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Decidi cultivar bactérias do bem no meu intestino

Passar pelo processo de limpeza e recolonização da microbiota intestinal foi transformador.

Por Marcela De Mingo
Atualizado em 21 out 2024, 16h30 - Publicado em 5 dez 2021, 08h00
microbiota intestinal
 (Ella Olson / Pexels/Divulgação)
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Há alguns meses, soube por uma amiga de uma nova tendência alimentar, com foco em cuidar da microbiota intestinal. O cuidado com a disbiose, isso é, o desequilíbrio das bactérias do intestino, tem pipocado na minha vida desde então e, nisso, decidi fazer um experimento: testar a principal dieta que encontrei com esse recorte para entender qual é o hype. 

Emagrecimento, saúde e microbiota intestinal 

O processo de escolha foi a chamada Dieta das 3 Fases, desenvolvida pelo nutricionista e neuropata Eduardo Claas. Por uma conversa via Zoom (o seu consultório fica em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul), ele me explicou como o processo surgiu e porque decidiu oferecer essa metodologia através de um curso online pela plataforma meufluxo.com

Principalmente, ele contou sobre a decisão de seguir os estudos sobre o funcionamento do intestino e a sua influência no peso de uma pessoa, a inflamação do seu organismo e uma série de outras questões de saúde, muitas vezes tratadas de forma isolada – e não de maneira integrativa. 

“A gente quis trazer uma linguagem simplificada para as pessoas  do que é a relação da microbiota intestinal com o emagrecimento”, explica ele. “É uma área delicada para se falar nas redes, emagrecimento sempre é um tabu. As pessoas têm aquela fixação pelo que a ciência mais entrega – e o que a ciência mais entrega hoje é no déficit calórico, ou seja, na redução das calorias da dieta para gerar o emagrecimento.”

No entanto, para Eduardo a questão do emagrecimento não para por aí. É preciso, ele explica, ter atenção com o sistema digestivo e nutri-lo de forma a cultivar as bactérias que vão colaborar para esse emagrecimento quase de forma natural. Ele conta que a melhor maneira de explicar esse processo é usando a analogia da sala de aula: é como se o seu intestino fosse uma classe com alunos de diferentes perfis, alguns mais aplicados outros que precisam de um pouco mais de paciência para aprender.

Ao contrário do déficit calórico, a relação entre a microbiota e o emagrecimento não foi cientificamente comprovada, mas existem inúmeros estudos que já trabalham essa relação. Eduardo conta que, nesse processo, o procedimento costuma ser de levar a teoria para a prática clínica e acompanhar os resultados, até porque, assim como a redução calórica tem os seus benefícios, também tem os seus reveses. “Muitas pessoas que fazem déficit calórico acabam ganhando peso porque não estão com o foco em regular a microbiota”, diz. 

microbiota intestinal

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O cuidado com o intestino, claro, também não é algo novo. Muitas teorias e filosofias milenares, como o próprio ayurveda, falam da importância do cuidado intestinal para a boa saúde – não só para o emagrecimento em si. Além disso, estudo mais recentes fazem uma ligação direta entre a saúde do intestino e a saúde mental de uma pessoal, tanto que esse sistema tem sido chamado de “segundo cérebro”: o número de neurônios e a quantidade de produção hormonal que fica a cargo do intestino é tamanha que regula o nosso humor tanto quanto aqueles produzidos pelo cérebro. 

“A modulação intestinal tem validação científica na resistência a insulina, que é um fator extremamente importante na questão do peso, e na inflamação crônica subclínica, que é um processo, muitas vezes, não rastreável por exames convencionais”, conta. “Não é incomum pacientes meus relatarem que além de perderem peso diminuíram dores,  melhoraram a memória e a disposição. E isso é porque a gente reduz a carga inflamatória quando você faz um protocolo focado em modular o intestino da pessoa”.  

Eduardo diz que a questão do peso é apenas a ponta de um iceberg. Para ele, quando se fala em emagrecimento, esse é apenas um detalhe dentro de uma melhora de saúde que é generalizada. Muitas vezes, o processo inflamatório do organismo de uma pessoa é tão alto que nem mesmo o déficit calórico ajuda na perda de peso. A maturidade alimentar, nesse aspecto, é essencial para que a microbiota seja regulada, o peso, de fato, caia e o organismo de uma pessoa funcione com mais facilidade e melhor. 

“O meu protocolo parte do ajuste da microbiota em primeiro lugar. Depois, eu vejo qual o déficit calórico que eu preciso fazer. O meu trabalho é um ponto de partida, não de chegada. Mesmo que a pessoa emagreça, ela tem que entender que esse é um ponto de partida para um amadurecimento alimentar pensando no nosso sistema gastro-intestinal, senão, ele continua avesso e a pessoa emagrece, engorda, emagrece e engorda…”. 

A Dieta das 3 Fases na prática

Depois do bate-papo e com todo o material necessário para fazer o protocolo do Eduardo, decidi começar num domingo a primeira das três fases: um período de três dias de alimentação 100% crudívora (ou seja, apenas de alimentos naturais / crus). Começaria o dia com uma mistura de água e extrato de própolis em jejum, passando por um café da manhã de suco enzimático (feito com couve, abacaxi, mamão, limão e gengibre), seguido por uma fruta no lanche da manhã, almoço de folhas e legumes crus, um repeteco do suco da manhã e, por fim, um repeteco do almoço. 

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Importante dizer que já tinha passado por um processo de reeducação alimentar há alguns anos e que me tornei vegetariana há 3. Não comer carnes era mais do que normal para mim. Torcia um pouco o nariz para folhas verdes e alguns legumes, mas topei o desafio – assim como tomar o suco verde que sempre foi meio polêmico, a meu ver. 

Os meus principais temores eram deixar o café (tomava em média três xícaras por dia), o meu pedacinho de chocolate meio-amargo obrigatório pós café da manhã e almoço, e as comidas de fim de semana, como pizza, que é uma das minhas coisas favoritas da vida. Ainda assim, no geral, comia de forma bem regrada e sem exageros. 

microbiota intestinal
(Hinterhaus Productions/Getty Images)

Logo no primeiro dia, me surpreendi duplamente: primeiro porque o extrato de própolis tinha um gosto tão esquisito quanto me lembrava na infância, e tomar um copo de água misturado, em jejum não ajudou muito. Segundo porque o suco enzimático era muito mais saboroso do que eu imaginava. 

Eduardo reforçou na nossa conversa que a ideia não é passar fome, mas comer o suficiente no almoço e jantar para se sentir satisfeita. Foi o que eu fiz. Ainda assim, de tarde senti vontade de comer a fruta extra que o programa orienta. 

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O primeiro dia foi o mais difícil. Logo depois do almoço, comecei a sentir muitas dores de cabeça e enjoos, como nunca tinha sentido antes. Tanto na nossa primeira conversa, quanto nas mensagens que trocamos depois, Eduardo reforçou que se os sintomas apareceram é porque o meu organismo realmente precisava desse reboot. Tentei manter a calma e seguir em frente, mas ao final do primeiro dia, pensei que não aguentaria de tanto enjoo e dor de cabeça. Além disso, senti uma queda brusca de pressão e acabei indo dormir bem mais cedo do que o normal. 

Na segunda-feira, acordei melhor, mas ainda um pouco enjoada. O café da manhã foi difícil e senti que não aguentaria continuar depois do primeiro gole de suco. Mas, por alguma mágica, parece que o meu organismo começou a entender o que estava acontecendo e depois do café da manhã já me sentia bem mais disposta e controlada. Ainda estava um pouco fraca – e faz todo sentido a recomendação de evitar exercícios físicos nessa primeira parte do processo – então, aumentei o volume de folhas e legumes no almoço e no jantar e segui. 

O que me gerava mais receio também era a última parte dessa primeira fase: tomar 100 ml de leite de magnésia com água (ou água de coco e hortelã) no lugar do lanche da tarde. A ideia é soltar o intestino e limpar o que ainda estivesse ali de bactérias ruins. Como nunca tinha feito isso antes, me preparei para ficar em casa, mas surgiu, de última hora, uma aula presencial que precisaria ir. Ainda receosa, tomei a mistura e esperei. 

Curiosamente, nada aconteceu naquele dia. Segui com o jantar, que já era uma sopa de legumes (o primeiro prato quente em três dias), e dormi. A evacuação, para mim, veio só na manhã do dia seguinte, e foi bem mais tranquila do que eu imaginei. 

Foi depois disso que comecei a sentir a maior diferença. Minha barriga desinchou de um jeito que nunca vi antes e comecei a sentir o meu corpo muito mais leve e confortável. Cheguei a falar com algumas amigas que é como se tivesse me desfeito de desconfortos que eu nem sabia que tinha. Curiosamente, na manhã do terceiro dia fui ao médico e precisei me pesar: 59 quilos. Nada diferente aí, considerando que eu já tinha esse como o meu peso desde a última vez que me pesei, no ano passado. 

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A partir de então, fui para a segunda fase. Nela, a alimentação já era mais parecida com o que eu costumava comer antes de começar esse processo: o suco verde ainda é uma parte importante, assim como a mistura de extrato de própolis (agora também com limão) em jejum. De mais diferente: tomar uma colher de vinagre de maçã com um pouco de água antes do almoço e do jantar e algumas proibições básicas, como evitar qualquer alimento industrializado, que contenha glúten ou farinhas brancas, leite ou derivados. O ideal era evitar até mesmo adoçantes. A cafeína e derivados continuavam proibidos. 

Essa fase dura 27 dias e é nela que (ainda) me encontro. Pelo que vi até agora, a próxima fase não tem grandes mudanças e é mais uma fase de manutenção “por tempo indeterminado”. A partir daí, cafés e chás cafeinados podem voltar a ser consumidos com moderação, mas acho difícil retomar o hábito, considerando o quão horrível foi deixar de consumir a bebida. 

Um ponto que Eduardo falou e que me chamou muito a atenção: eu deixaria de sentir vontade de comer coisas que, antes, eram muito apetitosas para mim, como pães e doces. Vi isso acontecer em primeira mão quando, ainda na primeira semana pós-primeira fase, fui a uma padaria tomar café da manhã com um amigo e não tive vontade alguma de comer qualquer coisa que fosse fora do que estava estipulado para o momento. 

Eduardo explica que, nesse período, as “escapadas” podem acontecer, desde que de forma moderada. Das 35 refeições da semana, 3 podem ser feitas fora do que é combinado no material. Mas nem isso tive vontade de fazer. Mais de 15 dias depois que iniciei esse processo, meio receosa, meio acreditando que estava fazendo uma loucura, percebo facilmente as mudanças. A principal é no corpo. Apesar de emagrecer não ser um foco, sinto que desde o dia que me pesei perdi um pouco de peso (ou talvez seja gordura corporal) – sinto quase todas as roupas mais largas, por exemplo. Outro ponto é a disposição. Achava que não saberia funcionar sem o café de todos os dias, mas logo percebi que ele não só não é necessário, como me deixava agitada e inflamada. Tenho acordado muito bem, dormido melhor ainda e me sinto mais focada do que nunca. A pele nunca esteve tão bonita, e até o meu cabelo parece mais saudável.  

Os dias cansativos e estressantes ainda surgem, mas é como se o meu corpo estivesse mais bem preparado para lidar com isso, de forma que comida não é um assunto na minha mente. Passei pela TPM no meio desse processo todo e a vontade do chocolatinho de conforto veio um pouco forte, mas nada não administrável.

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O principal, no entanto, é o nível de conforto físico que tenho sentido desde então. É como se finalmente estivesse bem no meu próprio corpo, e dores e desconfortos que antes eu tinha com frequência desapareceram. Eu andava com uma dor no tornozelo esquerdo um pouco incômoda e estava protelando ir ao médico investigar, mas percebi que ela desapareceu totalmente. Sentia também dores nas laterais das coxas que ligava muito a inchaço e inflamação: essas diminuíram bastante, mas ainda persistem um pouco. Talvez melhorem com o tempo também. 

Como faço treinos de força bastante intensos, pensei que todas essas mudanças alimentares poderiam interferir no meu desempenho, mas depois dos três dias iniciais, me sinto tão forte como sempre e a questão da comida não virou um problema na forma como me exercito. 

Em resumo: seguir as orientações que Eduardo disponibiliza no site, com as aulas online (são 3) e as apostilas, é mais do que o suficiente para fazer o processo com tranquilidade. É preciso dizer que pessoas com doenças crônicas, gestantes ou mulheres em período de amamentação não devem fazer o protocolo, mas buscar acompanhamento nutricional individualizado – um ponto que o próprio nutricionista reforçou durante a nossa conversa. 

Acredito que, mesmo com alguns receios e ceticismos, a experiência não só foi válida, como transformadora. O meu desejo, agora, é manter o que aprendi o máximo possível para continuar sentido o bem-estar e a disposição que estou sentindo. Isso não significa abrir mão de refeições gostosas com amigos ou uma escapa aqui e ali, mas a consciência que eu tenho do quanto é importante cuidar da microbiota intestinal é outra. Não esperava que fosse assim, mas, em casos como esse é sempre bom ser positivamente surpreendida. 

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