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O mito do Botox preventivo

Será que os contras de usar o Botox como uma prevenção não superam os prós?

Por Larissa Serpa
Atualizado em 21 out 2024, 17h35 - Publicado em 10 jun 2024, 08h00

O conceito de “Botox preventivo” foi talvez inventado pelos mesmos criadores do termo “antienvelhecimento”. Isso porque a ideia de usar neuromoduladores para evitar (em vez de corrigir) rugas é igualmente ambígua e polarizadora.

O Botox* preventivo “não é uma coisa real com uma definição definida”, diz a dermatologista Ranella Hirsch em sua página de Instagram, dedicada justamente a acabar com mitos da dermatologia.

Ou seja: é marketing. Um marketing tão bem feito que rendeu uma hashtag com mais de 60 milhões de visualizações.

Depois de ouvir falar e relatar sobre o Botox preventivo durante anos, passamos a aceitá-lo como mais uma ferramenta de manutenção de cuidados com a pele: você passa retinóides, usa protetor solar, faz Botox… tudo para ficar com menos rugas no futuro, certo?

A verdade é que existem, sim, alguns estudos (ainda que em pequeno número) apontando para os benefícios do Botox preventivo. Mas também há pacientes relatando músculos atrofiados porque começaram a fazer Botox muito jovens. E há médicos que estabelecem limites ao injetar neuromoduladores em pessoas de 20 e poucos anos.

Então, aqui está um guia com tudo que você precisa saber.

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*Quando dizemos “Botox” aqui, estamos nos referindo aos neuromoduladores em geral. Como o Botox foi o primeiro a ser comercializado, o nome da marca é frequentemente usado como um genérico para toda a categoria, que agora inclui Botox, Dysport, Xeomin, Jeuveau e Daxxify.

Qual a diferença entre o Botox preventivo e o Botox normal?

“A ideia é aplicar o produto logo que aparecerem as primeiras linhas. Mas injeta-se apenas uma pequena quantidade, para amenizar essas linhas finas antes que se aprofundem”, explica o dermatologista Otávio Macedo.

Ao impedir a atividade muscular, esse neuromoduladores evitam o enrugamento da pele, evitando assim a formação ou o aprofundamento das linhas de expressão. Em uso funcional, eles também previnem enxaquecas, espasmos musculares, transpiração e muito mais. Assim, pode-se argumentar que todo Botox é preventivo.

No léxico moderno, porém, “Botox preventivo” implica algo mais específico: injetar áreas altamente móveis do rosto para suavizar as contrações musculares, mas não obliterá-las completamente. O objetivo é evitar que linhas dinâmicas (que aparecem com expressão) fiquem permanentes quando o rosto relaxa.

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Botox preventivo funciona?

Vincent Besnault

Se você espera que o Botox interrompa o processo de envelhecimento, ficará desapontado. Aplicar Botox aos 20 anos não irá impedir que você tenha rugas no futuro. Elas são parte da vida e acontece também por outros motivos além do movimento dos músculos, como a flacidez. As neurotoxinas não foram projetadas para evitar todas as rugas — as linhas nasolabiais estão aí para provar isso.

Mas deixando de lado as rugas, há outro aspecto da prevenção a ser considerado com o Botox: tratamentos que “fazem com que nos sintamos mais confortáveis ​​e confiantes”, como são os casos do uso da toxina para impedir o ranger dos dentes, para neutralizar “carrancas permanentes” que comunicam mal como nos sentimos, para relaxar os músculos tensos que promovem a má postura, para suprimir a transpiração induzida pela ansiedade — essas versões do Botox preventivo, segundos a própria Dra. Ranella, “valem 100% a pena”.

Qual é o momento certo para iniciar o Botox?

É aqui que as coisas ficam um pouco diversivas. Existem duas escolas principais de pensamento sobre a idade ideal para iniciar o Botox preventivo: embora alguns médicos insistam em administrá-lo antes que as linhas de expressão se formem, outros gostam de esperar até que haja um indício de uma linha real em repouso (quando o rosto está relaxado).

Os médicos do primeiro campo (aqueles que injetam nos rostos sem rugas) procurarão ver onde a atividade muscular está afetando a pele de maneira óbvia ou desproporcional, observando os pacientes em conversas casuais e também fazendo-os franzir a testa, sorrir grande, fazer beicinho e levantar as sobrancelhas no comando. Eles então aplicarão levemente Botox em quaisquer linhas de expressão dinâmicas, que podem ficar impressas na pele com o tempo.

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Para esse grupo, uma vez que todos nós enrugamos de forma diferente – com base na qualidade genética da nossa pele, histórico de exposição solar e outros fatores – não existe realmente uma “melhor” idade para intervir. Você só precisa “começar antes que a pele fique enrugada”.

Adotando uma abordagem mais conservadora, o segundo grupo nunca aplicará Botox em um rosto sem rugas, acreditando que não há razão ética para fazê-lo. Desta maneira, a melhor idade para começar a aplicar é quanto você começa a ver os primeiros sinais de uma linha de expressão começando a ficar levemente marcada quando você não move o rosto.

“Os riscos de iniciar esse tratamento muito cedo não são claros, mas estudos mostraram que há chances de produção de anticorpos, fazendo com que esse paciente não responda à toxina botulínica no futuro. Além, é claro, do desperdício de dinheiro, de tempo e uma aparência congelada” diz a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Melhores áreas para tratar (e evitar) com Botox preventivo

tem como reverter o botox

O único lugar que a maioria dos médicos éticos estão dispostos a usar Botox preventivo é no terço superior do rosto, e isso só depois de analisar cuidadosamente o rosto do paciente.

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Assim, eles tratam os músculos corrugadores (que puxam as sobrancelhas para baixo e para dentro) para evitar que as linhas 11 entre as sobrancelha se aprofundem. Colocar rotineiramente um pouquinho de neuromodulador nessa área também pode ajudar a manter as sobrancelhas em uma posição jovem e talvez retardar o peso e a flacidez que eventualmente levam algumas pessoas à cirurgias (blefaroplastia, lifting de sobrancelha ou ambos).

É melhor começar a combater as rugas da testa na juventude, se você quiser. Na verdade, os médicos muitas vezes hesitam em aplicar Botox na testa mais tarde na vida, uma vez que nocautear os músculos que levantam quando há flacidez da pele em jogo pode fazer com que a sobrancelha caia, aglomerando as pálpebras superiores e às vezes até obscurecendo a visão.

Os pés de galinha são uma área ambígua para tratar preventivamente. Alguns dermatologistas acreditam que você pode realmente distorcer o sorriso de alguém se tratar demais os pés de galinha.

Botox preventivo: sim ou não?

O caso à favor

Os neuromoduladores são bem estudados e há amplas evidências que apoiam seu uso a longo prazo, mas estamos em um território novo com o Botox preventivo. Não temos dados específicos e a longo prazo de alguém que inicia o tratamento aos 21 anos e o faz duas vezes por ano, todos os anos.

O mais próximo disso é um relato de caso de 19 anos de gêmeas idênticas, iniciado no início dos anos 90. Uma gêmea, que mora em Los Angeles (EUA), recebeu injeções de Botox a cada quatro ou seis meses durante 19 anos. Sua irmã, em Munique (Alemanha), recebeu apenas quatro tratamentos durante todos os 19 anos.

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A gêmea com Botox mais frequente se saiu melhor em termos de suavidade da pele, não desenvolvendo linhas estáticas nas áreas de tratamento enquanto sua irmã formou rugas na testa e ao redor dos olhos. Nenhuma das mulheres usou retinóides ou fez outros tratamentos cosméticos durante o estudo. Embora o estudo não tenha controlado muitos outros aspectos (geografia, estilo de vida, exposição aos raios UV), serviu para fortalecer a defesa do Botox preventivo.

Os defensores do Botox preventivo costumam apontar para o trabalho de Shannon Humphrey, dermatologista credenciada em Vancouver (Canadá). “Modelos in vitro mostram que os fibroblastos produzem colágeno quando incubados com neuromodulador”, diz ela. Tradução: o Botox pode ainda aumentar a produção de colágeno.

O caso contra

Mesmo após uma dose única, os músculos tratados com Botox podem ficar mais finos. O músculo da testa já é muito fino e é o único músculo que levanta a parte superior da face.

Se você usar doses realmente altas na testa, por períodos contínuos de tempo, você pode definitivamente causar atrofia. Os ligamentos da sobrancelha começam a ficar frouxos, fazendo com que a sobrancelha caia e a pele fique flácida. A melhor maneira de evitar a atrofia indesejada é usar doses leves de neuromodulador.

Além disso, usar Botox demais pode criar resistência — quando o corpo forma anticorpos contra a droga, amortecendo seu efeito. Uma das maiores causas desses anticorpos neutralizantes é a exposição repetida. Embora a resistência seja incrivelmente rara (uma meta-análise de 2023 cita uma incidência de 0,5%), alguns médicos temem que, se começarmos o Botox muito cedo na vida, ele poderá eventualmente parar de funcionar para nós, e possivelmente exatamente quando mais precisamos dele (não que alguém precise de Botox, claro).

 

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