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Para comer melhor você deveria… fazer terapia

Uma nova tendência, impulsionada por um app, têm crescido lá fora: usar a psicologia como um fator determinante para mudar a alimentação

Por Marcela De Mingo
Atualizado em 21 out 2024, 16h42 - Publicado em 17 jan 2022, 08h00
nutrição e psicologia
 (Andrea Piacquadio / Pexels/Divulgação)
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Quando o assunto é alimentação, parece que o simples fato de evitar alguns alimentos é o suficiente para estarmos mais saudáveis ou perdermos peso. No entanto, comer é uma ação muito mais complexa do que se imagina. Tanto, que uma nova tendência tem chamado a atenção nos Estados Unidos: um aplicativo, chamado Noom, promete ajudar você a fazer escolhas alimentares melhores com a ajuda da psicologia. 

Mas como essa relação funciona? É isso que vamos entender hoje. 

Comer não é só uma necessidade física

Segundo Gabriela Malzyner, psicóloga e psicanalista do Meniá Centro de Prevenção, as nossas escolhas alimentares são sempre bio-psico-sociais. “Isso quer dizer que são baseadas na cultura na qual estamos inseridos, bem como naquilo que são as necessidades do corpo e os afetos que estão envolvidos na relação com o mundo e com os sujeitos ao seu redor. Vale sempre lembrar que o alimento (leite) é a primeira forma de relação com o mundo. Ele é o elo que liga o bebê a sua mãe, e a sua comunidade e seu entorno”, explica. 

É por isso que o cuidado com o psicológico é fundamental no tratamento das patologias do comer, como chama a psicóloga. Esse cuidado direciona uma pessoa a questionar qual é a sua relação com aquilo que come, quais os afetos que estão em jogo, o que se relaciona com as suas vivências compulsivas, bem como com as restrições. 

“As escolhas, na vida, são sempre um tanto do campo da consciência, mas também há a instância inconsciente que dificulta a nós mesmos sermos senhores das nossas vidas”, continua. “Somos submetidos a instâncias internas que não temos plena consciência e que são, muitas vezes, mandatárias na forma como nos relacionamos com nós mesmos e com o mundo. Isso também vale para os alimentos e suas quantidades.”

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Aliás, apesar de a ideia ser vendida como uma novidade, a união da psicologia com a nutrição não é nova. Na verdade, essa junção já acontece nas equipes especializadas em questões alimentares, como anorexia, bulimia, compulsão alimentar, dificuldades alimentares na infância, obesidade… todas essas questões demandam uma equipe multidisciplinar para o tratamento efetivo. 

“O que pode ser um dificultador importante é encontrar profissionais qualificados em todas as regiões do Brasil, bem como os custos que tendem a ser elevados quando falamos de equipes multidisciplinares”, explica. 

O lado da nutrição 

Temos a questão da nutrição em si. Para Natalia Barros, nutricionista especialista em saúde feminina, são muitos fatores que interferem na nossa escolha alimentar. “Desde a fome fisiológica, um dos motivos básicos para a gente se alimentar, como significados diferentes que exercem a comida para indivíduos, conforme a cultura. Na Tailândia come-se escorpião. No Brasil, as coisas mudam. A gente tem que pensar nas crenças alimentares”. 

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Ou seja, além dos sinais tradicionais da fome, como o famoso “estômago roncando”, o pensamento nebuloso, as dores de cabeça, é preciso considerar o contexto de alguém ao falar de escolhas alimentares. Isso, claro, passa pelas preferências de cada um, mas também pelo seu contexto físico, como o bairro em que mora ou a proximidade ou não de feiras de rua, que vendem alimentos frescos. 

“A sua história com a alimentação, a sua criação em torno da comida também influencia o porquê, o como e o quê você come”, continua ela. Para a profissional, os hábitos cotidianos também têm um papel fundamental nisso – por exemplo, o grau de intimidade que uma pessoa tem com a cozinha. 

Isso sem contar as necessidades nutricionais de cada um. Uma mulher grávida com certeza tem necessidades diferentes de um homem diabético, assim como uma criança não têm as mesmas necessidades que uma pessoa adulta. Tudo isso, somado aos fatores emocionais, desde um afeto até um quadro de depressão, determina o que cada um coloca no prato. 

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“É extremamente difícil mudar as escolhas alimentares, por tudo o que a envolve. Não é simplesmente uma prescrição dietética, de cálculo, mas sim o entendimento do comportamento alimentar, nutricional, para ajudar esse indivíduo na construção de um novo hábito. E, aí, a gente fala de cultura, aspecto social, psicológico, de como está a saúde desse indivíduo, se ele está em crescimento ou se é idoso, se é mulher ou homem, o quanto precisa de energia pras suas atividades…”, continua Natalia. 

Com isso, unir nutrição e psicologia é, sim, possível – e inclusive recomendado. Para a nutricionista, nós não comemos de forma mecânica, mas comemos por conta dos significados embutidos em cada prato. Se fosse tão simples quanto a mecânica, um simples shake seria o suficiente para suprir a questão da necessidade física, por exemplo. No entanto, comer significa uma rotina doméstica que vai de ir ao supermercado a pensar num cardápio diário, além do estado mental e emocional das pessoas que vão comer. 

“Os benefícios dessa união de psicologia e nutrição são melhor equilíbrio emocional e do comer emocional”, diz. “É comer quando você está com fome, você vai conseguir lidar melhor com as suas vontades emocionais, escolher melhor os alimentos, organizar melhor a sua rotina, você vai combinar melhor, cozinhar mais e ter prazer com tudo isso… Você também pode comer porque está triste ou entediado, mas que isso não gere uma frustração ou uma culpa”. 

Ou seja, quanto mais comum for a união da psicologia com a nutrição, melhor, já que as duas coisas estão muito mais entrelaçadas do que imaginamos. Isso significa olhar para o cuidado psicológico não só como uma questão de saúde mental, mas também de saúde física. O seu corpo, com certeza, agradece.  

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