nosso país, com um aumento anual de 2% na incidência de câncer de pâncreas (mas, por aqui, este aumento parece semelhante entre os sexos masculino e feminino).
Além de causar grande alarme e preocupação, estes dados levantam algumas perguntas. Porque a incidência de câncer de pâncreas está aumentando? Porque aumenta de forma mais intensa em indivíduos jovens? Porque mulheres estão sendo mais afetadas por este tipo de tumor?
Claro que maior acesso ao atendimento de saúde, maior acesso a exames diagnósticos e melhorias constantes nos exames diagnósticos contribuem para que mais pessoas sejam diagnosticadas precocemente. Entretanto, estes não parecem ser os únicos fatores envolvidos. Sim, a incidência real deste tumor está aumentando.
Para tentar explicar esta elevação no número de caso devemos, inicialmente, nos voltar aos principais fatores de risco do câncer de pâncreas. Se levarmos em consideração o tabagismo, temos que considerar que o uso de tabaco, de acordo com a Organização Mundial da Saúde com dados de 2022, está reduzindo no mundo, o que seria um fator para redução de casos de câncer de pâncreas. Da mesma forma, o consumo de álcool está reduzindo, especialmente entre jovens. Porém, um fator de risco para câncer de pâncreas que devemos olhar atentamente, é a obesidade.
Novamente, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde publicados em 2021, a obesidade praticamente triplicou no mundo desde 1975. E, com ela, o diabetes tipo 2. E estes são dois fatores de risco muito significativos para câncer de pâncreas.
Estes dados nos levam a crer que podemos considerar o aumento da obesidade e do diabetes em todo mundo como potencial causa com significativo impacto para o aumento no número de casos de pâncreas nos últimos anos.
Considero que a obesidade e o diabetes tipo 2 são os principais fatores envolvidos neste aumento na incidência do câncer de pâncreas. Mas também pode ser uma resposta simplista demais.
Em 2022, um estudo liderado pela Universidade de Harvard, em um dos periódicos da Revista Nature, já se referiu ao aumento de incidência de diferentes tipos de câncer em jovens (mama, intestino, vesícula biliares, próstata, estômago, dentre outros) como uma “epidemia”.
Obesidade e diabetes tipo 2 não devem ser os únicos fatores relacionados à esta “epidemia”. Devemos considerar diversos outros fatores. Estilo de vida, fatores ambientais, microambiente, estresse, dieta (tipos de alimentos, como processados), medicamentos sendo utilizados para diferentes propósitos (como emagrecimento) em larga escala, microbioma, qualidade de sono. Enfim. Seria uma lista grande. Que nos faria pensar sobre algo importante: estamos no caminho certo?
Dr. Rodrigo Surjan, médico cirurgião do Hospital Nove de Julho. Instagram: @dr.rodrigosurjan
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