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Nutrição sem restrição, com Marina Nogueira

A nutricionista Marina Nogueira, do @naocontocalorias, fala sobre alimentação, comportamento, ciência e saúde
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O mito do detox

Por Marina Nogueira
Atualizado em 7 jun 2021, 20h31 - Publicado em 7 jun 2021, 17h03
Detox: "Você possui fígado, intestino e rins, órgãos capazes de eliminar o que não é necessário - e caso eles falhem, você terá sintomas que não serão resolvidos apenas com um suco verde", escreve Marina Nogueira
Detox: "Caso fígado, intestino e rins falhem, você terá sintomas que não serão resolvidos apenas com um suco verde", escreve Marina Nogueira (Vika Aleksandrova on Unsplash/BOA FORMA)
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Aproveitou o final de semana para provar novas delícias gastronômicas. Reuniu com as amigas para uma noite de queijo e vinhos. Voltou de um churrasco daqueles. Antídoto recomendado? Fazer um detox.

O detox é um chamariz nutricional forte para todas aquelas pessoas que tentam manter o equilíbrio da alimentação e gostam de soluções rápidas. Depois de comer um pouco mais do que o planejado, a estratégia mais procurada é reduzir a alimentação a sucos e chás.

O mito do detox

Intoxicação é um conjunto de sinais e sintomas que marcam o efeito nocivo produzido pela interação entre um agente químico e o nosso organismo. E é a partir dessa definição que eu começo a desbancar esse mito: qual agente químico você tem consumido para precisar de um detox?

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Na minha prática clínica eu observo que açúcar, gordura, sal, lactose e glúten, assim como corantes e conservantes, são os alvos de um possível detox. Mas é importante lembrar que estes não são agentes químicos, mas sim ingredientes e componentes alimentares. Eu entendo que o consumo excessivo e repetido de alguns deles pode ser prejudicial, mas isso não acontece através da intoxicação.

Obviamente você ainda não se convenceu, e quer garantir que nada de ruim fique no seu corpo. Mesmo assim, o detox segue não sendo necessário. Nosso corpo é fruto de um afinado processo evolutivo que conta com ferramentas precisas para evitar que você acumule aquelas substâncias que não são bem vindas. Você possui fígado, intestino e rins, órgãos capazes de eliminar o que não é necessário –  e caso eles falhem, você terá sintomas que não serão resolvidos apenas com um suco verde.

Limão, lucro e gratidão

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A dieta detox não é novidade: em 1940, o americano Stanley Burroughs lançou o livro Master Cleanser diet, um marco para a prática. Desde então o movimento detox vem conquistando um grande público, alcançando o auge do seu momento nos anos 2000. E a indústria percebeu essa nova onda para surfar nela: segundo um relatório do Grand View Reserch Inc, em 2025, 69 bilhões de dólares terão sido movimentados pelo mercado detox.

Além da oferta de milagres e produtos, a busca por limpeza do corpo e da mente é antiga. Rituais de purificação e jejuns nos acompanham a tempo, e agora, na sociedade contemporânea, eles encontram diversas ferramentas para auxiliar nesse processo.

Quando alguém decide fazer uma dieta detox e afirma estar se sentindo melhor, de corpo e alma, não me sinto capaz de explicar o porque dos efeitos espirituais, mas os físicos tem uma razão biológica e justificável.

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Depois daquele dia cheio de sucos coloridos e chás diferentes, você certamente estará com o corpo menos inchado, podendo até sentir diferença na balança – ponto chave para muita gente que procura o detox. Essa sensação é real, mas ela não aconteceu porque você eliminou toxinas, e sim porque melhorou a hidratação.

E para pessoas com o consumo alimentar muito irregular, passar alguns dias a base de frutas, legumes e verduras – que na verdade deveria ser a alimentação do dia a dia – transforma qualquer consumidor contumaz de ultra processados em alguém com mais disposição e sensação de bem-estar.

Já a sensação mental de estar anulando os excessos através do detox pode ser traiçoeira. Equilíbrio não é alto consumo em um dia e baixo no outro, mas sim uma rotina estruturada que permite as oscilações do dia a dia. Na verdade, esse sistema ‘exagero-restrição’ pode ser até sintoma ou gatilho de transtornos alimentares.

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Resumindo: o que faz seus fígados, rins e consciência funcionarem bem não é o detox feito uma vez por semana, mas sim uma melhora alimentar sustentada.

O detox que vale a pena

A prática do detox é amplamente divulgada nas redes sociais. Em outra ponta, a ciência esta cheia de artigos sobre o tema, mas a maioria com metodologias imprecisas e fracas. Os poucos trabalhos realmente bons reforçam o que estou tentando alertar: não existem evidências suficiente para que o detox alimentar seja indicado.

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Portanto, comece a mudança através do que você lê: esse conhecimento vai se refletir no seu consumo alimentar.

Lembre-se: você não precisa se render. Para garantir uma boa saúde – e um bom funcionamento das suas usinas corporais – minha sugestão é simples: Mantenha uma alimentação saudável e regular, rica em alimentos in natura ou minimamente processados. Beba bastante água, faça atividades físicas regulares e cozinhe mais.

O melhor detox é aquele que elimina informações baseadas em pseudociência ou em modismos alimentares!

Até a próxima!

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